O Livro do Deuteronômio é uma coletânea de
discursos, que Moisés pronunciou, no final da sua vida. Ele recorda as leis do
Senhor às novas gerações, enquanto contempla de longe a Terra Prometida, para a
qual corajosamente conduziu o povo de Israel.
Neste Livro, a “lei” de Deus é apresentada, acima de tudo, como a “palavra” de um Pai que cuida de todos os seus filhos. É um caminho de vida que Ele oferece ao seu povo, para realizar um projeto de Aliança. Se o povo seguir esta lei fielmente, por amor e gratidão, mais do que por medo dos castigos, poderá continuar a experimentar a proximidade e a proteção de Deus.
Uma das maneiras de realizar concretamente esta
Aliança, recebida de Deus como uma dádiva, consiste em optar com decisão pela
justiça. O fiel atua-a quando recorda com gratidão a escolha que Deus fez do
seu povo e evita adorar qualquer outro deus senão o Senhor, mas também quando
recusa benefícios pessoais que lhe perturbem a consciência perante as
necessidades do pobre.
«Deves procurar a justiça e só a justiça».
A experiência quotidiana coloca-nos perante muitas
situações de injustiça. Algumas são muito graves, especialmente sobre os mais
fracos, aqueles que sobrevivem à margem das nossas sociedades. Quantos Caim
exercem violência sobre o irmão ou a irmã!
A eliminação das desigualdades e dos abusos é uma exigência de fundamental justiça, e deve começar pelo nosso coração e pelos locais que frequentamos.
Todavia, Deus não realiza a sua justiça destruindo Caim. Pelo contrário, Ele preocupa-se em protegê-lo para que retome o caminho (1). A justiça de Deus consiste em dar uma nova vida.
Como cristãos, encontrámos Jesus. Ele, com as suas palavras e gestos, e especialmente com a sua vida e a luz da Ressurreição, revelou-nos que a justiça de Deus é o seu amor infinito para com todos os seus filhos.
Através de Jesus, abre-se, também para nós, o caminho para pôr em prática e difundir a misericórdia e o perdão, que são o fundamento da justiça social.
«Deves procurar a justiça e só a justiça».
Este versículo da Escritura foi escolhido para
celebrar a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, em 2019. No hemisfério
norte, decorre de 18 a 25 de janeiro. Se aceitarmos, também nós, esta Palavra,
poderemos procurar os caminhos de reconciliação, antes de mais entre nós,
cristãos. Depois, pondo-nos ao serviço de todos, contribuiremos eficazmente
para sarar as feridas da injustiça.
É isso que experimentam, já há alguns anos, alguns cristãos de diversas Igrejas, que se dedicam aos presos na cidade de Palermo (Itália). A iniciativa nasceu da ação de Salvatore, membro de uma associação evangélica: «Dei-me conta das necessidades espirituais e humanas destes nossos irmãos. Muitos deles não tinham familiares que os pudessem ajudar. Confiei em Deus e falei disto a vários irmãos da minha Igreja, bem como de outras Igrejas». Christine, da Igreja anglicana, acrescenta: «Poder ajudar estes irmãos necessitados dá-nos alegria, porque torna concreta a Providência de Deus que, por nosso intermédio, quer fazer chegar o seu Amor a todos». E Nunzia, católica: «Pareceu-nos uma boa ocasião, tanto para ajudar os irmãos necessitados, como para contribuir para dar a conhecer Jesus, também com pequenas coisas materiais».
É uma concretização daquilo que Chiara Lubich disse, em 1998, na igreja evangélica de Sant’Ana em Augsburg, durante um encontro ecumênico:
«[…] Se nós, cristãos, olharmos para a nossa história […], não podemos deixar de ficar tristes, ao verificar que ela foi, muitas vezes, uma sucessão de incompreensões, de litígios, de lutas. Isto deve-se, sem dúvida, às circunstâncias históricas, culturais, políticas, geográficas, sociais… mas também ao fato de ter diminuído, entre os cristãos, aquele elemento unificador que lhes é característico: o amor.
Um trabalho ecumênico só poderá ser fecundo na medida em que, quem a ele se dedica, ver em Cristo crucificado e abandonado, que se abandona no Pai, a chave para compreender todas as faltas de unidade e para recompor a unidade […]. E a unidade tem um efeito […]: trata-se da presença de Jesus entre várias pessoas, na comunidade. «Onde estiverem dois ou três – disse Jesus – reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles» (Mt 18-20). Jesus entre um católico e um evangélico que se amam, entre anglicanos e ortodoxos, entre uma armênia e uma luterana que se amam. Quanta paz a partir de agora, quanta luz para um verdadeiro caminho ecumênico!» (2).
Letizia Magri
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1) Cf. Gn 4, 8-16; 2) C. Lubich, “Oração ecuménica para o Advento”,
Augsburg (Alemanha), 29 de novembro de 1998.
Movimento Focolares, Portugal
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