terça-feira, 23 de abril de 2019

Estado Islâmico sobre incêndio de Notre Dame: “Espere pelo próximo”



Um grupo de mídia jihadista ligado ao ISIS (Estado islâmico) publicou uma imagem de Notre Dame em chamas com os dizeres: “Espere pelo próximo”. Pelo que sabe-se até o momento, não há indicação concretas de que o incêndio esteja ligado ao grupo terrorista.

Enquanto a catedral queimava na segunda-feira à noite, o grupo Al-Munatsir, ligado ao ISIS, publicou um cartaz da catedral em chamas acompanhado das palavras: “Tenha um bom dia”. 

A promotoria de Paris diz tratar o incêndio como um acidente, descartando incêndios criminosos e possíveis motivos relacionados ao terrorismo, pelo menos por enquanto.

Clérigo extremista com possíveis vínculos com o ISIS é acusado de planejar os atentados do Sri Lanka


A inteligência cingalesa nomeou o clérigo extremista local Moulvi Zahran Hashim como a força matriz por trás dos ataques mortais do Domingo de Páscoa. O clérigo radical usou as mídias sociais para pedir violência contra os não-muçulmanos.

Hashim é suspeito de ser um organizador dos ataques logo após altos funcionários do governo acusarem o envolvimento nacional do Thawheed Jama'ut (NTJ), de acordo com várias fontes da mídia. Hashim é tanto um Imam quanto um prolífico conferencista do NTJ, e diz-se que usou as mídias sociais para incitar a violência, inclusive contra mesquitas rivais.

Depois de serem removidos do YouTube, os vídeos de Hashim continham mensagens de apoio ao Estado Islâmico (IS, anteriormente ISIS) contra imagens, incluindo as torres gêmeas em chamas e uma tapeçaria de bandeiras de países ao redor do mundo envoltos em chamas.

O Conselho Muçulmano do Sri Lanka supostamente reclamou ao governo sobre Hashim durante anos, sinalizando seu 'vídeos discurso de ódio' depois que ficou claro que ele estava radicalizando jovens estudantes em suas aulas de Alcorão.

O NTJ em si era um grupo islâmico linha-dura pouco conhecido até que foi nomeado suspeito nos ataques de domingo pelo porta-voz do governo, Rajitha Senaratne. Apesar da acusação, as organizações de inteligência acreditam que os ataques sofisticados não poderiam ter sido realizados sem a perícia de grupos externos, o que poderia dar credibilidade à alegação recente do EI de estar por trás dos atentados. 

domingo, 21 de abril de 2019

Em missa de Páscoa, parisienses rezam por rápida restauração da catedral de Notre-Dame


Sem uma catedral para onde ir, centenas de parisienses se reuniram para a missa do domingo de Páscoa na igreja católica de Saint-Eustache, na margem direita da cidade, e rezaram pelo rápido restabelecimento de Notre-Dame, após a catedral ter sido devastada por um incêndio.

O arcebispo de Paris, Michel Aupetit, iniciou a cerimônia traçando um paralelo entre a planejada reconstrução da catedral de Notre-Dame de Paris e a ressurreição de Jesus dentre os mortos, celebrada todos os anos pelos cristãos na Páscoa.

"Vamos nos erguer novamente e nossa catedral se erguerá novamente", disse ele ao público, que incluía a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e o chefe do Corpo de Bombeiros de Paris, general Jean-Claude Gallet.

A missa havia sido programada originalmente para ser realizada em Notre-Dame, cuja torre e o telhado foram destruídos em um incêndio na segunda-feira, enquanto equipes de resgate colocaram suas vidas em risco para salvar o resto da secular catedral e seus artefatos de valor inestimável.

Urbi et Orbi: "A Páscoa é o início de um mundo novo", afirmou o Papa Francisco



MENSAGEM URBI ET ORBI
DO PAPA FRANCISCO

PÁSCOA 2019

Balcão da Basílica Vaticana
Domingo, 21 de abril de 2019

Queridos irmãos e irmãs, feliz Páscoa!

Hoje, a Igreja renova o anúncio dos primeiros discípulos: «Jesus ressuscitou!» E de boca em boca, de coração a coração, ecoa o convite ao louvor: «Aleluia!... Aleluia!» Nesta manhã de Páscoa, juventude perene da Igreja e de toda a humanidade, quero fazer chegar a cada um de vós as palavras iniciais da recente Exortação Apostólica dedicada particularmente aos jovens:

«Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. Por isso as primeiras palavras, que quero dirigir a cada jovem [e a cada] cristão, são estas: Ele vive e quer-te vivo! Está em ti, está contigo e jamais te deixa. Por mais que te possas afastar, junto de ti está o Ressuscitado, que te chama e espera por ti para recomeçar. Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará a teu lado para te devolver a força e a esperança» (Chistus vivit, 1-2).

Queridos irmãos e irmãs, esta mensagem é dirigida ao mesmo tempo a todas as pessoas e ao mundo inteiro. A Ressurreição de Cristo é princípio de vida nova para todo o homem e toda a mulher, porque a verdadeira renovação parte sempre do coração, da consciência. Mas a Páscoa é também o início do mundo novo, libertado da escravidão do pecado e da morte: o mundo finalmente aberto ao Reino de Deus, Reino de amor, paz e fraternidade.

