O que o governo britânico fez com Alfie e sua
família é quase inacreditável. O governo determinou que Alfie Evans, afligido
por um distúrbio neurodegenerativo raro, tem uma qualidade de vida tão ruim que
nenhum esforço deve ser feito para mantê-lo vivo.
Ele foi retirado da respiração artificial, mas continuou respirando,
surpreendendo os médicos. Ele também foi privado de água e comida. Seus pais
querem levá-lo para a Itália, onde um hospital está disposto a tratá-lo. O
governo britânico disse que não, e tem policiais estacionados para impedir que
o menino seja resgatado. Afinal, para o governo, o melhor é matar o menino.
Existem casos de fim de vida que levantam questões
genuinamente complicadas. O mesmo tratamento médico pode ser obrigatório em um
conjunto de circunstâncias, permissível em outro e cruel em um terceiro. Há
áreas cinzentas.
Este não é um desses casos. Não há motivos para crer que fornecer
nutrição e hidratação ao bebê, ou tratamento em geral, cause sofrimento a ele —
ou que prolongar sua vida prolongará seu sofrimento, uma vez que não há
indicação de que ele esteja sofrendo.
A família não pediu ao governo britânico para pagar tratamentos caros.
Eles só queriam a liberdade de levar o menino para as pessoas que tentariam
mantê-lo vivo, em vez de causar a morte dele.
As considerações que moveram o governo são de que os médicos do bebê
acreditavam ser improvável que ele jamais chegue a um alto nível de
funcionamento cognitivo ou que seja capaz de sobreviver por conta própria, e
provavelmente sua condição acabará por matá-lo. Os tribunais decidiram que
Alfie Evans, portanto, não tira proveito de continuar vivendo.
É realmente simples assim: o governo decidiu que é o melhor interesse do
bebê morrer, e garantiu que ele morresse rapidamente. Ele superou os direitos
dos pais no processo e Alfie
Evans completou sua batalha.
“O nosso
bebê ganhou asas nesta noite às 2h30 da manhã. Estamos com o coração partido.
Obrigada a todos pelo seu apoio”.
Com este
post no Facebook, Kate James anunciou a morte do seu bebê, enquanto, o
pai, Thomas, escreveu:
“O meu
gladiador baixou o seu escudo e ganhou asas às duas e meia da manhã. Totalmente
inconsolável. Euy amo você meu menino”.
Alfie respirou 4 dias sozinho
Na última
quarta-feira, 25 de abril, a Suprema Corte britânica declarou seu enésimo não
ao apelo dos pais de Alfie, que pediam a transferência do filho para o Hospital
Infantil Bambino Gesù, do Vaticano. O hospital do Papa teria assumido todas as
despesas, de modo que o hospital Alder Hey, de Liverpool, não precisaria gastar
nenhum centavo.
O Papa
Francisco pediu aos seus colaboradores que fizessem “o possível e o impossível”
para transferi-lo.
O governo da Itália
concedeu a Alfie a cidadania italiana para tentar agilizar o processo.
Mas a “justiça”
humana dos magistrados britânicos, ecoando a opinião dos médicos do hospital
Alder Hey, decretou que era “inútil” que Alfie continuasse a viver até a
sua morte natural.
A transferência
foi negada, assim como tinha sido negada, inúmeras vezes, a súplica para que os
aparelhos não fossem desconectados.
Na noite desta
segunda-feira, 23 de abril, os médicos do hospital de Liverpool removeram o
suporte vital para deixar Alfie morrer.
Mas,
surpreendentemente, bravamente, Alfie continuou respirando, sozinho, por pouco
mais de 4 dias.
Todos sabíamos
que a sua doença neurodegenerativa, ainda desconhecida e sem diagnóstico
preciso, era muito grave. Mas não era o capricho de alguns que iria determinar
a data e a hora para que ela desse cabo da vida de Alfie. E o bebê, apenas um
bebê, deixou bem claro que a vida não se curva ao que lhe é imposto em nome da
“justiça”.
