Especialistas em liberdade religiosa lançaram o alerta aos participantes de uma conferência em Roma: a discriminação e perseguição contra os cristãos está crescendo em muitas regiões do mundo.
Paul Marshall, do Centro para a Liberdade Religiosa, entidade do Instituto Hudson, falou sobre as causas da atual perseguição anticristã no mundo.
"O laicismo ocidental tem aumentado nas últimas décadas", disse Marshall em entrevista à CNA em 13 de dezembro. "Quero enfatizar que os modelos de que estamos falando não são os mesmos do mundo comunista nem os do Oriente Médio. Não é uma perseguição naquele sentido, mas está se tornando muito preocupante".
"Há tendências muito inquietantes e temos que estar cientes delas.É discriminação no local de trabalho, no direito de falar abertamente,na liberdade de viver a fé... As coisas estão realmente ficando piores no Ocidente".
Marshall apontou vários exemplos recentes dessa discriminação:"famílias alemãs adeptas da instrução em casa e que tiveram que pedir asilo nos Estados Unidos, pessoas demitidas do trabalho porque usavam símbolos cristãos, etc".
"O Fórum Pew de Religião e Vida Pública, um importante centro dedados e estatísticas religiosas que mede a hostilidade religiosa na Europa Ocidental, diz que os índices[de discriminação] já são tão altos quanto os do Oriente Médio", afirma Marshall, observando que “essas situações nascem de uma mentalidade subjacente. Dentro do sistema de ensino, houve uma insistência muito intensa em modelos baseados no pressuposto de que uma sociedade laica é uma sociedade em que a religião não tem espaço. Ela pode ser privada, pode ficar em casa, na igreja, mas não pode ter espaço na sociedade em geral".
Diferente da noção tradicional de discriminação, "este é um ponto de vista novo e incomum", que está mais ligado à "ideia de que uma sociedade não pode ser realmente aberta se a religião estiver presente nela".
"Em vez de uma sociedade para todos, em que os laicos são livres, os cristãos são livres e os hindus são livres", a nova visão da sociedade laica é a de "um Estado que detém uma ideologia particular e pede que todos se rendam a ela".
Marshall descreveu a mudança nesse entendimento como "a passagem de uma sociedade plural para uma sociedade ideologicamente laica". E sentencia: "Isso é preocupante".
A conferência "Cristianismo e Liberdade: Perspectivas Históricas e Contemporâneas"se realizou de 13 a 14 de dezembro na Pontifícia Universidade Urbaniana, em Roma,como iniciativa dentro do Projeto Liberdade Religiosa,promovido pelo Centro Berkley para a Religião, a Paz e as Relações Internacionais, da Universidade de Georgetown.
Dom Dominique Mamberti, Secretário da Santa Sé para as Relações com os Estados, falou na conferência sobre "dissipar o mito errôneo e datado de que o cristianismo é inimigo da liberdade pessoal e de consciência e de que a sua pretensa verdade leve necessariamente à violência e à opressão. Nada poderia ser menos preciso historicamente do que esse tipo de afirmação”, declarou ele.
O arcebispo destacou a ligação crucial entre o cristianismo e a liberdade, observando que essa ligação "tem as suas raízes nos ensinamentos de Cristo mesmo. A liberdade é intrínseca ao cristianismo, porque, como diz São Paulo, Cristo nos libertou para permanecermos livres". Embora o apóstolo se referisse principalmente à "liberdade interior", disse Mamberti, "essa liberdade interior tem, naturalmente, consequências sociais".
Quando os seres humanos não conseguem dar o devido valor à liberdade religiosa, os resultados para a sociedade como um todo podem ser muito prejudiciais, alertou ainda."Se o homem não pode se abrir para o Infinito de acordo com a sua consciência, a verdade cede espaço para o relativismo mentiroso;a justiça cede aos abusos da ideologia dominante, seja ela ateia, agnóstica ou mesmo de conotação religiosa".
A noção moderna de liberdade tende a ser entendida como "mero livre arbítrio" ou, negativamente, como "ausência de vínculos", prosseguiu Mamberti.No entanto, a ideia cristã mais tradicional da liberdade "não é dominada pelo medo, mas pela alegria da verdade que nos liberta".
Esta visão, segundo o arcebispo, "é contrária ao relativismo e também às formas de fundamentalismo religioso que, a exemplo do relativismo, veem a liberdade religiosa como uma ameaça para a sua afirmação ideológica".
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Disponível em: Aleteia
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