Domingo próximo é o Domingo de Ramos, início
da Semana Santa, na qual contemplaremos os sofrimentos de Jesus Cristo e o
mistério da sua Cruz, dando-nos o sentido do sofrimento em nossa vida.
No Domingo de Ramos, recordamos a entrada
triunfal de Jesus em Jerusalém, aclamado pelo povo. Mas era a sua última
entrada na cidade santa, pois nessa semana ele sofreria, voluntariamente, a sua
paixão e seria crucificado e morto.
A Paixão física de Jesus começou na
Quinta-feira santa, à noite, no horto das oliveiras, quando ele viveu um
momento de particular angústia perante a vontade do Pai, contra a qual a
debilidade da carne é tentada a revoltar-se. Cristo quis sentir a repugnância
natural do homem diante do sofrimento. Ali Cristo se põe no lugar de todas as
tentações da humanidade e toma sobre si todos os seus pecados, para dizer ao
Pai: “Não se faça a minha vontade, mas a Tua” (Lc 22,42). Este seu “sim” de
aceitação muda o “não” dos nossos primeiros pais no Éden.
Em contraposição a certas teologias da
prosperidade e da saúde, muito em voga hoje, onde a religião fica sendo
unicamente um meio de fugir da cruz, a Igreja nos propõe a verdadeira Teologia
da Cruz.
O Papa São João Paulo II, na sua Carta
Apostólica Salvifici doloris, explica-nos que o sofrimento pertence à
vicissitude histórica do homem, que deve aprender a aceita-lo e superá-lo, e
explica: “Mas como pode ele aceitar isto, senão graças à cruz de Cristo? Na
morte e ressurreição do Redentor o sofrimento humano encontra o seu significado
mais profundo e o seu valor salvífico. Todo o peso de tribulações e sofrimentos
da humanidade está condensado no mistério de um Deus que, assumindo a nossa
natureza humana, se anulou até se fazer ‘pecado em nosso favor’ (2 Cor 5, 21).
No Gólgota Ele carregou as culpas de todas as criaturas humanas e, na solidão
do abandono, gritou ao Pai: ‘Por que Me abandonaste?’ (Mt 27, 46)”.
“Do paradoxo da Cruz surge a resposta às
nossas interrogações mais inquietantes. Cristo sofre por nós: Ele assume sobre
si os sofrimentos de todos e redime-os. Cristo sofre conosco, dando-nos a
possibilidade de partilhar com Ele os nossos sofrimentos. Juntamente com o de
Cristo, o sofrimento humano torna-se meio de salvação. Eis por que o crente
pode dizer com São Paulo: ‘Agora alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós
e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo,
que é a Igreja’ (Cl 1, 24). O sofrimento, aceito com fé, torna-se a porta para
entrar no mistério do sofrimento redentor do Senhor. Um sofrimento que já não
priva da paz e da felicidade, porque é iluminada pelo esplendor da
ressurreição.”
Desejo a todos uma recolhida Semana Santa, de
meditação nos sofrimentos de Cristo e de renovação espiritual, através de uma
boa confissão, para depois juntos nos alegrarmos com o seu triunfo na
Ressurreição, que celebraremos na Páscoa.
Dom Fernando Arêas Rifan,
bispo administrador apostólico da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney.
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