Depois que centenas de manifestantes
derrubaram a estátua de São Junípero Serra, em São Francisco (Estados Unidos),
o arcebispo local criticou o que aconteceu e disse que os protestos contra a
injustiça racial foram "sequestrados" por uma máfia obstinada com a
violência.
"O que está acontecendo com a nossa
sociedade? Um movimento nacional renovado para curar memórias e corrigir as
injustiças do racismo e da brutalidade policial em nosso país foi sequestrado
por alguns para transformá-lo em um movimento de violência, saques e
vandalismo", disse o Arcebispo de São Francisco, Dom Salvatore Cordileone,
em um comunicado divulgado no sábado, 20 de junho.
A declaração do arcebispo veio depois que uma
estátua de São Junípero Serra foi derrubada, na sexta-feira, no Golden Gate
Park, em São Francisco, junto com as estátuas de Francis Scott Key e Ulysses S.
Grant.
"A derrubada e a desfiguração das estátuas
no Golden Gate Park, incluindo a de São Junípero Serra, tornaram-se o mais
recente exemplo dessa mudança no movimento de protesto", acrescentou o
Arcebispo.
“A memorização de figuras históricas merece
uma discussão honesta e justa sobre como e a quem se deve conceder esta honra.
Mas aqui, não havia uma discussão racional; foi a regra da máfia, um fenômeno
preocupante que parece se repetir em todo o país”, assegurou.
Dom Cordileone enfatizou a importância dos
chamados à justiça racial e ao fim da brutalidade policial, que começou após a
morte de George Floyd, um negro morto por um policial de Minneapolis, em 25 de
maio. Este ajoelhou-se no pescoço de Floyd por quase nove minutos até sua
morte.
"Todos os que trabalham pela justiça e
igualdade se juntam à indignação daqueles que foram e continuam sendo
oprimidos", disse o arcebispo.
"É especialmente certo que os seguidores
de Jesus Cristo, os cristãos, são chamados a trabalhar incansavelmente pela
dignidade de todos os seres humanos", acrescentou, e assinalou que São
Francisco de Assis, que deu origem ao nome da cidade de São Francisco, é
"uma das figuras históricas mais importantes e icônicas da paz e da boa
vontade”.
Além disso, afirmou que "durante os
últimos 800 anos, as várias ordens franciscanas de irmãos, irmãs e sacerdotes
inspirados por ele foram exemplares, não apenas servindo, mas se identificando
com os pobres e oprimidos e dando a eles sua dignidade legítima como filhos de
Deus", afirmou Dom Cordileone.
"São Junípero Serra não é exceção", enfatizou.
O santo, que foi canonizado pelo Papa
Francisco, em 2015, foi um missionário franciscano do século XVIII que fundou
nove missões católicas na área que mais tarde se tornaria a Califórnia; muitas
dessas missões se tornariam os centros das principais cidades da Califórnia.
São Junípero Serra ajudou a converter milhares
de californianos nativos ao cristianismo e ensinou-lhes novas tecnologias
agrícolas.
Os críticos assinalam que o santo é um símbolo
do colonialismo europeu e que as missões foram dedicadas ao trabalho forçado
dos nativos americanos, que as vezes reclamavam que Frei Junípero também era
abusivo.
No entanto, os defensores de São Junípero
assinalam que, na realidade, foi um defensor dos nativos e dos direitos
humanos. Destacam também que ajudou muitas pessoas nativas durante a sua vida,
e que estes depois choraram pela sua morte.
“São Junípero Serra fez sacrifícios heroicos
para proteger os povos indígenas da Califórnia de seus conquistadores
espanhóis, especialmente dos soldados. Mesmo com a sua perna doente que lhe
causou tanta dor, ele caminhou até a Cidade do México para obter poderes
especiais do governo do vice-rei da Espanha para disciplinar os militares que
estavam abusando dos índios. E, depois, voltou para a Califórnia”, disse o
arcebispo no sábado.
“E para
que não haja dúvidas, temos um lembrete físico até hoje: Em todos os lugares há
um presídio (quartel de soldados) associado a uma missão e vinculado às outras
21 missões que ele fundou. A prisão está a quilômetros de distância da própria
missão e da escola", acrescentou.
Dom Cordileone disse que não queria
"negar que erros históricos tenham ocorrido, mesmo por pessoas de boa
vontade, e que a cura de memórias e reparações é muito necessária", mas
assim como existem erros históricos, esses "não podem ser corrigidos
mantendo-se ocultos" ou "reescrevendo a história".
O Arcebispo elogiou o zelo missionário do
santo: “São Junípero Serra também lhes ofereceu o melhor que tinha: o
conhecimento e o amor de Jesus Cristo, que ele e seus irmãos franciscanos
fizeram através da educação, assistência médica e capacitação nas artes
agrárias”.
"A ira contra a injustiça pode ser uma
resposta saudável quando é essa justa indignação que faz a sociedade avançar.
Mas, como o próprio Cristo ensina, e São Francisco modelou, o amor, e não a
ira, é a única resposta”, concluiu Dom Cordileone.
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Publicado originalmente em ACI Prensa.
Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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