Conforme anunciado em primeira
mão pelo Blog da Vida, enfim os
bispos do Brasil ouviram pessoalmente e com detalhes todas as críticas e
denúncias que se tornaram muitíssimo populares nas redes sociais de grupos
católicos nos últimos meses. O uso do dinheiro dos fiéis para financiar ONGs
abortistas, o MST e outras iniciativas de caráter político-partidário foram
expostos para uma comissão de bispos num encontro dirigido pelo professor
Hermes Rodrigues Nery, coordenador do Movimento Legislação e Vida. Segundo ele,
a recepção foi positiva e os bispos perceberam que “algo tem que ser
feito”.
As duas
principais propostas levadas por Nery eram a criação de um grupo de trabalho
misto, formado por bispos e leigos, para tratar especificamente desses
problemas, e a criação de um portal da transparência, um tipo de plataforma
online que permita aos fiéis acompanhar com precisão o destino de suas doações.
“Dom Sergio foi muito receptivo às propostas e afirmou que levará o assunto
para o Conselho Permanente”, informou o professor Nery ao Blog da Vida.
Assembleia da CNBB: estatuto vai
mudar e a presidência terá mais membros
O Conselho
Permanente é a segunda instância deliberativa da CNBB depois da Assembleia
Geral, mas na prática costuma ser a principal para resolução de questões
concretas e pontuais. É formada por 41 bispos provenientes de todos as regiões
do país e, claro, reúne-se com mais frequência do que a Assembleia, que é
anual.
Um ponto
muito significante relatado por Nery sobre esse encontro foi a presença da
cúpula da Conferência. Convenhamos, os bispos poderiam muito bem ignorar o
pedido por essa reunião ou designar representantes sem poder de decisão apenas
para dizer que estão “abertos ao diálogo”. Contudo, felizmente, estavam entre
os participantes do encontro o cardeal dom Sergio da Rocha, presidente da CNBB,
e dom Murilo Krieger, vice-presidente, faltando apenas o secretário-geral, dom
Leonardo Steiner, para que toda a presidência estivesse presente. Dom Leonardo
está afastado por motivos médicos – sofreu um infarto dias antes da assembleia.
A exposição
de Hermes foi composta de uma conversa inicial, seguida de um pronunciamento e
a entrega de documentos referentes às denúncias. Confira a seguir a íntegra do
texto lido aos bispos:
Senhores
Bispos e Cardeais,
Nós,
CATÓLICOS, religiosos e leigos, pertencentes ao Movimento LEGISLAÇÃO E
VIDA, vimos a presença de Vossas Excelências Reverendíssimas para solicitar
que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), neste
“Ano do Laicato”, dê atenção especial às graves denúncias que vêm sendo feitas
sobre a instrumentalização política da Igreja para fins contrários à sã
doutrina, e que exigem providências de esclarecimentos, o quanto antes. Estamos
aqui representando muitos grupos de leigos católicos, também das redes sociais
que nos procuraram, para vir pessoalmente expressar as inquietudes e apreensões
de muitos católicos, e de diversas partes do País, que diante de tantos fatos
expostos, de abusos cometidos, esperam dos bispos respostas claras sobre
questões que precisam ser esclarecidas, para haver a coerência necessária entre
Palavra e Vida, que todos nós, desejamos, enquanto fiéis católicos.
