Caríssimos
irmãos sacerdotes,
Tenho
Sede!
Todo ano,
a Igreja promove a Jornada Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes,
por ocasião da festa do Sagrado Coração de Jesus. Neste dia, ela convida todo o povo de Deus de nossas comunidades
eclesiais, bem como as pessoas de boa vontade, para rezarem pelos seus
sacerdotes para que, fiéis aos compromissos assumidos no dia da ordenação
presbiteral, tenhamos uma vida íntegra e santa, de íntima e profunda comunhão
com Jesus. Pois somente assim poderemos amar verdadeiramente o rebanho do
Senhor que nos foi confiado.
A
santidade, além de ser um projeto pessoal de vida, deve ser também um projeto
pastoral. São João Paulo II, no ano 2000, assim se expressou: “em
primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para onde deve tender todo
o caminho pastoral é a santidade” (NMI
30). E o apóstolo Paulo: “A
vontade de Deus é que sejais santos” (1 Ts 4,3). Tudo na vida e na
missão de um sacerdote deve ter a marca da santidade. Sem santidade, estamos
sem horizonte, não somos nada, não valemos nada e não fazemos nada de bom.
No
Cenáculo, durante a Última Ceia, ao instituir a Eucaristia, o mandamento do
amor fraterno e o sacerdócio ministerial, Jesus, o Santo e a fonte de toda
santidade, revelou aos seus discípulos um dos seus desejos mais profundos: “Permanecei em mim, e eu permanecerei
em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na
videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira, e vós, os ramos” (cf. Jo 15,4-5). Permanecer em
Jesus é a alegria verdadeira de nossa vida. Sem Ele, tudo em nossa vida emudece
e perde sentido. Pois, foi Ele mesmo quem disse: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5).
Decorrem desta íntima união com Jesus Cristo a conversão pessoal e pastoral, a
solicitude pastoral pelos pobres e sofredores e o ardor missionário. Em outras
palavras, a santidade.
Hoje,
mais do que em tempos passados, o sacerdote deve ser o homem de Deus. Aquele
que não se mantiver firme na fé, alegre na esperança, perseverante na oração e
firme nas tribulações (cf. Rm 12,12), terá vida breve e estéril.Na realidade
atual, perdemos muito daqueles papéis sociais de destaque que, em tempo de
cristandade, os nossos antepassados tinham. Além do mais, com o advento dos
potentes meios de comunicação, as nossas fragilidades e feridas aparecem com
maior clareza, exigindo de nós mais coerência de vida e testemunho de
santidade. Precisamos sempre ser pastores identificados com Jesus e com sua
Igreja, pobre e para os pobres. Precisamos ser sacerdotes acolhedores,
solidários, fraternos com os irmãos, encantados e apaixonados pela missão.
Enfim, precisamos de sacerdotes santos. Sem a lógica da santidade, o ministério
sacerdotal vale muito pouco e não passa de uma simples função social.
Neste
sentido, é mister recordar o que o papa Bento XVI disse certa vez: "existem algumas condições para que
haja uma crescente harmonia com Cristo na vida do sacerdote: o desejo de
colaborar com Jesus para propagar o Reino de Deus, a gratuidade no serviço
pastoral e a atitude de servir".O encontro com Jesus deixa o
sacerdote fascinado, encantado e apaixonado por sua pessoa, suas palavras e
seus gestos. É como ser atingido pela irradiação de bondade e de amor que
emanam d’Ele, a ponto de querer ficar com Ele como os dois discípulos de Emaús.
Cada sacerdote deveria diariamente pedir a Jesus: “Fica conosco, pois já é
tarde e à noite vem chegando” (Lc 24,29). Quem se encanta por Jesus, entra em
sintonia e em amizade íntima com Ele, e tudo passa a ser feito como agrada a
Deus. Ser sacerdote não é mérito nosso. É um dom a ser vivido na companhia de
Jesus com gratidão e generosidade.
E
acrescenta o papa Bento XVI: "o
convite do Senhor para o ministério ordenado não é fruto de mérito especial,
mas é um dom a ser acolhido a que se corresponde dedicando-se não apenas a um
projeto individual, mas ao de Deus, totalmente generoso e desinteressado. Nunca
nos devemos esquecer, como sacerdotes, que a única subida legítima rumo ao
ministério do pastor não é aquela do sucesso, mas a da cruz”.
Cai bem
aqui o que disse o papa Francisco: “Conscientes
de terem sido escolhidos entre os homens e constituídos em seu favor para
esperar nas coisas de Deus, exercitem com alegria e com caridade sincera a obra
sacerdotal de Cristo, unicamente com a intenção de agradar a Deus e não a si
mesmos. Sejam pastores, não funcionários. Sejam mediadores, não intermediários”.
O coração
do sacerdote é um coração sempre aberto para amar, acolher, celebrar e
agradecer. Permitam-me, amados de Deus, concluir esta mensagem reportando, mais
uma vez, ao que disse recentemente o papa Francisco sobre a necessidade de amar
e santificar a nossa vocação sacerdotal. Diz ele: “Os sacerdotes, mais do que estudiosos, são pastores. Não
podem nunca se esquecer de Cristo, seu primeiro amor, e devem permanecer sempre
do seu lado.Como está hoje o meu primeiro amor? Estou enamorado como no
primeiro dia? Estou feliz contigo ou te ignoro? São perguntas que temos que
fazer com frequência diante de Jesus. Porque Ele pergunta isso todos os dias,
como perguntou a Pedro: Simão, filho de João, tu me amas? Continuo enamorado de
Jesus como no primeiro dia ou o trabalho e as preocupações me fazem olhar para
outras coisas e esquecer um pouco o amor”?
Caríssimos,
tenhamos sempre diante dos nossos olhos o exemplo e Jesus, o Bom Pastor, que
não veio para ser servido, mas para servir e para procurar a ovelha, a moeda e
filho perdidos e salvá-los (cf. Lc 15,4ss). Prometo, no dia do Sagrado Coração
de Jesus, rezar de modo especial por todos vocês, sacerdotes do Senhor, a fim
de que a vida e o ministério de vocês sejam vividos na alegria do Evangelho que
nos liberta do pecado, da tristeza, do vazio interior e do isolamento. Peço
também que todos os cristãos católicos façam momentos de oração, de adoração e
súplica, pessoalmente ou reunidos em comunidade, implorando a Deus pela
santificação dos nossos sacerdotes, tesouro precioso saído do Coração de Jesus.
Que Maria, mãe dos sacerdotes, nos ajude a ter um coração manso e humilde como
o Coração do seu Filho.
E todos,
em uníssono, num só coração e numa só alma, possamos dizer: Sagrado
Coração de Jesus, nós temos confiança em vós! Amém!
Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas
Presidente da Comissão para os
Arcebispo de Palmas
Presidente da Comissão para os
Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada
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