segunda-feira, 31 de julho de 2017

A figueira amaldiçoada (Mt 21,18-22): justiça


São Lucas, o evangelista da misericórdia, não trata da figueira amaldiçoada, mas São Mateus (21,18-22) e São Marcos (11,12-14.20-24) sim. Fazem-no de forma concisa e forte, de modo que é oportuno observar a lição que essa passagem nos traz.

Trata-se do seguinte: O Senhor Jesus, ao voltar para Jerusalém, de manhã, sentiu fome e dirigiu-se a uma figueira cheia de folhas. Como, porém, ela não tinha frutos (não era época, diz São Marcos 11,13), Cristo amaldiçoou a planta e ela secou de repente. Os discípulos se espantaram com a eficácia das palavras do Mestre, mas Ele nada comentou sobre o feito. Disse apenas que a fé remove montanhas e pela oração tudo se alcança.

Como entender esse trecho bíblico muito rico em simbolismos e lições? – Cinco pontos vêm ao caso:

a) o Senhor sente fome… Fome de almas para Deus.

b) a figueira é frondosa (cheia de folhas), mas nada produz. Em outras palavras: só tem aparência ou vistosidade, mas não oferece o principal que são os frutos. Assim são os hipócritas aqui retratados: vivem da aparência, mas sem eficiência.

c) não era tempo de fruto, pois devia ser mês de abril, antes da Páscoa, época em que não há figos; portanto, a simples árvore não tem culpa. No entanto, o que o Evangelho deseja ensinar é que Israel se acha estéril ante a mensagem divina. Isso, contudo, não diz respeito só àquele povo, mas, sim, a todos nós, negligentes ante a Palavra de Deus e sua mensagem nos dias de hoje.

d) a maldição é enfática e típica das sentenças fortes dos judeus (cf. Mt 21,19), mas não se aplica a todo o povo de Israel, e, sim, aos escribas e fariseus mentores da massa. Israel não é nação maldita. Ela foi escolhida por Deus e há de cumprir o seu papel no reino messiânico (cf. Rm 9,11).

e) ante o susto dos Apóstolos, o Senhor evita comentar a questão da figueira seca em si, mas lhes incute o valor da oração. Ela é muito poderosa quando feita com fé ardente (cf. Mt 17,19), e é atendida não conforme os nossos caprichos, mas, sim, segundo a vontade de Deus: Ele, por exemplo, não afasta o cálice de Cristo – a Paixão – como Este pede (cf. Mc 14,36-37), mas Lhe dá algo muito maior: O faz vencedor da morte e – mais que isso – Senhor dos vivos e dos mortos (cf. Hb 5,7; Ap 2,8).

domingo, 30 de julho de 2017

Como interpretar a frase “Seja feita a vossa vontade”?


Sempre achei que a frase do Pai-Nosso “Seja feita a vossa vontade” fosse um convite a aceitar a vontade de Deus; de fato, em momentos difíceis da minha vida, sempre foi muito útil refletir sobre estas palavras que dizemos com frequência na oração. Recentemente, durante um encontro, um padre nos convidou a ler esta frase como um convite a agir, a trabalhar para que a vontade de Deus seja feita no mundo: uma exortação ao compromisso dos cristãos na construção de uma sociedade segundo o que Deus quer. Qual seria, então, a interpretação mais correta, para a Igreja? Ou será que as duas leituras são corretas e podem ser integradas?
  
Para entender o Pai-Nosso, é preciso olhar para Aquele que nos ensinou esta oração. É a sua oração que se torna nossa. Não existe oração mais santa, mais exata, mais verdadeira que esta, porque ela surge da própria relação que Jesus tem com o Pai no Espírito Santo. Ele não nos passou uma formulação, e sim nos transmitiu o conteúdo do seu diálogo com o Pai. Por isso, a graça destas palavras é imensa, e a riqueza do seu significado, como de cada palavra que sai da boca de Deus, é inesgotável.

Por este motivo, inclusive sua interpretação ao longo da história até o dia de hoje não deixou de interpelar teólogos, exegetas e santos escritores (recordemos os mais antigos e famosos, como Tertuliano, Orígenes, Cipriano, Agostinho, Tomás de Aquino), bem como indivíduos fiéis e pastores. E é bom que seja assim, para que estas palavras não se atrofiem em uma fórmula estereotipada.

A pergunta, portanto, é pertinente, e a resposta se encontra dentro da sua formulação. De fato, não se pode separar a disposição interior do cristão de sua prática efetiva. Dessa maneira, não se pode simplesmente concordar com o coração e a vontade à vontade divina sem que esta disposição interior tenha uma correspondência em nossa maneira de agir e atuar nas diversas situações da vida.

O problema que a pergunta traz implicitamente me parece ser outro, ou seja, uma concepção estática, determinista do que é a vontade divina, à qual o homem deveria, inevitavelmente e muitas vezes de má vontade, ceder. De fato, esta é a impressão que frequentemente temos da vontade de Deus, ou seja, como se ela fosse algo inamovível e que não corresponde à nossa vontade. Daí o esforço em aceitá-la. 

São Leopoldo Mandic


São Leopoldo Mandic foi um herói dos confessionários. Nasceu em Castelnovo de Cátaro, na Dalmácia (ex-Iugoslávia) em 12 de maio de 1866 e foi batizado como Adeodato Mandic. Os pais, profundamente religiosos, educaram-no nos mais elevados sentimentos em relação a Deus e aos homens.

Com 16 anos, ingressou na Ordem dos Capuchinos, em Bassano del Grappa, em 1884 e em 1890 já era Sacerdote, quando tomou o nome de Leopoldo.

Em 20 de Setembro de 1890 foi ordenado sacerdote em Veneza. Convencido que o Senhor o chamava a um grande ideal, pediu, com insistência, aos seus Superiores que o deixassem partir para o Oriente a fim de poder dedicar a sua vida à reunificação na Igreja Católica dos cristãos ortodoxos. Porém, as suas precárias condições de saúde não lho permitiram e teve, assim, de se submeter à vontade dos seus Superiores e passou então por diversos Conventos, entregando-se ao ministério das confissões até que, em 1909, foi destinado ao Convento de Santa Cruz, em Pádua, na Itália, com o encargo de atender de forma estável o sacramento da Reconciliação. Ali permaneceu até a morte.

