O PT não contava com a
força de Bolsonaro até esse ponto das eleições. Só isso explica como é que
foram escolher como poste de Lula justamente o criador do “Kit Gay”, Fernando
Haddad. No momento em que o Brasil vive uma inegável onda conservadora, o nome
de Haddad era provavelmente a mais frágil das indicações. Se fosse Jaques
Wagner, Celso Amorim ou até Tarso Genro, eles teriam mais condições de se
defender da artilharia de Bolsonaro nos temas morais e da natural adesão dos
evangélicos ao ex-militar. Mas Haddad? Durante anos ele se empenhou em ser
reconhecido como político não apenas próximo da comunidade LGBT, mas um
verdadeiro entusiasta e promotor das demandas desse segmento, seja como
ministro da Educação ou como prefeito de São Paulo. E agora quer abafar a
reputação que construiu com tanta dedicação?
Sua revolta contra as mensagens que atribuem a ele a criação do “Kit Gay”,
nesse momento, são de uma espantosa hipocrisia, dada a abundância de evidências
que comprovam o fato. Ele não apenas foi o idealizador da cartilha “Escola sem Homofobia” (apelidada pelos críticos de Kit Gay), como sempre fez questão de
apoiar, financiar e comparecer a inúmeros eventos LGBT, como a famosa Parada
Gay de São Paulo.
Ainda que concordem com
as pautas desses grupos, ser fotografado nesses eventos é algo que muitos
políticos evitam, pois têm ciência do impacto que as imagens têm junto ao
eleitorado conservador. Haddad, no entanto, era diferente. Ele nunca se
importou com isso. Aliás, as fotos permitem supor que ele sempre teve orgulho
de ser tão bem aceito nesses ambientes. Duvidam? Experimentem digitar os termos “Haddad” e “Parada Gay” no buscador de imagens do Google e o que acharão é um prefeito
demonstrando alegria.
Essa repentina tentativa de discrição sobre seu
legado nesse campo, aliás, devia motivar os protestos das ONGs em defesa dos
direitos LGBT. Pelo menos das mais honestas. Haddad, agora, por razões
eleitoreiras, têm vergonha de ter estado onde esteve? De ter feito o que fez?
Por causa do eleitorado evangélico? Isso é motivo de sobra para essa comunidade
deixar de apoiá-lo ou, no mínimo, expor sua falta de coragem.
Para o azar de Haddad, no mundo da internet, da eternização
de momentos via indexação de buscadores e das redes sociais, o direito ao
esquecimento é impossível para homens públicos. Para o bem ou para o mal, seu
passado está lá e será lembrado para sempre.
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Sempre
Família
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