terça-feira, 6 de agosto de 2019

Homilética: Transfiguração do Senhor - Ano C: "Este é o meu Filho muito amado; escutai-o!"

 
A Igreja celebra hoje a Festa da Transfiguração do Senhor. Ante Pedro, Tiago e João, admirados, Jesus é transfigurado pelo Pai, que o envolve com a Nuvem, símbolo do Espírito Santo, glória e presença de Deus. Na glória de Jesus aparecem Moisés e Elias. E o Pai proclama: “Este é o meu Filho amado! Escutai-o! ”Que realidades do céu podemos encontrar nesse Mistério tão impressionante? Eis alguns, para sua contemplação:

Recorde-se do Antigo Testamento: Moisés subiu ao Monte Sinai/Horeb e, ali, viu o Senhor Deus pelas costas, viu a glória de Deus de relance. Elias também, após quarenta dias de caminho, subiu ao Sinai/Horeb e, como Moisés, viu de relance, pelas costas, a glória de Deus. Mas, agora, ambos sobre o Monte, contemplam face a face a glória de Deus, glória que refulge radiante na face bendita de Cristo. Em outras palavras: Cristo é Deus e nele podemos contemplar a glória do Pai!

Outro aspecto importante: Moisés e Elias resumem todo o Antigo Testamento: o primeiro simboliza a Lei; o segundo, os Profetas. Eis, pois: a Lei e os Profetas dão testemunho de Cristo e são por ele iluminados. Somente na glória de Cristo é que o Antigo Testamento pode ser compreendido em plenitude!

Mas, o que aconteceu mesmo com Cristo? Sua humanidade, sua natureza humana, sujeita ao mesmo estado de servidão que a nossa, foi totalmente envolta pelo Espírito de Glória, de modo que nela transparece, de modo impressionante e inimaginável, a própria glória divina da Pessoa do Filho eterno! Por um momento, Jesus faz-se ver naquela glória que sua natureza humana terá depois da Ressurreição! Por isso mesmo o tema sobre o qual conversa com Moisés e Elias: sua Paixão, que iria acontecer em Jerusalém.

Aqui também há uma profunda lição: somente poderá compreender a glória de Cristo quem for com ele até a cruz. Não é por acaso que, ao descerem do Monte, Jesus os proíbe de falar a quem quer que seja sobre o que testemunharam “até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”. Também não é por acaso que as três testemunhas da Transfiguração serão as testemunhas da Agonia no Horto. Quem não ama a cruz de Cristo, tampouco verá a glória de Cristo. Uma glória do Senhor compreendida sem a cruz é mundana e não tem nada a ver com o desígnio de Deus.

Um outro aspecto: a glória que contemplamos no Cristo, nossa Cabeça, é a glória que está destinada a toda a Igreja, Corpo de Cristo, e a cada um de nós, membros seus. Deste modo, a Festa de hoje é também festa nossa, penhor da nossa futura glorificação!

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Textos: Daniel 7,9-10.13-14; Sl 96/97; 2 Pedro 1,16-19; Lucas 9,28-36

A Festa da Transfiguração celebra o mistério de Jesus Cristo. Para nós, mineiros, é a festa do Senhor Bom Jesus. O Bom Jesus que ilumina a vida de todos os cristãos. Por isso, manifesta-se o Cristo e toda a sua divindade, a sua glória sobre o mundo, como nosso salvador.

No ano litúrgico C o Evangelho é retirado de São Lucas 9,28b-36. Jesus manda os seus discípulos rezar. Hoje, toma à parte os seus prediletos, Pedro, Tiago e João, para os fazer rezar mais longa e intimamente. Estes três representam particularmente os pontífices, os religiosos, as almas chamadas à perfeição.

Todos sabemos que quando Jesus quer rezar o Senhor gosta da solidão, a montanha onde reina a paz, a calma, onde pode ver-se a grandeza da obra divina sob o céu estrelado durante as belas noites do Oriente.

