Incomodada com os sermões do seu pároco que explicou que Jesus não era mais menino, que não nasceu no dia 25 de dezembro, que os reis magos não eram nem reis nem magos e que as alegorias da infância de Jesus se dividiam entre fatos reais e fatos que não aconteceram, mas que a Igreja usou para mostrar o Cristo da fé, Dona Elvira jurou que iria para uma paróquia onde o padre não fosse tão sem fé.
Perguntei-lhe se na juventude lia Romance, Sétimo Céu, Ilusão e Capricho, revistas para as moças sonhadoras daqueles dias. Perguntei se seguia noticiário, novelas e minisséries na televisão. Lera e seguia. Aos poucos a convenci de que ela cresceu aprendendo com histórias reais e com histórias fictícias, mas nem por isso mentirosas. Convenci-a de que o "Filho Pródigo", "O fariseu e o Publicano" "O Bom Samaritano" também eram histórias fictícias que Jesus criou para ilustrar um ensinamento!
Falei então das três grávidas: Ana de Elcana, Izabel e Maria, duas estéreis e uma virgem que deram à luz como um serviço a Deus e ao seu povo. Falei de João Batista, dos pastores, do velhinho Simeão e Ana de Fanuel, das crianças mártires, do jovem mártir Estevão, de João Evangelista, do domingo da paz, do domingo da família, dos reis magos. Expliquei o sentido pedagógico desses personagens que englobam todas as pessoas e nações e culminam na festa da Epifania Luz essencial que brilhou aqui.
Falei então do papa Bento XVI que lembra num de seus livros que a luz que se conhecia era a de vela e de archotes. Hoje que temos lanternas e holofotes e conhecemos a luz forte e dirigida que vai lá e espanca as trevas, podemos chamar Jesus de luz forte, holofote, farol do céu, luz que veio e que vai lá onde há trevas e escuridão. É luz que vem de longe e visita. Falei ainda dos adivinhos de hoje que jogam búzios, cartas, tarôs, ou predizem o futuro pelas estrelas e pelos horóscopos. Hoje a Igreja diria que Jesus veio para todos eles. A luz que procuram já veio: é Jesus! Foi assim naquele tempo! Era a catequese de Natal daqueles tempos.
Dona Elvira me olhou com aqueles olhos de senhora de 53 anos, avó sem muita escola, mas inteligente e de muita fé e disse: -Ah é, é? Então porque não me falaram isso tudo quando eu era menina? Respondi que no tempo dela já se sabia tudo isso, porque a exegese e a liturgia têm séculos de existência. Ela teria que perguntar aos padres que pregaram naqueles dias por que razão deixaram os fiéis pensarem que Jesus ainda é menino e porque não explicaram a diferença entre fato e alegoria. Já se ensinava tudo isso nos seminários.
Receio que a resposta seja a mesma de hoje. No dia 31 de Dezembro, na televisão, para milhões de fiéis um pregador disse que há provas históricas de que um dos reis era da Pérsia, outro da Etiópia e outro da Europa. Onde ele arranjou tais provas ninguém sabe!
Catequese fácil de Natal qualquer um pode pregar. Basta repetir sem explicar o que está nos textos. Catequese difícil é a que explica e contextualiza! Coisa para quem estuda e lê!
Pe. Zezinho, scj
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