domingo, 23 de outubro de 2016

Comunhão na mão: O chão manchado de sangue!


Se por um momento pudéssemos ver a cena dantesca que se produz em nossas igrejas ficaríamos horrorizados. Podemos ter uma ligeira ideia contemplando a fantástica ilustração de Rodrigo Garcia. Será que ela nos parece dura? Pois é exatamente o que acontece e não vemos!

Há tempos venho observando discussões e palestras sobre o tema “comunhão na mão”. Em todas elas o que percebo repetidamente é uma série de argumentos, tanto de leigos quanto de sacerdotes, alguns tratando de justificar em recebê-la e outros em administrá-la, evidenciando que, apesar de suas boas intenções, não compreenderam a verdadeira natureza do problema de fundo.

Querido leigo, devemos parar de pensar nestes termos: o que EU gosto, o que a MIM não ofende, o que EU vejo normal, o que EU vejo ou deixo de ver de grave, o que a MIM permite ter devoção, o que EU acredito, o que EU penso, o que EU li que não sei quem disse ou fazia não sei em que século… ou seja, o que EU, EU e mais EU.

Querido sacerdote que quer dar a Comunhão na mão ou, até mesmo, não quer, porém a dá, temos que deixar de discorrer desta maneira: EU gosto mais na mão, EU acredito que devo obedecer apesar de tudo, EU não vejo problemas, EU não vejo isso tão sério, EU não sou ninguém para tomar essa decisão, EU acho que se o Papa e meu bispo fazem, EU devo fazê-lo… ou seja, o que EU, EU e mais EU.

Não, queridos leigos e sacerdotes, esta perspectiva está totalmente errada, o problema não é VOCÊ, ou o que VOCÊ pensa ou deixa de pensar sobre as consequências que tenham para VOCÊ não dar a comunhão na mão, o que eles lhe dizem, o que muitos ou poucos façam, nem o que façam o bispo ou o papa. Não, não e não. Detenho-me e digo em voz alta:

O problema não é você, o problema é ELE

Não importa o seu ponto de vista, a razão teórica que possa ter ou deixar de ter, as suas boas intenções, o seu desejo de obediência, todos estes argumentos desmoronam sob o seu próprio peso, se os vemos à partir da perspectiva DELE, e não do EU.

Qual é o problema DELE com a comunhão na mão?

Está dogmaticamente definido no Concílio de Trento que em cada partícula da Sagrada Hóstia está Jesus Cristo em Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

Portanto, se uma partícula por minúscula que seja cai no chão, é como se caísse a Hóstia inteira.

E se caem partículas ao solo deve-se acreditar dogmaticamente que é o próprio Jesus Cristo, seu Corpo e Sangue, quem está no chão.

Então, se nós pisamos sobre estas partículas estamos pisando sobre Jesus Cristo. Sim, vamos repetir: ESTAMOS CALCANDO JESUS CRISTO SOB NOSSOS PÉS. E nós estamos fazendo por nossa culpa, colaboração ou cumplicidade, não por um acaso fora de nosso controle.

Se por um momento pudéssemos ver a cena dantesca que se produz em nossas igrejas ficaríamos horrorizados. Podemos ter uma ligeira ideia contemplando a fantástica ilustração de Rodrigo Garcia. Será que ela nos parece dura? Pois é exatamente o que acontece e não vemos.

Agora é fácil compreender o Amor que supõe a Eucaristia, onde Jesus foi exposto a ser o mais frágil, mesmo correndo o risco de ser pisoteado indignamente numa segunda Paixão silenciosa e invisível, mas, nem por isso, menos cruel. E é fácil entender o quanto respeito e cuidado deveríamos tratar Jesus Eucarístico diante de sua posição voluntária de fragilidade e exposição, à qual estamos obrigados de modo absoluto e inexcusável, sem que possa haver nenhum EU que valha, nossa única obrigação é a de protegê-LO, contra tudo e contra todos, mesmo à custa da nossa honra ou posição.

