Três etimologias foram lembradas: o grego músis (iniciação), o hebráico missah (unctio?) e o latim missa.
a) A origem da palavra não pode ser nem o grego nem o hebraico. A razão é simples. Como o Cristianismo veio do Oriente, todas as palavras litúrgicas de origem grega ou hebraica são registradas na Liturgia ou na Literatura das Igrejas Orientais. Ora, isto não sucede com a palavra missa, que é privativa da Igreja Latina.
b) Logo, missa vem do latim. E aqui podemos supor duas origens: o feminino do adjetivo missus, que quer dizer enviado, e um substantivo missa, com o sentido de demissão, ato de despedir, despedimento.
O adjetivo missa não pode ser a origem do termo litúrgico, porque, nesse caso, seria preciso pensar num substantivo oculto. Exemplos: gramática (arte), domingo, ou dominga (dies, dos dois gêmeos em latim), reta (linha), expresso (trem) etc. Por isso, os autores que derivam missa de um adjetivo subentendem a palavravítima e dizem que a frase Ite, missa est equivale a: Ite, victima missa est. Mas esta frase não tem sentido. Com efeito, a sua tradução é: Ide-vos, a vítima foi enviada. Ora, uma vitima não se envia. É destruída. Em nenhum sacrifício há lugar para se supor que se envie uma vítima.
Portanto, só resta uma hipótese – o substantivo missa. De fato, este substantivo é uma segunda forma do termo clássico missio, derivado do verbo mittere, e cujo significado é o que demos acima: ato de mandar embora. A substituição da forma abstrata missio por uma forma concreta missa é, aliás, processo linguístico comum no latim. Oblatio, collectio e ultio foram substituídos respectivamente por oblata, collectae ulta. Os novos substantivos promessa e remessa vieram de promissa e remissa, que estão em lugar de promissio e remíssio, da mesma raiz que missa.
Lembremos, por fim, que a palavra saiu da expressão Ite, missa est e indicava apenas uma parte do ofício e não o ofício todo. É o que acontece com os termos confissão e comunhão, usados pelo sacramento da Penitência e pela Eucaristia. Na realidade são partes ou fases do sacramento.
Aliás, a expressão já existia no latim antes de passar para o uso eclesiástico. Ite, missa est era a fórmula usada para terminar as audiências do paço e dos tribunais de justiça. Diz Avito de Viena: “Nas igrejas e nas cortes do imperador e do prefeito se diz missa est quando o povo é despedido da audiência.” (1)
Na Regra de S. Bento, encontra-se sempre a fórmula missae fiunt no fim das horas canônicas para significar: fim das orações. Neste mesmo sentido está empregada a palavra na Peregrinatio Sylviae, em Santo Isidoro de Sevilha e outros.
No sentido atual, o termo é encontrado pela primeira vez na Epístola que Santo Ambrósio escreveu a sua irmã Santa Marcelina.(2) Referindo-se aos distúrbios provocados pelos Arianos durante um ofício religioso, diz ele: “Porém eu fiquei em meu lugar e comecei a dizer a missa:Missam facere cepi”(3).
Parece ter havido dois ite, missa est na missa primitiva. Com o primeiro se despediam os catecúmenos, conforme diz Santo Agostinho:“Depois do sermão se faz a missa (despedida) dos catecúmenos”. (4) Com o segundo, que permanece até hoje, se despediam os fiéis. É o que consta da Peregrinatio Sylviae: “O sacerdote abençoa os fiéis e faz-se a missa, isto é, a despedida”.(5)
(Texto retirado do livro ”A Missa, dogma-liturgia”, do Cônego F.M. Bueno de Sequeira, com censor e imprimatur de 1949. Ed. Andes)
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Notas:
(1) Avito de Viena, bispo Epist. I, LIX, pág. 199, Patres Latini.
(2) Santo Ambrósio, bispo de Milão, faleceu em 397.
(3) Epistola I, XX.
(4) “Post sermonem fit missa catechumenorum”.
(5) “Benecit fideles et fit missa”.
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Disponível em: A Origem do Rosário
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