domingo, 23 de julho de 2017

Homilética 19º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Confiança no Senhor".


No Evangelho deste domingo (Mt 14,22-33) encontramos Jesus que, retirando-se sobre o monte, reza durante a noite inteira. Separado tanto da multidão como dos seus discípulos, o Senhor manifesta a sua intimidade com o Pai e a necessidade de rezar em solidão, ao abrigo dos tumultos do mundo. No entanto, este seu afastar-se não deve ser entendido como um desinteresse pelas pessoas, nem como um abandono dos Apóstolos. Pelo contrário – narra São Mateus – pediu que os discípulos entrassem na barca a fim de “O preceder na outra margem” ( Mt 14, 22 ), para os encontrar de novo. Entretanto, “já a uma boa distância da margem, a barca era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário” (v. 24), e eis que “pela quarta vigília da noite, Jesus veio até eles, caminhando sobre o mar” (v.25); os discípulos ficaram transtornados e, pensando que se tratava de um fantasma, “soltaram gritos de terror” (v. 26), pois não O reconheceram, não compreenderam que era o Senhor. Mas Jesus tranquiliza-os: “Ânimo, sou Eu. Não tenhais medo!” (v. 27). Os Padres da Igreja tiraram uma grande riqueza desse episódio: O mar simboliza a vida presente, a instabilidade do mundo visível; a tempestade indica todos os tipos de tribulação, de dificuldade que oprime o homem. A barca, ao contrário, representa a Igreja construída por Cristo e norteada pelos Apóstolos. Jesus deseja educar os discípulos a suportar com coragem as adversidades da vida, confiando em Deus, naquele que se revelou ao Profeta Elias no monte Horeb, no “murmúrio de uma brisa ligeira” (1Rs 19, 12). Ainda no texto do Evangelho, chama a atenção o gesto do Apóstolo Pedro que, tomado por um impulso de amor pelo Mestre, pediu para ir ao seu encontro, caminhando sobre as águas. “Mas, redobrando a violência do vento, teve medo e, começando a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me!’ (Mt 14, 30). Santo Agostinho, imaginando que se dirigia ao Apóstolo, comenta: o Senhor “humilhou-se e pegou-te pela mão. Unicamente com as tuas forças, não consegues levantar-te. Segura na mão daquele que desce até ti”, e diz isto não apenas a Pedro, mas diz isto também a nós. Pedro caminha sobre as águas não pelas suas próprias forças, mas pela Graça divina, na qual crê, e quando se sente dominado pela dúvida, quando deixa de fixar o olhar em Jesus e tem medo do vento, quando não confia plenamente na Palavra do Mestre, quer dizer que, interiormente, se está a afastar-se d’Ele, e é então que corre o risco de afundar-se no mar da vida, e é assim também para nós: se olharmos unicamente para nós mesmos, tornamo-nos dependentes dos ventos e já não conseguimos atravessar as tempestades, as águas da vida. Escreve Romano Guardini que o Senhor “está sempre próximo, dado que se encontra na raiz do nosso próprio ser. Todavia, temos que experimentar o nosso relacionamento com Deus entre os polos da distância e da proximidade. Pela proximidade somos fortalecidos, pela distância, postos à prova”.

Ao ouvir a narração deste texto evangélico, podemos tirar uma conclusão: O Mestre não está longe nem agora; não nos deixará a sós lutando com as ondas; basta invocá – Lo que Ele descerá do monte e virá em socorro de sua Igreja. Esta confiança se baseia no fato de que Jesus ressuscitou e está vivo. Os antigos padres da Igreja colocavam em evidência uma coincidência: Jesus vai ao encontro dos apóstolos no lago “na quarta vigília da noite”, isto é, na mesma hora em que ressuscitou dos mortos.

Nesta situação, uma coisa é necessária para não afundar: não perder a confiança, não desanimar no meio das dificuldades, não olhar para baixo ou ao redor, para as ondas que se agitam, mas à frente, para Cristo. Somente quem vacila na fé, ou quem confia nas próprias forças, afunda.

Se a nossa vida se passar no cumprimento fiel do que Deus quer de nós, nunca nos faltará a ajuda divina. Na fraqueza, na fadiga, nas situações de maior dificuldade, Jesus irá se aproximar de nós, de modo inesperado, e nos dirá: “Sou Eu, não temais”. Ele nunca abandona os seus amigos, e muito menos quando o vento das tentações, do cansaço ou das dificuldades nos é contrário. Ensina Santa Teresa: “Se tiverdes confiança n’Ele e ânimo animoso, que Sua Majestade é muito amigo disso, não tenhais medo de que vos falte coisa alguma”.

