A liturgia deste domingo nos ajuda a refletir sobre um assunto bem atual: a “teologia da prosperidade”! Desde o nascimento até à morte, somos acompanhados com mais ou menos sofrimento, que, como tal, além de dores, nos faz, por vezes, derramar lágrimas e provocar tristeza. Por outro lado, sabemos que depois dos Anjos, somos as criaturas mais perfeitas saídas das mãos de Deus, que tanto nos quer, pois nos ama mesmo com Amor infinito. Como conciliar a realidade do sofrimento com o Amor que Deus nos tem? As leituras da Missa de hoje, dão-nos pistas de solução para esta compreensão.
O livro de Jó nos confronta com algo incompreensível a quem acredita que Deus recompensa os bons e castiga os maus nesta vida: Jó é um homem justo e, apesar disso, perdeu tudo. Desperta cansado e, deitado, não consegue descansar, por causa das feridas. Que Deus lhe dê um pouco de sossego…
Procurando uma resposta para o mistério do sofrimento, os amigos de Jó dizem que os justos são recompensados e os ímpios, castigados. Mas Jó protesta: ele não é um ímpio. A teoria da prosperidade dos justos, a “teologia da retribuição”, não se verifica na realidade (21,5-6). Menos ainda o convence o pedante discurso de Eliú, tratando de mostrar o caráter pedagógico do sofrimento (cap. 32-37). Os amigos de Jó não resolvem nada. Vendem conselhos, mas não se compadecem. Suas palavras são pimenta na ferida.
Por outro lado, mesmo amaldiçoando o próprio nascimento, Jó não amaldiçoa Deus; ao contrário, reconhece e louva sua sabedoria e suas obras na criação: o abismo de seu sofrimento pessoal não lhe fecha os olhos para a grandeza de Deus! E é exatamente por este lado que entrará sossego na sua existência. Pois Deus se revelará a ele, tornar-se-á presente em seu sofrimento – ao contrário de seus amigos sabichões –, e essa experiência do mistério de Deus fará Jó entrar em si, no silêncio (42,1-6). Durante 40 capítulos, Jó protesta contra a injustiça de seu sofrimento sem explicação, mas no fim Deus mostra sua presença, e Jó se consola e se cala.
Também Jesus, no Novo Testamento, nunca apresenta uma explicação do sofrimento, porque não há explicação. Mas ele traz uma solução: assume o sofrimento. Inicialmente, curando-o. No fim, sofrendo-o, em compaixão universal. Se Jó nos mostra que Deus está presente onde o ser humano sofre, Jesus nos mostra que Deus conhece o sofrimento do ser humano por dentro. E ele o assume até o fim.
O Evangelho apresenta-nos Jesus que cura os doentes: em primeiro lugar a sogra de Simão Pedro, que estava de cama com febre e Ele, tomando-a pela mão, curou-a e fez erguer-se; depois, todos os enfermos de Cafarnaum, provados no corpo, na mente e no espírito, e Ele “curou muitos… e expulsou numerosos demônios” (Mc 1,34). Mas se, por um lado, Ele se dedica a curar, por outro retira-se para um lugar deserto. E ali orava durante a noite. Ação apostólica e oração se completam. Pedro e seus companheiros o procuram. Quando O encontraram, dizem-lhe: “Todos Te procuram”. A verdadeira luz deve ser procurada em Deus, sobretudo através da oração.
Os quatro Evangelistas ( Mateus, Marcos, Lucas e João) testemunham de maneira concorde que a libertação de doenças e enfermidades de todos os tipos constituiu, juntamente com a pregação, a principal atividade de Jesus na vida pública. Com efeito, as doenças são um sinal da obra do Mal no mundo e no homem, enquanto as curas demonstram que o Reino de Deus, o próprio Deus, está próximo. Jesus Cristo veio para derrotar o Mal pela raiz, e as curas constituem uma antecipação da sua vitória, alcançada com a sua Morte e Ressurreição. A oração e a ação de Jesus são inseparáveis: ele reza para agir em nosso favor, ele faz o bem a todas as criaturas contemplando o Pai e com ele dialogando, ou seja, em oração.
Rezemos pelos outros, especialmente por aqueles que estão mais necessitados. Não somente pelos pecadores (entre os quais nos incluímos), mas também pelas necessidades da Igreja e do mundo, pelo Santo Padre e seus colaboradores, pelo Bispo e por toda a Diocese, pelos que governam o País, pelos nossos familiares e amigos, pelas almas do purgatório etc. Por todos!
