As Chagas de Jesus são aquelas benditas fontes preditas
por Isaías, das quais podemos tirar todas as graças, se as pedimos com fé. São
fontes de misericórdia, fontes de esperança, e sobretudo fontes de amor;
porquanto as suas águas, ao passo que purificam a alma das manchas da culpa,
abrasam-na no santo amor. Avizinhemo-nos muitas vezes daquelas fontes do
Salvador, para apagar a nossa sede das graças.
As
Chagas de Jesus Cristo são aquelas benditas fontes preditas por Isaías, das
quais podemos tirar todas as graças, se as pedimos com fé: Haurietis aquas in gaudio de fontibus
Salvatoris— Tirareis
com alegria água das fontes do Salvador.
São
em primeiro lugar fontes de misericórdia. Jesus Cristo quis que lhe fossem
traspassados as mãos, os pés e o lado sacrossanto, a fim de aplacar por nós a
divina justiça e ao mesmo tempo abrir-nos um asilo seguro, no qual nos
pudéssemos subtrair às setas da ira de Deus.
Por
isso, o Senhor mesmo nos anima, dizendo no Cântico dos cânticos: Vem, pomba
minha, nas aberturas da pedra (Cant. 2, 14); isto é, na interpretação de São
Pedro Damião: vem dentro destas minhas chagas, onde acharás todo o bem para tua
alma. — Mais expressivas ainda são as palavras de que se serve na profecia de
Isaías: Ecce in manibus meis descripsi te (Is. 49, 16) — Eis que te gravei em minhas mãos.
Como se dissesse: Minha pobre ovelha, tem ânimo; não vês quanto me custaste? Eu
te gravei em minhas mãos, nestas chagas que recebi por teu amor. Elas me
solicitam sempre a ajudar-te e defender-te de teus inimigos; tem, pois, amor e
confiança em mim.
As
Chagas de Jesus são também fontes de esperança; porquanto, como escreve São
Paulo, o Senhor quis morrer consumido pelas dores, a fim de merecer o paraíso
para todos os pecadores arrependidos e resolvidos a emendar-se: Et consummatus, factus est omnibus
obtemperantibus causa salutis (Hebr.
5, 9) — E pela sua consumação foi feito autor da
salvação para todos os que Lhe obedecem. — Durante uma enfermidade,
São Bernardo se viu certa vez transportado perante o tribunal de Deus, onde o
demônio o acusava de seus pecados e lhe dizia que não merecia o céu.
Respondeu-lhe então o Santo: “É verdade que eu não mereço o paraíso; mas Jesus
tem dois direitos para este reino: um por ser Filho verdadeiro de Deus, outro
por tê-lo merecido com a sua morte. Contentando-se com o primeiro, cedeu-me o
segundo, em virtude do qual peço e espero a glória celeste”. É isto, meu irmão,
o que nós também podemos dizer: As Chagas de Jesus Cristo são os nossos
merecimentos, a nossa esperança: Vulnera
tua merita mea.
As
Chagas de Jesus Cristo são, em terceiro lugar, fontes de amor; porque as águas
que ali brotam, purificam as almas e ao mesmo tempo abrasam-nas daquele santo
fogo que o Senhor veio acender sobre a terra nos corações dos homens. Pelo que
São Boaventura exclama: “Ó Chagas que feris os corações mais duros
e abrasais as almas mais frias de amor divino”
São
Paulo protestou solenemente de si: Non
enim indicavi scire me aliquid inter vos, nisi Iesum Chistum, et hunc
crucifixum (I Cor. 2,
2) — Não entendi saber entre vós coisa alguma
senão a Jesus Cristo, e este crucificado. Não ignorava, de certo, o
apóstolo, que Jesus Cristo nascera numa gruta, que passara trinta anos de sua
vida numa oficina, que ressuscitara e subira ao céu. Não obstante isso diz que
não queria saber senão de Jesus crucificado, porque este mistério o excitava
mais a amá-Lo, visto que as sagradas Chagas lhe diziam o amor imenso que Jesus
nos teve. — Recorramos, pois, freqüentes vezes por meio de uma meditação atenta
a estas fontes divinas do Salvador: Omnes
sitientes venite ad aquas (Is.
55, 1) — Todos vós os que tendes sede, vinde às
águas.
Eterno
Pai, lançai vossos olhos sobre as Chagas de vosso divino Filho: estas Chagas
Vos pedem todas as misericórdias para mim; perdoai-me, pois, as ofensas que Vos
fiz; apoderai-Vos de meu coração todo, para que não ame, busque, nem deseje
coisa alguma fora de Vós. Ó Chagas de meu Redentor, formosas fornalhas de amor,
recebei-me e inflamai-me, não com o fogo do inferno que mereço, mas com a santa
chama de amor a este Deus que quis morrer por mim, à força de tormentos. — “E
Vós, Eterno Pai, que pela paixão de vosso Filho unigênito e pelo sangue que Ele
derramou por suas cinco chagas, renovastes a natureza humana, perdida pelo
pecado: concedei-me propício que, venerando na terra estas chagas divinas, eu
mereça conseguir no céu o fruto do sangue preciosíssimo de Jesus” —
Fazei-o pelo amor do próprio Jesus Cristo e de Maria Santíssima.
Santo Afonso
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