Cristo vive e permanece conosco. Mostra a luz do seu rosto de Ressuscitado e não abandona os que estão na provação, no sofrimento e no luto. Que Ele, o Vivente, seja esperança para o amado povo sírio, vítima dum conflito sem fim que corre o risco de nos encontrar cada vez mais resignados e até indiferentes. Ao contrário, é hora de renovar os esforços por uma solução política que dê resposta às justas aspirações de liberdade, paz e justiça, enfrente a crise humanitária e favoreça o retorno em segurança dos deslocados, bem como daqueles que se refugiaram nos países vizinhos, especialmente no Líbano e Jordânia.

A Páscoa leva-nos a deter o olhar no Médio Oriente, dilacerado por divisões e tensões contínuas. Os cristãos da região não deixem de testemunhar, com paciente perseverança, o Senhor ressuscitado e a vitória da vida sobre a morte. O meu pensamento dirige-se de modo particular para o povo do Iêmen, especialmente para as crianças definhando pela fome e a guerra. A luz pascal ilumine todos os governantes e os povos do Médio Oriente, a começar pelos israelitas e os palestinenses, e os instigue a aliviar tantas aflições e a buscar um futuro de paz e estabilidade.

Que as armas cessem de ensanguentar a Líbia, onde, nas últimas semanas, começaram a morrer pessoas indefesas, e muitas famílias se viram forçadas a deixar as suas casas. Exorto as partes interessadas a optar pelo diálogo em vez da opressão, evitando que se reabram as feridas duma década de conflitos e instabilidade política.

Cristo Vivente conceda a sua paz a todo o amado continente africano, ainda cheio de tensões sociais, conflitos e, por vezes, extremismos violentos que deixam atrás de si insegurança, destruição e morte, especialmente no Burkina Faso, Mali, Níger, Nigéria e Camarões. Penso ainda no Sudão, que está a atravessar um período de incerteza política e onde espero que todas as instâncias possam ter voz e cada um se esforce por permitir ao país encontrar a liberdade, o desenvolvimento e o bem-estar, a que há muito aspira.

Atentado contra cristãos no Sri Lanka deixa mais de 180 mortos nesse domingo de Páscoa


Por volta das 8h45 desse domingo (21), uma série de explosões coordenadas visando três hotéis de luxo e três igrejas com fiéis celebrando a Páscoa, deixaram cerca de 207 mortos e 469 feridos no Sri Lanka, país insular do subcontinente indiano. Segundo fontes oficiais, ao menos 27 estrangeiros estão entre os mortos.

Os oito atentados atingiram, simultaneamente, a capital, Colombo, e aas regiões de Katana e Batticaloa.

Os primeiros casos foram registrados por volta das 8h45 (0h15, no horário de Brasília) em três hotéis e três templos católicos que realizavam missas em celebração à Páscoa.

 
Horas mais tarde, outras duas explosões ocorreram na capital, uma delas em mais um hotel e outra em um complexo de casas na periferia de Colombo.

No hotel de luxo Cinnamon Grand, em Colombo, um homem-bomba detonou o explosivo na fila de clientes que esperava para entrar em um bufê de Páscoa no restaurante do local.

"Ele se dirigiu para o início da fila e se explodiu", relatou um funcionário para a AFP. "Era o caos total", acrescentou.

O primeiro-ministro, Ranil Wickremesinghe, convocou uma reunião do conselho de segurança nacional em sua casa para o final do dia. "Eu condeno veementemente os ataques covardes contra nosso povo hoje. Eu chamo todos para permanecerem unidos e fortes", postou no Twitter.
 
O presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, pediu calma ao país. "Por favor, fiquem calmos e não sejam enganados por rumores", declarou Sirisena, em mensagem à nação.

Sirisena, que se mostrou "em choque e triste com o que ocorreu", esclareceu que "as investigações estão em curso para descobrir que tipo de conspiração está por trás destes atos cruéis".

Imagens divulgadas pela imprensa local e nas redes sociais mostram a magnitude da explosão em pelo menos uma das igrejas, com o teto do templo semidestruído, escombros e pessoas no chão enquanto outros presentes tentam socorrê-las.

 
Nenhum grupo reivindicou a autoria do atentado, apesar de o Ministério da Defesa ter identificados os terroristas como extremistas religiosos. Em vista disso, é importante ressaltar que o episódio se insere em um contexto de crescente perseguição religiosa a cristão naquele país. Segundo dados da Open Door USA, agência especializada nesse assunto, o Sri Lanka figura entre os 50 países do mundo que mais perseguem os cristãos. O Sri Lanka, que ocupa a posição 46 na lista, tem uma grande maioria de budistas que, segundo a Open Door, são os grandes agentes da perseguição.

sábado, 20 de abril de 2019

"Jesus é o vivente e deve ser o centro das nossas vidas", diz Papa



HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

VIGÍLIA PASCAL
Basílica de São Pedro
Sábado, 20 de abril de 2019

As mulheres vão ao túmulo levando os aromas, mas temem que a viagem seja inútil, porque uma grande pedra bloqueia a entrada do sepulcro. O caminho daquelas mulheres é também o nosso caminho; lembra o caminho da salvação, que voltamos a percorrer nesta noite. Nele, parece que tudo se vai estilhaçar contra uma pedra: a beleza da criação contra o drama do pecado; a libertação da escravatura contra a infidelidade à Aliança; as promessas dos profetas contra a triste indiferença do povo. O mesmo se passa na história da Igreja e na história de cada um de nós: parece que os passos dados nunca levem à meta. E assim pode insinuar-se a ideia de que a frustração da esperança seja a obscura lei da vida.