Na pregação não se pode querer agradar a todos reduzindo, de acordo com as conveniências humanas, as exigências do Evangelho: ” Falamos, não como quem procura agradar aos homens, mas somente a Deus” (1Ts 2, 4).
Não é bom caminho pretender tornar fácil o Evangelho, silenciando ou rebaixando os mistérios que devem ser cridos e as normas de conduta que devem ser vividas. Ninguém pregou nem pregará o Evangelho com maior credibilidade, energia e atrativo que Jesus Cristo, e houve quem não o seguisse fielmente. Não podemos esquecer-nos de que pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios, mas poder de Deus para os escolhidos, quer judeus, quer gregos” (1 Cor 1, 23-24).
A 2ª leitura continua com os assuntos dos coríntios, que pretendem ter a liberdade de fazer tudo o que têm direito de fazer. Paulo não concorda: nem sempre devo fazer uso de meu direito. A caridade, a paciência para com o menos forte, com o inseguro na fé, valem mais que meu direito pessoal.
A obra de salvação, iniciada por Cristo, está ainda em ação e, para que se perpetue até ao fim do mundo, deixou à Igreja a incumbência de a levar a cabo e, na Igreja, a todo o crente. São Paulo, muito sensibilizado com esse dever, e nele fortemente empenhado, declarava aos Coríntios: “Pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho!” ( 1Cor 9,16). Todo o cristão que teve o privilégio de ter recebido o Evangelho, deve sentir – se responsável dele perante os que não tiveram esse dom, e comunica – Lo na medida do possível. O que já está na órbita da salvação, não pode olhar com indiferença para os que ainda não estão; está obrigado a arrastar consigo o maior número possível de irmãos. Graças à ação do Espírito Santo, a obra de Jesus prolonga-se na missão da Igreja. Mediante os Sacramentos é Cristo que comunica a sua vida a multidões de irmãos e irmãs, enquanto cura e conforta numerosos doentes! É verdade: quantos cristãos – sacerdotes, religiosos e leigos – em todas as partes do mundo emprestaram e continuam a emprestar as suas mãos, os seus olhos e os seus corações a Cristo, verdadeiro médico dos corpos e das almas! Rezemos por todos os doentes, especialmente por aqueles mais graves, que não podem de modo algum ocupar-se de si mesmos, mas dependem totalmente dos cuidados do próximo: possa cada um deles experimentar, na solicitude de quem lhe está próximo, o poder do amor de Deus e a riqueza da sua Graça que salva. Maria, Saúde dos Enfermos, rogai por nós!
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Leituras: Jó 7,1-4.6-7; 1Cor 9,16-19.22-23; Mc 1,29-39
Caros irmãos e irmãs, a nossa meditação da Palavra de Deus para este domingo pode iniciar com um olhar para a primeira leitura, retirada do livro de Jó (cf. Jó 7,1-4.6-7). Trata-se de uma obra onde apresenta de modo dramático as dificuldades de um homem chamado Jó. O texto bíblico faz parte da liturgia da Palavra deste domingo e nos traz palavras negativas, desesperadas, ressaltando o mistério da vida humana.
Jó é apresentado como um homem piedoso, bom, generoso e cheio de temor de Deus. Possuía ele muitos bens e uma família numerosa. Mas, repentinamente, viu-se privado de toda a sua riqueza, perdeu a família e foi atingido por uma grave doença. Ao longo do livro, Jó comenta, com amargura e desilusão, o fato da sua vida estar marcada por um sofrimento atroz e de Deus parecer ausente e indiferente face ao desespero em que a sua existência decorre. Apesar disso, é a Deus que Jó se dirige, pois sabe que Deus é a sua única esperança e que fora dele não há possibilidade de salvação.
O grito de revolta de Jó brota de um coração dolorido e sem esperança e é a expressão da angústia de um homem que, na sua miséria, se sente injustiçado e condenado pelo próprio Deus; mas é também o grito do crente que sabe que só em Deus pode encontrar a esperança e o sentido para a sua existência.
O sofrimento é um drama que atinge o homem e não tem explicação. Muito se pergunta as razões para o sofrimento de uma criança ou uma pessoa boa e justa. Questiona-se também como é que um Deus bom, cheio de amor, preocupado com a felicidade dos seus filhos, permite a dor e o sofrimento. Não temos uma resposta clara para todos estes questionamentos. Somos frágeis e incapazes de entender os mistérios de Deus e os seus projetos.