A transfiguração é uma visão do céu. É uma graça extraordinária para os três apóstolos Pedro, Tiago e João. Não nos devemos agarrar às graças extraordinárias que são por vezes o fruto da contemplação. Pedro agarra-se a isso. Engana-se. Queria ficar lá: “Façamos três tendas”(Cf. Lc 9,33), diz. Não sabia o que dizia. A visão desaparece numa nuvem. Há aqui uma lição para nós. Entreguemo-nos à oração habitual, à contemplação. Não desejemos as graças extraordinárias. Se vierem, não nos agarremos a elas. Os frutos desta festa são, em primeiro lugar, o crescimento da fé. Os apóstolos testemunham-nos que viram a glória do Salvador. “Não são fábulas que vos contamos, diz S. Pedro (2Pd 1, 16), fomos testemunhas do poder e da glória do Redentor. Ouvimos a voz do céu sobre a montanha gritando-nos no meio dos esplendores da transfiguração: É o meu Filho bem-amado, escutai-o”.

São Paulo encoraja a nossa esperança recordando a lembrança da glória do salvador manifestada na transfiguração e na ascensão: “Veremos a glória face a face, diz, e seremos transfigurados à sua semelhança” (2Cor 3, 18). – Esperamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo terrestre e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso” (Fil 3, 21). Mas este mistério é sobretudo próprio para aumentar o nosso amor por Jesus. Nosso Senhor manifestou-nos naquele dia toda a sua beleza. O seu rosto era resplandecente como o sol. Os apóstolos, testemunhas da transfiguração, estavam totalmente inebriados de amor e de alegria. “Que bom é estar aqui”, dizia São Pedro. “Façamos aqui a nossa tenda”. A beleza de Cristo transfigurado, contemplada pelo pintor Rafael, inspirou-lhe a obra-prima da arte cristã. Nosso Senhor falava então da sua Paixão com Moisés e Elias: nova lição de amor por nós. O Coração de Jesus, mesmo na sua glória, não pensa senão em nós e nos sacrifícios que quer fazer por nós. Lições também de penitência, de reparação, de compaixão pelo Salvador. Porque teve de sofrer tanto para nos resgatar, choremos os nossos pecados, amemos o nosso Redentor, consolemo-lo.

Este é o meu Filho muito amado: Escutai-o. – A voz do Pai celeste diz-nos: “Escutai-o”, palavra cheia de sentido, como todas as palavras divinas. Deus dá-nos o seu divino Filho por guia, por chefe, por mestre. Escutai-o, fala-nos nas leis santas do Evangelho e nos conselhos de perfeição. A palavra de Deus nunca vos falta, é a vossa docilidade que falta habitualmente. Esta palavra divina – “Escutai-o” – espera de vós uma resposta. Não basta apenas uma promessa vaga: “hei-de escutar”. É preciso uma disposição habitual: “escuto, escuto sempre; falai, Senhor, o vosso servo escuta”. Escutarei no começo de cada ação, para saber o que devo fazer e como devo fazê-lo.

A Transfiguração tem um significado muito singular: revelar aos apóstolos que a passagem pela morte era temporária e a ela sucederia o fato impensável da ressurreição. Isso porque Jesus de Nazaré era o Filho de Deus e tinha o “poder de dar e retomar a vida” (Jo 10,18).

Mas, o que é a Transfiguração? Não é uma aparição, podemos dizer inicialmente. Podemos, contudo, afirmar tratar-se de um parecer sob outra forma, senão a forma costumeira que Jesus aparecia aos seus discípulos. Ele não apareceu no Tabor, mas tomou outra figura. Como o fenômeno é inteiramente desconhecido no Antigo Testamento, não há uma palavra própria para descrevê-lo ao entendimento humano. Assim, os Evangelistas foram buscar uma nova terminologia usada na linguagem pagã, quando falavam de deuses que não assumiam a forma humana. E usam um termo que a língua nossa, a língua de Camões, também guardou do grego: metamorfose, isto é, assunção de outra forma. Desta maneira, temos uma outra forma quando a água assume a forma de gelo, ou quando a lagarta se transforma em borboleta.

No Monte Tabor, não temos um outro Jesus; é o mesmo Jesus de Nazaré que assume uma forma divina. Embora não possamos dizer que Deus tenha uma outra forma, o Evangelista teve de ater-se ao linguajar e à compreensão humana. Ainda que o Antigo Testamento não conte com transfigurações em sua linguagem, os termos com que se descreve a de Jesus são todos desconhecidos ao descrever a divindade: luz resplandecente, vestes brancas, alto de um monte, nuvem da qual sai uma voz.

