quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Padre Fábio de Melo: “foi sem querer querendo!”


Nesses últimos dias, a TV exibiu duas entrevistas do Padre Fábio de Melo, que acabaram deixando muitos católicos com sangue nos zôio. A declaração do padre que mais revoltou aos que zelam pela doutrina da Igreja foi essa aqui:

– Eu gosto de dizer que Jesus não queria a Igreja, Jesus queria o Reino de Deus, mas a Igreja é o que a gente conseguiu dar pra Ele.

Esse trecho da entrevista com a Marília Gabriela foi divulgado previamente pelo site da revista Caras. Ao ler isso, orei, xinguei muito em conversas privadas com amigos e respirei fundo 100 vezes, detendo o meu impulso de dizer qualquer coisa publicamente. Preferi esperar pra ver a entrevista na íntegra, e fiz isso com calma.

De fato, o padre disse uma frase herética. Porém, dentro do contexto em que disse, podemos afirmar que ele quis mesmo propagar uma heresia? Não, ele não quis.Imediatamente antes dessa frase infeliz, o padre disse claramente que a Igreja foi gerada em Jesus Cristo:

– Toda grande instituição precisa naturalmente voltar às fontes. A gente não tem o direito de viver distante das fontes que nos geraram. Qual é a nossa fonte? É Jesus, a experiência dele. Teologicamente nós estamos fundamentados no Verbo que se torna carne, que passa por nós, que faz discípulos e que deixa uma Igreja.

Portanto, apaguem suas tochas na piscina Tony, meninos! Está claro que o padre crê e afirma a origem divina da Igreja, bem como a sua contínua fundamentação em Cristo até os dias de hoje. Agora, com a frase seguinte, mandou uma heresia das brabas, que parecia desmentir o que ele afirmou logo antes. Em seu site, Padre Fábio já publicou um texto assumindo que errou ao se expressar dessa forma.


À maneira do Chaves, meio que “sem querer querendo”, o Padre Fábio de Melo ressuscitou uma heresia divulgada há mais de 100 anos, pelo padre e teólogo Alfred Loisy. Comparem vocês mesmos o que Loisy afirmou com a maldita frase do Padre Fábio, e vejam a semelhança:

“Foi alheio à mente de Cristo constituir a Igreja como sociedade que devia durar sobre a terra por longo decurso de anos; mais, na mente de Jesus estava prestes a chegar o reino do céu juntamente com o fim do mundo”.

 - Afirmação herética de Alfred Loisy. Fonte: Denzinger, número 3452.

Por ter se recusado a renegar esse erro doutrinário, o sujeito foi excomungado pelo Papa São Pio X, em 1908. Daí vocês veem que não estamos exagerando ao dizer que a tal frase do Padre Fábio foi mesmo uma desgraça.

Nessa entrevista, o Padre Fábio afirmou que “Igreja santa e pecadora”. Essa expressão, apesar da verdade que carrega, deve ser evitada, pois em geral, quem ouvi isso, entende que a Igreja pode falhar em seus ensinamentos e não ser eficaz em seus sacramentos. Já explicamos isso em um post anterior (veja aqui). Mas, sejamos honestos: o padre buscou explicar a expressão da forma correta, colocando a dimensão do pecado dos membros da Igreja:

– Nós precisamos nos converter diariamente: a Igreja é santa e pecadora. (…) É Deus que o tempo todo me dá condições para eu reconhecer o meu próprio pecado.

E, diante de uma Marília sedenta por mudanças na moral da Igreja – por meio da liberação do divórcio, do casamento gay e dos métodos anticoncepcionais –, o padre mandou na lata, sereno e firme:

– A Igreja não pode em nenhum momento, por mais autoridade que ela tenha, contradizer o que disse Jesus.

Marília se disse surpresa feliz com a declaração do Papa Francisco, de que não queria julgar os gays. E perguntou se, a partir dessa colocação, se poderia esperar uma mudança a postura da Igreja sobre o casamento entre homossexuais. A resposta do Padre Fábio foi precisa e sem rodeios: “Eu acredito, Marília, que isso não mude absolutamente NADA do que a Igreja pensa do assunto”. Dez! E explicou que isso poderia, isso sim, inspirar a forma correta de tratar os homossexuais nas igrejas, com um discurso de caridoso e não-agressivo.

Padre Fábio mandou bem demais ao defender a beleza na liturgia e nas vestes sacerdotais e nos templos, fator tão negligenciado nas últimas décadas. Também defendeu com competência a castidade e o celibato sacerdotal. Isso a revista Cara-de-bunda não se interessou em noticiar, né?


Padre Fábio é um homem inteligente e, ao que me parece, deseja sinceramente o bem das pessoas. O problema é que ele parece sofrer de “jujubice aguda”. Os católicos acometidos por esse mal buscam sempre evitar qualquer palavra que melindre os não-católicos. E, quando são obrigados e discordar dos demais, procuram fazer isso com a doçura (tão doce como um… favo de mel!), de modo a parecer que o outro tem razão também.

Os acometidos pela jujubice confudem gentileza e respeito com frouxidão. Ainda que sejam obrigados a dizer algo que contrarie o outro, sempre tentam não desagradar ninguém. E o padre Fábio bem sabe que, para um cristão, é impossível manter-se nessa postura, pois ele mesmo disse para a Gabi:

– No momento em que nós temos uma postura, é natural que a gente vá contrariar muita gente. A Igreja não tem a pretensão de agradar o mundo todo.

Bem sabemos que não é só o Padre Fábio que foi contaminado ao comer uma jujuba ultra-doce atômica. Muitos leigos e padres também o fizeram. Prova disso é que o Sínodo dos Bispos de 2008, ocorrido no Vaticano, mostrou preocupação com os padres fofuchos que, em suas homilias, omitem as passagens mais duras do Evangelho, em especial, aquelas em que Jesus é ríspido, se desviando da caricatura mundana de guru paz-e-amô.

Bem, voltando… A entrevista da Marília, que foi a gerou mais polêmica, está longe de ter sido a mais escrota. O padre vacilou feio mesmo foi no programa “Altas Horas”. Eis o que disse, quando perguntando sobre o casamento gay:

– A gente precisa dividir bem a questão. Uma é a questão religiosa, o posicionamento das religiões, que têm todo o direito de não aceitar, de não ser a favor (…). Só que há também a questão cível, que não podemos interferir, que não é religiosa, que é o direito de duas pessoas reconhecerem uma sociedade que existe entre elas.

Não podemos interferir?! Com essa, até Santa Joana Dior revirou na tumba, e os ossos de São João Lacoste estremeceram! Esse discurso, que deturpa a justa noção de estado laico, é exatamente o proposto pela Marta Suplicy, na lei da mordaça gay, a falecida PL 122 (saiba mais aqui).

O que o padre Fábio de Melo disse no “Altas Horas” está em total desacordo com o que ensina a Igreja. Devemos nos opor não só ao casamento religioso gay, mas também ao “casamento” civil gay*. Na verdade, é algo que modifica a estrutura da sociedade e, por consequência, o que é ensinado às crianças nas escolas e na mídia. Então, isso é da nossa conta, sim!

Esse é o sonho dos inimigos de Cristo: que os cristãos continuem tranquilamente (ao menos por enquanto) com seus louvores e pregações, confinados aos templos e sacristias. Porém, se ousarmos defender nossos valores na esfera pública, tomamos um créu. Querem que nos anular politicamente e impor os valores de uma minoria sobre a maioria das famílias. Ora, acaso nós cristãos somos um tipo de sub-raça, cuja opinião tem menos valor? Ah, vá…

Como pessoas limitadas, estamos todos sujeitos a proferir coisas insensatas (e, nesse sentido, tem gente que tem um amplo histórico, e já sugeriu até que os índios não devem ser evangelizados…). Entretanto, é preciso estar sempre humildes e dispostos a ser corrigidos pela Mãe Igreja.

Desejo que Jesus ilumine o Padre Fábio e Melo, para que ele seja mais responsável com o que fala. Acho que ele já deve ter notado o grande impacto que causam não só suas canções, mas também suas palavras.
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Fonte: O Catequista

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