Chegou aos 76 anos. Um tumor no esôfago prostrou-o na manhã de 30 de Julho de 1942, no momento em que se preparava para celebrar a Eucaristia. Naquela manhã, ele mesmo se converteu em vítima sobre o altar do Senhor. As suas últimas palavras foram uma invocação a Nossa Senhora da qual tinha sido sempre devoto.


As vozes e a convicção de todos era que tinha morrido naquele momento um santo. Começaram a invocá-lo para obterem conforto e graças do Céu. O seu corpo, sepultado numa capela junto ao seu confessionário, foi encontrado incorrupto.

Em 2 de Maio de 1976, durante o Sínodo da Evangelização, o Papa Paulo VI beatificou-o, em São Pedro, afirmando, nessa altura: “Que o nosso Beato saiba chamar ao sacramento da Penitência, a este, certamente, severo tribunal, mas não menos amável refúgio de conforto, de verdade, de ressurreição para a graça e de exercício para a autenticidade cristã, muitas almas para lhes fazer experimentar as secretas e renovadas alegrias do Evangelho no colóquio com o pai, no encontro com Cristo, na consolação do Espírito Santo”.

O papa João Paulo II o incluiu no catálogo dos santos em 1983, declarando-o herói do confessionário e “apóstolo da união dos cristãos”, modelo para os que se dedicam ao ministério da reconciliação.

Ele tornou-se santo principalmente por trazer a paz e o perdão. Sua vida lembra aos padres a importância do Sacramento da Reconciliação, o seu bem incomparável e a poderosa ajuda da penitência.



Deus de bondade infinita e sumo bem, que fizestes de São Leopoldo um instrumento da Vossa misericórdia para com os pecadores e um fervoroso promotor da unidade entre os cristãos, concedei-nos por sua intercessão, a graça de nos renovarmos cada vez mais para podermos levar a todos os homens o Vosso amor, e cooperar eficazmente na união de todos os crentes mediante o vínculo da paz. Por nosso Senhor, amém.

sábado, 29 de julho de 2017

7 fatos sobre a vida dos leigos nos primeiros séculos do cristianismo


Apesar de costumeiramente não receber uma descrição melhor do que “o leigo é aquele que não é padre nem religioso”, é da vida leiga que a Igreja é principalmente composta. O ministério ordenado, como sabemos, não é um fim em si mesmo. Bispos, padres e diáconos estão a serviço do crescimento na fé, na esperança e no amor daquela multidão de homens e mulheres que fecundam com o Espírito de Deus a vida do mundo.

O protagonismo do leigo na vida da Igreja é um tema que foi retomado com mais força em tempos recentes pelo Concílio Vaticano II, sobretudo nas constituições Lumen Gentium e Gaudium et Spes e no decreto Apostolicam Actuositatem. Por “vida da Igreja”, entenda-se tanto a sua participação na sociedade realizada a partir do Evangelho e, assim, como presença de Cristo no mundo, quanto a sua colaboração, ao lado de clérigos e religiosos, na missão evangelizadora da Igreja, assumindo serviços pastorais.

Desde o Concílio, leigos têm lentamente assumido postos na Cúria Romana e nas dioceses. São mais numerosas – mas ainda tímidas – as beatificações e canonizações de leigos. Os leigos passaram a poder estudar teologia e lecionar nessa área. Mas como vivia o laicato nos primórdios da Igreja? Confira aqui sete fatos sobre como era a vida dos leigos nos primeiros séculos do cristianismo.

Laikós

A palavra “leigo” – do grego λαϊκός (“laikós”), que vem de λαός (“laós”), “povo” – não aparece no Novo Testamento. Seu primeiro registro em contexto cristão está na carta de Clemente aos coríntios, no final do século I.

Eles anunciam, ensinam e participam

Mas é claro que leigos e leigas estão presentes na Igreja nascente: eles participam da eleição de Matias para a vaga que surgiu entre os doze apóstolos com a morte de Judas (cf. At 1, 23), bem como da escolha dos sete primeiros diáconos (cf. At 6, 1-6). Anunciam o Evangelho, até aproveitando as dispersões que as perseguições ocasionam (cf. At 8,4; 11,19), e assumem ministérios como o de didáscalos (mestre, doutor), como o casal Áquila e Priscila, que dá uma formação mais aprofundada da fé a Apolo (cf. At 18,26).

“Já enchemos tudo”

Estava claríssimo que a missão evangelizadora da Igreja era responsabilidade tanto dos ministros ordenados quanto dos leigos. Era nas conversas do dia-a-dia, nas cidades e nos campos, que o nome de Jesus era anunciado. Tertuliano, no final do século II, louvava diante dos pagãos os frutos do testemunho cristão no meio do mundo: “Nós somos de ontem e já enchemos tudo que é vosso: cidades, ilhas, fortalezas, prefeituras, aldeias, os próprios campos, tribos, decúrias, palácio, senado, fórum; deixamo-vos apenas os templos…”

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Se Deus é imutável, ele não sente alegria, tristeza ou raiva?


Deus é imutável? Sim. Vejamos alguns textos bíblicos:

– “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14).

– “Recebi ordem de abençoar; ele abençoou: nada posso mudar” (Nm 23, 20).

– “Mas os planos do Senhor permanecem para sempre, os propósitos do seu coração são para todas as gerações” (Sal 33,11).

– “Porque eu sou o Senhor e não mudo; e vós, ó filhos de Jacó, não sois ainda um povo extinto” (M 3,6).

– “Tu os envolvas como uma capa, e serão mudados. Tu, ao contrário, és sempre o mesmo e os teus anos não acabarão” (Hb 1, 12).

Deus é imutável, mas é preciso entender em que consiste essa imutabilidade ou inalterabilidade. Quando dizemos que Deus não muda, não estamos falando de sentimentos humanos, menos ainda de indiferença a respeito do que acontece com o ser humano, mas que Deus eternamente será o mesmo, ontem, hoje e sempre (Hb 13, 8).

“”Deus não é homem para mentir, nem alguém para se arrepender. Alguma vez prometeu sem cumprir? Por acaso falou e não executou?” (Nm 23, 19)

Em Deus não há nenhuma mudança, transformação, variação ou algo assim. Deus é imutável em sua essência, em seus atributos e em seus propósitos.
Ele, sendo três vezes santo, não pode se desviar do que é mal nem ser a causa da escuridão, porque “”Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém.”  A Bíblia é clara: Deus não muda sua forma de ser, de pensar, nem vontade ou natureza.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

4 razões práticas pelas quais muitos sacerdotes jovens voltaram a usar batinas


A batina já foi a forma mais comum dos sacerdotes se vestirem no ambiente paroquial, mas a partir do final dos anos 1960 foi quase universalmente abandonada. Entretanto, atualmente vários sacerdotes jovens começaram a usá-la.