A Transfiguração ocorreu em um monte, local para os judeus de contato com a Divindade. As vestes brancas simbolizam a eternidade, o pertencer ao céu e ser santo como Deus é santo. Por isso, o anjo da ressurreição estará vestido de vestes brancas. A Santa Igreja conservou a figura da veste branca e a impõe ao recém-batizado, para simbolizar a pertença à família de Deus e expressar que o sagrado Batismo devolveu à criatura a santidade que a coloca em comunhão com Deus, conforme nos ensinou São Paulo: “Passais por uma transformação espiritual de vossa mentalidade e vos revestis do homem novo, criado segundo Deus na justiça e verdadeira santidade” (Ef 4,24). Tudo isso levando-se para a santidade e para a comunhão íntima com Deus e com a comunidade.

Outro símbolo da Transfiguração é a luz. Deus mora na luz inacessível, conforme nos ensina a IV Oração Eucarística, tão rica de significados teológicos. São João nos ensina: “Deus é Luz” (1Jo 1,5). Jesus de Nazaré definiu-se como sendo a encarnação da luz (Jo 1,7s; 3,19; 12,46).

A nuvem, simboliza a presença de Deus, como a manifestação no Monte Sinai (Ex 19,16) e a aliança entre Deus e o povo. Isaías cantava que a nuvem é o carro de Deus (Is 19,1; Sl 104, 3). Quando Jesus subir ao céu, em certo momento, será envolto por uma nuvem (At 1,9). Ora, o Tabor tem muito do significado do Sinai. Cristo estava para dar à luz um novo povo, uma nova e definitiva aliança, um novo Testamento por meio do sangue derramado na cruz. Como vimos, a Transfiguração tem todo um sentido pascal. E a Páscoa tem um sentido de recriação.

Para o angélico Santo Tomás de Aquino, o Tabor tem a presença do Espírito Santo: “A Trindade inteira apareceu: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem luminosa”. A voz do Pai, saída da nuvem, é o centro do episódio: “Este é meu filho bem-amado. Escutai o que Ele diz!” (Mc 9, 8). Aqui está uma clara afirmação da filiação divina de Jesus, de sua autoridade de Filho de Deus, de sua natureza divina. Por isso Ele tem palavras de vida eterna.

É muito importante termos presente que a festa de hoje nos sinaliza que, pelo caminho do sofrimento e da cruz, chegaremos à ressurreição. São Pedro nos representa a todos, quando pretendemos viver e anunciar a alegria da ressurreição, sem passar pela generosa entrega e pela morte. Também nós preferimos montar a nossa tenda na montanha. Mas é preciso ter a experiência mística e coletiva da missão, do anúncio do Evangelho. Não podemos ficar na “fresca” da contemplação da Montanha, mas descer para o dia a dia da vida missionária.

Nesta reflexão sobre a Transfiguração, torna-se oportuno atermo-nos a alguns aspectos. Primeiro, o discípulo reza unindo a oração à realidade do dia-a-dia, principalmente pedindo a força de Deus para vencer os obstáculos, pedindo as forças que vêm de Deus. Depois, somos convidados a dar espaço e oportunidade a novas experiências. Para isso é preciso rezar e amar, conforme nos ensina São João Maria Vianney no silêncio do confessionário e na acolhida da partilha de seu ministério.

A experiência do Monte Tabor, a Transfiguração do Senhor, deu força aos apóstolos para aguentarem a experiência amarga do Monte Calvário. São Marcos relatou a história para fortalecer a fé vacilante dos membros de sua comunidade, quarenta anos depois do acontecido. O texto os convidou a renovar a fé em Jesus e na sua Palavra. O texto, ainda hoje, convida-nos a essa mesma atitude, conforme o convite de Deus Pai: “Este é o meu Filho amado. Escutem o que ele diz!” O convite de ontem vale hoje também para nós. Mais do que um convite é uma convocação para a missão e para o engajamento na realidade concreta da missão.

Contemplando hoje a face de Jesus transfigurado e escutando o que ele diz, encontraremos força para passar suportar os sofrimentos e dificuldades da vida, até o dia em que poderemos contemplá-Lo na glória do Pai, realização definitiva da aliança e das promessas.

Que Deus nos ajude e que as palavras finais do saudoso amigo Dom Lucas, Cardeal Moreira Neves, OP, nos interpele: “Que eu possa sempre ver o rosto sereno e radioso do meu Cristo”. E eu completo: sempre na realidade da oração e do amor no irmão que vive e convive conosco no cotidiano. Amém!

