Duzentos anos atrás, em 1814, a Companhia de Jesus era reconstituída depois de ter sido suprimida e dispersa ao longo de algumas décadas. Foi Pio VII que restituiu aos jesuítas o seu papel e liberdade. Às suas costas, estava talvez o período mais duro da história da Ordem, o posterior à supressão proclamada por Clemente XIV com a bula Dominus ac Redemptor em 1773.
A data está no centro de estudos e de celebrações, até porque se trata de uma passagem histórica que diz respeito a toda a Igreja, aprofundado somente em parte por pesquisadores e estudiosos. Mas, sem dúvida, o fato de que a 200 anos desse renascimento tenha sido eleito o primeiro papa jesuíta da história, além do mais proveniente da América do Sul, não é um elemento secundário nessa renovada atenção com relação às vicissitudes da Ordem fundada por Santo Inácio de Loyola.
Segundo o Pe. Gianpaolo Salvini, ex-diretor da revista La Civiltà Cattolica, a secular revista dos jesuítas italianos, "o período da supressão da Companhia de Jesus é um período histórico relativamente pouco estudado pelos próprios historiadores jesuítas. Provavelmente, um certo pudor influenciou ao lidar com uma página dolorosa da vida da Ordem, e também a dificuldade de decifrar plenamente as complexas causas que levaram à sua dissolução em 1773".
"A Ordem, de fato – acrescenta Salvini –, no momento da sua supressão, contava com cerca de 5.000 jesuítas a mais (mais de 22 mil) do que conta hoje, depois da diminuição das últimas décadas, e parecia bem sólida".
Portanto, é "também por isso que os jesuítas da época foram pegos de surpresa e não se deram conta do que estava acontecendo às suas custas". "Atingindo-os – afirma o jesuíta – certamente se queria enfraquecer a Igreja e um órgão universal, como era também a Companhia, na época do nascimento dos Estados nacionais". "Os jesuítas, ou muitos deles – destaca o religioso – também eram homens de fronteira e estavam envolvidos em polêmicas de todos os tipos".
Daí a oportunidade de "retomar e aprofundar os estudos históricos a respeito, até para que a história não passe em vão. Essa época já está fechada e, por isso, deveria ser possível compreender, com a calma necessária, os seus episódios, motivações e lições certamente interessantes também para um mundo tão diverso como o nosso".
A Companhia de Jesus representava, sem dúvida, na segunda metade do século XVIII, uma das expressões mais fortes e difundidas no mundo da universalidade da Igreja e, portanto, também direta ou indiretamente, do seu poder. Nas décadas que vão de 1750 até cerca do fim do século, o Iluminismo conheceu a sua fase de floração mais ampla, entrou nas cortes reais europeias, acendeu debates, espalhou-se entre as camadas burguesas.
A França passaria pela fase revolucionária e, depois, a napoleônica, abrir-se-ia um ciclo de mudanças que abrirá as portas para a modernidade. É neste contexto que os jesuítas começaram a ser contestados, juntamente com outras instituições eclesiais como a Inquisição, só que a Companhia se ocupava massivamente de educação, escolas e universidades. A presença dos jesuítas nesses campos se espalhou de um lado a outro da Europa e era muitas vezes julgada como de grande qualidade, mas o impulso para libertar a educação da sua presença foi uma das razões fundamentais que induziram os Estados para expulsá-los.
Mas a Ordem, com os seus homens, os seus capelães, também estava dentro das cortes onde os jesuítas eram reputados como intrigantes e manipuladores, e tornaram-se o símbolo de um poder eclesial tão refinado quanto insidioso, e capaz de construir conspirações e complôs.
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Fonte: Aleteia
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