A Igreja celebra hoje a manifestação de Jesus
ao mundo inteiro. Epifania significa “manifestação”; e os Magos representam os
povos de todas as línguas e nações que se põem a caminho, chamados por Deus,
para adorar Jesus. Epifania é uma festa da Luz. “Ergue –te, Jerusalém, e sê
iluminada, que a tua luz desponta e a Glória do Senhor está sobre ti” ( Is 60,
1). Com estas palavras do profeta Isaías, a Igreja descreve o conteúdo da
festa. Sim, veio ao mundo Aquele que é a
Luz verdadeira, Aquele que faz com que os homens sejam luz.
A luz que brilhou na noite de Natal iluminando
a gruta de Belém, onde permanecem em silenciosa adoração Maria, José e os
pastores, resplandece hoje e manifesta – se a todos.
Na Vinda dos Magos a Belém, Jesus inicia a
reunião de todos os povos (Ev. Mt 2, 1-12). Os Magos do Oriente vão à frente.
Inauguram o caminho dos povos para Cristo. Os Magos seguiram a estrela. A
grande estrela, a verdadeira estrela que nos guia é o próprio Cristo. Ele é,
por assim dizer, a explosão do amor de Deus, que faz brilhar sobre o mundo o
grande fulgor do seu coração. E podemos acrescentar: tanto os Magos do Oriente,
como os Santos em geral, pouco a pouco, tornaram – se eles mesmos constelações de Deus, que nos indicam o
caminho.
A festa da Epifania incita todos os fiéis a
partilharem dos anseios e fadigas da Igreja que “ora e trabalha ao mesmo tempo,
para que a totalidade do mundo se incorpore ao Povo de Deus, Corpo do Senhor e
Templo do Espírito Santo” (LG. 17). Aqui temos o plano de Deus de fazer toda a
humanidade participante da salvação em Cristo! Esta é a boa-nova, o Evangelho.
Por isso, devemos hoje dar graças a Deus por nossa vocação cristã. Para que
isso aconteça é preciso que trilhemos o caminho dos Magos. Qual será este
caminho? Primeiramente é preciso estarmos atentos aos sinais de Deus e termos o
desejo de adorá-Lo.
“Onde está o rei dos judeus, que acaba de
nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo” (Mt 2,2). Em
segundo lugar, é preciso procurá-Lo, onde Ele se encontra! Depois, é preciso
partir sempre de novo, recomeçar, sair à procura! Então, a estrela há de
aparecer e pousar sobre o lugar onde se encontra o Menino. Serão momentos de
grande alegria!
Quem encontra Jesus Cristo muda de caminho!
Toma outro caminho. Um caminho novo, o caminho de Jesus Cristo que se apresenta
como o Caminho (Jo 14,6).
COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
Leituras: Is 60,1-6; Sl 71; Ef 3,2-3a.5-6; Mt
2,1-12
Este hoje é dia solene, de festa grande!
No santo tempo do Natal, a comemoração que
agora celebramos somente perde em importância para aquela outra, da Natividade,
no 25 de dezembro.
É que hoje, exultantes e gratos a Deus,
celebramos a sagrada Epifania do Senhor! Epifania, Manifestação do Cristo
Jesus! Nas palavras de Santo Agostinho:
“Este dia salienta a Sua grandeza e Sua
humilhação: Aquele que na imensidade do Céu Se revelava pelo sinal de um astro
era encontrado quando O procuravam na estreiteza da gruta. Frágil em Seus
membros de criança, envolto em faixas, é adorado pelos Magos e temido pelos
maus!”
Eis: no dia do Natal, Ele atraiu a Si, pela
palavra dos anjos, aqueles que estavam perto: os pastores de Belém, membros do
povo judeu, já tão conhecedor dos caminhos de Deus. Mas, agora, pela luz da
Estrela, Ele Se digna, com infinita misericórdia, atrair-nos a nós: os que não
somos judeus, os gentios, que estávamos longe, entregues ao culto dos ídolos,
“sem Cristo... estranhos às alianças da Promessa, sem esperança e sem Deus no
mundo” (Ef 2,12)!
Pagãos nós éramos; pagão é ainda todo aquele
que não conhece ou não reconhece o Cristo de Deus!