Tendo como cenário este drama de um homem que sofre, a Liturgia da Palavra nos apresenta um texto evangélico onde Jesus aparece curando muitos doentes. Na casa de Pedro ocorre o milagre da cura da sua sogra, que está de cama e com febre. Jesus tomando-a pela mão, curou-a e a fez erguer-se. Podemos sublinhar este pormenor importante que aparece no texto: A indicação de que Jesus tomou a doente pela mão e “levantou-a”.
O verbo grego utilizado pelo evangelista (egueirô – levantar) aparece frequentemente em contextos de “ressurreição” (cf. Mc 5,41;6,14.16;9,27;12,26;14,28;16,6). A sogra de Pedro está prostrada pelo sofrimento que lhe rouba a vida; mas o contato com Jesus devolve-lhe a vida e equivale a uma ressurreição. E a indicação de que a mulher “começou a servi-los”, indica o efeito imediato do contato com Jesus, de onde gera a atividade que se concretiza no serviço aos irmãos.
Também nós necessitamos desta mão do Senhor para nos erguer, para nos levantar. É Ele que nos segura pela mão e cura as nossas feridas, nossas enfermidades, nossas fraquezas. Jesus nos pega pela mão através da sua palavra, pois nela encontramos o conforto e a segurança. Também através dos sacramentos somos curados da febre das nossas paixões e dos nossos pecados mediante a absolvição no sacramento da reconciliação. Através deste sacramento Jesus nos concede a capacidade de reerguermos, de estarmos de pé novamente diante de Deus e diante dos homens. Jesus nos eleva e nos cura sempre de novo com o dom da sua palavra, com o dom de si mesmo.
Os enfermos e os possessos do demônio representam, todos aqueles que estão privados de vida, que estão prisioneiros do sofrimento e da dor. O evangelista São Marcos nos convida a ver em Jesus.
Aquele que tem poder para libertar o homem das suas misérias mais profundas e oferecer a ele uma vida nova, pois “Ele assumiu nossas dores e carregou nossas enfermidades” (Mt 8,17).
O texto evangélico continua dizendo que ao pôr do sol, tendo terminado o sábado, o povo levou até Jesus muitos enfermos e Ele curou uma multidão de pessoas atormentadas por doenças de todos os gêneros: físicas, psíquicas, espirituais. Esta realidade da cura dos doentes por parte de Cristo nos convida a refletir sobre o sentido e o valor da doença. Ao enviar em missão os seus discípulos, Jesus confere a eles um duplo mandato: anunciar o Evangelho da salvação e curar os enfermos (cf. Mt 10, 7-8). Fiel a este ensinamento, a Igreja considerou sempre a assistência aos enfermos uma parte integrante da sua missão.
Estas curas realizadas por Jesus são sinais: não se resolvem em si mesmas, mas guiam para a mensagem de Cristo, guiam-nos para Deus e fazem-nos compreender que a verdadeira e mais profunda doença do homem é a ausência de Deus, da fonte da verdade e do amor. E só a reconciliação com Deus pode doar-nos a cura autêntica, a verdadeira vida, porque uma vida sem amor e sem verdade não seria vida. No entanto, permanece verdade que a doença é uma condição tipicamente humana, na qual experimentamos em grande medida que não somos auto-suficientes, mas temos necessidade dos outros.
A experiência da cura dos doentes convida-nos mais uma vez a refletir sobre o sentido e o valor da doença em qualquer situação na qual o ser humano se possa encontrar. A Igreja considera as pessoas doentes como uma via privilegiada para encontrar Cristo, para o acolher e servir. A atenção para com os doentes, o ato de visitar os doentes e servi-los, indica que é servir Cristo: o doente é a carne de Cristo, pois Ele mesmo disse: “Estive doente e cuidastes de mim” (Mt 25,36).
Mas a doença pode ser um momento salutar, no qual podemos experimentar a atenção dos outros e oferecer a quem sofre a nossa unidade. Todavia, ela é sempre uma prova, que pode tornar-se também longa e difícil. Quando a cura não chega, e os sofrimentos se prolongam, podemos permanecer como que esmagados, isolados, e então a nossa existência deprime-se e desumaniza-se. Mas a Palavra de Deus nos ensina que há uma atitude decisiva e fundamental, com a qual enfrentar a enfermidade, e é a da fé na bondade de Deus. Jesus dizia às pessoas curadas: “A tua fé te salvou” (cf. Mc 5,34.36). Até diante da morte, a fé pode tornar possível aquilo que, humanamente, é impossível. Somente no amor e na misericórdia de Deus encontramos uma resposta para o mal e a enfermidade.