PARA REFLETIR

Na liturgia católica, este 6 de agosto é Festa da Transfiguração do Senhor.

Eis-nos, portanto, caríssimos, com Pedro, Tiago e João, ante o Senhor nosso Jesus Cristo, envolvido pela Nuvem luminosa (cf. Lc 9,31), que cobre os discípulos com Sua sombra, como cobriu a Virgem Maria na Anunciação; eis o Senhor Jesus totalmente transfigurado, com vestes brilhantes e alvas “como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar” (Mc 9,3); eis Jesus ladeado por Moisés e Elias, totalmente glorificados na Glória do Senhor nosso Salvador...

Que significa, caríssimos, este belíssimo Mistério?

Como o Deus Santo de Israel, sobre o Monte Sinai, que revelou Sua Glória a Moisés e depois a Elias, assim também hoje, no Monte Tabor, Jesus revela a Sua Glória, a Glória de Filho de Deus, a Glória divina que é Sua, mas que se escondia na Sua pobre condição humana de Servo, por Ele assumida para nos salvar: “O Verbo Se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a Sua Glória, Glória que Ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).

Hoje, caríssimos, o Pai, envolvendo o Filho Amado com a Nuvem, símbolo do Santo Espírito, nos revela antecipadamente a Glória que Jesus nosso Senhor, na Sua natureza humana igual à nossa, teria depois da Ressurreição: “Efetivamente, Ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida Glória se fez ouvir aquela voz que dizia: ‘Este é o Meu Filho bem-amado, no qual ponho o Meu bem-querer’” (2Pd 1,17).

Olhemos para Jesus: Ele é divino, Ele é o Filho amado, igual ao Pai em glória; Ele é o nosso Deus Salvador!

Se Moisés e Elias, sobre o Monte Horeb, não puderam ver o Rosto de Deus, agora, no Tabor, eles contemplam, com o rosto descoberto, a Glória fulgurante de Deus que se manifesta na Face de Cristo! Realiza-se de modo admirável nestes dois amigos de Deus da Antiga Aliança, o que nos é prometido a todos, na Nova e Eterna Aliança: “Todos nós, que com a face descoberta, contemplamos como num espelho a Glória do Senhor, somos transfigurados nesta mesma imagem, cada vez mais resplandecente, pela ação do Senhor, que é Espírito” (2Cor 3,18).

Eis, meus caros irmãos: em Cristo, Deus Se revelou a nós, que Nele cremos e Nele fomos batizados, recebendo o Seu Espírito; em Cristo, Deus veio ao nosso encontro! Ele Se fez um de nós, assumiu nossa pobreza humana para nos enriquecer com a Glória da Sua divindade. E essa Glória, Ele no-la mostra hoje sobre o Tabor; essa Glória é o nosso destino, é a nossa herança! Na Ceia derradeira, pensando no Espírito de Glória que derramaria sobre Seus discípulos de todos os tempos nos sacramentos da Igreja, o Senhor nosso diria: “Eu lhes dei a Glória que Tu me deste” (Jo,17,21). Esta Glória, nós já a possuímos realmente, mesmo que, neste mundo, ainda vejamos o Senhor de modo imperfeito, como num espelho, pois ainda “caminhamos pela fé e não pela visão (2Cor 5,7).

Mas, atenção! Nos três evangelhos que narram a Transfiguração, está dito que esta manifestação gloriosa do Senhor aconteceu pouco depois do primeiro anúncio da Sua Paixão. O que isso quer dizer? Duas coisas importantíssimas:

Primeiro, que a Paixão não é um fim, a Paixão não é derrota, mas o modo que Deus tem de vencer; a Paixão é caminho para a Glória.

E aqui, precisamente, a segunda lição: não se pode entrar na Glória de Cristo sem passar pela Cruz do Senhor; como dizia São João da Cruz: “Quem não ama a Cruz de Cristo, não verá a Glória de Cristo!”

Glória de Cristo sem cruz, sem conversão, sem combate, sem sair de nós e de nossas medidas, simplesmente não é possível; seria uma ilusão, uma mentira! Anunciar uma salvação em Cristo, uma participação na Glória de Cristo, sem conversão, sem abraçar a Cruz de Cristo, seria uma falsa propaganda, um falso evangelho! Não é por acaso que Jesus proíbe os discípulos de contar o que eles viram sobre o Monte “até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos”. É que jamais se poderá compreender a Glória de Cristo sem antes se ter participado do mistério de Sua Cruz.