O sacerdote católico Charles Pope escreveu um artigo no ‘National Catholic Register’, intitulado “Why Traditional Priestly Cassocks are Making a Comeback”, no qual explica algumas razões pelas quais os sacerdotes jovens preferem a batina, roupa qualificada como “distintiva e eminentemente sacerdotal”.

“As pessoas me agradecem por usar a batina, mas ninguém nunca me agradeceu por usar uma roupa. Isso me diz que a batina tem um significado especial para o povo de Deus”, indicou.

A seguir, confira as razões pelas quais a batina voltou a estar na moda, de acordo com Mons. Pope:

1. É fresca

De acordo com Mons. Pope, muitas pessoas se surpreendem quando garante que a sua “batina é mais fresca do que o habitual terno clerical”.

“Sem proporcionar muita informação, basta dizer que não preciso usar a minha roupa completa por baixo da batina. No verão, umas calças curtas largas com uma cintura elástica confortável, uma camiseta de algodão e meias são suficientes”, assinalou.

Do mesmo modo, disse que usa “batinas de verão”, feitas com “um material leve e transpirável” e que é “agradavelmente fresca comparado com um terno”.

2. É larga

“Nunca foi um fã de roupas apertadas que atualmente estão na moda. A batina, quando está desgastada ??sem a fáscia (um cinto largo), fica larga no corpo”, assegurou o sacerdote.

Além disso, disseque pode esconder o excesso de peso, “ao contrário das calças apertadas ou do cinto”, que “constantemente mostram este problema”.

São Pantaleão


O santo de hoje viveu no séc. III e IV da era cristã, durante um período de intensa perseguição aos cristãos que não podiam professar a própria fé, pois o que predominava naquela época era o culto aos deuses pagãos.

Pantaleão era filho de Eustóquio, gentio e de Êubola, cristã. Sua mãe encaminhou-o na fé cristã. Após o falecimento de sua mãe, Pantaleão foi aplicado pelo pai aos estudos de retórica, filosofia e medicina.

Durante a perseguição, travou amizade com um sacerdote, exemplo de virtude, Hermolau, que o persuadiu de Nosso Senhor Jesus Cristo ser o autor da vida e o senhor da verdadeira saúde.

Um dia que se viu diante de uma criança morta por uma víbora, disse para consigo: “Agora verei se é verdade o que Hermolau me diz”. E, segundo isto, diz ao menino: “Em nome de Jesus Cristo, levanta-te; e tu, animal peçonhento, sofre o mal que fizeste”. Levantou-se a criança e a víbora ficou morta; em vista disso, Pantaleão converteu-se e recebeu logo o santo batismo.

Acabou sendo convocado pelo imperador Maximiano como seu médico pessoal. As milagrosas curas que em nome de Jesus Cristo realizava, suscitaram a inveja de outros médicos, que o acusaram de cristão perante o imperador que, por sua vez, o mandou ser amarrado a uma árvore e degolado. Desta forma, assumindo a coroa do martírio, São Pantaleão passou desta vida para a vida eterna.


Senhor, fazei que não se apague em nossos corações a lembrança da Vossa bondade infinita. Concedei-nos sentir o poder de intercessão, que outorgastes ao Vosso Santo Mártir, S. Pantaleão, a fim de que ele nos socorra em dó das as circunstâncias de nossa existência, quando recorremos aos seus méritos para obtermos a Vossa Graça. Assim seja.



S. Pantaleão, refúgio certo de todos que Vos invocam, rogai por nós.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Por que há 700 anos existe a tradição de tatuar cristãos em Jerusalém?


Em Jerusalém vive uma família que há mais de 700 anos faz tatuagens nos cristãos coptos e nos peregrinos do mundo todo que visitam a Terra Santa.

A família Razzouk tem seu estúdio de tatuagem na cidade de Jerusalém. Atualmente, o responsável pelo negócio é Wassim Razzouk. Em declaração a CNA – agência em inglês do Grupo ACI –, o homem de 43 anos contou a origem e a importância desta tradição.

“Somos coptos, viemos do Egito e, no Egito, existe uma tradição de tatuar os cristãos. Meus antepassados foram alguns dos que tatuavam os cristãos coptos”, expressou.


A primeira evidência das tatuagens cristãs remete aos séculos VI e VII na Terra Santa e no Egito. Com o tempo, esta prática começou a ser replicada nas comunidades cristãos das igrejas etíopes, armênias, sírias e maronitas.

Atualmente, em algumas igrejas coptas, a tatuagem serve para identificar os cristãos e estes devem mostra-la quando querem ingressar em algum templo.

Com o início das Cruzadas no ano 1095, o costume de tatuar os que concluíam sua peregrinação à terra Santa foi adotado pelos visitantes europeus. Também existem registros históricos que revelam que, por volta do ano 1600, os peregrinos continuavam realizando esta prática e este costume permaneceu até a atualidade.

terça-feira, 25 de julho de 2017

A virtude sem a qual não veremos a Deus


Nós lemos no Evangelho que Jesus Cristo, querendo ensinar ao povo que vinha em massa para aprender dele o que era preciso para ter a vida eterna, se senta e lhes diz:

“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5,8).

Se nós tivéssemos um grande desejo de ver a Deus, meus irmãos, será que estas palavras já não seriam suficientes para compreendermos o quanto a pureza nos torna agradáveis a Ele e o quanto precisamos dela? Afinal, segundo Jesus Cristo, sem ela nós não O veremos jamais! “Bem-aventurados”, diz Jesus Cristo, “os puros de coração, porque eles verão o bom Deus”.

Pode-se acaso esperar maior recompensa do que esta que Jesus Cristo vincula a essa bela e amável virtude? A posse das Três Pessoas da Santíssima Trindade, por toda a eternidade! São Paulo, que conhecia bem o preço desta virtude, escreveu aos Coríntios:

“Glorificai a Deus, pois O trazeis em vosso corpo; e sede fiéis em conservá-lo em grande pureza. Lembrai-vos bem, meus filhos, de que os vossos membros são membros de Jesus Cristo e que o vosso coração é templo do Espírito Santo. Tomai cuidado de não os manchar pelo pecado, que é o adultério, a fornicação e tudo aquilo que pode desonrar o vosso corpo e o vosso coração aos olhos de Deus, que é a própria Pureza” (cf. I Cor, 6, 15-20).

