quarta-feira, 24 de junho de 2020

Arcebispo nos EUA condena ataques à estátua de São Junípero Serra em manifestações contra o racismo



Depois que centenas de manifestantes derrubaram a estátua de São Junípero Serra, em São Francisco (Estados Unidos), o arcebispo local criticou o que aconteceu e disse que os protestos contra a injustiça racial foram "sequestrados" por uma máfia obstinada com a violência.

"O que está acontecendo com a nossa sociedade? Um movimento nacional renovado para curar memórias e corrigir as injustiças do racismo e da brutalidade policial em nosso país foi sequestrado por alguns para transformá-lo em um movimento de violência, saques e vandalismo", disse o Arcebispo de São Francisco, Dom Salvatore Cordileone, em um comunicado divulgado no sábado, 20 de junho.

A declaração do arcebispo veio depois que uma estátua de São Junípero Serra foi derrubada, na sexta-feira, no Golden Gate Park, em São Francisco, junto com as estátuas de Francis Scott Key e Ulysses S. Grant.

"A derrubada e a desfiguração das estátuas no Golden Gate Park, incluindo a de São Junípero Serra, tornaram-se o mais recente exemplo dessa mudança no movimento de protesto", acrescentou o Arcebispo.

“A memorização de figuras históricas merece uma discussão honesta e justa sobre como e a quem se deve conceder esta honra. Mas aqui, não havia uma discussão racional; foi a regra da máfia, um fenômeno preocupante que parece se repetir em todo o país”, assegurou.

Dom Cordileone enfatizou a importância dos chamados à justiça racial e ao fim da brutalidade policial, que começou após a morte de George Floyd, um negro morto por um policial de Minneapolis, em 25 de maio. Este ajoelhou-se no pescoço de Floyd por quase nove minutos até sua morte.
  
"Todos os que trabalham pela justiça e igualdade se juntam à indignação daqueles que foram e continuam sendo oprimidos", disse o arcebispo.

"É especialmente certo que os seguidores de Jesus Cristo, os cristãos, são chamados a trabalhar incansavelmente pela dignidade de todos os seres humanos", acrescentou, e assinalou que São Francisco de Assis, que deu origem ao nome da cidade de São Francisco, é "uma das figuras históricas mais importantes e icônicas da paz e da boa vontade”.

Além disso, afirmou que "durante os últimos 800 anos, as várias ordens franciscanas de irmãos, irmãs e sacerdotes inspirados por ele foram exemplares, não apenas servindo, mas se identificando com os pobres e oprimidos e dando a eles sua dignidade legítima como filhos de Deus", afirmou Dom Cordileone.

"São Junípero Serra não é exceção", enfatizou. 

O santo, que foi canonizado pelo Papa Francisco, em 2015, foi um missionário franciscano do século XVIII que fundou nove missões católicas na área que mais tarde se tornaria a Califórnia; muitas dessas missões se tornariam os centros das principais cidades da Califórnia.

São Junípero Serra ajudou a converter milhares de californianos nativos ao cristianismo e ensinou-lhes novas tecnologias agrícolas.

Os críticos assinalam que o santo é um símbolo do colonialismo europeu e que as missões foram dedicadas ao trabalho forçado dos nativos americanos, que as vezes reclamavam que Frei Junípero também era abusivo.

No entanto, os defensores de São Junípero assinalam que, na realidade, foi um defensor dos nativos e dos direitos humanos. Destacam também que ajudou muitas pessoas nativas durante a sua vida, e que estes depois choraram pela sua morte.

“São Junípero Serra fez sacrifícios heroicos para proteger os povos indígenas da Califórnia de seus conquistadores espanhóis, especialmente dos soldados. Mesmo com a sua perna doente que lhe causou tanta dor, ele caminhou até a Cidade do México para obter poderes especiais do governo do vice-rei da Espanha para disciplinar os militares que estavam abusando dos índios. E, depois, voltou para a Califórnia”, disse o arcebispo no sábado.

 “E para que não haja dúvidas, temos um lembrete físico até hoje: Em todos os lugares há um presídio (quartel de soldados) associado a uma missão e vinculado às outras 21 missões que ele fundou. A prisão está a quilômetros de distância da própria missão e da escola", acrescentou.

Dom Cordileone disse que não queria "negar que erros históricos tenham ocorrido, mesmo por pessoas de boa vontade, e que a cura de memórias e reparações é muito necessária", mas assim como existem erros históricos, esses "não podem ser corrigidos mantendo-se ocultos" ou "reescrevendo a história".

O Arcebispo elogiou o zelo missionário do santo: “São Junípero Serra também lhes ofereceu o melhor que tinha: o conhecimento e o amor de Jesus Cristo, que ele e seus irmãos franciscanos fizeram através da educação, assistência médica e capacitação nas artes agrárias”.

"A ira contra a injustiça pode ser uma resposta saudável quando é essa justa indignação que faz a sociedade avançar. Mas, como o próprio Cristo ensina, e São Francisco modelou, o amor, e não a ira, é a única resposta”, concluiu Dom Cordileone.
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Publicado originalmente em ACI Prensa.
Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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