Hoje, porém, descobrimos que o nosso caminho não é feito em vão, que não esbarra contra uma pedra tumular. Uma frase incita as mulheres e muda a história: «Porque buscais o Vivente entre os mortos?» (Lc 24, 5); porque pensais que tudo seja inútil, que ninguém possa remover as vossas pedras? Porque cedeis à resignação e ao fracasso? A Páscoa é a festa da remoção das pedras. Deus remove as pedras mais duras, contra as quais vão embater esperanças e expectativas: a morte, o pecado, o medo, o mundanismo. A história humana não acaba frente a uma pedra sepulcral, já que hoje mesmo descobre a «pedra viva» (cf. 1 Ped 2, 4): Jesus ressuscitado. Como Igreja, estamos fundados sobre Ele e, mesmo quando desfalecemos, mesmo quando somos tentados a julgar tudo a partir dos nossos fracassos, Ele vem fazer novas todas as coisas, inverter as nossas decepções. Nesta noite, cada um é chamado a encontrar, no Vivente, Aquele que remove do coração as pedras mais pesadas. Perguntemo-nos, antes de mais nada: Qual é a minha pedra a ser removida, como se chama?

Muitas vezes, a esperança é obstruída pela pedra da falta de confiança. Quando se dá espaço à ideia de que tudo corre mal e que sempre vai de mal a pior, resignados, chegamos a crer que a morte seja mais forte que a vida e tornamo-nos cínicos e sarcásticos, portadores dum desânimo doentio. Pedra sobre pedra, construímos dentro de nós um monumento à insatisfação, o sepulcro da esperança. Lamentando-nos da vida, tornamos a vida dependente das lamentações e espiritualmente doente. Insinua-se, assim, uma espécie de psicologia do sepulcro: tudo termina ali, sem esperança de sair vivo. Mas, eis que surge a pergunta desafiadora da Páscoa: Porque buscais o Vivente entre os mortos? O Senhor não habita na resignação. Ressuscitou, não está lá; não O procures, onde nunca O encontrarás: não é Deus dos mortos, mas dos vivos (cf. Mt 22, 32). Não sepultes a esperança!

BA: Incêndio atinge Igreja Matriz da cidade de Monte Santo


Nesta madrugada de sábado (20), a Igreja Católica da cidade de Monte Santo, Bahia, sofreu um incêndio. O fogo começou pela madrugada e até o amanhecer do dia a Igreja estava em chamas.

De acordo com informações do secretário de Agricultura, Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Ordem Pública, Zeliomar Almeida, o fogo começou por volta das 3h. Segundo ele, inicialmente os moradores tentaram apagar as chamas e usaram carros-pipas.

Os voluntários também atuaram no início do incêndio com a retirada de bancos de madeira e imagens sacras. Ainda de acordo com Zeliomar, o fogo atingiu a sacristia, cortinas e o teto da igreja. Parte do material litúrgico foi destruído. Não tinha ninguém no templo religioso quando o incêndio começou.

O telhado veio abaixo com o incêndio. A demora para apagar o incêndio se deu conta porque o Corpo de Bombeiros mais próximo fica a 140 KM, em Senhor do Bonfim-BA.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Paixão do Senhor: “Cristo é o retrato dos descartados da terra” .



“Era desprezado, era o refugo da humanidade, 
homem das dores e habituado à enfermidade; 
era como pessoa de quem se desvia o rosto, 
tão desprezível que não fizemos caso dele”.

Estas são as palavras proféticas de Isaías, com as quais começa a liturgia da palavra de hoje. A história da paixão que se seguiu deu um nome e um rosto a este misterioso homem das dores, desprezado e rejeitado pelos homens: o nome e o rosto de Jesus de Nazaré. Hoje queremos contemplar o Crucificado sob este mesmo aspecto: como protótipo e representante de todos os rejeitados, deserdados e os "descartados" da terra, aqueles diante dos quais se vira o rosto para outro lugar para não os ver.

Jesus não começou a sê-lo só agora, na paixão. Durante toda a sua vida ele tem sido um deles. Nasceu em um estábulo porque “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Ao apresentá-lo ao templo, os pais ofereceram "duas rolas ou dois pombinhos", a oferta prescrita pela lei para os pobres que não podiam dar-se ao luxo de oferecer um cordeiro (cf. Lv 12, 8). Um verdadeiro certificado de pobreza no Israel da época. Durante a sua vida pública, não tinha lugar para descansar a cabeça (Mt 8, 20): é um sem-teto.

E chegamos à paixão. No relato, há um momento em que não nos detemos com frequência, mas que é cheio de significado: Jesus no pretório de Pilatos (cf. Mc 15, 16-20). Os soldados notaram um arbusto de silvas na praça adjacente; pegaram um feixe e o colocaram em sua cabeça; sobre seus ombros, ainda sangrando da flagelação, colocaram um manto de escárnio sobre ele; suas mãos estão atadas com uma corda áspera; em uma mão colocaram uma cana, símbolo irrisório de sua realeza. É o protótipo das pessoas algemadas, sozinhas, à mercê de soldados e bandidos que descarregam sobre os pobres infelizes a raiva e a crueldade que acumularam na vida. Torturado!

