Uma velha conhecida. Hoje amplamente famosa como a
oportunista das corridas presidenciais. Nascida em Rio Branco, no Acre, Marina Silva surge,
mais uma vez, como candidata à Presidência da República. Ainda que permaneça
remota a possibilidade de vencer as eleições, desta vez, provavelmente, seja a
sua maior chance de alcançar o segundo turno.
Seria, então, admissível de se cogitar ceder um voto a
ela? Qual é a proximidade que as ideias de Marina Silva têm com a Doutrina
Social da Igreja? Tentaremos responder essas perguntas em mais um texto da
seção ‘Análise de Políticos à luz da DSI’.
Marina e o aborto
Para não delongar no que acredito ser de maior interesse
do leitor, trago à tona, em primeiríssimo lugar, a posição da acreana quanto ao
princípio que fundamenta toda a Doutrina Social, o princípio da dignidade humana,
no que concerne à inviolabilidade da vida.
Desde a primeira vez que decidiu se arriscar na disputa presidencial em 2010,
Marina já se posicionou contrária ao aborto, porém
de uma maneira que deixa péssimas brechas interpretativas. Disse ela que se
trata de um tema complexo a ser debatido em plebiscito. "Proponho o debate
democrático de um tema que não é fácil de ser enfrentado, na sociedade
brasileira inclusive” [1]. No site de seu partido, Marina deixa claro seu
posicionamento ao expor:
"Na questão do
aborto eu não me somo àqueles que ficam satanizando e aos que têm teses dizendo
que é o caminho. Eu prefiro ir para o embate. Não defendo por questões
filosóficas, éticas e religiosas. Eu não defendo, porque eu defendo a
vida. E não acho que uma mulher que teve que lançar mão de uma situação
extrema como essa deva ir para cadeia. Uma pessoa como essa
precisa de acolhimento. Precisa de todo o respeito em relação a sua condição e,
a maioria das pessoas que fazem essa escolha, elas pagam um preço emocional
muito grande na maioria das vezes” [2]
O grande entrave desse pronunciamento está no fato de que,
embora ela se confesse pró-vida e hostil ao aborto, abre margem, conforme grifo
acima, para interpretarmos que poderia acatar a sua descriminalização. Ou seja,
não se pode abortar, mas caso alguma mulher decida por isso, também não poderá
ser presa.
Outra questão de imensa importância reside na sua
tendência excessiva em submeter determinados assuntos à opinião popular sendo
que, em se tratando do aborto, por exemplo, não deve estar, de forma alguma,
sujeito ao crivo do povo, pois o direito à vida é algo que não pode ser
anulado mediante plebiscito ou qualquer outra forma de consulta popular.
Ninguém, absolutamente ninguém, seja do Executivo,
Legislativo, Judiciário ou mesmo o povo, pode assumir para si o direito de
decidir se bebês indefesos devem ou não viver. “Deus é o poder supremo que está
acima de todos os poderes” [3]. É a ordem natural instituída por Deus que
define e ponto final. Pois, se por acaso o povo votar pela aprovação do aborto,
esta decisão então deverá ser acatada em nome da democracia? Nem tudo deve ser
democratizado, principalmente a inviolabilidade da vida humana.
Portanto, ainda que seja louvável a postura de Marina
perante o tema do aborto, não demonstra inteira firmeza, muito menos transmite
total confiança de que, em seu mandato, a vida será incondicionalmente
protegida.
Marina e a família
Quanto ao pilar fundamental da sociedade - a Instituição Familiar -
que sustenta o princípio da dignidade da pessoa humana, Marina Silva, mais uma
vez, demonstra inconsistência em suas declarações.
Embasada em suas convicções religiosas pessoais (é
evangélica pentecostal), explicitou seu entendimento de que o casamento
constitui-se como sacramento, entretanto, não hesitou em afirmar, quando o
jornalista Willian Waack a indagou “Se eu fizer uma manchete dizendo: a
candidata Marina Silva é a favor do casamento gay. Eu estou errado?” [4], ela
respondeu que: “em termos da palavra casamento você está errado, porque o que nós
defendemos é a união civil entre pessoas do mesmo sexo” [5].
Fica nítido, portanto, o quanto a candidata acreana não consegue ser plenamente
resoluta em suas convicções, de forma a ceder ao discurso do politicamente
correto.
O princípio da dignidade da pessoa humana também não pode
ser resguardado se a própria natureza humana não for resguardada e,
consequentemente, a essência masculina e feminina.
Vê-se hoje em dia a tentativa incansável de se relativizar
o próprio ser humano, de forma a destruir a identidade do
homem e da mulher e, com isso, desmantelar a Família. Tudo isso se dá pela tão
conhecida e maléfica ideologia de gênero.
Com base nas declarações públicas de Marina Silva e de seu
partido, facilmente podemos prever como se dará sua postura. Uma nota da Rede
Sustentabilidade, partido idealizado e fundado por Marina, assim dispõe acerca
do tema:
"O MEC (Ministério
da Educação) retirou as menções às expressões “identidade de gênero” e
“orientação sexual” da nova versão da base nacional curricular (BNCC). Com essa
mudança, o governo federal mostra mais uma vez sua falta de conexão com a
realidade do país e do mundo, assumindo uma postura retrógrada face a temas que
cada vez mais demandam atenção da sociedade” [6].