Quando Pedro começou a afundar-se, para voltar à superfície, teve que segurar a mão forte do Senhor, seu Amigo e seu Deus. Não era muito, mas era o esforço que Deus lhe pedia; é a colaboração da boa vontade que o Senhor sempre nos pede.

Para Pedro, uma só coisa importa: estar perto de Cristo. Não interessa quais são as condições, se com “ventos contrários” ou “tempestade”, Pedro quer estar junto de Cristo. Pedro é sempre quem toma a palavra, é ele quem sempre dá o primeiro passo no grupo dos apóstolos.

Foram momentos impressionantes para todos: Pedro trocou a segurança da barca pela da palavra do Senhor. Não ficou aferrado às tábuas da embarcação, mas dirigiu-se para onde Jesus estava, a uns poucos metros dos discípulos, que contemplam atônitos o Apóstolo por cima das águas enfurecidas. Pedro avança sobre as ondas. Sustentam-no a fé e a confiança no seu Mestre; só isso!

Pedro teria continuado a caminhar firmemente sobre as águas e teria chegado até o Senhor se não tivesse afastado dEle o seu olhar confiante. Todas as tempestades juntas, as de dentro da alma e as do ambiente, nada podem enquanto estivermos bem ancorados na fé e na oração. A nossa fé nunca deve fraquejar, mesmo que as dificuldades sejam enormes e a sua violência pareça esmagar-nos.

Pouco importam o ambiente, as dificuldades que rodeiam a nossa vida, se sabemos avançar cheios de fé e confiança ao encontro de Jesus que nos espera; pouco importa que as ondas sejam muito altas ou o vento forte; pouco importa que não seja do natural do homem caminhar sobre as águas. Se olhamos para Jesus, tudo nos é possível; e esse olhar para Ele é a virtude da piedade. Se pela oração e pelos sacramentos nos mantemos unidos a Jesus, caminharemos com firmeza. Deixar de olhar para Cristo é naufragar, é incapacitar-se para dar um passo, mesmo em terra firme.

Esse pequeno esforço que o Senhor pede aos seus discípulos de todos os tempos para tirá-los de uma má situação, pode ser muito diverso: intensificar a oração; cortar decididamente com uma ocasião próxima de pecar; obedecer com prontidão e docilidade de coração aos conselhos recebidos na confissão e na conversa com o diretor espiritual… Não nos esqueçamos nunca da advertência de São João Crisóstomo:  “Quando falta a nossa cooperação, cessa também a ajuda de Deus”. Ainda que seja o Senhor quem nos tira da água. No momento em que Pedro começou a temer e a duvidar, começou também a afundar-se.

Temos de aprender a nunca desconfiar de Deus, que não se apresenta apenas nos acontecimentos favoráveis, mas também nas tormentas dos sofrimentos físicos e morais da vida: “Tende confiança, sou Eu, não temais!”. Deus nunca chega tarde em nosso auxílio, e sempre nos ajuda nas nossas necessidades.

E se alguma vez sentimos que nos falta apoio, que submergimos, repitamos aquela súplica de Pedro: ”Senhor, salva-me!” Não duvidemos do seu amor, nem da sua mão misericordiosa, não esqueçamos que “Deus não manda impossíveis, mas ao mandar pede que faças o que possas e peças o que não possas, e ajude para que possas” (Santo Agostinho).


A dificuldade da fé do apóstolo Pedro leva-nos a compreender que o Senhor, ainda que O procuremos ou invoquemos, é Ele mesmo que vem ao nosso encontro, abaixa o Céu para nos estender a sua mão e nos elevar à sua altura; Ele espera unicamente que nos confiemos de maneira total a Ele, que seguremos realmente a sua mão. Invoquemos a Virgem Maria, modelo de confiança plena em Deus para que, no meio de tantas preocupações, problemas e dificuldades que agitam o mar da nossa vida, ressoe no nosso coração a palavra tranquilizadora de Jesus que nos diz, também a nós: Ânimo, sou Eu, não tenhais medo!, e aumente a nossa fé n’Ele.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Textos: 1 Re 19, 9.11-13; Rm 9, 1-5; Mt 14, 22-33

Caros irmãos e irmãs, a liturgia da palavra deste domingo traz para a nossa reflexão um texto do Evangelho de São Mateus, onde nos apresenta o episódio de Jesus que caminha sobre o mar (cf. Mt 14,22-33). Após multiplicar os pães e os peixes, Jesus convida os seus discípulos a entrar no barco e a precedê-lo, na outra margem, enquanto Ele despede a multidão, ficando, em seguida, na completa solidão para rezar em uma montanha até de madrugada.

