Álvaro Dias, homem de longa carreira política, é o candidato do partido Podemos (1) para a presidência da República. Tendo já assumido os mais diversos cargos políticos, tais como de vereador, governador, deputado estadual e federal, atualmente é Senador da República, estando no terceiro mandato consecutivo.
Defensor da extinção de privilégios em cargos administrativos, do fim do foro privilegiado (dizendo ser o foro um escárnio, que está na contramão das aspirações do povo brasileiro), além de ser favorável a uma reforma tributária com diminuição dos impostos (com a possível simplificação da tributação, unificando os tributos em um imposto agregado), Álvaro Dias se mostra, assim, defensor de importantes pautas para a política nacional, abarrotada de privilégios e caracterizada por uma burocracia sufocante e uma imensa carga tributária.
Por outro lado, defende, com uma postura contrária a uma posição liberal de mercado, a "reestatização da petrobras". Nos seus dizeres, a Petrobras "foi privatizada pela corrupção. É preciso privatizar o entorno dessas empresas (Petrobras e Eletrobras), mas não entregar o controle. A Petrobras tem de ser reestatizada."(3)
Posição política de Álvaro Dias
Comentando a respeito da posição de direita ou de esquerda de Alvaro Dias, o site O Antagonista (3) elucidou uma importante fala do candidato no tema:
"O senhor poderia dar exemplos de quais boas ideias da esquerda e da direita o partido vai incorporar?
É preciso enxugar o Estado, eliminar estruturas superpostas que limitam o investimento produtivo do poder público. Pregamos a reforma administrativa, mudar essa relação promíscua de poderes, com partidos, governos e setores da iniciativa privada. O modelo de loteamento de cargos também está condenado porque levou o governo ao fracasso. É uma pregação que cai bem no campo da direita. Da esquerda, temos que valorizar programas sociais, em função da pobreza existente no País. Melhor distribuição de renda e justiça social são teses encampadas teoricamente pela esquerda mas, evidentemente, não se trata de um patrimônio exclusivo. O que imaginamos é que as prioridades da população se alteram, porque a realidade social é dinâmica, e nós temos que acompanhar as mudanças. Por isso, chamamos de um partido de causas, de movimento."
Colocando-se como um candidato de "centro", se é que podemos acreditar que haja um candidato assim, Dias mostra-se perigoso para candidatos de posições ideológicas mais definidas, já que pode angariar votos de espectros ideológicos variados, por não se ater muito a questões morais importantes e não se definir ideologicamente.
Mas, não seria essa dita posição de "centro" também perigosa para assuntos morais que devem fundamentar o voto dos cristãos?
FÉ E MORAL
Alvaro Dias, que se diz católico, tem posições um tanto quanto contraditórias à doutrina religiosa e moral do catolicismo. Como bem pontuado pelo portal Sempre Família (4), Dias em relação ao Islamismo fez o seguinte discurso no Senado:
“O que há de errado com a religião muçulmana? Nada. É uma religião respeitável, com valores que temos que respeitar. O que há de errado é com as sociedades muçulmanas. O que há de errado com elas é que não conheceram a reforma, nem o iluminismo. Até hoje, não souberam, em primeiro lugar, separar religião de Estado, lá não existe Estado laico; em segundo lugar, não cultuam as liberdades fundamentais de expressão, de reunião e de associação. São sociedades que vivem como na Idade Média ainda. O problema não é a religião muçulmana, são as sociedades, que precisam dar um salto de modernidade”.
Teceu também elogios à Maçonaria, dizendo ser a mesma "fundada no amor fraternal, na esperança de que com o amor a Deus, à pátria, à família e ao próximo, com tolerância, virtude e sabedoria, com a constante livre investigação da verdade, com o progresso do conhecimento humano, das ciências e das artes, sob a tríade liberdade, igualdade e fraternidade, dentro dos princípios da razão e da justiça, o mundo alcance a felicidade geral e a paz universal.” (5)
Tal pensamento é incompatível com a doutrina católica que, desde o século XVIII, rejeita expressa e duramente a Franco-maçonaria. Destarte, a Congregação para a Doutrina da Fé se manifestou nesse sentido recentemente:
"Permanece portanto imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão."(5)
Quanto ao aborto e ao casamento gay, Dias coloca-se como um defensor do estado atual da norma vigente no país. Ou seja, considera, no caso do aborto, "a legislação suficiente", em que "excepcionalidades necessárias estão estabelecidas". Também se mostra a favor do casamento gay. Afirma que “a homofobia já possui uma decisão do Supremo Tribunal Federal afirmando que é crime. Com relação ao casamento homoafetivo, eu votaria a favor, pois acho que todas as pessoas devem respeitar”.
