Ser humano algum tem o poder sobre a morte. Esta é o grande desafio, o enigma a ser desvendado e o desespero se não houver solução. Muitos procuram explicação sobre o término da vida terrestre. Ninguém, em base à ciência, à matéria e à razão humana encontra solução plausível para explicar o depois do aqui da terra. As fantasias e as religiões colocam suas teorias e convicções a esse respeito. Desvendar o segredo de Deus sobre o assunto não é da competência humana. Que resposta damos ao questionamento sobre isso?
O próprio Deus vai aos poucos fazendo-nos conhecer o segredo da imortalidade. A Bíblia vai tornando, progressivamente, patente o que não seria claro e reconhecível para nossa inteligência sobre a realidade da vida pós-morte física. Para quem conhece o poder do Filho de Deus e de sua superação da morte com a ressurreição torna-se clara a fé também na ressurreição humana, não apenas no sentido conceitual ou na realidade da imortalidade da alma. A ressurreição do corpo, embora não mais sujeito à lei da matéria, torna-se possível e verdadeira (Cf. 1 Coríntios 15,54-57). Mais: Paulo, inspirado por Deus, lembra o que Deus faz de nosso corpo: “Nossa cidadania, porém, está lá no céu, de onde esperamos ansiosamente o Senhor Jesus Cristo como Salvador. Ele vai transformar nosso corpo miserável, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso” (Filipenses, 3. 20-21). Em vista disso, nosso corpo mortal deve ser respeitado em sua dignidade, vivendo na santidade (Cf. 1 Tessalonicenses 4,1-5). Como Jesus ressuscitou, também os que o seguem serão ressuscitados e levados com ele em sua companhia (Cf. 1 Tessalonicenses 4,13-18).
Na realidade da assunção de Maria ao céu vemos a prática da ressurreição dela como o segredo desvendado por Deus sobre a superação da morte, redundando em vida nova. Esta, no entanto, se dá com a apresentação da pessoa humana diante de Deus, logo após sua partida da vida terrena. A pessoa não fica perambulando em outras vidas, mas vai para a eternidade, ressuscitada para a felicidade imorredoura, se ela aceitou na terra as coordenadas divinas. A carta as hebreus fala diretamente: “E dado que os homens morrem uma só vez e depois disso vem o julgamento...” (Hebreus 9, 27). O ser humano é responsável por responder ao dom da vida para fazê-la frutífera em obras de bem, merecendo depois o prêmio de seu esforço e sua boa vontade para corresponder à graça da salvação.
Como Maria, a cheia da graça, que correspondeu à missão que Deus lhe deu, assim também: “Felizes aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” ( Lucas 11,28). É verdade que Deus toma a iniciativa de nos amar. Mas a correspondência a esse amor será motivo de muita alegria, sabendo que Ele recompensa até mesmo quem fizer o mínimo de caridade para com o semelhante necessitado, por causa de Deus.
Nossa vida terrena realça nossa imortalidade quando a impregnamos de atitudes de amor no trato com o semelhante e na obediência ao projeto divino. Assim imitamos o Filho, que se despojou até dos efeitos de sua filiação divina para nos ensinar a despojar-nos de nossos interesses em bem da causa do amor que nos faz cooperar com a promoção da vida e da dignidade do semelhante.
Dom José Alberto Moura
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
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