A cada dia
cresce a indignação, a insatisfação, o mal-estar até, de muitos leigos, cada
vez mais confusos com discursos ambíguos, atitudes incoerentes de muitos
clérigos e agentes pastorais que ocupam postos de decisão na Igreja,
especialmente pela falta de sintonia de tais discursos e atitudes com o
Magistério da Igreja, e de modo mais preocupante, a instrumentalização política
de pastorais e organismos eclesiais, para fins contrários aos princípios e
valores da sã doutrina católica. Tudo isso vem se acumulando há décadas, mas
chegando a um ponto de “perigo iminente” de fraturas no corpo da Igreja, com
consequências danosas, já antes sinalizadas com a evasão dos fiéis. Os que
ficaram resistem, com dificuldades crescentes, abandonados muitas vezes pelos
pastores, que preferem o “politicamente correto”, ou os eufemismos de linguagem
para disfarçar condutas que chocam cada vez mais os fiéis, especialmente os
mais conscientes da verdadeira “missão profética da Igreja”. E aqui, recorrendo
a Bento XVI: “Às vezes, abusa-se dessa expressão. Mas é verdade que a Igreja
nunca deve, simplesmente, pactuar com o espírito do tempo. Tem de denunciar os
vícios e os perigos de uma época; tem de interpelar a consciência dos
poderosos, mas também dos intelectuais e daqueles que vivem, de coração
estreito e confortavelmente, ignorando as necessidades da época etc. Todo bispo
deve sentir-se “obrigado a cumprir essa missão”, pois são “flagrantes os
déficits”: “desânimo da fé, diminuição das vocações, queda do nível moral,
sobretudo entre as pessoas da Igreja, tendência crescente da violência e muitas
outras questões”1. E ainda: “Lembro-me sempre das palavras da
Bíblia e dos Padres da Igreja, que condenam, com grande severidade, os pastores
que são como cães mudos e que, para evitar conflitos, deixam que o veneno se
espalhe. A tranquilidade não é a primeira obrigação de um cidadão, e um bispo
que estivesse interessado em não ter aborrecimentos e em camuflar, se possível,
todos os conflitos, é para mim, uma ideia horrível”2.
Durante
muito tempo questionamos os motivos pelos quais tantos padres e bispos se
silenciam diante do aparelhamento ideológico, deixando que paróquias e
movimentos (Pastorais sociais, da juventude, etc.) fossem utilizados como
espaços de propagação da teologia da libertação, que não havia sido minada,
pelo contrário, era disseminada por outros meios (inculturação, ecumenismo,
ecologismo e tudo mais), com padres e até bispos agindo como intelectuais
orgânicos, gramscianos para difundir uma “outra Igreja” que não a católica. E o
que vimos, ao longo de décadas, foram paróquias e movimentos se
descaracterizarem, perderem a sua identidade católica, para servir a um projeto
de poder que visa destruir a verdadeira fé. Os fatos mostram com evidência que
a Igreja da América latina se comporta como braço social de partidos
socialistas, há décadas. E o socialismo é condenado pela Igreja, desde o papa Pio
IX. E mais: muitos clérigos abandonam os fiéis quando o socialismo
irremediavelmente falha, com nos casos da Venezuela e de Cuba. Com o
relativismo, o discurso de muitos foi ficando cada vez mais ambíguo,
justificando assim uma subversão inimaginável.
Por isso,
solicitamos aos bispos, que seja formado um Grupo de Trabalho ou uma Comissão
de leigos e bispos, para o mapeamento dessa situação, o levantamento dessas
questões que afligem os leigos e que levou, e que há anos o nosso Movimento vem
denunciando e outros, por exemplo, o jovem Marco Rossi a denunciar, e outros
que vem se manifestando para expressar a indignação de muitos, quanto aos
abusos cometidos, como recentemente o youtuber Bernardo Kuster, em vários
vídeos, expôs fatos graves, cuja realização do 14º intereclesial motivou tais
denúncias e cujas respostas são aguardadas, com clareza.
