Celebramos a vigília da Natividade do Precursor do Senhor. O nascimento
de João Batista é celebrado, porque ele foi chamado e santificado já no ventre
de sua mãe. Zacarias, seu pai, num belo cântico, profetiza a respeito dele:
Serás profeta do Altíssimo, ó menino, pois irás andando à frente do Senhor para
aplainar e preparar os seus caminhos, anunciando ao seu povo a salvação. Como
João Batista, cada um de nós é chamado, pelo Batismo, a ser profeta do Senhor,
isto é, ser instrumento de conversão e salvação pelo testemunho de fé e de vida
para todos que conosco convivem ou encontramos no nosso caminho.
São João encontra-se no coração das festas juninas, marcadas pela
alegria e pela certeza de que Deus é misericordioso com os empobrecidos.
O culto a São João Batista remonta aos primeiros séculos do
cristianismo. João, denominado Batista, é filho de Zacarias, o mudo, e de
Isabel, a estéril. Seu nascimento anuncia a chegada dos tempos messiânicos, em
que a esterilidade se torna fecunda e o mutismo se faz exuberância profética.
Todos os vizinhos perguntavam: “O que esse menino vai ser?”. Zacarias eleva seu
cântico de reconhecimento, profetizando a grande missão de João: “E tu, menino,
serás chamado profeta do Altíssimo, pois irás à frente do Senhor para preparar
os caminhos dele, e para dar a seu povo o conhecimento da salvação, mediante o
perdão dos pecados” (Lc 1,76-77). Segundo avaliação do próprio Jesus, João é o
maior dos profetas de Israel: “Entre os nascidos de mulher, não apareceu
ninguém maior do que João Batista” (Mt 11,11).
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Leituras:
Jeremias 1,4-10; 1 Pedro 1,8-12; Lucas 1,5-17
São Lucas, no primeiro capítulo de seu
Evangelho, narra a concepção, o nascimento e a pregação de João Batista,
marcando assim o advento do Reino de Deus no meio dos homens. A Igreja
celebra-o desde os primeiros séculos do cristianismo. É o único santo cujo
nascimento (24 de Junho) e martírio são evocados em duas solenidades pelo povo
cristão. O seu nascimento é celebrado pelo povo com grande júbilo: cantos e
danças folclóricas, fogueiras e quermesses fazem da sua festa uma das mais
populares e queridas da nossa gente.
João nasceu em Aim Karim, cidade de Israel que
fica a 6 quilômetros do centro de Jerusalém. Seu pai, Zacarias, era um
sacerdote do templo de Jerusalém. Sua mãe, Isabel, era prima de Maria, Mãe de
Jesus. João foi consagrado a Deus desde o ventre materno. Em sua missão de
adulto, pregou a conversão e o arrependimento dos pecados. João batizava o
povo. Daí o nome João Batista, ou seja, aquele que batiza. Ele é muito
importante no Novo Testamento, pois foi o precursor de Jesus, anunciou a sua
vinda e a salvação que o Messias traria para todos. É também o último dos
profetas. Sua mãe, idosa, nunca tinha engravidado. Era tida como estéril. O
anjo Gabriel, então, apareceu a Zacarias quando este prestava seu serviço de
sacerdote no templo e anunciou que Isabel teria um filho e que este deveria se
chamar João. Zacarias não acreditou e ficou mudo. Pouco tempo depois, Isabel
engravidou como o Anjo havia dito.
O nascimento de João o Batista está repleto de
milagres. Um arcanjo anunciou a vinda de Nosso Senhor e Salvador, Jesus;
igualmente, um arcanjo anuncia o nascimento de João (Lc 1, 13) e diz: «será
cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe» (Lc 1, 16). O povo
judaico não via que Nosso Senhor realizava «milagres e prodígios» e curava
muitas doenças, mas João exulta de alegria estando ainda no seio materno; não
se consegue detê-lo e, à chegada da mãe de Jesus, a criança tenta sair do seio
de Isabel: «Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino
saltou de alegria no meu seio» (Lc 1,44). Ainda no seio de sua mãe, João
recebeu o Espírito Santo.
Nesse mesmo tempo, o anjo apareceu também a
Maria e anunciou que ela seria mãe do Salvador. Então, Maria foi visitar
Isabel, pois o anjo lhe havia dito que Isabel estava grávida. Quando Maria
chegou e saudou Isabel, João mexeu-se no ventre da mãe e Isabel fez aquela
maravilhosa saudação a Maria: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o
fruto do teu ventre! De onde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? (Lc
1,41-43).
João apareceu, pois, como ponto de encontro
entre os dois Testamentos, o antigo e o novo. O próprio Senhor o chama de
limite quando diz: A lei e os profetas até João Batista (Lc 16,16). Ele
representa o antigo e anuncia o novo. Porque representa o Antigo Testamento,
nasce de pais idosos; porque anuncia o Novo Testamento, é declarado profeta
ainda estando nas entranhas da mãe. Na verdade, antes mesmo de nascer, exultou
de alegria no ventre materno, à chegada de Maria.
Deus age também em nós. Estejamos sempre
atentos e não duvidemos d’Ele.