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Em que momentos devemos fazer a inclinação de cabeça na Missa?


Observo em praticamente 99% das comunidades que visito, quando o padre fala o nome da Virgem Maria na missa, quase ninguém inclina a cabeça. Provavelmente por falta de conhecimento litúrgico , os poucos que inclinam são os acólitos. As vezes nem o próprio sacerdote inclina.

A inclinação quer expressar “a reverência e a honra que se atribuem às próprias pessoas ou aos seus símbolos” (Pe. Aldazábal – Presidente do Centro Pastoral de Barcelona) .

A instrução do Missal romano nos ensina que devemos fazer inclinação da cabeça quando o sacerdote fala:

– “A Virgem Maria, Mãe de Deus…”

– “Por nosso Senhor Jesus Cristo…”

– “… vos abençoe em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo”

São Charbel


O santo de hoje nasceu no norte do Líbano, num povoado chamado Bulga-Kafra, no ano de 1828. Proveniente de uma família cristã e centrada nos valores do Evangelho, muito cedo precisou conviver com a perda de seu pai.

Após discernir o seu chamado à vida religiosa, com 20 anos ingressou num seminário libanês maronita. Durante o Noviciado, trocou seu nome de batismo (José) por Charbel. Mostrou-se um homem fiel às regras, obediente à ação do Espírito Santo e penitente.

Após sua ordenação em 1859, enfrentou muitas dificuldades, dentre elas a perseguição ferrenha aos cristãos com o martírio de muitos jovens religiosos e a destruição de inúmeros mosteiros em sua época. Em meio a tudo isso, perseverou na fé, trazendo consigo as marcas de uma vocação ao silêncio, à penitência e à uma vida como eremita.

Aos 70 anos, vivendo num ermo dedicado a São Pedro e São Paulo, com saúde bastante fragilizada, discerniu que era chegada a hora de sua partida para a Glória Celeste. Era Véspera de Natal. E no dia 24 de Dezembro, deitado sobre uma tábua, agonizante, entregou sua vida Àquele que concede o prêmio reservado aos que perseveram no caminho de santidade: a vida eterna.



Deus, infinitamente glorificado nos Santos, que inspirastes São Charbel a seguir a solitária vida da perfeição, Vos agradecemos por terdes feito resplandecer a força da Vossa graça, que concedeu a São Charbel a força necessária para afastar-se totalmente do mundo, para fazer triunfar o heroísmo das virtudes monásticas, a pobreza, a obediência e a castidade. Vos suplicamos, concedei-nos tão grande graça, de amar-Vos e servir-Vos, conforme seu exemplo. Deus que nos mostrastes a poderosa intercessão de São Charbel com numerosas graças e verdadeiros milagres, concedei também a mim a graça (nominar) que Vos peço pela intercessão de São Charbel junto a Vós. Amém.

domingo, 23 de julho de 2017

Homem rala imagem de Nossa Senhora e joga o pó sobre o corpo seminu, em performance "artística".


Um artista de Ceilândia, cidade–satélite de Brasília, está concorrendo ao Prêmio Pipa 2017 por uma apresentação na qual rala uma imagem da padroeira do Brasil e depois joga o pó sobre o corpo seminu. O conceito que busca encapar o desrespeito está descrito no site do prêmio como crítica à “ideia de um dito sincretismo e situações históricas ligadas ao preconceito étnico”. 

Os devotos da Virgem Aparecida que tomaram conhecimento do ato estão chocados e não poderia ser diferente. Em nome do que chamam arte ou performance cultural ativistas e artistas escolhem símbolos ligados à Fé católica para escarnecer. Foi assim em 2013 quando na Jornada Mundial da Juventude com o Papa Francisco esses mesmos denominados de artistas introduziram crucifixos e imagens de Nossa Senhora em suas partes íntima. 

Papa: “A linha de confim entre o bem e o mal passa no coração de cada pessoa”.


Papa Francisco

ANGELUS

Praça de São Pedro
domingo, 23 de julho, 2017


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

A página evangélica de hoje, apresenta três parábolas em que Jesus fala às multidões sobre o Reino de Deus. Detenho-me sobre a primeira: A do trigo bom e do joio, que ilustra o problema do mal no mundo e destaca a paciência de Deus (Mt 13,24-30.36-43). Quanta paciência Deus tem conosco! Cada um de nós pode dizer: “Quanta paciência Deus tem comigo”. A narrativa se desenvolve em um campo com dois protagonistas opostos. De um lado, o patrão do campo que representa Deus e semeia a boa semente; do outro, o inimigo que representa Satanás e espalha a erva daninha.

Com o passar do tempo no meio do trigo cresce também o joio e diante deste fato o patrão e seus servos têm atitudes diferentes. Os servos queriam intervir arrancando o joio, mas o patrão que está preocupado sobretudo em salvar o trigo se opõe à iniciativa dizendo: “Não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo” (v 29). Com esta imagem, Jesus nos diz que neste mundo o bem e o mal estão interligados, que é impossível separar-lhes e erradicar todo o mal. Somente Deus pode fazer isso e o fará no juízo final. Com suas ambiguidades e seu caráter compósito, a situação presente é o campo da liberdade, o campo da liberdade dos cristãos, onde se realiza o difícil exercício do discernimento entre o bem e o mal.

Neste campo, portanto, une-se, com grande confiança em Deus e na sua providência, duas atitudes aparentemente contraditórias: a decisão e a paciência. A decisão é a de querer ser o trigo bom – todos querem – com todas as próprias forças e se afastar do mal e de suas seduções. A paciência significa preferir uma Igreja que é fermento na massa, que não tem medo de sujar as mãos lavando os panos de seus filhos, em vez de uma Igreja de “puros” que pretende julgar antes do tempo quem está no Reino de Deus e quem não está.