Sei que haverá alguns que dirão que exagero, que sempre pode haver partículas de uma maneira ou de outra, e é certo que pode haver mesmo, mas uma coisa é humanamente não poder controlar uma micropartícula que, por exemplo, voe despercebida aos nossos olhos, e outra coisa muito diferente é a que cai por nossa culpa, negligência, covardia e / ou forma de comungar. É verdade que comungando de joelhos e sem patena também pode passar – outra irresponsabilidade do sacerdote -, mas infinitamente menos do que se sujeitamos a Hóstia à fricção do contato com as mãos.

Das muitas observações que tenho feito tenho digo que nunca fui capaz de ver – embora esteja certo de que haja alguém perdido a fazê-lo, como uma exceção – um único comungante na mão tentando remover de sua mão partículas que possam ter permanecido, nem mesmo tentando ver se ficou alguma. Qualquer sacerdote que tem dado a comunhão com a patena sabe que, até mesmo em Missa tradicional sempre há partículas, como sempre há partículas que permanecerão na mão. O simples fato de depositá-lo e pegá-la novamente para comungá-la provoca o desprendimento inevitável. Isso significará, na prática, centenas de partículas pelo chão profanadas e pisoteadas por nossa culpa.

Tudo isso é tanto mais doloroso se pensamos por um momento como esta prática é promovida ativamente, chegando-se até mesmo a obrigar as crianças a fazer a sua Primeira Comunhão na mão, como acontece na paróquia de minha pequena cidade com o pleno conhecimento, silêncio e passividade do Arcebispo de Sevilha [1].

Nenhum sacerdote está obrigado a dar a Comunhão na mão, e a própria legislação canônica o respalda[2], pois lhe permite não administrá-la à decisão do sacerdote quando há risco de profanação. Acaso não há risco de profanação em que Jesus Cristo caia no chão e seja pisoteado? Acaso não há risco de profanação em uso que possa ser dado à Sagrada Forma como se viu recentemente em Pamplona? Querido sacerdote que, de boa-fé, vem dando a comunhão na mão, contemple a nossa ilustração, medite-a e diga-me: acredita honestamente agora que é seguro dar a comunhão na mão, mesmo para uma única pessoa?

Ninguém, repito, ninguém deve arriscar o Corpo de Cristo a ser pisoteado e profanado, e isso é feito dando uma única comunhão na mão. Poderia haver uma lei que obrigasse um filho a expor sua mãe para ser pisoteada, ultrajada e humilhada? Mesmo se houvesse, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso teria obrigação moral de continuar seguindo esta lei?… Pois, quanto mais se falamos de Jesus Cristo, Nosso Senhor e Criador.

Não tenho dúvida de que a maioria de vocês que a recebem em sua mão ou a administram não o fazem com essa intenção, porque continuam analisando a partir do EU, EU e EU. Pare por um momento, reflita e olhe a partir do ponto de vista DELE, pisoteado no chão ou profanado por indesejáveis, com a igreja cheia de rastros do Sangue de Nosso Senhor, e estou certo de que nem a receberão nem a darão nunca mais.

Se houve milhares de mártires que morreram por não permitirem ultrajar uma imagem, um livro sagrado… você vai tolerar esse ultraje e calcar sob os pés o próprio Jesus Cristo em Corpo, Sangue, Alma e Divindade diante dele?

Antes morrer do que Nosso Senhor esteja no chão por minha culpa.
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Notas:

[1] Pessoalmente denunciei ao Sr. Arcebispo de Sevilha, Monsenhor Asenjo, que as crianças recebiam obrigatoriamente a Primeira Comunhão de pé e na mão. Sua resposta foi que “ele não podia fazer nada”. Pobres crianças, usadas e manipuladas pelos demolidores da Fé, que deve sempre deveriam lembrar as duríssimas palavras de Nosso Senhor contra aqueles que manipulam esses pequenos, “mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar”. (Mateus 18:6)

[2] “Se houver perigo de profanação, não se distribua aos fiéis a Comunhão na mão”. (Redemptionis Sacramentum 92).
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Autor: Miguel Angel Yanez
Fonte: Adelante la Fe
Imagem: Rodrigo Garcia 
Tradução e disponibilidade: Sensus Fidei

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