"Eis o homem!”, Eis o homem!, exclama Pilatos, ao apresentá-lo pouco depois ao povo (Jo 19,5). Palavra que, depois de Cristo, se pode dizer das intermináveis fileiras de homens e mulheres humilhados, reduzidos a objetos, privados de toda dignidade humana. "Se isto é um homem": o escritor Primo Levi intitulou assim o relato da sua vida no campo de extermínio de Auschwitz. Na cruz, Jesus de Nazaré torna-se o emblema de toda esta humanidade "humilhada e ofendida". Deveria se exclamar: "Rejeitados, desprezados, párias de toda a terra: o maior homem de toda a história foi um de vocês! Independente do povo, raça ou religião a que pertençais, tendes o direito de reivindica-lo como seu.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Papa Francisco incentiva sacerdotes a ser próximos das pessoas


SANTA MISSA CRISMAL

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
Quinta-feira Santa, 18 de abril de 2019

O Evangelho de Lucas, que acabamos de ouvir, faz-nos reviver a emoção do momento em que o Senhor Se assume a profecia de Isaías, lendo-a solenemente no meio do seu povo. A sinagoga de Nazaré estava cheia de parentes, vizinhos, conhecidos, amigos... e outros não muito amigos. E todos tinham os olhos fixos n’Ele. A Igreja tem sempre os olhos fixos em Jesus, o Ungido que o Espírito envia para ungir o povo de Deus.

Com frequência, os Evangelhos apresentam-nos esta imagem do Senhor no meio das multidões, cercado e comprimido pelas pessoas que Lhe trazem os doentes, pedem-Lhe que expulse os espíritos malignos, escutam os seus ensinamentos e caminham com Ele. «As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-Me» (Jo 10, 27).

O Senhor nunca perdeu este contacto direto com o povo, sempre manteve a graça da proximidade, com o povo no seu conjunto e com cada pessoa no meio daquelas multidões. Vemo-lo na sua vida pública, mas o mesmo aconteceu desde o princípio: o esplendor do Menino atraiu docilmente pastores, reis e idosos sonhadores como Simeão e Ana. E foi assim também na Cruz: o seu Coração atrai todos a si (cf. Jo 12, 32): verónicas, cireneus, ladrões, centuriões...

Aqui, o termo «multidões» não é depreciativo. Aos ouvidos de alguém, poderia talvez soar como uma massa anónima, indiferenciada; mas no Evangelho, quando as multidões interagem com o Senhor, que Se coloca no meio delas como um pastor no rebanho, vemos que aquelas se transformam: no espírito do povo, desperta o desejo de seguir Jesus, brota a admiração, toma forma o discernimento.

Gostaria de refletir convosco sobre estas três graças que caracterizam o relacionamento entre Jesus e as multidões.

Homem é preso em Nova Iorque suspeito de tentar incendiar a Catedral de Saint Patrick


Um homem foi preso na noite desta quarta (17) pela polícia de Nova Iorque ao tentar incendiar a Catedral Saint Patrick com galões de gasolina.

Relatos dizem que o segurança da igreja viu a movimentação estranha do homem e foi abordá-lo, nesse momento viu que ele estava com galões de gasolina e tentava acender um isqueiro. O segurança o capturou até a chegada da polícia.

A polícia de Nova Iorque disse que o homem tinha um carro preparado para a fuga perto da Catedral.

Um porta-voz da Arquidiocese de Nova York disse à CNA que “o indivíduo foi detido enquanto tentava entrar na catedral” antes de ser entregue à polícia.

O New York Daily News informou que o homem conseguiu derramar gasolina no chão da igreja, mas isso ainda não foi confirmado.

A polícia de Nova Iorque identificou o homem como sendo Marc Lamparello, de 37 anos de idade, morador de Hasbrouck Heights, Nova Jersey.

França vai lançar concurso internacional para novo pináculo de Notre-Dame


"A França vai lançar um concurso internacional de arquitetura para redesenhar o pináculo da Catedral de Notre-Dame que desabou depois de ter suas estruturas consumidas pelas chamas do incêndio na segunda-feira (15)."

"A informação foi divulgada pelo Primeiro Ministro Edouard Philippe em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira (17). Ele destacou que, em vez de recriar a original, o governo francês deseja um novo design para a nova era em que a humanidade está."

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Incêndio na Catedral de Notre Dame: choque e tristeza da Santa Sé

Homem observa incêndio atingir o topo da Catedral de Notre-Dame, localizada na região central de Paris, França - 15/04/2019 (Geoffroy Van Der Hasselt/AFP)
 
"A Santa Sé acolheu com choque e tristeza a notícia do terrível incêndio que devastou a Catedral de Notre Dame, símbolo da cristandade na França e no mundo", assim se expressou o Diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti.

"Expressamos proximidade aos católicos franceses e à população de Paris e garantimos as nossas orações aos bombeiros e aos que estão fazendo o possível para fazer frente a esta dramática situação", prossegue o comunidado, divulgado no início da noite desta segunda-feira (15) após as chamas tomarem a Catedral.

Paris

Torre é consumida pelas chamas durante incêndio na Catedral de Notre-Dame, em Paris - 15/04/2019 (Geoffroy Van Der Hasselt/AFP)

O Arcebispo de Paris, Dom Michel Aupetit, convidou à oração e pediu aos párocos da capital francesa que toquem os sinos de suas igrejas. O incêndio não deixou indiferente o Reitor da Mesquita de Paris, Dr. Dalil Boubakeur, que falou de "terrível espetáculo", pedindo a proteção divina para este "monumento precioso aos nossos corações".