O Senhor, que é a Sabedoria encarnada, ajuda-nos hoje a compreender que o bem e o mal não são identificados em territórios definidos ou em determinados grupos de pessoas: “Estes são os bons e estes são os maus”. Ele nos diz que a linha de confim entre o bem e o mal passa no coração de cada pessoa, passa no coração de cada um de nós, isto é: Somos todos pecadores. Eu queria perguntar a vocês: “Quem não é pecador, levante a mão”. Ninguém! Porque todos nós somos, somos todos pecadores. Jesus Cristo por sua morte na cruz e a sua ressurreição, nos libertou da escravidão do pecado e nos dá a graça de prosseguir numa vida; mas com o Batismo também nos deu a Confissão, porque precisamos sempre ser perdoados de nossos pecados. Olhar sempre e apenas o mal que está fora de nós significa não querer reconhecer o pecado que está em nós.

Depois, Jesus nos ensina uma maneira diferente de olhar o mundo, de observar a realidade. Somos chamados a aprender os tempos de Deus – que não são os nossos tempos – e o “olhar” de Deus: graças à influência benéfica de uma trepidante espera, o que era joio ou parecia ser joio, pode se tornar um produto bom. É a realidade da conversão. É a perspectiva da esperança!

Que a Virgem Maria nos ajude a colher na realidade que nos rodeia não apenas a sujeira e o mal, mas também o bem e o belo, a desmascarar a obra de Satanás, mas acima de tudo, a confiar na ação de Deus que fecunda a história.

Homilética: Transfiguração do Senhor - Ano A: "A Glória do Pai na face de Cristo".


Esta festa do Senhor é celebrada desde os começos, nesta mesma data, em muitos lugares do Ocidente e do Oriente. No século XV, o Papa Calixto lll estendeu-a  a  toda a Igreja. O milagre da Transfiguração é recordado mais de uma vez, durante o ano: no segundo domingo da Quaresma, para afirmar a divindade de Cristo, pouco antes da Paixão; e hoje, para festejar a exaltação de Cristo na sua glória. A Transfiguração do Senhor é, além disso, uma antecipação do que será a glória do Céu, onde veremos a Deus face a face; em virtude da graça, participamos já nesta terra dessa promessa da vida eterna.

A caminho de Jerusalém, Jesus faz o primeiro anúncio da Paixão. Disse que iria sofrer e padecer em Jerusalém, e que morreria às mãos dos príncipes dos sacerdotes, dos anciãos e dos escribas. Os apóstolos tinham ficado aflitos e tristes com a notícia. O caminho da salvação esperado pelos discípulos é bem diferente! Para fortalecer o ânimo profundamente abalado dos discípulos, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João e leva-os a um lugar à parte para orar. Aí, no Monte Tabor, revela-lhes a glória da divindade. “Enquanto orava, o seu rosto transformou-se e as suas vestes tornaram-se resplandecentes” (Lc 9, 29; Mt 17, 1 – 9 ).

São Leão Magno diz que “a finalidade principal da Transfiguração foi desterrar das almas dos discípulos o escândalo da Cruz.”

Pela Transfiguração, Deus demonstra que uma existência feita dom não é fracassada, mesmo quando termina na Cruz. Também nos revela que Jesus é “o Filho amado do Pai” e nos convida a escutar o que Ele diz.

A Transfiguração do Senhor antecipa a Ressurreição e anuncia a divinização do homem. Conduz-nos a um alto Monte para acolher de novo, em Cristo, como filhos do Filho, o dom da Graça de Deus: “Este é o meu Filho amado: Escutai-O.”

O Senhor, momentaneamente, permitiu que os três discípulos pudessem entrever a sua divindade, e eles ficaram fora de si, cheios de uma imensa felicidade. “A Transfiguração revela – lhes um Cristo que não se mostrava na vida cotidiana. Está diante deles como Alguém no qual se cumpre a Antiga Aliança, e sobretudo como o Filho eleito do Pai Eterno,  a quem é preciso prestar  fé absoluta e obediência total” ( São João Paulo ll, Homilia ),  a quem devemos buscar ao longo da nossa existência aqui na terra.

A Transfiguração foi uma centelha de glória divina que inundou os apóstolos de uma felicidade tão grande que fez Pedro exclamar: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas…” (Mt 17, 4). Pedro quer prolongar aquele momento. Mas, Pedro não sabia o que dizia; pois o que é bom, o que importa, não é estar aqui ou ali, mas estar sempre com Cristo, em qualquer parte, e vê-lo por trás das circunstâncias em que nos encontramos. Se estamos com Ele, tanto faz que estejamos rodeados dos maiores consolos do mundo ou prostrados no leito de um hospital, padecendo dores terríveis. O que importa é somente isto: vê-lo e viver sempre com Ele! Esta é a única coisa verdadeiramente boa e importante na vida presente e na outra. Desejo ver-te, Senhor, e procurarei o teu rosto nas circunstâncias habituais da minha vida!

A nossa vida é um caminho para o Céu. Mas é uma via que passa pela Cruz e pelo sacrifício. Até o último momento, teremos que lutar contra a corrente, e é possível que também passemos pela tentação de querer tornar compatível a entrega que o Senhor nos pede com uma vida fácil e talvez aburguesada, como a de tantos que vivem com o pensamento posto exclusivamente nas coisas materiais. “Não sentimos frequentemente a tentação de pensar que chegou o momento de converter o cristianismo em algo fácil, de torná – lo confortável, sem sacrifício algum; de fazê – lo conformar – se com as maneiras cômodas, elegantes e comuns dos outros e com o modo de vida mundano? Mas não é assim!… O cristianismo não pode dispensar a Cruz: a vida cristã é inviável sem o peso forte e grande do dever… Se procurássemos tirá – lo da nossa vida, criaríamos ilusões e debilitaríamos o cristianismo; transformaríamos o cristianismo numa interpretação branda e cômoda da vida” ( Beato Paulo Vl ). Não é esse o caminho que o Senhor indicou.

O pensamento da glória que nos espera deve animar-nos na nossa luta diária. Nada vale tanto como ganhar o Céu. Ensina Santa Teresa: “E se fordes sempre avante com essa determinação de antes morrer do que desistir de chegar ao termo da jornada, o Senhor, mesmo que vos mantenha com alguma sede nesta vida, na outra, que durará para sempre, vos dará de beber com toda abundância e sem perigo de que vos venha a faltar.”

“Este é o meu Filho amado: ouvi-O”. Deus Pai fala através de Jesus Cristo a todos os homens, de todos os tempos. Ensina São João Paulo II: “procura continuamente as vias para tornar próximo do gênero humano o mistério do seu Mestre e Senhor: próximo dos povos, das nações, das gerações que se sucedem e de cada um dos homens em particular” (Encíclica Redemptor Hominis, 7). A sua voz faz-se ouvir em todas as épocas, sobretudo através dos ensinamentos da Igreja.