Entretanto, começa uma forte tempestade e, precisamente no meio da tempestade, Jesus chega ao barco onde estavam os discípulos, caminhando sobre as águas do mar (v. 26). No contexto da catequese judaica, só Deus “caminha sobre o mar” (Jó 38,16; Sl 77,20); só Ele acalma as ondas e as tempestades (cf. Sl 107,25-30). Jesus é, portanto, o Deus que vela pelo seu povo e que não deixa que a força da morte, simbolizada pelo mar, destrua o homem.

Ao ver Jesus andando sobre as águas, os discípulos ficam apavorados e pensam que é um fantasma, mas Ele tranquiliza-os: “Coragem, sou eu. Não tenhais medo!” (v. 27). Com isto, Jesus transmite aos discípulos a certeza de que eles nada têm a temer, porque Ele é o Deus que vence as forças da morte e lhes dá ânimo para vencerem as adversidades.

Em seguida, Pedro, tomado por um impulso de amor pelo seu Mestre, quer ir até Ele, mas ao mesmo tempo, parece pedir uma prova, para confirmar ser mesmo Jesus: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água” (v. 28); então, Jesus lhe diz: “Vem!” (v. 29). O Apóstolo Pedro desce do barco e começa a caminhar sobre as águas; no entanto, o vento impetuoso parece forte e ele começa a afundar. Então, clama: “Senhor, salva-me!” (v. 30), e Jesus lhe estende a mão e o segura.

Na perícope do Evangelho, chama a nossa atenção esta atitude de Pedro, que deixa o barco e começa a caminhar ao encontro de Jesus.  Ele começa a caminhar sobre a água, mas começa a afundar no momento em que desvia o seu olhar de Jesus, deixando-se abalar pelas adversidades que o circundam. Mas o Senhor está sempre presente, e quando Pedro o invoca, Jesus o salva do perigo. Na figura de Pedro, com os seus impulsos e as suas debilidades, está descrita a nossa própria fé: sempre frágil, mas, mesmo assim, caminha ao encontro do Senhor ressuscitado, no meio das tempestades e dos perigos do mundo.

Pedro caminha sobre as águas, não pelas suas próprias forças, mas pela graça divina, na qual crê; mas, ao sentir-se dominado pela dúvida, quando deixa de fixar o olhar em Jesus e tem medo do vento, quando não confia plenamente na palavra do Mestre, é então que corre o risco de afundar no mar da vida, e é assim também para nós: se olharmos unicamente para nós mesmos, não conseguiremos suportar os ventos, atravessar as tempestades, as águas agitadas que muitas vezes fazem parte do nosso quotidiano.

Pela fé, precisamos confiar que o Senhor está sempre próximo, a nos estender a sua mão, a nos amparar nos momentos difíceis. Jesus comunicou aos seus discípulos o poder para que pudessem vencer todos os males deste mundo que se opõem à vida. No entanto, enquanto enfrentam as ondas e os ventos, os discípulos oscilam entre a confiança em Jesus e o medo.

Um outro detalhe assinalado pelo texto está no fato do episódio ocorrer à noite, momento em que o barco é açoitado pelos ventos e pelas ondas, e navega com dificuldades. Os discípulos estão inquietos e preocupados, pois Jesus não está com eles. A noite representa as trevas, a escuridão, o medo, a insegurança em que navegam os discípulos de Jesus, sem saber exatamente que caminhos percorrer, nem para onde ir. 

Também a cena final é muito importante. “Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele, dizendo: ‘Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!’” (v. 32s).  No barco encontram-se todos os discípulos, irmanados pela experiência da debilidade, da dúvida, do medo e da “pouca fé”. No entanto, quando Jesus volta àquele barco, o clima muda imediatamente: todos estão unidos na fé, por isto, se colocam de joelhos, reconhecem no seu Mestre o Filho de Deus. Quantas vezes também acontece conosco a mesma coisa! Sem Jesus, longe de Jesus, somos amedrontados e chegamos a pensar que não aguentaremos. Falta a fé! Mas Jesus está sempre ao nosso lado, sempre presente e pronto para nos segurar, a nos estender a mão.

O Evangelista São Mateus observa esta reação nos discípulos, porém, foram encorajados pela presença do Senhor. Isso é comprovado na profissão de fé manifestada por eles ao dizer: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!”.  Com isto, a desconfiança inicial dos discípulos se transforma em fé firme. Como de fato, esta confissão reflete a fé dos verdadeiros discípulos, que encontram em Jesus o Deus que vence o “mar”, o Senhor da vida a transmitir força e coragem aos seus discípulos para vencer o mal e lhes estende a mão, na tentativa de reanimá-los e não os deixa afundar. 