Papa Francisco: “profundamente tocado pela morte do pequeno
Alfie”
O Papa Francisco, que tanto se moveu em
público e nos bastidores políticos e diplomáticos para que Alfie Evans contasse
com mais chances de tratamento e para que a luta dos seus pais pela sua vida
fosse respeitada, se manifestou com uma oferta solidária de orações, nesta
manhã, ao saber da partida do bebê à Casa do Pai:
Francisco já tinha usado o
Twitter em ocasiões anteriores para pedir em favor de Alfie e de seus pais, Tom
e Kate. Além da rede social, Francisco fez apelos públicos no Regina Coeli
e na audiência geral de quarta-feira, 18 de abril, ocasião em que recordou:
“[Quero] reiterar e confirmar fortemente que o
único Senhor da vida, desde o início até o fim natural, é Deus! E nosso dever,
o nosso dever é fazer tudo para preservar a vida”.
Francisco
não ficou só nas palavras. O Papa, que também recebeu pessoalmente no Vaticano
o pai do menino, Tom Evans, ordenou que fossem executados todos os
procedimentos necessários para que Alfie pudesse ser transferido e atendido em
Roma pelo hospital vaticano Bambino Gesù. À diretora do hospital, Mariella
Enoc, Francisco ordenou que fosse feito “o possível e o impossível” em favor do
bebê.
Uma audiência surreal
É difícil dizer palavras comedidas e sóbrias diante do que parece ter sido o (enésimo) veredito de morte sentenciado pelo juiz Hayden, após uma torturantemente interminável audiência que se arrastou a portas fechadas enquanto, no hospital, o pequeno grande guerreiro Alfie Evans lutava pela vida – sem os aparelhos, desconectados ainda na noite anterior, e sem as carícias dos pais, obrigados mais uma vez a se ausentarem para enfrentar um doentio ritual judiciário que, a essa altura, parece apenas determinado a fazê-los sofrer, num edifício cercado de tantos policiais que até pareceria que ali se julgavam terroristas ou criminosos de guerra.
Além de virem ao caso com
urgência sérias considerações sobre um sistema legal que permite que o mesmo
juiz se pronuncie tantas vezes e sob tantas contestações sobre o mesmo caso, é
altamente questionável, de novo, o “embasamento” da sentença de morte
teimosamente mantida pelo juiz Hayden.
Não tendo ainda
sido disponibilizado o texto oficial da sentença, as informações deste artigo
coletam dados veiculados por vários meios informativos britânicos e italianos,
em especial os publicados por Josh Halliday, correspondente do jornal The
Guardian em Manchester, cidade onde aconteceu a audiência
de hoje.
Quando Paul
Diamond, advogado da família Evans, pediu a autorização para retirar Alfie do
hospital afirmando que isto seria “simplesmente uma demonstração de humanidade
e bom senso“, o juiz o acusou de usar uma linguagem que, segundo
ele, é “uma
ridícula irracionalidade emocional” (!)
Não contente,
Hayden ainda declarou não querer “que o tribunal seja usado como vitrine
para banalidades e palavrórios, mas sim para uma apresentação adequada”
em nome da família de Alfie.
O juiz também
usou a expressão “malign hand” (“mão maligna“) para
(des)qualificar o estudante de direito Pavel Stroilov, que teria aconselhado
Tom Evans a processar médicos do hospital Alder Hey por tentativa de homicídio.
Como se fosse advogado do hospital em vez de juiz neutro e imparcial, Hayden afirmou
que a instituição tem oferecido a Alfie nada menos que “world class care”, ou seja, “cuidados
de primeiro mundo”.
É também chamativo que o
juiz Hayden tenha descartado a transferência de Alfie para Roma, quando, ao
mesmo tempo, pediu que o hospital considerasse autorizar os pais a levarem o
bebê para casa. Ora, se for reconhecido aos pais, finalmente, o direito óbvio de
retirar o filho do hospital, o que exatamente os impediria de levá-lo a outro
hospital, no lugar que bem entendessem, fosse em Roma ou em qualquer outra
cidade? Eles poderão levar Alfie para casa, mas estarão proibidos de levá-lo a
um hospital?