Idólatras eram nossos antepassados; idólatras
continuam todos os que, sem conhecerem o Deus verdadeiro, adoram falsos deuses
ou divinizam a natureza ou demais criaturas, endeusam coisas limitadas e
efêmeras, doando-lhes a vida, o afeto, a atenção, o melhor de si... Tornando-se
deles escravos, segundo a tremenda sentença das Escrituras:
“Os ídolos deles são prata e ouro,
obra de mãos humanas:
têm boca, mas não falam;
têm olhos, mas não veem;
têm ouvidos, mas não ouvem;
têm nariz, mas não cheiram;
têm mãos, mas não tocam;
não há murmúrio em sua garganta.
Os que os fazem ficam como eles,
todos aqueles que neles confiam!” (Sl
115/113B)
Hoje, portanto, o Senhor atrai os pagãos do
mundo todo à Sua salvação, hoje, realiza-se o que o nosso Deus predissera por
Isaías profeta: “Fui perguntado por quem não se interessava por Mim, fui achado
por quem não Me procurava. E Eu disse: ‘Eis-Me aqui, eis-Me aqui’ a pessoas que
não invocavam o Meu Nome” (Is 65,1). O Senhor, cuja luz brilhou para todos os
povos, continua e continuará sempre a iluminar, a atrair, a fazer brilhar de
mil modos a Sua luz bendita no coração de todos filhos de Adão e filhas de Eva
que vêm a este mundo, pois a todos o Santo criou à Sua imagem e semelhança e
“quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade”
(1Tm 2,4).
- Obrigado, Senhor Jesus, porque vieste também
para nós! Obrigado porque nos arrancaste do poder das trevas, a nós que “éramos
por natureza, como os demais, filhos da Ira” (Ef 2,4). Obrigado, porque nos
fizeste passar dos falsos deuses, dos ídolos falsos e mortos, ao Deus vivo e
verdadeiro!
Hoje, portanto, meus caros em Cristo, a festa
é nossa! Somos nós que vemos a Luz, somos nós, convidados a seguir a estrela do
Menino; nós, convidados a adorá-Lo, presenteando-O com nossos melhores dons:
o ouro das nossas boas obras,
a mirra do nosso coração,
o incenso do nosso amor!
Somos hoje convidados a admirar o exemplo
desses sábios do Oriente, que vendo no céu o sinal do Rei nascido, não temeram
deixar tudo e, humildemente, seguir a Luz! Como foram sábios verdadeiramente,
esses que, humildes, não hesitaram em se deixar guiar pela luz de Deus! Como
Abraão, o pai de todos os judeus, deixara sua terra e partira à ordem de Deus,
sem saber aonde ia, assim também, esses, que hoje são as nossas primícias para
Cristo, partem, obedecendo ao apelo do Senhor, sem saber para onde vão!
Caríssimos, partamos também nós!
Partamos de nossa vida cômoda,
partamos de nossa fé tíbia
partamos do nosso relativismo religioso,
partamos da nossa subserviência cômoda ao
politicamente correto,
partamos de nosso cristianismo burguês, que
deseja ser compreendido, aceito, e aplaudido pelo mundo!
Partamos, ou não veremos a luz do Menino!
“Deus é luz e Nele não há trevas. Se andarmos na luz, como Ele está na luz, então
estamos em comunhão uns com os outros e o sangue de Seu Filho Jesus nos
purifica de todo o pecado” (1Jo 1,5b-7).
Partamos, pois, caríssimos, e encontraremos
Aquele que é a Luz dos povos, a Luz do mundo!
Porque os Magos tiveram a coragem de partir,
conseguiram atingir o Deus inatingível e O adoraram! Diz o Evangelho que eles,
“ao verem de novo a Estrela, sentiram uma alegria muito grande!” Nós também, se
encontrarmos de verdade o Senhor!
Mas, atentos! O que eles encontram? Pasmem!
Encontram um menininho pobre, com uma pobre jovem do povo, Maria, Sua Mãe...
Não O encontram num palácio, não O encontram numa corte! E, no entanto, com os
olhos da fé, reconheceram o Rei verdadeiro, prostraram-se e O adoraram!
Vede, caríssimos meus, somente quando nos
deixamos guiar, podemos encontrar o Senhor; somente quando saímos dos nossos
esquemas, dos nossos modos de pensar, de achar e de sentir, podemos de verdade
ver naquilo que é pobre e pequeno, ver naquilo que não estava nos nossos planos
e expectativas, a presença de Deus.
Depois, diz o Evangelho que eles voltaram por
outro caminho... Sim, porque quem encontrou esse Menino, quem se alegrou com
Ele, quem viu a Sua luz, muda de caminho, caminha na Vida!
Mas, nesta festa de tanta alegria, doçura e
luz, há uma nota de treva: “Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado e,
com ele, toda Jerusalém...” Jerusalém, que representa o povo judeu...
Jerusalém, que deveria alegrar-se, perturba-se, hesita, não é capaz de
reconhecer o tempo da visita de Deus!
E nós, caríssimos?
Nós, membros do Povo de Deus, não corremos o
risco de nos acostumar de tal modo com o Senhor, a ponto de não mais reconhecer
Suas visitas, Sua presença luminosa e humilde, Sua graça em nossa vida?
Não corremos o risco gravíssimo de domesticar
o Evangelho e a fá católica, não mais nos deixando interpelar pela Sua Palavra?
Ah, que perigo que as mil palavras, as mil
modas, as mil ideologias do mundo atual sufoquem a Palavra, na sua clareza, no
seu frescor, na sua perenidade secular, na sua simplicidade, na sua
radicalidade, na sua luz...
A festa de hoje, certamente mostra-nos a
benignidade de Deus que a todos quer iluminar e salvar, mas também revela a
concreta e tremenda possibilidade do homem: ser generoso e responder “sim” ou
ser fechado e responder “não”!
Os judeus, o povo amado, começa a se fechar
para o seu Senhor. É o início de um drama que culminará na Cruz... De modo
grave, Santo Agostinho afirma:
“Ao nascer fez aparecer uma nova estrela,
Aquele mesmo que, ao morrer, obscureceu o sol antigo! A luz da Estrela começou
a fé dos pagãos; pelas trevas da Cruz foi acusada a perfídia dos judeus!”
E olhemos bem, que não somos melhores que o
Povo da Antiga Aliança! Podemos recusar a Luz, podemos querer ofuscar a Luz com
nossas ilusórias tochas ideológicas, podemos sufocar a Palavra com nossas vãs
palavras travestidas de mentirosa sapiência, oca e mundana, podemos adulterar a
nossa santa fé católica e apostólica, com remendos e deformações para adequá-la
o mundo fechado para o Deus nascido da Virgem!
Uma coisa é certa: é impossível, meus caros,
ficar indiferente ante este Menino, este pequeno Rei: ou nos abrimos para Ele e
Nele encontramos a Luz e a Vida, ou para Ele nos fechamos e não veremos a Luz!
Acorda, cristão!
Sai do marasmo,
sai da tibieza,
sai da preguiça,
sai do pensamento vão,
sai do vício,
sai dos acordos mornos com o mundo!
Acorda!
Sai de ti e deixa-te iluminar pelo Salvador
por ti nascido!
Finalmente, um último mistério. Se Jerusalém
fechou-se para o Rei nascido, como pôde o profeta cantar a luz da Cidade santa
na primeira leitura desta Missa?
“Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém,
porque chegou a tua Luz, apareceu sobre ti a Glória do Senhor! Eis que está a
terra envolvida em trevas, mas sobre ti apareceu o Senhor!”
Esta Jerusalém santa, envolvida pela Glória do
Senhor, esta Cidade fiel à qual se dirigem os povos, é a Igreja, o novo Israel,
a Esposa de Cristo. É ela a Casa na qual, segundo o Evangelho de hoje, os Magos
entraram e encontraram o Menino com Sua Mãe.
É na Igreja, na Mãe católica, una, única e
santa, sempre fiel à fé apostólica, que os homens de todos os povos e de todas
as raças podem encontrar o Salvador, tornado sempre presente no anúncio da
Palavra segundo a perene Tradição que recebeu dos Apóstolos, nos sacramentos
celebrados continuamente no Espírito do Senhor, na vida de comunhão fraterna
dos discípulos do Deus nascido da Toda Santa! Esta é e será sempre a grande
missão da Igreja: dar Jesus ao mundo, iluminar o mundo com a Luz do Senhor, ser
casa espaçosa e aconchegante na qual toda a humanidade possa ver a salvação do
nosso Deus!
Caríssimos, alegremo-nos! Daqui a pouco, o
Menino por nós nascido, por nós oferecido na Cruz em sacrifício e, em nosso
favor, ressuscitado dos mortos, mais uma vez, neste Altar eucarístico, será
oferecido como hóstia ao Pai e dado a nós como alimento em comunhão.