Cardeal brasileiro

O arcebispo emérito de São Paulo, Card. Cláudio Hummes, afirmou ao Vatican News que acompanha com tristeza esta "cena trágica", recordando que em 2010 foi convidado pelo então arcebispo Dom Vingtrois para celebrar na Catedral no feriado de 15 de agosto. "Fui e levo uma lembrança linda, sagrada e monumental desta Basílica que agora o incêndio está destruindo".

Incêndio atingiu Catedral de Paris e Mesquita em Jerusalém, ao mesmo tempo.

 
No momento em que as chamas devastavam a Catedral de Notre Dame, em Paris, um incêndio atingia a mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém.

Imagens mostrando fumaça e fogo saindo do telhado de uma estrutura conhecida como Sala de Oração de Marwani, ou Estábulo de Salomão, puderam ser vistas nas redes sociais. 

A Agência Palestina de Notícias, órgão oficial da Autoridade Nacional Palestina, citou um guarda dizendo na segunda-feira que "o incêndio irrompeu no quarto da guarda do lado de fora do telhado da Sala de Oração Marwani, e a brigada de incêndio do Waqf Islâmico cuidou do assunto com sucesso".

A notícia do incidente na Mesquita Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã e central para o atual conflito árabe-israelense, foi em grande parte obscurecida por um incêndio muito maior que atingiu a Catedral de Notre Dame ao mesmo tempo.

 

Incêndio consome a histórica Catedral de Notre Dame, em Paris


Um incêndio de grandes proporções está a atingir a Catedral de Notre-Dame, um dos edifícios emblemáticos da capital francesa, episódio “potencialmente ligado” às obras de restauro em curso, segundo os bombeiros locais.

O fogo, que acontece no segundo dia da Semana Santa, alastrou-se pelo sótão da catedral e está a estender-se ao resto do edifício, sendo visíveis colunas de chamas e fumo; o pináculo colapsou.

A presidente do Município de Paris, Anne Hidalgo fala de um “fogo terrível”, sublinhando que as autoridades estão mobilizadas, “em estreita ligação” com a Arquidiocese local.

O presidente francês, Emmanuel Macron, publicou uma mensagem em que fala da “emoção de toda uma nação” e deixa um pensamento para “todos os católicos e todos os franceses”.

“Estou triste por ver arder esta parte de nós”, assinala, através da sua conta na rede social Twitter.

O arcebispo Éric Moulin-Beaufort, presidente da Conferência Episcopal de França (CEF), assume que esta é “uma grande ferida”, que vai para lá do Cristianismo, assinalando que a catedral é um símbolo “de paz, de beleza e de esperança”.

A construção da catedral, de estilo gótico, teve início em 1163 e foi concluída em 1345; no século XIX foi restaurada pelo arquiteto Viollet-le-Duc.

Mais de uma dezena de igrejas foram profanadas nos últimos meses, em França, e incêndios atingiram espaços como a Igreja de São Sulpício, em Paris.

A Catedral de Notre-Dame é propriedade do Estado, de acordo com lei francesa de separação Igreja-Estado de 1905, e o seu uso é atribuído à Igreja Católica.

Incêndio atinge Catedral de Notre-Dame, em Paris


Um incêndio atinge nesta segunda-feira (15) a catedral Notre-Dame, em Paris (França), um dos mais famosos templos e pontos turísticos do mundo. Não há informações até o momento sobre o que teria causado o incêndio.

Segundo os bombeiros, o incêndio está "potencialmente ligado" ao trabalho de reformas da catedral. Pelas imagens, é possível ver que as chamas partem do alto do edifício. A rádio France Info afirma que o incêndio já atinge parte da frente da catedral. E parte o campanário caiu sobre o que resta do teto.


O fogo começou por volta das 13h50min (horário de Brasília) na parte superior da catedral, segundo os bombeiros. Uma grande operação está tentando controlar as chamas. A polícia isolou a área e está retirando os muitos turistas que estavam dentro da catedral.

Nas redes sociais, a polícia de Paris pediu que os cidadãos evitem a área e facilitem a passagem de veículos de emergência.

A coluna de fumaça produzida pelo incêndio pode ser vista há quilômetros de distância, segundo a agência AFP.  prefeita de Paris, Anne Hidalgo, tuitou que um "terrível incêndio está em curso na Catedral de Notre Dame. Os @PompiersParis estão tentando controlar as chamas".

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, disse que está em contato com a Diocese de Paris e pediu que o perímetro de segurança seja respeitado. 

domingo, 14 de abril de 2019

Papa convida a resistir ao demônio em silêncio e deixar o Senhor agir


CELEBRAÇÃO DO DOMINGO DE RAMOS
E DA PAIXÃO DO SENHOR

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Praça São Pedro
XXXIV Jornada Mundial da Juventude
Domingo, 14 de abril de 2019

As aclamações da entrada em Jerusalém e a humilhação de Jesus. Os gritos festosos e o encarniçamento feroz. Anualmente, este duplo mistério acompanha a entrada na Semana Santa com os dois momentos característicos desta celebração: ao início, a procissão com os ramos de palmeira e de oliveira e, depois, a leitura solene da narração da Paixão.

