Cinco
anos se passaram desde 11 de fevereiro de 2013, quando Bento XVI anunciou a
decisão de renunciar ao Pontificado. Aquele gesto, que pegou o mundo de
surpresa, é cada vez mais compreendido como um grande ato de amor pela Igreja.
“Tenho muitas recordações do Papa Bento XVI e não quero
esquecê-los, para manter aqueles anos vivos em minha memória. Obviamente, os
momentos mais fortes foram ligados à sua renúncia. Lembro-me muito bem quando
em 5 de fevereiro de 2013, ele me chamou em sua sala e me anunciou a decisão de
renunciar. Naquela hora, pensei em lhe pedir para pensar um pouco mais... mas
não o fiz, porque sabia que ele havia rezado muito. E justamente ali me
recordei que durante um longo tempo, ele se detinha na sacristia antes de
celebrar a missa; ficava rezando inclusive quando o relógio tocava assinalando
o início da celebração. Ele o ignorava e permanecia ali, diante do crucifixo,
na sacristia. Eu pensava que ele estava rezando por alguma coisa muito
importante.
“Naquele
dia 5, enquanto ouvia sua decisão, pensei: 'Então era por isso que ele rezava
tanto!”
Quando
o mundo inteiro foi informado
“Naturalmente outro momento forte foi o anúncio público, no
Consistório de 11 de fevereiro. Eu chorei o tempo todo e inclusive no almoço.
Ele entendeu que eu estava emocionado; eu lhe disse: ‘Santo Padre, mas o sr.
está tranquilo?’. E ele respondeu com firmeza: ‘Sim’, porque seu trabalho já
estava feito. Estava sereno porque sabia que tinha avaliado tudo e que estava
em paz, na vontade de Deus”.
A
despedida e a nova incumbência
“Outro momento importante para mim foi a despedida, porque
ele me disse: ‘Você fica com o novo Papa’. E assim, quando foi eleito o Papa
Francisco, ele lhe escreveu uma carta reiterando que me deixaria livre, caso
precisasse de mim. E quando chegou o dia de deixar Castel Gandolfo, a
Secretaria de Estado me avisou: ‘Corre, faz a mala porque o Papa Francisco está
abrindo as cartas sozinho!’. Entrei no escritório de Bento e lhe pedi,
chorando, a sua bênção. Ele levantou, eu fiquei de joelhos e com tranquilidade,
me deu a bênção e me deixou ir”.
A
atual condição de Bento XVI
“Fui convidado por ele no dia de meu aniversário, 14 de outubro
passado, para celebrar a missa e tomar café da manhã. Eu o vi bastante lúcido,
me perguntou várias coisas. E os olhares que me dirigiu significavam que ele
estava contente em me rever. Recordava bem alguns detalhes sobre minha família,
minha mãe e até seus gatos!. Obviamente está muito frágil fisicamente. Tem
quase 91 anos...”.
Nos
últimos cinco anos as pessoas entenderam melhor aquele gesto?
“Algumas pessoas sim, mas penso que outras ainda devem
compreendê-lo. Foi um gesto grandioso. Bento XVI entendeu especialmente durante
o voo ao México que não poderia mais fazer viagens longas. Em breve chegaria a
Jornada Mundial da Juventude no Brasil e ele percebeu que não conseguiria mais viajar
e fazer esforços como aquele... Sua atitude foi heroica, a meu ver, porque
pensou sobretudo na Igreja, no amor pela Igreja que era muito maior do que o
amor por si mesmo, por seu ego. Não se incomodou com o que pessoas ou
realidades poderiam pensar sobre ele... que não tinha coragem para
prosseguir... Uma vez que entendeu que Deus lhe havia pedido aquele gesto,
amando a Igreja, ele se tranquilizou”.
“Temos,
portanto, uma memória histórica viva à qual podemos recorrer.”
“O Papa Francisco deu-lhe imediatamente a definição certa:
‘Temos o privilégio de ter um ‘vovô’ em casa’. E estou certo de que o Papa
Francisco faz isso. Naturalmente, os gestos também falam. Ainda antes de se
apresentar ao mundo, na sacada da Basílica de São Pedro, ele tentou ligar para
o Papa Bento para cumprimentá-lo. Nós estávamos na sala da TV, onde o telefone
estava sempre o volume baixo e por isso não o ouvimos tocar. Este é o motivo
porque o Papa Francisco chegou atrasado na sacada. Mais tarde, nos ligaram
novamente, durante o jantar, e disseram que Francisco chamaria depois. Quando
chegou o telefonema, passei para o Papa Bento e o ouvi dizer: ‘Santidade,
prometo desde já minha obediência e orações’. Não posso me esquecer daqueles
momentos”.
Por: Alessandro Gisotti, do Vatican News,
Entrevistado: Mons. Alfred Xuereb,
Secretário-geral da Secretaria para a Economia, que foi o vice-secretário de Bento XVI de 2007 até o fim do Pontificado.
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Vatican News
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