O significado concreto de tudo isso, hoje como então, é este: nossa vida de cristãos está permeada de provações; o sofrimento nos acompanha. Muitas vezes, é tanta a escuridão que não se consegue mais   divisar   o Céu; o horizonte da fé parece desaparecer ao longe. Vemos somente a realidade presente que se mostra com toda sua aspereza. É nesta hora   que a dor nos cerca com   seu espetáculo: dor de gerações passadas, dor atual, dor dos pecadores e dor dos justos…  Aos lábios aflora espontânea a pergunta: Por que tudo isto? Por que se Deus é bom, se Deus é Pai? São Pedro nos afirma que também alguns dos primeiros cristãos estavam tentados a dizer: Onde está a promessa de sua vinda? Desde que nossos pais morreram, tudo continua como desde o princípio do mundo ( 2Pd 3,4).

Nesta prova da fé, brilha o Evangelho da Transfiguração, como penhor certíssimo de vitória. Toda esta dor irá acabar. Um dia, cada um de nós, e todo o universo, será transfigurado porque deverá ser como Jesus, deverá assumir seu modo de ser glorioso e espiritual e formar, aliás, “um só Espírito” com ele.

Jesus, como fez com Pedro, Tiago e João, aproxima – se, coloca – nos uma mão sobre o ombro e nos convida a descer do monte. Convida – nos a segui – Lo a Jerusalém, isto é, nas provas da vida cotidiana.


Nós devemos encontrar Jesus na nossa vida corrente, no meio do trabalho, na rua, nos que nos rodeiam, na oração, quando nos perdoa no Sacramento da Penitência (Confissão), e sobretudo na Eucaristia, onde se encontra verdadeira, real e substancialmente presente. Devemos aprender a descobri-Lo nas coisas ordinárias, correntes, fugindo da tentação de desejar o extraordinário.

Homilética 19º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Confiança no Senhor".


No Evangelho deste domingo (Mt 14,22-33) encontramos Jesus que, retirando-se sobre o monte, reza durante a noite inteira. Separado tanto da multidão como dos seus discípulos, o Senhor manifesta a sua intimidade com o Pai e a necessidade de rezar em solidão, ao abrigo dos tumultos do mundo. No entanto, este seu afastar-se não deve ser entendido como um desinteresse pelas pessoas, nem como um abandono dos Apóstolos. Pelo contrário – narra São Mateus – pediu que os discípulos entrassem na barca a fim de “O preceder na outra margem” ( Mt 14, 22 ), para os encontrar de novo. Entretanto, “já a uma boa distância da margem, a barca era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário” (v. 24), e eis que “pela quarta vigília da noite, Jesus veio até eles, caminhando sobre o mar” (v.25); os discípulos ficaram transtornados e, pensando que se tratava de um fantasma, “soltaram gritos de terror” (v. 26), pois não O reconheceram, não compreenderam que era o Senhor. Mas Jesus tranquiliza-os: “Ânimo, sou Eu. Não tenhais medo!” (v. 27). Os Padres da Igreja tiraram uma grande riqueza desse episódio: O mar simboliza a vida presente, a instabilidade do mundo visível; a tempestade indica todos os tipos de tribulação, de dificuldade que oprime o homem. A barca, ao contrário, representa a Igreja construída por Cristo e norteada pelos Apóstolos. Jesus deseja educar os discípulos a suportar com coragem as adversidades da vida, confiando em Deus, naquele que se revelou ao Profeta Elias no monte Horeb, no “murmúrio de uma brisa ligeira” (1Rs 19, 12). Ainda no texto do Evangelho, chama a atenção o gesto do Apóstolo Pedro que, tomado por um impulso de amor pelo Mestre, pediu para ir ao seu encontro, caminhando sobre as águas. “Mas, redobrando a violência do vento, teve medo e, começando a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me!’ (Mt 14, 30). Santo Agostinho, imaginando que se dirigia ao Apóstolo, comenta: o Senhor “humilhou-se e pegou-te pela mão. Unicamente com as tuas forças, não consegues levantar-te. Segura na mão daquele que desce até ti”, e diz isto não apenas a Pedro, mas diz isto também a nós. Pedro caminha sobre as águas não pelas suas próprias forças, mas pela Graça divina, na qual crê, e quando se sente dominado pela dúvida, quando deixa de fixar o olhar em Jesus e tem medo do vento, quando não confia plenamente na Palavra do Mestre, quer dizer que, interiormente, se está a afastar-se d’Ele, e é então que corre o risco de afundar-se no mar da vida, e é assim também para nós: se olharmos unicamente para nós mesmos, tornamo-nos dependentes dos ventos e já não conseguimos atravessar as tempestades, as águas da vida. Escreve Romano Guardini que o Senhor “está sempre próximo, dado que se encontra na raiz do nosso próprio ser. Todavia, temos que experimentar o nosso relacionamento com Deus entre os polos da distância e da proximidade. Pela proximidade somos fortalecidos, pela distância, postos à prova”.

Ao ouvir a narração deste texto evangélico, podemos tirar uma conclusão: O Mestre não está longe nem agora; não nos deixará a sós lutando com as ondas; basta invocá – Lo que Ele descerá do monte e virá em socorro de sua Igreja. Esta confiança se baseia no fato de que Jesus ressuscitou e está vivo. Os antigos padres da Igreja colocavam em evidência uma coincidência: Jesus vai ao encontro dos apóstolos no lago “na quarta vigília da noite”, isto é, na mesma hora em que ressuscitou dos mortos.

Nesta situação, uma coisa é necessária para não afundar: não perder a confiança, não desanimar no meio das dificuldades, não olhar para baixo ou ao redor, para as ondas que se agitam, mas à frente, para Cristo. Somente quem vacila na fé, ou quem confia nas próprias forças, afunda.

Se a nossa vida se passar no cumprimento fiel do que Deus quer de nós, nunca nos faltará a ajuda divina. Na fraqueza, na fadiga, nas situações de maior dificuldade, Jesus irá se aproximar de nós, de modo inesperado, e nos dirá: “Sou Eu, não temais”. Ele nunca abandona os seus amigos, e muito menos quando o vento das tentações, do cansaço ou das dificuldades nos é contrário. Ensina Santa Teresa: “Se tiverdes confiança n’Ele e ânimo animoso, que Sua Majestade é muito amigo disso, não tenhais medo de que vos falte coisa alguma”.