Hospital e juiz
ainda tiveram tempo de criticar, durante a audiência, algumas pessoas do
entorno da família Evans que, segundo eles, seriam responsáveis por “alimentar falsas esperanças“. O
juiz chegou a referir-se a uma dessas pessoas como “um jovenzinho fanático e iludido“.
Estes, acaso, serão termos técnicos do jargão jurídico? Não era este juiz quem
estava acusando o advogado dos Evans de “ridícula irracionalidade emocional”?
De volta ao mundo real e brutal do hospital
Enquanto esses mesmos
“doutores” “seguraram” o bebê no hospital o tempo necessário para que ele morresse,
quem teve de limpar o catarro de Alfie foram os seus próprios pais – e não os
enfermeiros e enfermeiras da instituição que parece esmerar-se muito mais em
enredos jurídicos do que em cumprir a sua missão de salvar vidas humanas. Mais
chocante: Tom declarou que foram ele e Kate que tiveram de fazer respiração
boca-a-boca em Alfie quando os seus lábios ficaram azuis após a extubação, e
não as enfermeiras e enfermeiros do hospital.
Padre que acompanhava a família de Alfie foi impedido de
entrar no hospital
O Padre Gabriele Brusco é o sacerdote italiano que
acompanha a família do bebê Alfie Evans nesta provação brutal, mas, ao mesmo
tempo, rodeada de intenso amor, esperança e fé.
Acompanha e
continuará acompanhando – só que, aparentemente, agora precisará fazê-lo à
distância.
A sua entrada
no quarto do bebê foi proibida. Até então, ele tinha sido uma presença
reconfortante e esperançadora junto à família Evans.
Durante o dia,
o padre havia feito declarações ao Tg2000, programa de notícias da TV2000
da Itália, explicando que “na terça [24] o Alfie estava muito
melhor; hoje um pouco menos, mas é necessário considerar que ele está cansado
porque não foi alimentado durante várias horas”.
O sacerdote
prosseguiu:
“Quando foi desconectado,
Alfie praticamente deveria morrer. Eles deram 6 horas de prazo no sistema
inglês para a sua morte. Mas ele não morreu. Por isso, foram obrigados a
administrar a sua alimentação e hidratação. Agora o Alfie está bem, mas está
fraco, porque durante vários meses não esteve acostumado a respirar por si
mesmo, usando o respirador artificial”.
Ele contou que
os pais de Alfie lhe pediram várias vezes para “colocar a sua mão na cabeça do menino e
rezar por ele”.
O pe. Gabriele
Brusco relatou também alguns elementos bem menos edificantes do cenário em
torno a Alfie:
“Na área de reanimação,
onde poucas pessoas podem entrar, encontrei em alguns dias cerca de 10 a 15
policiais no corredor e também dentro da pequena área onde está o quarto dele.
Há muitos ursinhos de pelúcia, cruzes e terços. Antes também havia um sofá, que
foi retirado ontem à noite, e o pai dele, Thomas, teve que dormir no chão”.
Hospital “blindado”
Após a maciça operação
policial, imediatamente após a sentença que rejeitou o último recurso dos
Evans, parece ter sido posto em marcha um plano de isolamento policial do
núcleo familiar.
O enviado
especial de Aleteia Itália a Liverpool, Giovanni Marcotullio, relata:
A
pergunta que todos me fazem desde ontem à noite é, claro, “como está o Alfie?”.
A resposta é simples: não sei, não se sabe. Todos nós vimos a fotografia linda
e comovente postada essa noite pela mamãe, Kate, mas, além desse sorriso
reconfortante e tranquilizador (parece uma sugestão de risus
paschalis, e os olhos ficam marejados…), tudo permanece misterioso.
Ele está sendo alimentado? Está sendo hidratado? Acho que sim, mas espero poder
ser mais assertivo durante esta jornada. O que sei é que, ontem à noite, os
pais conseguiram descansar algumas horas, após o dia surreal.