Fica evidente a oposição do pensamento do candidato ao corpo doutrinal da religião à qual ele mesmo se diz fiel. Sobre o aborto, há de se dizer que não pode haver "excepcionalidades", por configurar-se sempre como um atentado contra a vida de um indefeso. Soam como dirigidas para a legislação brasileira as palavras do Papa São João Paulo II:
Soam como dirigidas para a legislação brasileira as palavras do Papa João Paulo II: "É verdade que, muitas vezes, a opção de abortar reveste para a mãe um carácter dramático e doloroso: a decisão de se desfazer do fruto concebido não é tomada por razões puramente egoístas ou de comodidade, mas porque se quereriam salvaguardar alguns bens importantes como a própria saúde ou um nível de vida digno para os outros membros da família. Às vezes, temem-se para o nascituro condições de existência tais que levam a pensar que seria melhor para ele não nascer. Mas estas e outras razões semelhantes, por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente."
Sobre tais questões, é recomendável que se assista ao próprio candidato emitindo sua posição:
Por fim, Álvaro Dias se diz radicalmente contra à legalização das drogas, como menciona no vídeo acima, e favorável a uma flexibilização do estatuto do desarmamento, alegando não ter sido respeitada a opinião popular no referendo de 2005.
"Eu sou favorável ao cumprimento do desejo da população do país, da que é a possibilidade de ter o porte de arma. (...) Eu não posso negar esse direito ao cidadão brasileiro. Até que o Estado seja aparelhado o suficiente. Esse desarmamento não surtiu efeito. A violência aumentou. Não creio que [com o aumento do porte de arma] diminua, mas é um direito que o cidadão tem." (6)
Para se informar sobre a posição da Igreja a respeito da legalização das drogas, acesse nosso artigo sobre o tema.
Conclusões
Álvaro Dias, tendo posições interessantes do ponto de vista econômico, falha em questões centrais para a reflexão do voto católico. Especialmente diante da iminência de se ter o aborto legalizado no Brasil, através de um ativismo judicial rasteiro do STF, a posição branda e cômoda de Dias sobre o assunto é ainda mais condenável. Semelhante covardia se dá quando o assunto é casamento gay, pauta de extrema relevância para todo bom cristão, que tem o dever de defender a verdade da família natural como Deus a quis: homem e mulher. Como bem salientou o então Cardeal Ratzinger, quando Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé:
"em presença do reconhecimento legal das uniões homossexuais ou da equiparação legal das mesmas ao matrimónio, com acesso aos direitos próprios deste último, é um dever opor-se-lhe de modo claro e incisivo. Há que abster-se de qualquer forma de cooperação formal na promulgação ou aplicação de leis tão gravemente injustas e, na medida do possível, abster-se também da cooperação material no plano da aplicação. Nesta matéria, cada qual pode reivindicar o direito à objecção de consciência.”
Por isso, há de se admitir que, mesmo não se enveredando em pautas ideológicas extremadas, como é o caso de outros Presidenciáveis que chegam inclusive a defender o comunismo, tão condenado pela Igreja, Álvaro Dias colabora, com sua omissão, para que se perpetuem legislações e pareceres jurídicos iníquos no Brasil, como a permissão ao casamento gay e ao aborto, ainda que em alguns casos. Dessa forma, falta-lhe a força moral de defender a verdade e a lei natural, que fazem tanta falta nos cenários jurídico e social do Brasil.
Thiago Martins
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Referências bibliográficas e notas
1. O partido Podemos (PODE), antigo PTN, surgiu em 2017 sob a presidência da Renata Abreu (deputada federal por SP). Apresenta-se como um partido "nem de direita, nem de esquerda", buscando dar uma resposta a falta de representatividade dos cidadãos e promover uma politica transparente. O partido foi um dos primeiros a abandonarem a base aliada ao atual presidente Michel Temer, por ocasião do escândalo da JBS, além de ter expulsado membros que aceitaram ministérios.
5. Declaração sobre a Maçonaria, Congregação para a Doutrina da Fé. Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19831126_declaration-masonic_po.html - Quanto a relação do catolicismo com a maçonaria, seita condenada diversas vezes pela Igreja, veja mais em: https://padrepauloricardo.org/episodios/um-catolico-pode-ser-macom
6. Carta Encíclica Evangelium Vitae, João Paulo II. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25031995_evangelium-vitae.html
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