Hoje estava meditando sobre
o segundo capítulo dos Atos dos Apóstolos. Trata-se do iniciozinho da Igreja,
do caminho da nossa Mãe católica, a única de Cristo-Esposo, neste mundão de
Deus...
Pedro, o primeiro Chefe da
Comunidade recém-nascida, anuncia com toda certeza e convicção de quem
testemunhou: Jesus foi ressuscitado pelo Pai, Dele recebendo o Santo Espírito,
agora derramado sobre todo aquele que Nele crer e for batizado (cf. At 2,32s).
A plateia escuta, ouve,
sente o coração traspassado pelas palavras convictas, de fogo, de Pedro.
Pergunta: “Que devemos fazer?” (At 2,37).
Fiquei pensando... Sem
meias-palavras (tão comuns em tantos pregadores de hoje em dia, cheios de dedos
para não desagradarem a ninguém), Pedro responde: “Arrependei-vos, e cada um de
vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos pecados. Então
recebereis o dom do Espírito Santo. Salvai-vos desta geração perversa” (At
2,38.40).
Quantos, na Igreja, temos
coragem de dizer assim, de falar assim, com a convicção e transparência de
Pedro? Ouço muito falar em concessões ao espírito do mundo, à mentalidade pagã,
tudo em nome de uma falsa compreensão, uma mentirosa compaixão, uma truncada
ideia de misericórdia! Pedro vai na contramão: “Salvai-vos dessa geração
perversa!” Ó escândalo para tantos dentro da Igreja!
Observe, meu Amigo, que a
primeira palavra do Apóstolo sobre o que fazer para ser de Cristo é plenamente
fiel à palavra do próprio Cristo: “Arrependei-vos! Convertei-vos!” (cf. Mc
1,15; Mt 4,17). Não é possível ser cristão sem a disposição de sair de si, do
seu antigo modo de viver, do seu atrofiado pensar, do torto proceder. O
primeiro passo para quem deseja de verdade seguir o Senhor é arrepender-se,
converter-se, mudar de vida! Mas, sejamos sinceros: temos medo de ofender, de
parecer duros, de sermos antipáticos, de afastar as pessoas... e então calamos
o Evangelho, nos omitimos, contemporizamos com a mentalidade pagã. Aí já não é
o mundo quem deve se converter ao Evangelho, mas o Evangelho que é esvaziado e
convertido ao mundo!
Esquecemos que não somos
chamados a fazer sucesso, a juntar grande número de fieis, a ser populares e
queridinhos, simpáticos e fofos. Somos chamados a ser fieis, a pregar a Palavra
a tempo e contratempo, quer agrade quer desagrade (cf. 1Tm 2,4), pois se
quisermos simplesmente agradar ao mundo já não seremos servos de Jesus Cristo
(cf. Gl 1,10).
Não se esqueça, meu Amigo:
você, eu e quem quer que deseje ser cristão precisa deixar-se, precisa deixar,
e seguir num contínuo processo de conversão, de largar o modo de pensar do
mundo para abraçar o modo de pensar de Cristo. Uma coisa é tratar as pessoas
com respeito e caridade, outra é lhes esconder com sinceridade e caridosa
franqueza a verdade de Cristo! É preciso ter a coragem de ouvir e a coragem de
dizer: “Converte-te! Muda de vida! Deixa-te, se queres ser cristão! Teu
proceder é errado, teu modo de viver é pecaminoso, tua vida é de escravo do
pecado! Deixa-te libertar por Cristo, que por ti morreu e ressuscitou! Ele te
acolhe, Ele te perdoa, Ele te salva, Ele te conduzirá à Vida eterna!”
Mas, e se aquele lá, triste
ou raivoso, for embora pela verdade que lhe anunciamos? Façamos como o Senhor,
que depois de ter olhado com amor aquele homem rico, respeitou a sua decisão de
não aceitar o convite de Jesus e preferir continuar na vidazinha confortável
(cf. Mc 10,17-22)... Não somos nós quem salvamos, não somos nós quem fazemos o
caminho, não somos nós quem estabelecemos a verdade. A Verdade é Jesus – e
devemos anunciá-La com toda caridade e toda verdade, com todo amor e toda
clareza. O que passa disso não serve para o Reino dos Céus...
Dom Henrique Soares da Costa,
Bispo de Palmares, PE
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