A Quaresma é tempo de conversão, oração e esmolas,
como preparação para a Páscoa. A Igreja no Brasil, incentivando-nos a esses
exercícios espirituais, convida-nos também a um gesto concreto na área social,
através da Campanha da Fraternidade, que trata, este ano, das políticas
públicas.
Para não julgarem que a Igreja estaria se
intrometendo em coisas próprias do Estado, o Papa Francisco explica: “Muito
embora aquilo que se entende por política pública seja primordialmente uma responsabilidade
do Estado cuja finalidade é garantir o bem comum dos cidadãos, todas as pessoas
e instituições devem se sentir protagonistas das iniciativas e ações que
promovam ‘o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos,
famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição’
(Gaudium et spes, 74)” (Papa Francisco – Mensagem para a CF desse ano).
Segundo Aristóteles, Política é a ciência que tem
por objeto a felicidade humana e divide-se em ética (que se preocupa com a
felicidade individual do homem na “polis-cidade”) e na política propriamente
dita (que se preocupa com a felicidade coletiva da “polis”). Santo Tomás de
Aquino cunhou o termo bem comum, ou bem público, que é o bem de toda a
sociedade, finalidade do Estado, termo adotado pela Doutrina Social da
Igreja, como sendo “o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto
aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a própria
perfeição” (Gaudium et Spes, n. 26).
Pode-se considerar o bem comum como a dimensão
social e comunitária do bem moral. A dignidade da pessoa humana implica a busca
do bem comum. O bem comum é um dever de todos os membros da sociedade: ninguém
está isento de colaborar, segundo as próprias capacidades, em sua realização e
desenvolvimento. Todos devem preocupar-se em criar e sustentar instituições que
melhorem as condições da vida humana. O Reino de Deus é de todos e para todos,
portanto sua construção é coletiva e deve envolver todos os seus destinatários.
“Onde está o teu irmão? Por acaso eu sou responsável pelo meu irmão?” (cf Gn 4,
9). Ser indiferente ao sofrimento humano é responder a Deus com a mesma dureza
de coração de Caim.
Nesse sentido, o bem comum se equivale ao que
chamamos “políticas públicas”, que são ações programadas para que todos os
cidadãos possam ter vida digna.
É necessário que os leigos católicos não permaneçam
indiferentes à vida pública, nem fechados nos seus templos, nem sequer esperem
as diretrizes e as recomendações eclesiais para lutar a favor da justiça e de
formas de vida mais humanas para todos”. (Francisco, 2017). “Ninguém pode
exigir de nós que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas,
sem qualquer influência na vida social e nacional. Uma fé autêntica – que nunca
é cômoda nem individualista – comporta sempre um desejo de mudar o mundo,
transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por
ela” (Francisco, EG, n. 183)
Dom Fernando Rifan
Bispo
administrador apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria
Vianney.
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