Podemos ainda dizer que todos nós estamos dentro de uma barca que é a Igreja, que parece estar sempre a ponto de afundar, devastada pelas ondas de numerosos perigos, da pouca fé, da coerência insuficiente dos cristãos, de tantas ideologias que a atacam de todos os lados, mas nesta barca encontra-se Cristo.  O que salva a barca não são as qualidades e a coragem dos marinheiros; a garantia segura contra o naufrágio é a fé.  A barca de Pedro continua navegando e enfrentando tempestades das mais diversas realidades.  Por isto, jamais podemos desviar o nosso olhar do Cristo, pois se isto acontecer, certamente pereceremos.

Como seguidores de Jesus, de certa maneira, esta é também a nossa experiência.  Quantas vezes também somos abalados pelos sofrimentos e pelas dificuldades oriundas de ventos fortes e tempestades a nos atingir.  Quantas vezes somos submergidos pelo “mar” da frustração, do desânimo, da desilusão. Quantas vezes sentimos que afundamos na dúvida, no medo, no desespero e somos incapazes de enfrentar as tempestades, as forças das ondas que nos atingem.

É neste momento que também nós devemos segurar nas mãos de Jesus e, como Pedro, gritar: “Senhor, salva-me!” (v. 30).  Que Ele nos conceda a virtude da esperança e nos conduza com segurança pelos caminhos da vida e nos faça encontrar a sua mão. Que Ele também nos leve a estender aos outros a nossa mão, sobretudo, para aqueles que dela necessitarem.

Também nós caminhamos no meio da noite deste mundo, navegando com dificuldade, porque constantemente a barca da vida é agitada pelos ventos.  Peçamos que o Senhor Jesus venha ao nosso encontro, venha ao nosso socorro. E que ele possa dizer também a cada um de nós: “Coragem! Sou eu! Não tenhais medo!”.

Que possamos todos nós ir ao encontro de Jesus, caminhando sobre as águas do mar da vida, com coragem e confiança, sem desviar o nosso olhar daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo 14,6).  E somente se tomarmos a mão do Senhor, se nos deixarmos orientar por Ele, o nosso caminho será justo e bom. 

Peçamos, pois, que Deus infunda em nossos corações a graça do Espírito Santo, criando em nós, que o ousamos chamá-lo de Pai, o espírito de filhos, para que o contemplemos como é, e sejamos conduzidos às heranças prometidas. Assim seja. 

PARA REFLETIR


A Escritura deste Domingo fala-nos de um Deus que é grande demais, misterioso demais, inesperado e surpreendente demais para que possamos enquadrá-lo na nossa lógica e no nosso modo de pensar. Eis, caríssimos! Uma grande tentação para o homem é achar que pode compreender o Senhor, enquadrar seu modo de agir e dirigir o mundo com a nossa pobre e limitada lógica… Mas, o Deus verdadeiro, o Deus que se revelou a Israel e mostrou plenamente o seu Rosto em Jesus Cristo, não é assim! Ele é Misterioso, é Santo, é livre como o vento do deserto!

Pensemos nesta misteriosa e encantadora primeira leitura, do Livro dos Reis. Elias, em crise, fugindo de Jezabel, caminha para o Horeb; ele quer encontrar suas origens, as fontes da fé de Israel. Recordem que o Horeb é o mesmo monte Sinai, a Montanha de Deus. Elias tem razão: nos momentos de dúvida, de crise, de escuridão, é indispensável voltar às origens, às raízes de nossa fé; é indispensável recordar o momento e a ocasião do nosso primeiro encontro com o Senhor e nele reencontrar as forças, a inspiração e a coragem para continuar. Pois bem, Elias volta ao Horeb procurando Deus. Lembrem que no caminho ele chegou a desanimar e pedir a morte: “Agora basta, Senhor! Retira-me a vida, pois não sou melhor que meus pais!” (1Rs 19,4). No entanto, o Senhor o forçou a continuar o caminho: “Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho” (1Rs 19,7). Pois bem, Elias caminhou, teimou em procurar o seu Deus, mesmo com o coração cansado e em trevas; assim, chegou ao Monte de Deus! Mas, também aí, no seu Monte, Deus surpreende Elias – Deus sempre nos surpreende! O Profeta espera o Senhor e o Senhor se revela, vai passar… Mas, não como Elias o esperava: não no vento impetuoso que força tudo e destrói tudo quanto encontra pela frente, não no terremoto que coloca tudo abaixo, não no fogo que tudo devora… Eis: três fenômenos que significam força, que causam temor, que fazem o homem abater-se… E o Senhor não estava aí. Muito tempo antes, quando foi entregar a Moisés as tábuas da Lei, Deus se manifestara no fogo, no vento e no terremoto: “Houve trovões, relâmpagos e uma espessa nuvem sobre a montanha… E o povo estava com medo e pô-se a tremer… Toda a montanha do Sinai fumegava, porque o Senhor desceu sobre ela no fogo… e toda a montanha tremia violentamente” (Ex 19,16.18). Mas, agora, o Senhor não está no vento impetuoso nem no terremoto nem no fogo… Elias teve de reconhecê-lo, de descobrir sua Presença no murmúrio da brisa suave! – Ah, Senhor! Como teus caminhos são imprevisíveis! Quem pode te reconhecer senão quem a ti se converte? Quem pode continuar contigo se pensar em dobrar-te à própria lógica e à própria medida? Tu és livre demais, grande demais, surpreendente demais! Não há Deus além de ti; tu, que convertes e educas o nosso coração! Elias te reconheceu e cobriu o rosto com o manto, saiu ao teu encontro e te viu pelas costas… Pobres dos homens deste século XXI, que tão cheios de si mesmos, querem te enquadrar à própria medida e, por isso, não te vêem, não te reconhecem, não experimentam a alegria e a doçura da tua Presença!