Uma glória sem a experiência da cruz seria triunfalista, antievangélica, idolátrica, mundana. Somente a Glória que brota do amor da Cruz é divina, verdadeira, libertadora, humanizadora, reveladora do Coração do Pai! Do mesmo modo, não é por acaso que Pedro, Tiago e João, que estiveram com Jesus no Tabor, deveriam também estar com Ele no Monte das Oliveiras, convidados a fazer-Lhe companhia no momento em que Ele “começou a apavorar-Se e a angustiar-Se” (Mc 14,33). Infelizmente, aqueles lá - como nós tantas vezes -, no Tabor queriam armar tendas e ficar ali; nas Oliveiras, dormiram e deixaram Jesus sozinho...

Eis, caríssimos, o sentido do Mistério de hoje! Cristo feito homem é Deus verdadeiro, vivo e perfeito, é o Deus de Israel com rosto e coração humanos. Cristo, como aparece hoje no Tabor, já nos mostra a Glória que o transfiguraria para sempre. Cristo, envolvendo Moisés e Elias com a Sua Glória, revela que é Nele que a Lei e os profetas encontram a luz e chegam à plenitude. Cristo, inundando de luz a Seus discípulos, envolve-os na Sua Glória, revelando qual o nosso destino: participar da luz da Sua Glória por toda a eternidade! Mas, tudo isso, passando pelo mistério da cruz!

Hoje, estamos nós aqui, celebrando a Santa Eucaristia, sacrifício do Cordeiro morto e glorificado... Hoje, o Tabor é aqui; hoje, é aqui, nos sinais eucarísticos, que se manifesta a Glória do Senhor Jesus porque nos é dado o Espírito do Senhor, que eucaristiza, que transfigura, que transubstancia o pão e o vinho, elementos deste mundo, como a natureza humana de Jesus, em Corpo e Sangue do Cristo Senhor imolado e ressuscitado, pleno de Espírito de Glória! Comungando no Seu Corpo e no Seu Sangue é Sua Glória que nos inunda, é Sua graça que nos fortalece, é Sua Vida eterna e divina que nos revigora.

Mas, nunca esqueçamos: como o Cristo do Tabor era Aquele que haveria de morrer e ressuscitar, o Cristo da Eucaristia é o Cordeiro vivo mas quebrado, partido em Eucaristia, a nós dado na Sua amorosa imolação! É este mistério, irmãos amados, que devemos viver na nossa vida: trazer em nós continuamente a participação na paixão e morte do Senhor para que a Sua Glória e a Sua Vida vão nos inundando, vão transfigurando a nossa existência, as nossas experiências, até o Dia eterno, no Tabor eterno da Glória sem fim! Este é o caminho de Cristo, o único que é segundo o Evangelho! Por isso mesmo, o Pai nos adverte: “Este é o Meu Filho amado. Escutai o que Ele diz!” (Mc 9,7) Diz com a palavra, diz com os gestos, diz com a vida, diz com Sua Morte e Ressurreição. Então, escutar Jesus é predispor-se a participar do Seu caminho, do Seu destino de cruz e de glória, de morte e ressurreição.

Não sejamos amigos do Tabor e inimigos do Horto das Oliveiras! Não seríamos discípulos, não seríamos cristãos! Sustentemos os combates da vida com os olhos fixos em Cristo e, nas escuridões desta nossa humana peregrinação, tenhamos diante dos olhos a esperança da Glória de Cristo, “como lâmpada que brilha em lugar escuro, até clarear o Dia e levantar-se a Estrela da manhã”. Mas, que Estrela é essa, de que fala a Palavra de Deus? O Apocalipse responde, com as palavras do próprio Cristo glorioso: “Eu Sou o Rebento da estirpe de Davi, a brilhante Estrela da manhã” (Ap 22,16).

Eis, portanto: os tempos são maus, a confusão é grande, os inimigos da fé de dentro, solapando a verdade do Evangelho! Suportemos, unidos a Cristo, o combate, sabendo que “quando Cristo nossa Vida aparecer, seremos semelhantes a Ele, pois o veremos como Ele é” (1Jo 3,2). A Ele a glória, pelos séculos dos séculos. Amém.

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