Uma
notícia séria, que eu esperava não ter que dar, mas que agora não posso calar,
diz respeito ao padre Gabriele, que, na noite passada, foi barrado no Hospital
Alder Hey. O cabo de guerra entre o padre e o hospital já durava tempo, e,
ontem de manhã (enquanto me afastavam do andar de Alfie e começavam a revistar
os familiares que entravam no quarto), tentaram mandá-lo embora do local. No
final da manhã, uma importante cobertura diplomática parecia ter sido obtida
para o padre legionário de Cristo, e parecia que o direito dos pais de Alfie à
assistência espiritual havia sido protegido. Mas, à tarde, algo mudou. E, à
noite, o padre Gabriele foi chamado de volta a Londres pelo seu pároco – é
claro que, embora com profunda tristeza, o padre obedeceu.
O padre
Gabriele nem sequer foi autorizado a se despedir de Tom, Kate e Alfie, que
estavam literalmente trancados no quarto. E, desde ontem à noite, nem mesmo
outros membros da família, ainda que revistados, puderam ter acesso ao quarto.
Quando o padre
pediu permissão para entrar, o funcionário do hospital respondeu: “Sim, é
verdade, o senhor normalmente deveria poder entrar, mas hoje eles me deram a
orientação de não deixá-lo passar. Sinto muito“.
Entrincheirada no quarto,
a família soube por telefone que tinha perdido até o seu assistente espiritual.
Todo o caso envolveu, desde o
princípio, a grave violação de direitos básicos dos pais, como o de escolher o
melhor tratamento para seu filho. Tom e Kate confiaram no trabalho do Alder Hey
e, quando o hospital desistiu de tratar Alfie e manifestou que era preferível
vê-lo morrer, eles continuaram a procurar alternativas, e as encontraram. Mas
não podem colocá-las em prática por uma decisão cruel da Justiça.
Todas as possibilidades de salvar Alfie foram recusadas pelo Estado
Homenagem que a população inglesa fez ao bebê Alfie Evans |
A Corte de Apelação recusou um
recurso dos pais de Alfie, que decidiram então remeter o caso à Suprema Corte.
A Suprema Corte se recusou a ouvir o caso. O Tribunal Europeu dos
Direitos Humanos também recusou intervir no caso. Somente depois de
centenas de pessoas protestarem em frente ao hospital, que a Corte de Apelação
decidiu ouvir novamente o caso mas os juízes decidiram novamente a favor da
decisão do hospital. Tom Evans recorreu mais uma vez à Suprema Corte mas ela se
posicionou em concordância com os médicos, rejeitando um recurso interposto
pelos pais de Alfie. “O hospital deve ser livre para realizar aquilo que foi
determinado como do melhor interesse de Alfie”, disse um comunicado dos três
juízes que emitiram a decisão.
A Conferência dos Bispos Católicos de
Inglaterra e Gales publicou uma nota dizendo que reconhece a “integridade” de
todos os envolvidos no caso. “O profissionalismo e o cuidado pela criança,
severamente doente, mostrados pelo hospital precisam ser reconhecidos e
afirmados”, disse o comunicado. “Com o Santo Padre, rezamos para que, com amor
e realismo, tudo possa ser feito para acompanhar Alfie e seus pais em seu
profundo sofrimento”. Os bispos do estado do Rio de Janeiro também publicaram
uma carta manifestando “incondicional apoio à família do pequeno Alfie Evans”.
Tom Evans enviou uma carta à rainha
Elizabeth II, pedindo a sua intervenção no caso mas não houve resposta e após
novo pedido a Corte Europeia dos Direitos Humanos se recusou novamente a
intervir no caso.
O caso
também comoveu a população no Reino Unido, Itália, Polônia e outros países
europeus, o que motivou diversas discussões sobre a situação de Alfie. Mais
cedo, diversas pessoas carregando bandeiras da Itália e Polônia e balões azuis
se reuniram em frente ao hospital Alder Hey para prestarem a última homenagem
ao menino, que nascera no dia 9 de maio de 2016.
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Com informações: Aleteia/ Gazeta O Povo
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