Não obstante a doença faça parte da experiência humana, temos dificuldades de habituarmos a ela, não só porque por vezes se torna deveras pesada e grave, mas essencialmente porque somos feitos para a vida. O triste na vida não é sofrer, não é chorar, não é morrer… Triste e miserável é sofrer, chorar e morrer sem Deus, pois só Ele dá sentido à nossa existência.
Diante destas curas realizadas pelo Cristo Senhor, saibamos reconhecer nestes sinais do Reino de Deus que Ele vem nos trazer. E elevemos uma vez mais nossa oração a Maria, a quem invocamos como “Saúde dos Enfermos”, para que, com a sua materna intercessão sustente e acompanhe a nossa fé e nos obtenha de Cristo, seu Filho, a esperança no caminho da cura de todos os nossos males e nos conceda a saúde física e espiritual.
A 2ª leitura continua com a 1ª carta aos Coríntios, abordando assunto muito especial. 1Cor 8-10 é uma unidade que trata da questão sobre se o cristão pode sempre fazer as coisas que, em si, não são um mal. Trata-se das carnes que sobravam dos banquetes oferecidos pela cidade em honra das divindades locais. Essas carnes eram, depois da festa, vendidas no mercado por “preço de banana”. O cristão, dizem os “esclarecidos”, pode comprá-las e comê-las sem problema, já que não acredita nos ídolos. Paulo, porém, pensa diferente: a norma não é a liberdade, mas a caridade (cf. Gálatas 5,13: usemos da “liberdade para nos tornar escravos de nossos irmãos”). Se o uso de nossa liberdade causa a queda do “fraco na fé”, que tem ainda resquícios de sua tradição pagã, devemos considerar a sensibilidade de nosso irmão.
Paulo não concorda com a pretensa liberdade dos coríntios para fazerem tudo que têm direito de fazer. Existe o aspecto objetivo (carne é carne e ídolos não existem) e o aspecto subjetivo (alguém menos instruído na fé talvez coma as carnes idolátricas num espírito de superstição; 8,7). Portanto, diz Paulo, nem sempre devo fazer uso de meu direito. E alega seu próprio exemplo: ele teria o direito de receber gratificação por seu apostolado, mas, como tal gratificação poderia ser mal interpretada, prefere ganhar seu pão trabalhando. A gratificação de seu apostolado consiste no prazer de pregar o evangelho de graça. Paulo teria os mesmos direitos dos outros apóstolos: levar consigo uma mulher cristã (9,5), ser dispensado de trabalho manual (9,6), receber salário pelo trabalho evangélico (9,14; cf. a “palavra do Senhor” a este respeito, Mt 10,10). Entretanto, prefere anunciar o evangelho de graça, para que ninguém suspeite de motivos ambíguos. Ora, essa atitude não é inspirada apenas por prudência, mas por paixão pelo evangelho: “Ai de mim se eu não pregar o evangelho… Qual é meu salário? Pregar o evangelho gratuitamente, sem usar dos direitos que o evangelho me confere!” (9,17-18). Se tivermos verdadeiro afeto por nosso irmão fraco na fé, desistiremos com prazer de algumas coisas aparentemente cabíveis; e a própria gratuidade será a nossa recompensa, pois “tudo é graça”.
PARA REFLETIR
Iniciemos nossa meditação da Palavra de Deus pela primeira leitura. O livro de Jó, de modo dramático, mostra a vida humana: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? Seus dias não são como dias de um mercenário? Tive por ganho meses de decepção, e couberam-me noites de sofrimentos. Se me deito, penso: quando poderei levantar-me? E, ao amanhecer, espero novamente a tarde… Meus dias correm mais rápido do que a lançadeira do tear e se consomem sem esperança. Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade”. Eis, caríssimos, não são palavras negativas, desesperadas, essas de Jó. São, antes uma reflexão realista sobre o mistério da vida humana, uma reflexão cheia de esperança, porque feita à luz de Deus. Uma coisa é pensar nas realidades negativas de nossa existência simplesmente contando com nossas forças. Que desespero, que desilusão, que vazio de sentido! Outra, bem diferente, é encarar a vida também com suas trevas, à luz de Deus, o amor eterno e onipotente! Que esperança que não decepciona, que paz que invade o coração, mesmo na dor!