PARA REFLETIR
Nossa vida de fé é marcada por muitas
promessas, a primeira delas no Batismo, quando pais e padrinhos falando por nós
prometem e se comprometem em professar uma fé viva, capaz de um testemunho
autêntico diante do filho ou do afilhado, e na unção crismal prometemos acolher
em nossa vida o dom do Espírito Santo e deixarmo-nos conduzir por ele.
O “amém” ao receber a Eucaristia não deixa de
ser também uma promessa, de viver sempre em comunhão com Jesus, e nos
sacramentos da ordem ou do Matrimônio, prometemos viver um amor total de
entrega e doação à Santa Igreja, ou um ao outro, na vida conjugal. Fazemos
muitas promessas diante de Deus, antes de receber o sinal sacramental e sabemos
muito bem, que por causa dos nossos pecados, muitas vezes quebramos promessas
sagradas, quando acontecem as separações, o abandono da comunidade ou de uma
vocação religiosa.
Não é de hoje que o homem não cumpre suas
promessas diante de Deus, à bíblia está repleta de relatos onde as pessoas e
próprio povo descumpriu algo prometido diante de Deus. Entretanto, não
encontramos uma só palavra ou frase, no antigo ou no novo testamento, onde afirme
que Deus deixou de cumprir alguma de suas promessas, feitas para o homem.
A natividade de João Batista, único santo que
no calendário da Igreja, tem comemorado o seu nascimento, se reveste de
fundamental importância na história da salvação, justamente por ser um elemento
divisor entre o tempo chamado das promessas, e o tempo do cumprimento das
mesmas.
Há na religiosidade do povo brasileiro uma
prática que a modernidade não conseguiu matar: a de fazer promessas! Todas as
promessas são feitas para Deus, mas com a intercessão dos santos. A história da
Salvação teve início com uma promessa, feita pelo próprio Deus. Ele prometeu
através de líderes como Moisés, dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, dos
profetas e demais homens e mulheres de Deus.
“Terminou para Isabel o tempo da gravidez e
ela deu a luz um filho...”. Este não é um nascimento qualquer de um israelita,
Lucas faz questão de salientar que se completou o tempo de gestação, o tempo de
espera, e o útero de Isabel, antes estéril e incapaz de gerar vida, tocado por
Deus torna-se fértil, simbolizando de repente o coração de todo um povo,
cansado de sofrer, de andar por caminhos errados, por atalhos que só levavam à
morte, guiados por falsos líderes, toda a esperança que este povo guardava no
coração nas promessas de Deus, irrompe agora como um lençol dágua que fura a
rocha e flui à flor da terra, para saciar os sedentos de esperança e de vida
nova.
João Batista é a resposta de Deus aos anseios
do povo, após um silêncio de quase três séculos! Inspirados por Deus, todos os
profetas haviam falado deste tempo novo, para consolar e fortalecer um povo
desiludido, desmotivado, esmorecido e sem esperança, certamente esses profetas
foram tidos como loucos, sonhadores, fantasiosos, mas muitos guardaram no
coração essas promessas, e souberam transmiti-las de geração em geração, sem
deixar morrer a esperança, o próprio Zacarias, sacerdote do templo e pai de
João Batista, faz parte deste povo que espera, seu nome significa “Deus se
recordou”.
A sua súbita mudez, longe de ser um castigo, é
prenúncio do tempo feliz que com ele irá se iniciar, e ao apresentar a criança
no templo, para ser circuncidado como era costume, ele confirma o nome de
“João” que significa “Aquele que anuncia” e recuperando a voz glorifica a Deus
que visitou o seu povo.
Que significado tem, para nós cristãos, a
celebração do nascimento de João Batista neste 24 de Junho? Se ficarmos apenas
na popularidade e nos festejos joaninos típicos desta data, iremos nos divertir
muito, mas certamente não iremos aprender nenhuma lição.
O nosso povo, tanto quanto aquele povo de
Israel, em meio aos sofrimentos físicos e morais, também têm guardado no
coração essa esperança, de que um dia o bem supremo irá triunfar sobre as
forças do mal, é verdade que conforme os dias vão passando, as vezes o desânimo
vai tomando conta do coração de muitos que perderam a crença em Deus, no amor e
na própria vida, são certas promessas mirabolantes que nunca se realizam, são
líderes charlatães que iludem, enganam, roubam. São lideranças religiosas que
não cumprem e nem honram seu papel de ministros de Deus, criando uma religião
fantasiosa, que explora e cria tantas ilusões.
João vislumbra algo que ninguém tinha ainda
vislumbrado: que o reino já estava no meio dos homens, na pessoa e na missão de
Jesus de Nazaré. Anuncia a necessidade de uma mudança de mentalidade e de
coração, para acolher este reino novo, que não se fundamenta em mentiras e
fantasias, mas na Verdade que é Jesus Cristo, o Cordeiro que tira o pecado do mundo.
Olhando para a origem de João, seu nascimento
e a missão de precursor do Messias, que Deus lhe confiou, podemos refletir
sobre tais acontecimentos à luz do evangelho, e mais do que refletir, já está
na hora de vivermos esse evangelho, que fala de um tempo novo, de um reino que
já está entre nós e que consegue restituir ao coração humano toda essa
Esperança que é Jesus de Nazaré, pois como João Batista, todos nós nascemos
para sermos os portadores e anunciadores dessa Boa Nova, ao homem descrente deste
terceiro milênio.
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* Celebrada à tarde ou à noite.
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