Neste ano, a Renovação Carismática
Católica (RCC) completa 50 anos de vida, jubileu de ouro, de modo que vale a pena
refletir sobre a atualidade desse movimento eclesial com seus frutos e
carismas, bem como com alguns desvios e equívocos, ainda que os pontos
positivos pareçam superar, de longe, as falhas aí encontradas.
A RCC pode ser entendida como um
movimento de renovação espiritual na vida da Igreja, muito desejado pelo Beato
Papa Paulo VI, conforme o Documento de Puebla, n. 267, e que vem produzindo
muitos e bons frutos à Igreja
Podemos, portanto, elencar aí seis frutos:
1) a consciência da presença do Espírito Santo na Igreja como um todo, bem como
no coração de cada fiel; 2) o gosto pela oração no e pelo Espírito
Santo; 3) a oportunidade, por meio da fraternidade dos grupos de oração, de as
pessoas afastadas voltarem à Igreja; 4) o amor pela Sagrada Escritura e a
consequente leitura e estudo da Palavra de Deus escrita; 5) o grande interesse
pela catequese e demais pastorais da Igreja e 6) o alimento a grupo de jovens
nas paróquias dos quais saem vocações consagradas e sacerdotais.
A propósito dos carismas – enquanto
dons gratuito de Deus para o bem da Igreja – há uma distinção entre os essenciais a
todos os fiéis, os essenciais a alguns fiéis ou os extraordinários também
a alguns fiéis.
Dentre os primeiros estão dons sem os
quais a Igreja não pode subsistir: o senso da fé (sensus fidei), que
leva o Povo de Deus a não se desviar da otodoxia; o dom da graça, a conduzir o
povo na vivência da intimidade com o Senhor; o sacerdócio comum, por meio do
qual todos podem cultuar a Deus e oferecer-Lhe dádivas; a função profética e
régia, por ela, o fiel anuncia o Reino (função profética) e o constrói (função
régia), bem como a caridade (ágape), o maior de todos os carismas (1Cor 13,13).
São dons essenciais derivados dos sacramentos do Batismo e da Crisma.
Na vocação especial, o Espírito Santo
concede, também por via sacramental, três dons ou carismas indispensáveis à
Igreja: o diaconato, o presbiterado e o episcopado. São formas de consagração
definitiva do homem a Deus em favor do povo a fim de manter nele a santidade.
Há quem coloque ao lado do ministério ordenado a vida consagrada pelos votos de
pobreza, castidade e obediência para o bem da humanidade, por meio da oração ou
do apostolado ou de ambas as modalidades.
Existem ainda dons extraordinários
concedidos a algumas pessoas e geralmente se destinam a santificar e converter
os fiéis em geral. São eles: o dom dos milagres, comum a alguns – não, porém, a
todos – santos e inclui curas físicas e espirituais; o dom de línguas e da
interpretação delas. Sim, apenas falar línguas estranhas nunca antes estudadas
pode parecer portentoso, porém não ajuda a comunidade, caso inexista quem
interprete a mensagem (cf. 1Cor 14,13.19; 14,22-23), além do dom do êxtase e da
iluminação interior, também muito raro na vida mística dos santos.
É certo que a grandiosa graça divina
recebida na pequenez humana está sujeita a desvios em todo o ambiente eclesial.
Também na RCC não é diferente. Apontam-se aí cinco falhas mais comuns: 1)
alguns membros se julgam muito especiais: só eles teriam o Espírito Santo; 2)
em consequência, se acham “prontos” e “perfeitos” a ponto de não terem de se
aprofundar na doutrina da Igreja, que é tão rica; 3) os dois pontos anteriores
podem levar ao fundamentalismo (interpretação da Bíblia ao pé da letra sem a
Igreja) que não cria unidade, mas, sim, divisões; 4) quem faz uma interpretação
muito literal da Bíblia, corre o risco de ver, em demasia, casos de possessão
diabólica e, por conseguinte, buscar o exorcismo, fora das normas da Igreja
para esse fim; 5) há, ainda, quem confunda estado emocional alterado com dons
do Espírito Santo, de modo a fazer da ação divina uma bobagem e de uma bobagem
ação divina etc.
Em um balanço geral, podemos dizer que
os desvios parecem, como se vê, pontuais e sanáveis pela Igreja, de modo que
não se sobrepõem aos bons frutos colhidos no Jubileu de ouro da RCC.
Vanderlei
de Lima,
eremita
na Diocese de Amparo.
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Aleteia
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