Notem, irmãos: num mundo como o nosso, que cultua o corpo, o físico sarado, a saúde e o vigor físicos e presta tão pouca atenção ao sofrimento, à dor, ao fracasso… Num mundo que tem medo de pensar na morte e de assumir que todos morreremos, num mundo que não sabe o que fazer com o sofrimento, com a doença, com a decadência física, com a deformidade do corpo, estas palavras de Jó, convidam-nos a colocar os pés no chão. Repito: não são palavras pessimistas porque aquele que chora e busca o sentido da existência, fá-lo diante de Deus. Recordem como terminam as palavras da leitura – são comoventes: “Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade”. São uma oração! O triste na vida não é sofrer, não é chorar, não é morrer… Triste e miserável é sofrer e chorar e morrer sem Deus, sem este Parceiro cheio de doce ternura que dá sentido à nossa existência!
Por isso mesmo veio Jesus, nosso senhor! É isto que o Evangelho nos mostra hoje. Cristo nosso Deus, tomando pela mão a sogra de Pedro e erguendo-a do seu leito, revela que vem nos tomar pela mão – a nós, feridos e doentes de tantas doenças, fraquezas e medos! Este é o Evangelho, a Boa notícia: em Jesus, Deus revela o sentido de nossa existência porque se revela como Deus próximo, Deus de compaixão, Deus capaz de dar um sentido às nossas dores e até à nossa morte. Cristo nos toma pela mão, Cristo toma sobre si as nossas dores. Não precisamos fingir que não envelhecemos, que não adoeceremos, que não morreremos… Sabemos que nem a vida nem a morte nos podem afastar do amor de Cristo; sabemos que nele, tudo se enche de novo sentido… Por isso todos o procuram, porque procuram um sentido para a existência!
O grande dom que Cristo nos faz não é milagres nem curas nem solução de problemas. Deixemos essa visão miserável, mesquinha e pagã para os pagãos e os que enganam e ganham dinheiro e poder em nome de Cristo. Nosso modo de ver é outro, é aquele mesmo que o Cristo nos ensinou e do qual ele mesmo nos deu o exemplo pela sua vida e pela sua morte! O Papa Bento XVI, quando ainda era Cardeal Ratzinger, assim escreveu: “Uma visão do mundo que não pode dar um sentido também à dor e não consegue torná-la preciosa, não serve para nada. Tal visão fracassa exatamente ali, onde deveria aparecer a questão mais decisiva da existência. Aqueles que sobre a dor não têm nada mais a dizer a não ser que se deve combatê-la, enganam-se. Certamente, é necessário fazer tudo para aliviar a dor de tantos inocentes e limitar o sofrimento. Mas, uma vida humana sem dor não existe e quem não é capaz de aceitar a dor, foge daquelas purificações que são as únicas a nos tornar maduros. Na comunhão com Cristo, a dor torna-se plena de significado, não somente para mim mesmo, como processo de purificação, no qual Deus tira de mim as escórias que obscurecem a sua imagem, mas também, para além de mim mesmo, é útil para o todo, de modo que, todos nós podemos dizer como São Paulo: ‘Agora eu me alegro nos sofrimentos que suporto por vós, e completo na minha carne o que falta dos padecimentos do Cristo pelo seu corpo que é a Igreja’ (Cl 1,24)… A vida vai além da nossa existência biológica. Onde não há mais motivo pelo qual vale a pena morrer, também não há motivo que faça valer a pena viver.”
Caríssimos, para isso Jesus veio – “foi para isso que eu vim!”, diz o Senhor hoje. Veio para anunciar o Reino e expulsar tudo aquilo que demoniza a nossa existência. E nada nos inferniza mais que viver sem sentido!
Cristãos, não vivamos como os pagãos, que vão sendo levados pela existência, fugindo da realidade e refugiando-se nas ilusões. Quanto excesso de divertimento, de eventos esportivos, de programas turísticos, de sonhos de consumo, de lazer e diversão… Se tudo isso numa justa medida é saudável, com o excesso que hoje se vê, é prejudicial, é sinal de uma humanidade doente, que tem medo de enfrentar as verdadeiras e profundas questões da existência! É que sem uma relação vive e íntima com o Senhor, é impossível enfrentar a nossa dura realidade! É neste sentido que o cristianismo nos apresenta um Evangelho, uma Boa Notícia: porque nos dá o Sentido, que aparece em Cristo Jesus!
Abramo-nos para o Senhor; nele apostemos nossa existência e tornemo-nos para os outros sinais de esperança e de vida, como São Paulo que se sentia devedor do Evangelho a todos. Que seja o Senhor Jesus consolo de nosso pranto, força no nosso caminho, alívio de nossas dores e prêmio de vida eterna. Amém.
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