E, no entanto, meus irmãos, as surpresas de Deus não param por aí! O mais surpreendente ainda estava por vir. Não havia chegado ainda a plenitude do tempo! Pois bem! Na plenitude do tempo, veio a plenitude da graça: Deus enviou o seu Filho ao mundo; ele veio pessoalmente! Não mais no vento, não mais no fogo, não mais no terremoto, não mais pelos profetas! Ele veio pessoalmente, ele, em Jesus: “Quem me vê, vê o Pai. Eu e o Pai somos uma coisa só” (Jo 14,9; 12,45). Por isso mesmo, São Paulo afirma hoje claramente que “Cristo, o qual está acima de todos, é Deus bendito para sempre!” É por essa fé que somos cristãos, meus irmãos! Jesus é Deus, o Deus Santo, o Deus Forte, o Deus Imortal, o Deus de nossos Pais! Nele o Pai criou todas as coisas, por Ele o Pai tirou Abraão de Ur dos Caldeus, por Ele o Pai abriu o Mar Vermelho, por Ele, deu o Maná ao seu povo, sobre Ele fez os profetas falarem e, na plenitude dos tempos no-lo enviou a nós! Surpreendente, o nosso Deus; surpreendente como vem a nós!

Lá vamos nós, lã vai a Igreja, no meio da noite deste mundo, navegando com dificuldade porque a barca da vida é agitada pelos ventos… e Jesus vem ao nosso encontro, caminhando sobre as águas! Em Jesus, Deus vem vindo ao nosso encontro, em Jesus, vem em nosso socorro… E, infelizmente, confundimo-lo com um fantasma, etéreo, irreal. E ele no diz mais uma vez: “Coragem! Sou eu! Não tenhais medo!” Atenção para esta frase do Senhor: “Coragem, EU SOU! Não tenhais medo!” EU SOU! É o nome do próprio Deus como se revelou no deserto! Deus de Moisés, de Elias, Deus feito pessoalmente presente para nós em Jesus Cristo!

Então, caríssimos, digamos como Pedro: “Senhor, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre á água!” Ir ao encontro de Jesus, caminhando sobre as águas do mar da vida! Todos temos de pedir isso, de fazer isso! Peçamos sim, como Pedro, mas não façamos como Pedro que, desviando o olhar de Jesus, colocando a atenção mais na profundeza do mar e na força do vento que no poder amoroso e fiel do Senhor, começou a afundar! Assim acontecerá conosco, acontecerá com a Igreja, se medrosos, olharmos mais para o mar e a noite que para o Senhor que vem a nós com amor onipotente! E Deus é tão bom que, ainda que às vezes, façamos a tolice de Pedro, podemos ainda como Pedro gritar de todo o coração: “Senhor, salva-me!” Salva-nos, Senhor, porque somos de pouca fé! Salva tua Igreja, salva cada um de nós das imensas águas do mar da vida, do sombrio e escuro mar encrepado na noite opaca de nossa existência! Tu, que durante a noite oravas e vias o barco navegando com dificuldade, do teu céu, olha para nós e vem ao nosso encontro! E tu vens! Sabemos que vens na graça da Palavra, no dom da Eucaristia e de tantos outros modos discretos… Cristo-Deus, ajuda-nos a reconhecer-te, a caminhar ao teu encontro, vencendo as águas do mar da vida! Amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário