O Evangelho de Mateus conta um episódio da
vida de Jesus que pode parecer pouco importante: a sua mãe e os seus familiares
vão a Cafarnaúm, onde Ele está com os discípulos para anunciar a todos o amor
do Pai. É provável que tenham caminhado muito para O encontrar e gostariam de
falar com Ele. Não entram no local onde Jesus se encontra, mas mandam-Lhe uma
mensagem: «A tua mãe e os teus irmãos estão lá fora e querem falar contigo».
A dimensão familiar era, sem dúvida, muito
importante para o povo de Israel: o próprio povo era considerado “filho” de
Deus, herdeiro das promessas, e os membros do povo consideravam-se “irmãos”.
Mas Jesus abre um horizonte inesperado: faz um
gesto solene com a mão e, apontando para os discípulos, diz:
“Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai
que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe”
Jesus revela uma nova dimensão: qualquer pessoa
se pode sentir parte da sua família, se se esforçar por conhecer e cumprir a
vontade do único Pai.
Qualquer pessoa: adulto ou criança, homem ou
mulher, com saúde ou doente, de qualquer cultura ou estrato social. Cada pessoa
traz em si a imagem de Deus Amor. Não só, mas cada pessoa é o tu de Deus, e
pode estabelecer com Deus um relacionamento de conhecimento e amizade.
Todos podem fazer a vontade de Deus, que consiste
no amor a Ele e no amor fraterno. Por isso, quando amamos, Jesus reconhece-nos
como seus familiares: seus irmãos, suas irmãs. É a nossa grande oportunidade,
que nos surpreende. Liberta-nos do passado, dos nossos medos, dos nossos
esquemas. Nesta perspetiva, até os nossos limites e as nossas fragilidades se
podem tornar um trampolim para a nossa plena realização. Realmente, é como se
tudo desse um salto de qualidade.
“Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe”
Podemos ser, de certo modo, a mãe de Jesus.
Tal como Maria se colocou à disposição de Deus desde o momento da Anunciação
até ao Calvário, e no nascimento da Igreja, também cada um de nós pode fazer
com que Jesus nasça e renasça em si próprio, vivendo o Evangelho. Depois, pela
caridade recíproca, pode contribuir para gerar Jesus na coletividade.
Foi também o apelo feito por Chiara Lubich,
dirigindo-se a pessoas desejosas de viver a Palavra de Deus: «Sejam uma
família! Há entre vocês quem sofra por causa de provas espirituais ou morais?
Compreendam-nos como e mais do que uma mãe, iluminem-nos com a palavra e com o
exemplo. Não lhes deixem faltar – pelo contrário, façam crescer à sua volta – o
calor da família! Há entre vocês quem sofra fisicamente? Que sejam esses os
vossos irmãos prediletos. […] Nunca anteponham nenhuma atividade, seja de que
género for, […] ao espírito de família com os irmãos com quem vivem. E onde
forem para levar o Ideal de Cristo, […],nada melhor do que procurar criar – com
discrição, com prudência, mas com decisão – o espírito de família. Esse é um
espírito humilde, quer o bem dos outros, não se enche de si… é […] a caridade
verdadeira»[1].
“Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe”
Cada um de nós pode descobrir, na dia a dia,
qual é a tarefa que o Pai lhe confia para construir a grande família humana.
Num bairro de Homs, na Síria, mais de cento e
cinquenta crianças, na sua maioria muçulmanas, frequentam atividades de tempos
livres numa escola da igreja greco-ortodoxa. Conta a Sandra, a diretora:
«Oferecemos acolhimento e ajuda, através de uma equipa de professores e
técnicos especializados, num clima de família baseado no diálogo e na promoção
dos valores. Há muitas crianças marcadas por traumas e sofrimentos. Alguns
estão apáticos, outros agressivos. O nosso desejo é reconstruir a confiança
neles mesmos e nos outros. Apesar da maior parte deles ter ainda a família
separada por causa da guerra, aqui reencontram a esperança e o desejo de
recomeçar».
Letizia Magri
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Movimento dos Focolares
1) C. Lubich, in Cidade Nova 2008/4, p. 34.
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