Como os Magos, nos levantaremos,
como os Magos, acorreremos a Ele,
como os Magos, reverentes adorá-Lo-emos!
Que também, como os Magos, voltemos para
nossas casas alegres de grande alegria, tomando outro caminho na vida!
Que no-lo conceda o Deus nascido da Virgem que
hoje Se manifestou ao mundo. Amém.
PARA REFLETIR
Caros irmãos
e irmãs, celebramos neste domingo a Solenidade da Epifania do Senhor, o
mistério da manifestação do Senhor a todas as nações, representadas pelos
Magos, conhecidos, segundo a tradição, com os nomes de Melchior, Gaspar e
Baltasar. Eles vieram do Oriente para adorar o Rei dos Judeus (cf. Mt 2,1-2). O
Evangelista São Mateus, que narra o acontecimento, ressalta como eles chegaram
a Jerusalém seguindo uma estrela, vista surgir e interpretada como sinal do
nascimento do Rei anunciado pelos profetas, isto é, o Messias. Mas, tendo
chegado a Jerusalém, os Magos precisaram das indicações dos sacerdotes e dos
escribas para conhecer exatamente o lugar aonde ir, isto é, Belém, a cidade de
David (cf. Mt 2,5-6; Mq 5,1). A estrela e a Sagrada Escritura foram as duas
luzes que guiaram o caminho dos Magos, os quais são para nós modelos dos
autênticos pesquisadores da verdade.
O itinerário seguido pelos Magos reflete a caminhada que os pagãos percorreram para encontrar Jesus. Atentos aos sinais da estrela, percebem que Jesus é a luz que traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para O encontrar. Chama a nossa atenção neste evangelho a disposição dos Magos: eles viram a estrela, deixaram tudo, arriscaram tudo e partiram à procura de Jesus. Neste sentido, podemos dizer que os Magos representam os homens de todo o mundo que vão ao encontro de Cristo.
Não podemos deixar de prestar uma atenção particular ao símbolo da estrela, tão importante na narração evangélica (cf. Mt 2,1-12). Esses Magos eram provavelmente astrônomos, tinham observado o surgir de um novo astro, e tinham interpretado este fenômeno celeste como anúncio do nascimento de um rei, precisamente, segundo as Sagradas Escrituras, do rei dos Judeus (cf. Nm 24,17), e puseram-se a caminho. Na realidade, esta luz de Cristo se manifestou na inteligência e no coração dos Magos. “Eles partiram” (Mt 2, 9), narra o evangelista, lançando-se corajosamente por estradas desconhecidas e empreendendo uma longa e difícil viagem.
Neste caminho são guiados por uma luz. A primeira leitura já anuncia a chegada da luz salvadora de Deus, que transfigurará Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo. O apóstolo João escreve na sua Primeira Carta: “Deus é luz e nele não há trevas” (1Jo 1,5); e mais adiante acrescenta: “Deus é amor”. A luz, que surgiu no Natal, que hoje se manifesta aos povos, é o amor de Deus, revelado na Pessoa do Verbo encarnado. Portanto, os Magos do Oriente são atraídos por esta luz. A adoração de Jesus por parte dos Magos é reconhecida como cumprimento das Escrituras proféticas, como podemos ler no Livro do Profeta Isaías: “À tua luz caminharão os povos e os reis andarão ao brilho do teu esplendor… trazendo ouro e incenso, e anunciando os louvores ao Senhor” (Is 60,3.6).
Cristo é a luz que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da terra. Cumprindo o projeto redentor que o Pai nos quer oferecer. Essa “luz” encarnou na nossa história, iluminou os caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação, da vida definitiva. O evangelista São Lucas também faz uma reverência a Cristo como luz: “Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo” (Lc 2,32), como, inspirado por Deus, exclamará Simeão tendo o menino entre os braços, quando os pais o apresentaram no templo. Cristo é a luz que ilumina os povos e que provém da glória de Israel (cf. Lc 2,4).
