O
Anticristo seduzirá aos que não tem caridade; por isso há que pedir à Deus que
se digne chamar-nos e não permita que nos apartemos da verdade.
Por isso Deus lhes enviará ou permitirá que
obre neles o artifício do erro, com que creiam na mentira, para que sejam
condenados todos os que não creram na verdade, mas que se comprazeram na
maldade. Mas nós devemos sempre dar graças à Deus por
vós, irmãos amados de Deus, por Deus
havê-los escolhido por primícias de salvação, mediante a santificação do espírito e a verdadeira fé que lhes foi
dada; na qual os chamou assim mesmo por meio de nosso Evangelho, para fazê-los
chegar a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que assim, meus irmãos, ficai
firmes e mantenham as tradições que
haveis recebido, ora por meio da
pregação, ora por carta nossa. E Nosso Senhor Jesus Cristo, e Deus, nosso
Pai, que nos amou, e deu eterno consolo, e boa esperança pela graça, alente
vossos corações e os confirme em toda obra e palavra boa. - 2 Tessalonicenses 2,10-16
Ao dizer logo:
“mas nós”, mostra porque os fiéis de Cristo se verão livres; da graças por
eles e relembra a memória dos benefícios divinos, pelos quais se veem livres
desses males.
Diz pois assim: eles serão enganados, mas “nós devemos dar graças” (Rm
1). E recorda dois benefícios divinos, à saber, a eleição de Deus, que é
eterna, e a vocação, que é temporal.
Disse pois: “porque nos elegeu” a nós, os Apóstolos, “e a vós”,
os fiéis (Ef 1; Jo 15). Toca em três pontos na matéria da eleição, à saber, na
ordem dos eleitos, no fim da eleição e no meio de conseguir o fim.
Todos os santos tem sido
eleitos desde o princípio do mundo (Deut. 33); mas as primícias de modo
especial são os Apóstolos (Rm 8).
Por isso diz: “primícias da fé”. Assim mesmo o fim da eleição é a
salvação eterna, como diz: “para a salvação” (1Tm 2).
E isto se leva à efeito primeiro, da parte de Deus, por meio da graça
santificante; donde diz: “mediante a santificação do espírito”; segundo,
da parte nossa, com o consentimento de nossa vontade por meio da fé; por isso
acrescenta: “e na verdade da fé”.
“à qual os chamou”. Põe o segundo benefício, que é a vocação temporal de
Cristo, que segue-se à eleição (Rm 8).
E sobre esta vocação repara na parábola do que fez a grande ceia (Lc 14) “por
meio de nosso Evangelho” pregado por mim. Mas a qual ceia nos convida? “para
fazer-nos chegar a glória”, isto é, para que alcancemos a glória de Cristo.
Logo, quando diz: “assim que, meu irmãos”, os admoestam a manterem-se
firmes na verdade e interpõe a oração para este fim.
E faz o primeiro, porque nossas obras dependem de nossa vontade, e o segundo,
porque é necessário o auxílio da graça.
E primeiro admoesta-os a estarem firmes (Gl 5); ensina logo o modo de está-lo: “e mantenham as tradições”, isto é, os ensinamentos que receberam de seus
maiores;
porque os que se recebem dos menores algumas vezes não tem de ser observados, à
saber, quando se opõe aos ensinamentos da fé (Mt 15); mas sim quando dizem
respeito aos mandamentos divinos, “que haveis aprendido”.
“Recomendavam aos fiéis a
observância das tradições e decretos acordados pelos Apóstolos e os presbíteros
que residiam em Jerusalém” (At 16,4).
E estas tradições de duas maneiras lhes deram à conhecer: umas com palavras;
donde diz: “ora por meio da pregação”; outras por escritos; por isso
acrescenta: “ora por carta nossa”.
Donde se põe de manifesto que haviam muitas coisas na Igreja não escritas, que
os Apóstolos ensinaram e, por conseguinte, hão que se observar; pois muitas
coisas - disse Dionísio -, a juízo dos Apóstolos, eram melhor ocultá-las.
Por isso disse o Apóstolo: “quanto ao mais já o disporei quando lá chegar”
(1Co 10). - “E Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai...”:
Pondo esta frase, como se dissesse: estas são minhas recomendações, mas de nada
serve sem o auxílio divino.
Por isso põe primeiro um duplo benefício de Deus: o amor que nos tem e pelo
qual nos concede outras coisas; por isso diz: “nos amou”; e a consolação
espiritual: “e deu eterno consolo” (2Co 1; Is 40).
E diz consolo eterno, à saber, contra todos os males iminentes e futuros. Por
isso estamos na expectação de “uma boa esperança”, isto é, desses bens
eternos que infalivelmente nos estão prometidos (1Pe. 1).
E isto “pela graça”, pela qual esperamos conseguir a vida eterna (Rm 6).
Pede para eles uma exortação, que é uma admoestação encaminhada a mover o ânimo
a que queiram; e esta pode fazê-la o homem exteriormente; mas não seria eficaz,
se interiormente não o alentasse o espírito de Deus; donde disse: “alente
vossos corações”, isto é, o mova.
“Eu a levarei à solidão e falar-lhe-ei ao coração” (Os 2). Assim mesmo
pede a confirmação; por isso diz: “e os confirme” (Sl. 67); como se
dissesse: nos alente com sua graça para que queiramos, e nos confirme para que
eficazmente queiramos.
E isto “em toda obra e palavra boa”. A obra leva a dianteira da palavra,
porque Jesus começou primeiro a obrar e depois ensinou.
São Tomás de Aquino
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O texto que apresentamos aos nossos leitores é parte de um comentário da
Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses feito pelo Doutor dos Santos e o
mais Santo dos Doutores da Igreja, isto é, de Santo Tomás de Aquino. A tradução
para a língua portuguesa foi feita por Rodrigo Santana através de um texto
editado em castelhano disponível no site da Congregação para o Clero
(http://www.clerus.org) e vertido do latim de Sancti Thomae Aquinatis Doctoris Angelici super Secundam Epístolam
Sancti Pauli Apostoli ad Thessalonicenses expositio publicado por Petri
Marietti em 1896. A versão da epístola comentada por Santo Tomás é a da Vulgata
de São Jerônimo. Essa também foi a utilizada nesta tradução do comentário.
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Disponivel em: Aparição de La Salette
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