Deixemo-nos envolver nesta ação animada pelo Espírito Santo, para obtermos o que se pede na oração: acompanhar com fé o caminho do nosso Salvador e ter sempre presente o grande ensinamento da sua Paixão como modelo de vida e de vitória contra o espírito do mal.

Jesus mostra-nos como enfrentar os momentos difíceis e as tentações mais insidiosas, guardando no coração uma paz que não é isolamento, não é ficar impassível nem fazer o super-homem, mas confiante abandono ao Pai e à sua vontade de salvação, de vida, de misericórdia; e Jesus, em toda a sua missão, viu-Se assaltado pela tentação de «fazer a sua obra», escolhendo Ele o modo e desligando-Se da obediência ao Pai. Desde o início, na luta dos quarenta dias no deserto, até ao fim, na Paixão, Jesus repele esta tentação com uma obediente confiança no Pai.

E hoje, na sua entrada em Jerusalém, também nos mostra o caminho. Pois, neste acontecimento, o maligno, o príncipe deste mundo, tinha uma carta para jogar: a carta do triunfalismo, e o Senhor respondeu permanecendo fiel ao seu caminho, o caminho da humildade.

O triunfalismo procura tornar a meta mais próxima por meio de atalhos, falsos comprometimentos. Aposta na subida para o carro do vencedor. O triunfalismo vive de gestos e palavras, que não passaram pelo cadinho da cruz; alimenta-se da comparação com os outros, julgando-os sempre piores, defeituosos, falhados... Uma forma subtil de triunfalismo é a mundanidade espiritual, que é o maior perigo, a mais pérfida tentação que ameaça a Igreja (Henri de Lubac). Jesus destruiu o triunfalismo com a sua Paixão.
Verdadeiramente o Senhor aceitou e alegrou-Se com a iniciativa do povo, com os jovens que gritavam o seu nome, aclamando-O Rei e Messias. O seu coração rejubilava ao ver o entusiasmo e a festa dos pobres de Israel, de tal maneira que, aos fariseus que Lhe pediam para censurar os discípulos pelas suas escandalosas aclamações, Jesus respondeu: «Se eles se calarem, gritarão as pedras» (Lc 19, 40). Humildade não significa negar a realidade, e Jesus é realmente o Messias, o Rei.

Mas, ao mesmo tempo o coração de Cristo encontra-se noutro caminho, no caminho santo que só Ele e o Pai conhecem: aquele que vai da «condição divina» à «condição de servo», o caminho da humilhação na obediência «até à morte e morte de cruz» (Flp 2, 6-8). Ele sabe que, para chegar ao verdadeiro triunfo, deve dar espaço a Deus; e, para dar espaço a Deus, só há um modo: o despojamento, o esvaziamento de si mesmo. Calar, rezar, humilhar-se. Com a cruz, não se pode negociar: abraça-se ou recusa-se. E, com a sua humilhação, Jesus quis abrir-nos o caminho da fé e preceder-nos nele.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Quinta pregação da Quaresma 2019: “Deus escolheu aquele que é tolo para o mundo para confundir os sábios”



MEDITAÇÃO PARA A QUARESMA

“Deus escolheu aquele que é tolo para o mundo para confundir os sábios”


João e Paulo: dois olhares diferentes para o mistério


No Novo Testamento e na história da teologia há coisas que não podem ser compreendidas sem levar em conta um fato fundamental: a existência de duas abordagens diferentes, ainda que complementares, ao mistério de Cristo: a de Paulo e a de João.

João vê o mistério de Cristo a partir da Encarnação. Jesus, o Verbo feito carne, é para ele o supremo revelador do Deus vivo, aquele fora do qual ninguém "vai ao Pai". A salvação consiste em reconhecer que Jesus "veio na carne" (2 Jo 7) e em crer que ele "é o Filho de Deus" (1 Jo 5,5); "Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida" (1 Jo 5,12). No centro de tudo, como podemos ver, está a "pessoa" de Jesus homem-Deus.

A peculiaridade desta visão joanina é evidente se a compararmos com a de Paulo. Para Paulo, o centro das atenções não é tanto a pessoa de Cristo, entendida como realidade ontológica, mas a obra de Cristo, isto é, seu mistério pascal de morte e ressurreição. A salvação não consiste tanto em crer que Jesus é o Filho de Deus que veio na carne, mas em crer em Jesus "que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação" (cf. Rm 4, 25). O acontecimento central não é a encarnação, mas o mistério Pascal.

Seria um erro fatal ver nisto uma dicotomia na própria origem do cristianismo. Quem lê o Novo Testamento sem preconceitos compreende que em João a Encarnação está em vista do mistério pascal, quando Jesus finalmente derramará o seu Espírito sobre a humanidade (Jo 7, 39), e compreende que para Paulo o mistério pascal pressupõe e se baseia na Encarnação. Aquele que se fez obediente até a morte e morte de cruz é aquele que "estava na forma de Deus", igual a Deus (cf. Fl 2, 5 ss.). As fórmulas trinitárias nas quais Jesus Cristo é mencionado juntamente com o Pai e o Espírito Santo são uma confirmação de que, para Paulo, a obra de Cristo toma sentido da sua pessoa.