Lemos ainda no Evangelho que “a estrela, caminhava à frente deles, até que, chegando ao lugar onde estava o Menino, parou”. Chegando a Belém, os Magos “ao entrar na casa, viram o menino com Maria sua mãe, e prostrando-se o adoraram” (Mt 2,11). A criança que eles descobrem não é uma criança como as outras: é rei, então oferecem-lhe ouro; é Deus, então queimam incenso; passará pela morte antes de ressuscitar, então apresentam a mirra. Os dons que os Magos oferecem ao Messias simbolizam a verdadeira adoração. Mediante o ouro eles realçam a realeza divina; com o incenso confessam-no como sacerdote da nova Aliança; oferecendo a mirra reconhecem que Jesus derramará o próprio sangue para reconciliar a humanidade com o Pai.
É este o ápice de todo o itinerário: o encontro se faz adoração, conduz a um ato de fé e de amor que reconhece em Jesus, nascido de Maria, o Filho de Deus feito homem. Da adoração dos Magos fazem parte os presentes, como sinal de doação: ouro, incenso e mirra; oferendas que se faziam a um Rei considerado divino.
Uma vida frágil que necessita dos cuidados de uma mãe desperta nos magos a admiração. Eles prostram-se e adoram o Menino Jesus. Aqueles que conheciam bem a Palavra de Deus, sabiam interpretá-la, sabem também ler as estrelas e são capazes de ver mais além das aparências. E o que eles percebem nesse Menino é tão profundo que caem prostrados, tiram seus tesouros, esvaziam-se e enchem-se da nova Luz descoberta. Os Magos adoraram um simples Menino nos braços de Maria porque reconheceram Nele a fonte da dupla luz que os tinha guiado: a luz da estrela e a luz da Palavra de Deus. Reconheceram o Cristo recém-nascido como o Rei dos Judeus, mas também o Rei de todas as nações.
O Evangelho esclarece que, depois de ter encontrado Cristo, os Magos regressaram ao seu país “por outro caminho”. Esta mudança de caminho pode simbolizar a conversão daqueles que encontraram Jesus. Quando se encontra Cristo e se acolhe o seu Evangelho, a vida muda e somos estimulados a comunicar aos outros a própria experiência. Teria sido natural voltar a Jerusalém, ao palácio de Herodes e ao Templo, para dar realce à sua descoberta. Mas eles escolheram o Menino como seu soberano e foram transformados pelo encontro com a Verdade; descobriram um novo rosto de Deus, uma nova realeza: a do amor. O caminho exterior daqueles homens tinha terminado. Tinham chegado à meta. Mas a este ponto, começa para eles um novo caminho, uma peregrinação interior que altera toda a sua vida. Cristo também nos convida a esta peregrinação interior.
Os Magos que vieram do Oriente são apenas os primeiros de uma longa procissão de homens e mulheres que na sua vida procuraram constantemente com o olhar a estrela de Deus, que procuraram aquele Deus que está perto de nós, seres humanos, e nos indica o caminho. É a grande multidão de santos, mediante os quais o Senhor, ao longo da história, abriu diante de nós o Evangelho e folheou as suas páginas; ainda hoje Ele continua a fazer isto.
A vida dos santos revela a riqueza do Evangelho. Eles são o rastro luminoso de Deus que Ele mesmo traçou e continua a traçar ao longo da história. O segredo da santidade é a amizade com Cristo e a adesão fiel à sua vontade. Santo Ambrósio dizia: “Cristo é tudo para nós” (S. AMBRÓSIO, De virginitate 16, 99). E São Bento exorta aos seus monges: “Nada antepor ao amor de Cristo” (RB 4,21). São Bento indica com isto que devemos dar sempre prioridade a Cristo, que não podemos colocar nada, nem ninguém em seu lugar. A palavra “antepor” significa colocar algo entre mim e Cristo, construir um muro, uma separação. O amor de Cristo deveria ser nossa meta e nosso caminho, nossa certeza e nossa busca, nosso conforto. Este “nada antepor”, significa que devemos priorizar sempre a companhia de Cristo. Quando nada colocamos no seu lugar, aí sim, nada antepomos ao seu amor.
Possamos também nós imitar os Magos e colocarmo-nos a caminho do Senhor. Saibamos percorrer com decisão o caminho do bem. E assim como a estrela esteve a serviço dos Magos, possamos também nós estar a serviço dos nossos irmãos, indicando a eles o Cristo Senhor. Também como a estrela, devemos resplandecer como filhos da luz, para atrair a todos à presença do Salvador que nasceu para nos trazer uma vida nova. Assim seja.
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*No Brasil a Epifania é celebrada no domingo entre 2 e 8 de janeiro.
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