A Copa do Mundo foi
sendo construída historicamente como um evento de grande motivação e
congraçamento de povos e nações que, por meio do futebol, expressam suas
culturas e o sentimento de patriotismo. Ainda que disputando um título,
jogadores e torcedores conseguem festejar, juntos, o espetáculo do maior
esporte do mundo. Em cada canto do planeta, vizinhos decoram suas casas e suas
ruas, as famílias e os amigos se encontram para festejar. E nós, como
brasileiras e brasileiros, acolhedores que somos, temos a oportunidade de
celebrar mais de perto a integração cultural entre os povos.
No entanto, a festa dos povos
traduzida pelo futebol perde a cada Mundial sua beleza, sua essência e dá lugar
ao dinheiro, a especulação, a exploração e a negação dos direitos da população
mais empobrecida. Neste sentido, a Cáritas expressa grandes preocupações quanto
aos processos determinados pelo “mercado da Copa”. Muitas obras foram feitas e
bilhões gastos. Fala-se em superfaturamento. A Cáritas Brasileira compreende a
necessidade da realização de muitas delas e entende que tantas ficarão para
usufruto do povo brasileiro, mas não corrobora com gastos abusivos e supostas
corrupções que envolveram o processo. Neste sentido, a Cáritas espera que os
gastos com a Copa do Mundo sejam efetivamente apurados e os malfeitores
punidos.
Temos a esperança de que o povo
brasileiro, passada a Copa do Mundo, não ganhe como herança apenas o
hexacampeonato, mas que conquiste como grande vitória a garantia de que os
projetos de mobilidade urbana tão importante para a população – muitos ainda
não realizados, outros nem iniciados – sejam cumpridos. Que nossas famílias
tenham a garantia de permanência em seus territórios e a preservação de seus
costumes e que não impere o padrão FIFA. Que a polícia, que tem a tarefa de
garantir a segurança pública, não use de violência contra a população que
deseja manifestar seu descontentamento de forma pacífica.
Que as trabalhadoras e
trabalhadores tenham seus direitos de fato garantidos e que não sejam
explorados, como milhares foram durante a construção das obras da Copa. Que
nossas crianças, jovens e adolescentes e nossas mulheres não virem mercadoria
para os estrangeiros e encontrem ações efetivas de erradicação do trabalho
infantil, da exploração sexual e do tráfico humano. Que os governos garantam
alternativas eficazes para eles e elas. Esperamos que desse processo – sofrido
para muitos e lucrativo para poucos outros – tenhamos a lição de que o caminho
é sempre junto com o povo, que nossa democracia se fortaleça e que nas
Olimpíadas em 2016 tenhamos mais um grande evento do povo brasileiro. Que os
povos se reconheçam com uma única família humana na luta pelos direitos humanos
dizendo não ao racismo.
Para a Cáritas, o legado da
Copa não virá apenas com a movimentação econômica ou com as obras de
infraestrutura, se dará com a garantia efetiva dos direitos de cada cidadã e
cada cidadão brasileiro à vida digna, na construção cotidiana, coletiva e
participativa de um país menos desigual. O sucesso se dará na união de um povo
que também se junta na luta permanente contra as mazelas provocadas pelas
gritantes desigualdades sociais que ainda nos afeta direta ou indiretamente.
A Cáritas, ao convocar a
sociedade brasileira para a campanha mundial “Uma família humana, pão e justiça
para todas as pessoas”, acredita que o Brasil tem a oportunidade de se olhar
enquanto um só, em um único time, para perceber o quanto ainda é cruel a
realidade em que muitos de nós estamos inseridos. É jogando em favor da
vida e da dignidade de cada ser humano que a Cáritas continua sua missão na
certeza de que a alegria dos estádios e desse tempo de grande festa nos anime a
continuar a luta para a transformação social, e, desta forma, fazer com que
todas as brasileiras e brasileiros vistam a mesma camisa rumo a um único
objetivo: um país mais justo, igualitário e plural.
Diretoria
Nacional da Cáritas Brasileira
Brasília,
12 de junho de 2014.
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