Marina alinhada à Esquerda Revolucionária
Dentre os princípios da Doutrina Social que são mais
frontalmente atacados pelas ideologias de esquerda é o princípio da
subsidiariedade (leia mais sobre nesse link). Marina, por suas convicções nitidamente de
esquerda marxista, tem uma visão deformada do Estado e de seus poderes.
Ora, apesar de desde o começo de seu envolvimento na
política, Marina ter demonstrado possuir princípios religiosos, na verdade, ela
bebeu na fonte de Leonardo Boff, um dos ícones da Teologia da Libertação,
ideologia que promove a subversão da Doutrina Social da Igreja, utilizando o
marxismo como chave de interpretação das encíclicas sociais e
instrumentalizando os ensinamentos do Magistério a fim de promover um discurso
demagógico para as classes mais pobres e promover a revolução por meio da
Igreja Católica.
O comprometimento de Marina com os ideais socialistas e
com a Teologia da Libertação fica ainda mais claro
quando lembramos que durante 23 anos (1986-2009) Marina foi membro do PT, ministra do Governo Lula (2003-2008)
e, cofundadora (com Chico Mendes, comunista acreano e primeiro presidente do PT
no Acre) da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no
Estado do Acre.
Marina e Chico Mendes coordenavam ações junto às comunidades eclesiais de base
(CEBs)que hoje já bem sabemos ser mero instrumento de promoção
da ideologia marxista no meio católico.
A sua relação afetiva com o socialismo percorreu o Partido
dos Trabalhadores, passando pelo Partido Socialista Brasileiro, ambos membros
do perverso Foro de São Paulo – organização fundada pelo
ditador Fidel Castro e o recente presidiário Luís Inácio Lula da Silva com o
objetivo de instalar o socialismo na América Latina-, e hoje permanece na Rede
de Sustentabilidade, partido nitidamente socialista e revolucionário.
Vale ressaltar, por outro lado, sem deixar de ser honesto
com relação a algumas posturas da presidenciável que, não obstante tenha essa
dileção socialista, Marina se posicionou a favor do impeachment de Dilma Rousseff,
acusando-a, explicitamente, que tenha sido eleita com dinheiro roubado e,
atualmente, enaltece o trabalho realizado pela Operação Lava-Jato, declarando
quando interpelada acerca da prisão de Lula que:
“Os autos foram devidamente trabalhados, com todo rigor
que é necessário para um julgamento dessa magnitude. Os advogados do presidente
Lula com certeza são muito bem pagos e competentes, todas as instâncias foram
acionadas para assegurar a ele o mais amplo direito de defesa. O que eu não
posso é, independente das relações históricas de amizade, do que quer que seja
que eu tenha com as pessoas, achar que a Justiça deve se adaptar às pessoas.
Não se pode ter uma justiça com dois pesos e duas medidas, uma para os aliados
e outra para os adversários” [7].
Sejamos justos em denotar certo valor dado por ela às
instituições, o que, de acordo com a Doutrina Social da Igreja, é
imprescindível para a promoção de um ambiente favorável à orientação da
sociedade ao bem comum, permitindo que os indivíduos se aliviem um pouco da
intervenção excessiva estatal e preservando um princípio tão rico como o da
participação.
Marina e o desarmamento
Por fim, importa realçar um assunto muito debatido no meio
sócio-político brasileiro e extremamente interligado ao princípio do bem comum.
Se trata do armamento civil que, segundo a Doutrina
Social da Igreja, enquanto converge para o bem comum, deve ser permitido.
Discorremos sobre o tema de forma mais detalhada em outro artigo, “Desarmamento
Civil”, neste site.
Marina Silva assume uma opinião favorável ao desarmamento,
não flexibilizando em qualquer hipótese a sua integral ou parcial revogação.
Expressou-se enfaticamente ao dizer que “a ideia de que uma pessoa armada está
mais protegida, é um equívoco. A ideia de que ter uma arma em casa torna a
família mais segura, é um erro grave” [8].
De fato, para se armar o cidadão e permitir com que exerça
o porte em qualquer local e a qualquer momento, é necessário que antes se faça
um estudo cauteloso do contexto sócio-político do país que dê base para uma
decisão prudente. Porém, a família poder exercer sua legítima defesa sem
depender da tutela estatal é indispensável. As afirmações irredutíveis da
presidenciável se opõe àquilo ensinado no Catecismo da Igreja Católica e no
Compêndio da Doutrina Social.
Diante de todo o exposto, compreendemos que, de fato, se
comparamos Marina Silva a Luís Inácio Lula da Silva e a Ciro Gomes (vide outros
artigos deste site), sua periculosidade para os princípios da Doutrina Social
da Igreja aparenta insignificante. Entretanto, ao analisarmos seus ideais
políticos separadamente, a acreana se apresenta sim como uma grande ameaça aos
princípios católicos, e não traz qualquer segurança de que proporcionará, por
meio de seu mandato, condições para nos aproximarmos do Reinado Social de
Cristo.
Nicholas Philip
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Referências bibliográficas
[1]http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/05/marina-silva-defende-plebiscito-sobre-legalizacao-da-maconha.html
[3]BENTO XVI, Missa de Natal do Senhor -http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2012/documents/hf_ben-xvi_hom_20121224_christmas.html
[4]http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2014/09/marina-silva-e-entrevistada-no-jornal-da-globo.html
[5]Ibid.
[8]https://oglobo.globo.com/brasil/marina-diz-que-mudanca-no-estatuto-do-desarmamento-retrocesso-17986078
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