sábado, 3 de junho de 2017

Hoje como ontem, convertei-vos!


Hoje estava meditando sobre o segundo capítulo dos Atos dos Apóstolos. Trata-se do iniciozinho da Igreja, do caminho da nossa Mãe católica, a única de Cristo-Esposo, neste mundão de Deus...

Pedro, o primeiro Chefe da Comunidade recém-nascida, anuncia com toda certeza e convicção de quem testemunhou: Jesus foi ressuscitado pelo Pai, Dele recebendo o Santo Espírito, agora derramado sobre todo aquele que Nele crer e for batizado (cf. At 2,32s).

A plateia escuta, ouve, sente o coração traspassado pelas palavras convictas, de fogo, de Pedro. Pergunta: “Que devemos fazer?” (At 2,37).

Fiquei pensando... Sem meias-palavras (tão comuns em tantos pregadores de hoje em dia, cheios de dedos para não desagradarem a ninguém), Pedro responde: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo. Salvai-vos desta geração perversa” (At 2,38.40).

Quantos, na Igreja, temos coragem de dizer assim, de falar assim, com a convicção e transparência de Pedro? Ouço muito falar em concessões ao espírito do mundo, à mentalidade pagã, tudo em nome de uma falsa compreensão, uma mentirosa compaixão, uma truncada ideia de misericórdia! Pedro vai na contramão: “Salvai-vos dessa geração perversa!” Ó escândalo para tantos dentro da Igreja!

Observe, meu Amigo, que a primeira palavra do Apóstolo sobre o que fazer para ser de Cristo é plenamente fiel à palavra do próprio Cristo: “Arrependei-vos! Convertei-vos!” (cf. Mc 1,15; Mt 4,17). Não é possível ser cristão sem a disposição de sair de si, do seu antigo modo de viver, do seu atrofiado pensar, do torto proceder. O primeiro passo para quem deseja de verdade seguir o Senhor é arrepender-se, converter-se, mudar de vida! Mas, sejamos sinceros: temos medo de ofender, de parecer duros, de sermos antipáticos, de afastar as pessoas... e então calamos o Evangelho, nos omitimos, contemporizamos com a mentalidade pagã. Aí já não é o mundo quem deve se converter ao Evangelho, mas o Evangelho que é esvaziado e convertido ao mundo!

Esquecemos que não somos chamados a fazer sucesso, a juntar grande número de fieis, a ser populares e queridinhos, simpáticos e fofos. Somos chamados a ser fieis, a pregar a Palavra a tempo e contratempo, quer agrade quer desagrade (cf. 1Tm 2,4), pois se quisermos simplesmente agradar ao mundo já não seremos servos de Jesus Cristo (cf. Gl 1,10). 

Não se esqueça, meu Amigo: você, eu e quem quer que deseje ser cristão precisa deixar-se, precisa deixar, e seguir num contínuo processo de conversão, de largar o modo de pensar do mundo para abraçar o modo de pensar de Cristo. Uma coisa é tratar as pessoas com respeito e caridade, outra é lhes esconder com sinceridade e caridosa franqueza a verdade de Cristo! É preciso ter a coragem de ouvir e a coragem de dizer: “Converte-te! Muda de vida! Deixa-te, se queres ser cristão! Teu proceder é errado, teu modo de viver é pecaminoso, tua vida é de escravo do pecado! Deixa-te libertar por Cristo, que por ti morreu e ressuscitou! Ele te acolhe, Ele te perdoa, Ele te salva, Ele te conduzirá à Vida eterna!”

Mas, e se aquele lá, triste ou raivoso, for embora pela verdade que lhe anunciamos? Façamos como o Senhor, que depois de ter olhado com amor aquele homem rico, respeitou a sua decisão de não aceitar o convite de Jesus e preferir continuar na vidazinha confortável (cf. Mc 10,17-22)... Não somos nós quem salvamos, não somos nós quem fazemos o caminho, não somos nós quem estabelecemos a verdade. A Verdade é Jesus – e devemos anunciá-La com toda caridade e toda verdade, com todo amor e toda clareza. O que passa disso não serve para o Reino dos Céus...


Dom Henrique Soares da Costa,

Bispo de Palmares, PE

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