sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Meus crismandos são todos ateus!


No mundo de hoje, fico pasma ao notar a alienação dos catequistas de jovens e adultos que montam o programa do curso e o plano de aula imaginando que os alunos são todos católicos piedosos, que estão ali somente para aprofundar mais os seus conhecimentos sobre a doutrina.

Abra o olho, amigo catequista, acorda pra real! Sabe aquelas duas meninas que sentam na última fileira? Elas são sapatas, e estão namorando há dois meses. Lembra do carinha de óculos que nunca falta uma aula? Ele é do tipo que pensa “Jesus sim; Igreja e religiões não”. E aquela menina simpática que tem um piercingna língua? Ela é católica desde criancinha e vai à missa todos os domingos; mas, depois que leu “O Código Da Vinci”, acredita piamente que Jesus teve um enrosco com a Maria Madalena.

Este é o perfil do católico médio: participa de alguns ritos da Igreja e tem respeito por Jesus, por Nossa Senhora e pelos santos; porém, na vida cotidiana, pensa e age como os pagãos. É devoto, mas titubeia diante da primeira notícia de que um arqueólogo qualquer achou um túmulo que “pode ser o de Jesus”. Na Missa, derrama lágrimas de comoção, mas na escola, no trabalho, nas festas e nos relacionamentos afetivos, não se diferencia em nada daqueles que não creem. Na prática, é um ateu que reza diariamente o Pai-Nosso e a Ave-Maria.

Essa realidade foi constatada pelo Beato João Paulo II. Segundo ele, o contexto cultural em que vivemos – fortemente determinado pelo “ateísmo prático” – torna necessária, antes de tudo, a apresentação de “motivos de ordem racional que levam ao reconhecimento de Deus”:

“O Concílio reconheceu que, na génese do ateísmo, puderam contribuir os crentes que nem sempre manifestaram de maneira adequada o rosto de Deus (cf. GS, 19; C.I.C., 2125). “Nesta perspectiva, está precisamente no testemunho do verdadeiro rosto de Deus Pai a resposta mais convincente ao ateísmo. Obviamente, isto não exclui mas exige também a correcta apresentação dos motivos de ordem racional que levam ao reconhecimento de Deus. Infelizmente, essas razões são muitas vezes ofuscadas pelos condicionamentos devidos ao pecado e por múltiplas circunstâncias culturais.” João Paulo II (1)


Há crismandos maduros da fé, é claro, mas são a minoria. A maior parte deles precisa de ajuda para entender os conceitos mais básicos da espiritualidade. Por isso, nas primeiras aulas, sempre parto do princípio de que meus crismandos são todos ateus, o que me obriga a tratar o tema do relacionamento do homem com Deus de forma muito cuidadosa e logicamente estruturada.

Porém, o que muitos catequistas costumam fazer? Em vez de começarem a construir a casa pelos alicerces, tentam iniciar a obra pelo telhado. Assim, logo nas primeiras aulas, começam a tagarelar sobre temas morais e doutrinais, Bíblia, dogmas, História da Salvação etc. Enquanto isso, as questões fundamentais que deveriam ser muito bem trabalhadas antes – a sede de Deus, a busca pelo sentido da vida, os sinais de Deus na realidade – permanecem ignoradas, ou são tratadas de modo muito breve e superficial.

Então, vamos parar de pregar para os católicos do mundo da fantasia. Precisamos orar e nos preparar para servir ao Senhor por meio de uma catequese inteligente, mais adequada para dialogar com os jovens e adultos de uma sociedade secularizada.


Aproveitamos este post pra fazer um justo jabá. Para quem deseja obter um material que ajude a planejar as primeiras aulas da catequese para jovens e adultos, recomendo demais o livro “O homem, Deus e a religião”, de Carlos Eduardo Campos dos Anjos, o Cadu do blog Dominus Vobiscum.

Super gostoso de ler, o livro oferece um roteiro muito bom para os catequistas e para qualquer pessoa que tenha o desejo de evangelizar, com argumentos simples e sólidos sobre a relação entre o homem e Deus, e o papel da religião neste relacionamento.

Além de muito bom, o livro é baratin, baratin! Para comprar, clique no link abaixo da imagem:


Há outro livro espetacular sobre estas questões fundamentais, mas a leitura é um tanto mais áspera: O Senso Religioso, do Padre Luigi Giussani. Genial!

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Nota: (1) Site do Vaticano. João Paulo II – Audiência – Dar testemunho de Deus Pai é aresposta cristã ao ateísmo. 14/04/1999
Fonte: O Catequista

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