“As
perguntas do tipo [diz Kuster]: por que aqueles temas, aquela abordagem sobre
gênero nas cartilhas da Via Sacra, que a CNBB fez, por exemplo, aquele apelo
excessivo ao desarmamento que a CNBB fez nas cartilhas também da Via Sacra, que
vai contra o Catecismo da Igreja Católica? Por que, por exemplo, aquela nota
que a ABONG emitiu e a CNBB não respondeu. A ABONG disse, no dia 26 de
fevereiro, que ela mesmo administra os recursos da Campanha da Fraternidade,
que ela recebe, e não a Plataforma, como disse a CNBB. A isso a CNBB também não
respondeu, precisa dar explicações. Porque mandou dar dinheiro para uma
organização favorável ao aborto, ao casamento homossexual, à liberação sexual,
a reforma agrária, não do jeito correto, mas do jeito socialista? Ela precisa
dar uma explicação sobre os repasses ao grupo Esquel, que é administrado pela
ABONG, pelo MST, pela Cáritas, e a CNBB tem que responde também perguntas sobre
a Cáritas. Por que a Cáritas tem como parceiro e apoiadores, empresas e
organizações internacionais como a Fundação Ford, que notadamente trabalha
contra a Igreja? Eles receberam milhares de dólares, nos últimos anos, e isso
precisa sim de uma explicação. A CNBB precisa responder por exemplo, os
repasses de 2013, que eu levantei em meus vídeos, que a CNBB passou dinheiro
para sindicatos de trabalhadores. Por que isso CNBB? Isso não está respondido.”
E ainda: “Os abusos litúrgicos cometidos no 14º Intereclesial, a excessiva e
patente politização no 14º intereclesial, a isso a CNBB não respondeu. A
completa omissão da CNBB, em relação à corrupção dos partidos como o PT, o PP,
o PMDB, e os políticos que se dizem católicos envolvidos nisso, a CNBB também
não se manifestou, o próprio documento da CONIC, da “Hospitalidade
Eucarística”, que certamente coloca em dúvida a fé dos fiéis, causando confusão
a respeito de sacrifício, a respeito da transubstanciação, a respeito da
co-celebração, do ecumenismo, e ainda relacionado ao CONIC (Conselho Nacional
das Igrejas Cristãs), aqueles dois milhões que não foram prestadas as contas,
cujo tesoureiro da CONIC, é da CNBB. A CNBB precisa explicar aquela afronta ao
sacerdócio católico, naquele evento da quadragésima romaria da terra, no Rio
Grande do Sul, em que duas pastoras celebraram uma missa, com vários bispos,
como já foi denunciado no Brasil inteiro. A isso a CNBB tem que responder.”
Senhores
bispos! Estas questões, na verdade, são apenas pontas de um iceberg, de uma
problemática muito mais vasta e mais profunda, que as informações que estão
disponíveis hoje (e que cada vez mais um número crescente de pessoas tem
acesso) levam os fiéis católicos às angústias e aflições, pois as evidências
são cada vez mais claras do quanto a Igreja, aparelhada ideologicamente, vem
sendo instrumentalizada para fins políticos contrários à sã doutrina católica.
Isso tudo
precisa de um basta.
O que
queremos é a coerência entre Palavra e Vida, fidelidade ao Evangelho, ao Magistério,
ao Catecismo. A evasão de fiéis e as baixas nas contribuições se acentuarão se
novas e mais denúncias vierem à tona.
Por isso,
requeremos que seja feita uma Comissão de leigos e bispos para o aprofundamento
dessa situação, e que deem respostas concretas aos questionamentos feitos, e
ainda, quanto aos recursos financeiros, para que haja inteira transparência da
destinação de tais recursos, propomos inicialmente que haja um Portal da
Transparência, para que os fiéis católicos tenham informações precisas da
destinação e origem dos recursos financeiros da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil, evitando assim o financiamento de OnGs e entidades que defendem
princípios e valores contrários à fé católica.
Esperamos
dos bispos respostas claras sobre as questões aqui colocadas, atendendo o nosso
apelo pelo bem da Igreja que amamos, enquanto batizados, desejamos ser fiéis ao
Evangelho, para o nosso bem e salvação.
Prof. Hermes
Rodrigues Nery
Coordenador
do Movimento Legislação e Vida
________________________________________________
Sempre Família
Nenhum comentário:
Postar um comentário