Quando Pedro começou a afundar-se, para voltar à superfície, teve que segurar a mão forte do Senhor, seu Amigo e seu Deus. Não era muito, mas era o esforço que Deus lhe pedia; é a colaboração da boa vontade que o Senhor sempre nos pede.

Para Pedro, uma só coisa importa: estar perto de Cristo. Não interessa quais são as condições, se com “ventos contrários” ou “tempestade”, Pedro quer estar junto de Cristo. Pedro é sempre quem toma a palavra, é ele quem sempre dá o primeiro passo no grupo dos apóstolos.

Foram momentos impressionantes para todos: Pedro trocou a segurança da barca pela da palavra do Senhor. Não ficou aferrado às tábuas da embarcação, mas dirigiu-se para onde Jesus estava, a uns poucos metros dos discípulos, que contemplam atônitos o Apóstolo por cima das águas enfurecidas. Pedro avança sobre as ondas. Sustentam-no a fé e a confiança no seu Mestre; só isso!

Pedro teria continuado a caminhar firmemente sobre as águas e teria chegado até o Senhor se não tivesse afastado dEle o seu olhar confiante. Todas as tempestades juntas, as de dentro da alma e as do ambiente, nada podem enquanto estivermos bem ancorados na fé e na oração. A nossa fé nunca deve fraquejar, mesmo que as dificuldades sejam enormes e a sua violência pareça esmagar-nos.

Pouco importam o ambiente, as dificuldades que rodeiam a nossa vida, se sabemos avançar cheios de fé e confiança ao encontro de Jesus que nos espera; pouco importa que as ondas sejam muito altas ou o vento forte; pouco importa que não seja do natural do homem caminhar sobre as águas. Se olhamos para Jesus, tudo nos é possível; e esse olhar para Ele é a virtude da piedade. Se pela oração e pelos sacramentos nos mantemos unidos a Jesus, caminharemos com firmeza. Deixar de olhar para Cristo é naufragar, é incapacitar-se para dar um passo, mesmo em terra firme.

Esse pequeno esforço que o Senhor pede aos seus discípulos de todos os tempos para tirá-los de uma má situação, pode ser muito diverso: intensificar a oração; cortar decididamente com uma ocasião próxima de pecar; obedecer com prontidão e docilidade de coração aos conselhos recebidos na confissão e na conversa com o diretor espiritual… Não nos esqueçamos nunca da advertência de São João Crisóstomo:  “Quando falta a nossa cooperação, cessa também a ajuda de Deus”. Ainda que seja o Senhor quem nos tira da água. No momento em que Pedro começou a temer e a duvidar, começou também a afundar-se.

Temos de aprender a nunca desconfiar de Deus, que não se apresenta apenas nos acontecimentos favoráveis, mas também nas tormentas dos sofrimentos físicos e morais da vida: “Tende confiança, sou Eu, não temais!”. Deus nunca chega tarde em nosso auxílio, e sempre nos ajuda nas nossas necessidades.

E se alguma vez sentimos que nos falta apoio, que submergimos, repitamos aquela súplica de Pedro: ”Senhor, salva-me!” Não duvidemos do seu amor, nem da sua mão misericordiosa, não esqueçamos que “Deus não manda impossíveis, mas ao mandar pede que faças o que possas e peças o que não possas, e ajude para que possas” (Santo Agostinho).


A dificuldade da fé do apóstolo Pedro leva-nos a compreender que o Senhor, ainda que O procuremos ou invoquemos, é Ele mesmo que vem ao nosso encontro, abaixa o Céu para nos estender a sua mão e nos elevar à sua altura; Ele espera unicamente que nos confiemos de maneira total a Ele, que seguremos realmente a sua mão. Invoquemos a Virgem Maria, modelo de confiança plena em Deus para que, no meio de tantas preocupações, problemas e dificuldades que agitam o mar da nossa vida, ressoe no nosso coração a palavra tranquilizadora de Jesus que nos diz, também a nós: Ânimo, sou Eu, não tenhais medo!, e aumente a nossa fé n’Ele.

sábado, 22 de julho de 2017

A apatia dos católicos clama aos Céus vingança


As redes sociais divulgaram um vídeo, ao que parece feito em uma paróquia de Fortaleza, durante uma Missa, onde se vê um homem entrar na fila de comunhão, pegar a Eucaristia, jogá-La no chão e A pisotear. Muitas pessoas apontaram corretamente aquilo que é mais grave nas imagens: mais do que a profanação cometida pelo demônio em forma de velho, o que verdadeiramente choca e estarrece é a completa indiferença com a qual todos os presentes parecem encarar a situação.


Não se vê ninguém tomado da justa indignação que uma situação dessas exigiria. Não se vê ninguém procurando impedir o velho — visivelmente alterado — de entrar na fila da comunhão em primeiro lugar; não se vê ninguém reagindo quando ele, teatralmente, de forma macabra, cospe a sagrada partícula no chão. Não se vê ninguém esboçando a mais mínima reação quando ele dá as costas e vai embora — lançando imprecações inaudíveis no vídeo, imagino eu. E, mais assustador, não se vê a menor perturbação no processo maquinal de continuar distribuindo a Sagrada Eucaristia. O sacerdote permanece impassível enquanto a “ministra” tenta, sem sucesso, administrar a comunhão diretamente na boca do velho possesso; depois da profanação consumada, o padre desce do altar com vagar e normalidade. Limpa o chão por alguns instantes. Após, retorna, e a distribuição da Eucaristia prossegue como se nada houvesse acontecido.


São imagens verdadeiramente angustiantes, diante das quais é imperioso lembrar dois “pequenos” pontos. Primeiro: com a consagração do Pão e do Vinho, durante a Santa Missa, ocorre o fenômeno da transubstanciação, por virtude do qual as espécies consagradas não são mais pão e vinho, mas se tornam, real e substancialmente, o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em cada minúscula partícula da Eucaristia está presente Cristo inteiro, com Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Ou seja, o que está ali, jogado no chão, pisoteado e cuspido, é literalmente o Deus Todo-Poderoso, o Criador dos Céus e da Terra.