A diferente acentuação dos dois pólos do mistério reflete o caminho histórico que a fé em Cristo fez depois da Páscoa. João reflete o estágio mais avançado da fé em Cristo, aquele que ocorre no final, não no início da redação dos escritos do Novo Testamento. Ele está no final de um processo de ascensão às fontes do mistério de Cristo. Isto pode ser visto observando onde os quatro evangelhos começam. Marcos começa seu evangelho a partir do batismo de Jesus no Jordão; Mateus e Lucas, que vieram depois, dão um passo atrás e começam a história de Jesus desde seu nascimento por Maria; João, que escreve por último, dá um salto decisivo para trás e coloca o início da história de Cristo não mais no tempo, mas na eternidade: "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus" (Jo 1,1).

A razão para esta mudança de interesse é bem conhecida. A fé, por sua vez, entrou em contato com a cultura grega que está mais interessada na dimensão ontológica do que na histórica. O que conta para ela não é tanto o desenvolvimento dos fatos, mas o seu fundamento (o archè). A este fator ambiental foram acrescentados os primeiros sinais da heresia do docetista que questionava a realidade da encarnação. O dogma cristológico das duas naturezas e da unidade da pessoa de Cristo será quase inteiramente baseado na perspectiva joanina do Logos feito carne.

É importante levar isso em conta para entender a diferença e a complementaridade entre teologia oriental e teologia ocidental. As duas perspectivas, a paulina e a joanina, embora fundindo-se juntas (como vemos no Credo Niceno-Constantinopolitano), mantêm a sua acentuação diferente, como dois rios que, fluindo um no outro, retêm por muito tempo a cor diferente das suas águas. A teologia e a espiritualidade ortodoxa está baseada principalmente em João; a ocidental (a protestante mais do que a católica) se fundamenta principalmente em Paulo. Dentro da mesma tradição grega, a escola de Alexandria é mais joanina, a da Antioquia mais paulina. Uma faz consistir a salvação na divinização, a outra na imitação de Cristo. 

A cruz, sabedoria de Deus e poder de Deus

Agora eu gostaria de mostrar o que tudo isso significa para a nossa busca pelo rosto do Deus vivo. No final das meditações do Advento, falei do Cristo de João que, no momento em que se faz carne, introduz a vida eterna no mundo. No final destas meditações quaresmais, gostaria de falar sobre o Cristo de Paulo que muda o destino da humanidade na cruz. Escutemos imediatamente o texto onde a perspectiva paulina sobre a qual queremos refletir aparece mais clara:

"Uma vez que na sabedoria de Deus o mundo não o reconheceu pela sabedoria, Deus quis servir-se da loucura da pregação para salvar os que creem. Enquanto os judeus pedem sinais, e os gregos procuram sabedoria, nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gregos, mas poder e sabedoria de Deus para os chamados, quer judeus, quer gregos. Porque o que se julga loucura de Deus é mais sábio do que os homens; e o que se julga fraqueza de Deus é mais forte do que os homens." (I Cor 1,21-25).

O Apóstolo fala de uma novidade na ação de Deus, quase uma mudança de ritmo e de método. O mundo não foi capaz de reconhecer Deus no esplendor e na sabedoria da criação; então ele decide revelar-se de maneira oposta, através da impotência e da loucura da cruz. Não é possível ler esta afirmação de Paulo sem recordar a palavra de Jesus: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11, 25).

Como interpretar esta inversão de valores? Lutero falava de uma revelação de Deus "sub contraria specie", isto é, através do oposto do que se esperaria dele[1].  Ele é poder e revela-se na impotência, é sabedoria e revela-se na loucura, é glória e revela-se na ignomínia, é riqueza e revela-se na pobreza.

A teologia dialética da primeira metade do século passado trouxe esta visão às suas consequências extremas. Segundo Karl Barth, não há continuidade entre o primeiro e o segundo modo de manifestação de Deus, mas sim uma ruptura. Não é apenas uma sucessão temporal, como entre Antigo e Novo Testamento, mas de uma oposição ontológica. Em outras palavras, a graça não constrói sobre a natureza, mas contra ela; toca o mundo "como a tangente o círculo", isto é, toca nela, mas sem penetrá-la como o fermento faz com a massa. É a única diferença que, segundo o próprio Barth, o impedia de se chamar católico; todas as outras lhe pareciam, em comparação, de pouca importância. À analogia entis, ele opôs a analogia fidei, isto é, à colaboração entre natureza e graça, a oposição entre a palavra de Deus e tudo o que pertence ao mundo.

Bento XVI, na sua encíclica "Deus caritas est", mostra as consequências que esta diferente visão tem em relação ao amor. Karl Barth tinha escrito: "Onde entra em cena o amor cristão, tem início imediatamente o conflito com o outro amor [o amor humano] esse conflito não termina mais"[2]. Bento XVI escreve o contrário:  

"Éros e ágape - amor ascendente e amor descendente - nunca se deixam separar completamente uns dos outros [...]. A fé bíblica não constrói um mundo paralelo nem um mundo oposto àquele fenômeno humano originário que é o amor, mas acolhe todo o homem, intervindo na sua busca do amor para purificá-la, ao mesmo tempo que lhe abre novas dimensões"[3].

A oposição radical entre natureza e graça, entre criação e redenção, foi atenuada nos escritos posteriores do próprio Barth e agora não encontra quase nenhum apoiador. Podemos, portanto, aproximar-nos com mais serenidade da página do Apóstolo para compreender em que consiste realmente a novidade da cruz de Cristo.

