quarta-feira, 16 de outubro de 2013

As provas da existência de Deus


A primeira seção do Catecismo diz: "Eu creio – nós cremos" que é dividida em três capítulos, os quais podem ser resumidos em crença-revelação-fé. Crença é o esforço humano e infrutífero para se chegar a Deus. Fé é a adesão ao Deus que se revelou. Nesse sentido, somente os cristãos têm fé, todas as outras religiões possuem crença, porque são religiões fundadas no esforço humano de buscar a Deus e não no Deus que se revelou, pois a Revelação, no sentido estrito da palavra só existe no cristianismo, quando Deus se fez carne por meio de seu filho Jesus Cristo.

O homem é um ser excêntrico, pois está fora do seu centro. Ele sente um desejo, uma insatisfação que não consegue ser apaziguada por nada. É por isso que diz Santo Agostinho:

Vós sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor: grande é o vosso poder, e a vossa sabedoria não tem medida. E o homem, pequena parcela de vossa criação, pretende louvar-vos, precisamente o homem que, revestido de sua condição mortal, traz em si o testemunho de seu pecado e de que resistis aos soberbos. A despeito de tudo, o homem, pequena parcela de vossa criação, quer louvar-vos. Vós mesmo o incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas delícias no vosso louvor, porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós. (Santo Agostinho, Confissões, I, 1,1)


Santo Agostinho possuía uma visão muito diferente do mundo, moldada pelos conhecimentos existentes na sua época. Acreditava que tudo que existe no mundo é formado pelos quatro elementos essenciais: terra, fogo, ar e água, e que tudo derivaria da mistura desses elementos. Cada elemento, por sua vez, possui o seu lugar exato. Por exemplo, quando uma folha de papel é queimada, a parte que cabe ao fogo é consumida e a fumaça sobe, a parte que é do ar mistura-se com o ar, a parte que é da terra cai ao chão. Para Agostinho, cada coisa é atraída ao seu elemento, porque cada uma delas tem um peso, de acordo com o seu elemento.

O homem, cuja alma é feita de espírito, não se ajusta a essa definição. Segundo ele, a alma humana é formada por um outro elemento, por uma quinta essência. E, para onde pende a alma humana? Usando uma palavra do próprio Santo Agostinho: qual é o pondos (peso) do coração humano? É Deus. Por isso ele diz: o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós (Deus).

A observação cotidiana dos próprios desejos e insatisfações corrobora a afirmação de Santo Agostinho: nada preenche o coração do homem. É por isso que, mesmo sem a cosmologia desse grande Santo, pois a ciência avançou grandemente nesse sentido, é preciso continuar na antropologia dele, ou seja, a visão do ser humano entendendo que é inquieto e que somente será pleno quando descansar em Deus precisa ser mantida, posto que verdade.

"O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a Si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar." (CIC 27)

O homem é um ser religioso, na medida em que procura uma união com Deus. Mas, ela sempre acontece? Todo homem procura realmente essa unidade com Deus? Vejamos:

"Mas esta união íntima e vital com Deus pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada explicitamente pelo homem. Tais atitudes podem ter origens muito diversas: a revolta contra o mal no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosas, o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis à religião, e finalmente essa atitude do homem pecador que, por medo, se esconde diante de Deus e foge diante de seu chamado." (CIC 29).

O homem pende para Deus, mas, ao mesmo tempo, existe algo que o impede de chegar até Ele. A lista se encontra na citação acima. Mas, se existem situações que podem afastar o homem de Deus, existem outras que permitem a ele aproximar-se de seu Criador:

"Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, o homem que procura a Deus descobre certas "vias" para aceder ao conhecimento de Deus. Chamamo-las também de "provas da existência de Deus", não no sentido das provas que as ciências naturais buscam, mas no sentido de "argumentos convergentes e convincentes" que permitem chegar a verdadeiras certezas." (CIC 31)

Partindo da Criação, as vias para conhecer a Deus são o mundo material e a pessoa humana. Baseado nas cinco vias de Santo Tomás de Aquino tem-se a definição do mundo material: "a partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode-se conhecer a Deus como origem e fim do universo" (CIC 31). Desta forma, é possível utilizar o raciocínio humano para se chegar ao conhecimento de Deus. Olhando para a criação, para as criaturas percebem-se sinais claros da existência de Deus.

A segunda via de acesso a Deus é o homem, que percebe a sua própria alma espiritual, sua alma não pode ter origem senão em Deus(CIC 33). O homem seria um animal defeituoso se Deus não existisse, uma vez que para cada desejo do animal existe uma correspondência real, palatável. O homem, porém, tem em seu íntimo – retomando a ideia de Santo Agostinho – o desejo de algo que não está à sua disposição. Esse desejo não encontra correspondência no mundo real, pois o que ele anseia é pelo próprio Deus: o coração do homem permanecerá inquieto até que repouse em Deus.

O homem busca um sentido para a própria vida. Por definição, esse sentido deve estar fora dele mesmo, pois não existe a possibilidade de o sentido da coisa estar dentro dessa mesma coisa. O sentido deve estar além da coisa.

Portanto, se existe um sentido para esta vida, deve haver uma além-vida. Só pode estar em Deus, no céu. A busca por esse sentido e, ao mesmo tempo, o fato de que nada nessa vida preenche o vazio existente no coração de todos os homens é sinal também da existência de Deus.

"O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos nem seu princípio primeiro nem seu fim último, mas que participam do Ser em si, que é sem origem e sem fim. Assim, por estas vias, o homem pode aceder ao conhecimento da existência de uma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, e que todos chamam Deus." (CIC 34)


O homem foi feito para Deus, porém, não terá que encontrar o caminho até Ele sozinho. Deus mesmo quis ajudar o homem a encontrá-Lo e manifestou-Se. O homem, por sua vez, deve responder com a fé, o que será visto com mais profundidade no decorrer das próximas aulas.
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