Não se trata de um símbolo nem de uma metáfora, não é força de expressão. É exatamente isto: aquele pedaço de pão é Deus. Seria já uma coisa grave, por exemplo, alguém pegar um objeto do culto católico — uma imagem, um crucifixo — e o deitar no chão; seria ofensivo e provocaria por si só um enorme mal-estar. Imagine-se alguém que entrasse na igreja revirando os bancos, quebrando as imagens dos santos, arrancando as toalhas do altar, chutando as velas e as flores: ofenderia a sensibilidade católica, sem dúvidas, e seria muito improvável que os fiéis permanecessem inertes diante de semelhante espetáculo iconoclasta.

O que se fez, no entanto, foi muito pior. Foi infinitamente pior. O demônio se voltou não contra um objeto dedicado ao culto de Deus, mas contra o próprio Deus. Ele não vilipendiou o templo, as imagens sacras ou os paramentos: foi muito além e jogou ao chão Aquele para cujo culto os paramentos foram tecidos, cuspiu n’Aquele para cuja glória as imagens sacras foram confeccionadas, pisou sobre Aquele para cuja honra o templo foi edificado. Não à toa existe uma excomunhão latae sententiae específica para quem profana a Santíssima Eucaristia: quem destrói as igrejas volta-se indiretamente contra Deus, mas quem profana as Sagradas Espécies ofende direta e substancialmente a Deus em Si mesmo.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

O dever de pagar impostos


«Discute-se muito o dever de pagar impostos. 
Bons moralistas autorizam a sonegação dos mesmos. 
Que há de certo nesses debates?» Jangada (Aparecida).

Os impostos constituem assunto muito melindroso em nossos tempos dando ocasião a que pessoas sensatas proponham sentenças assaz diversas em torno da obrigatoriedade dos mesmos. Isto se entende bem, pois a questão na vida prática se reveste de facetas múltiplas, ricamente matizadas.

Na presente resposta, esforçar-nos-emos por focalizar os grandes princípios a partir dos quais se deverá procurar a solução , dos casos particulares.

Já que dois são os sujeitos interessados na questão dos impostos — o Estado e o cidadão —, compreende-se que o problema apresente dois aspectos principais: «Estado e impostos», «Cidadão e impostos». É a estes dois títulos que vamos agora voltar a nossa atenção, a fim de poder formular algumas conclusões úteis na vida cotidiana.

1. Estado e impostos

1. É fato óbvio que existe, e deve existir, o que se chama «o bem comum». Este consta dos diversos elementos que a sociedade fornece aos seus membros, a fim de que possam exercer os seus legítimos direitos e conseguir o respectivo ideal.

Assim o bem comum compreende, entre outras coisas, ordem e segurança públicas no interior da cidade e do pais (isto só se obtém mediante tropas que defendam a pátria; policia e tribunais que coíbam os malfeitores; corpo de bombeiros...), assistência social para os indigentes, os enfermos, os anciãos (donde hospitais, asilos, orfanatos, creches, lactários...), educação (escolas), cultura (bibliotecas, museus, monumentos de arte), transportes e comunicações (estradas de rodagem, ferrovias, correios, telefones...), serviços de águas e esgotos, serviços de limpeza pública, rede de eletricidade, etc.

Ora esses diversos fatores do bem-estar público não são dados como tais pela natureza, mas têm que ser conquistados  pelos esforços e a colaboração dos cidadãos. O órgão coordenador desses esforços é, por definição, o Estado. Sim, às autoridades civis, e somente a estas, compete fixar certos objetivos de interesse comum da sociedade e determinar as partes que cada cidadão ou cada entidade particular deve desenvolver para a consecução dos mesmos. Com efeito, é o Governo que possui as informações e a supervisão necessárias para orientar os esforços dos particulares em demanda do bem comum. Donde se segue que o Estado, na medida em que propugna- os interesses da sociedade, tem o direito de contar com a contribuição de cada cidadão. Esta contribuição há de ser, na sua forma mais óbvia, monetária ou financeira (tributária).

Na antiguidade, a contribuição dos cidadãos para o bem comum era prestada diretamente sob a forma de serviços públicos («leitourgiai», em grego) ou sob a forma de gêneros naturais (gado, trigo, cereais, ...). Hoje em dia, dado o desenvolvimento da técnica e a complexidade dos serviços públicos, é evidentemente mais fácil e manuseável o tributo sob a forma de dinheiro. — É a essa contribuição que se dá o nome de imposto».

Vê-se assim que a cobrança de impostos (ou a cobrança da contribuição de cada cidadão para o bem comum) é direito e dever do Estado. Se não tivessem esse direito, as autoridades civis ficariam de todo impotentes para realizar a sua missão, e o próprio bem comum se ressentiria fatalmente; pode-se dizer que os cidadãos acabariam por perder mesmo a possibilidade de ganhar o seu pão na sociedade.

2. Contudo, ao determinar e exigir os impostos, o Estado deve observar certas normas, a fim de não exorbitar dos seus direitos e merecer o acatamento dos súditos:

a) sejam justas as causas em vista das quais se exigem os tributos. O Governo deverá intencionar realmente o bem comum (tanto do ponto de vista material como do ponto de vista moral) da sociedade; portanto impostos exigidos para festas indignas, campanhas ou guerras iníquas, escolas ímpias, etc. carecem de força obrigatória; cuide o Governo de não dar preferência a interesses de particulares, com detrimento para o bem comum. Mesmo entre as causas de interesse comum, observe a hierarquia dos valores, favorecendo antes do mais os empreendimentos de primeira necessidade (serviços de água, habitação, transportes públicos, etc.);

b) a avaliação dos impostos seja proporcional à posição de cada indivíduo na sociedade. O que quer dizer: cada um contribuirá de acordo com o que possui e o que arrecada como renda. Certos cidadãos e certas instituições que, por seus afazeres mesmos, já contribuem para o bem comum, deverão ser contemplados à parte, podendo mesmo ser dispensados de impostos; seria, sim, contrário à justiça dificultar a existência de pessoas físicas ou morais que se dedicam primariamente ao serviço do próximo;

c) se possível, seja a arrecadação de impostos feita em épocas fixas, devidamente previstas, a fim de não surpreender os contribuintes, causando-lhes incômodos e prejudicando o ritmo normal da vida nos lares e no comércio.

Eis os aspectos principais do problema dos impostos que dizem respeito primariamente ao Estado. Passemos agora ao titulo recíproco.