Na cruz, Deus se manifestou, sim, "sob o seu contrário", mas sob o contrário do que os homens sempre pensaram de Deus, não do que Deus é realmente. Deus é amor e na cruz registrou-se a manifestação suprema do amor de Deus pelos homens. Em um certo sentido, só agora, na cruz, Deus se revela "na própria espécie", no que lhe é próprio. O texto de Primeiro Coríntios sobre o significado da cruz de Cristo deve ser lido à luz de um outro texto de Paulo na Carta aos Romanos:

"Com efeito, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu no momento oportuno pelos ímpios. Dificilmente alguém aceitaria morrer por um justo; por um homem de bem talvez haja quem se anime a morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, quando éramos ainda pecadores.” (Rm 5, 6-8).

O teólogo bizantino medieval Nicolau Cabásilas (1322-1392) nos dá a melhor chave para entender qual é a novidade da cruz de Cristo. Escreve:

"Duas características revelam o amante e o fazem triunfar: a primeira consiste em fazer o bem ao amado em tudo o que é possível, a segunda em escolher sofrer por ele e sofrer coisas terríveis se necessário. Esta última prova de amor muito superior à primeira não podia, no entanto, concordar com Deus que é impassível a todo o mal [...]. Portanto, para nos dar a experiência do seu grande amor e para mostrar que nos ama com um amor ilimitado, Deus inventa a sua aniquilação, realiza-a e fá-lo de modo a tornar-se capaz de sofrer e de sofrer coisas terríveis. Assim, com tudo o que Ele suporta, Deus convence os homens do seu extraordinário amor por eles e fá-los voltar para Si”[4].

Na criação Deus nos encheu de dons, na redenção Ele sofreu por nós. A relação entre os dois é a de um amor de beneficência que se faz amor de sofrimento.

Mas o que aconteceu de tão importante na cruz de Cristo que se tornou a culminação da revelação do Deus vivo da Bíblia? A criatura humana procura instintivamente Deus na linha do poder. O título que segue o nome de Deus é quase sempre "onipotente". E eis que, abrindo o Evangelho, somos convidados a contemplar a absoluta impotência de Deus na cruz. O Evangelho revela que a verdadeira onipotência é a total impotência do Calvário. É preciso pouco poder para se exibir, é preciso muito poder para se afastar, para se apagar. O Deus cristão é este poder ilimitado de esconder a si mesmo!

A explicação última reside, portanto, na ligação inseparável que existe entre amor e humildade. "Ele se humilhou tornando-se obediente até a morte" (Fl 2,8). Ele se humilhou tornando-se dependente do objeto do seu amor. O amor é humilde porque, pela sua natureza, cria dependência. Vemo-lo, no pequeno, do que acontece quando duas pessoas humanas se apaixonam. O jovem que, de acordo com o ritual tradicional, se ajoelha diante de uma menina para pedir sua mão faz o ato mais radical de humildade da sua vida, torna-se um mendigo. É como se dissesse: "Eu não me basto, preciso de ti para viver”. A diferença essencial é que a dependência de Deus das suas criaturas nasce unicamente do amor que tem por elas, o amor das criaturas entre si da necessidade que têm umas pelas outras.

"A revelação de Deus como amor, escreveu Henri de Lubac, obriga o mundo a rever todas as suas ideias sobre Deus”[5]. A teologia e a exegese ainda estão longe de ter tirado todas as consequências disso, creio eu. Uma dessas consequências é esta. Se Jesus sofre atrozmente na cruz, não o faz principalmente para pagar a dívida infinita no lugar dos homens. (Na parábola dos dois servos, em Lucas 7,41 ss, ele explicou antecipadamente que a dívida de dez mil talentos é perdoada gratuitamente pelo rei!). Não, Jesus morre crucificado para que o amor de Deus pudesse alcançar o homem no ponto mais remoto para o qual ele se tinha lançado, rebelando-se contra ele, ou seja, a morte. Também a morte é agora habitada pelo amor de Deus. No seu livro sobre Jesus de Nazaré, Bento XVI, escreveu:

"A injustiça, o mal como realidade não pode ser simplesmente ignorado, deixado para lá. Tem de ser eliminado, vencido. Esta é verdadeira misericórdia. E que agora, dado que os homens não o podem fazer, o próprio Deus o faz - esta é a bondade incondicional de Deus"[6].

O motivo tradicional da expiação dos pecados conserva, como podemos ver, toda a sua validade, mas não é a razão última. O motivo último é "a bondade incondicional de Deus", o seu amor.

Podemos identificar três etapas no caminho da fé pascal da Igreja. No início há apenas dois fatos: "morreu, ressuscitou". "Tu o crucificaste, Deus o ressuscitou", clama Pedro às multidões no dia de Pentecostes (cf. At 2, 23-24). Numa segunda fase, faz-se a pergunta: "Por que morreu e por que ressuscitou?" e a resposta é o kerigma: "Morreu pelos nossos pecados; ressuscitou pela nossa justificação" (cf. Rm 4, 25). Mais uma pergunta permanecia: "E por que morreu pelos nossos pecados? O que o levou a fazê-lo?" A resposta (unânime, neste ponto, de Paulo e de João) é: "Porque nos amou". "Me amou e se entregou por mim", escreve Paulo (Gl 2, 20); "Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim", escreve João (Jo 13, 1).