Todos os anos, somos expostos à história mais 171 do mundo: é a que compara São Nicolau de Mira a esse ícone pagão criado pela coca-cola que atende pelo nome de papai noel (vou escrever assim mesmo, com letra minúscula). Pior, colocamos ele como símbolo emblemático do Natal.
Vamos lá gente, parem e pensem: que filme de papai noel vocês já assistiram que faz uma menção mínima de Jesus? Aliás, desde quando gnomos são parte da tradição cristã (o bom velhinho tá sempre cercado deles)? Tá bom, tem gente que vai me considerar mais fundamentalista que o aiatolá Khomeini, mas com relação a Nosso Senhor Jesus Cristo não devemos fazer concessões.
Ocorre que muitos cristãos fiéis e bem intencionados desconhecem totalmente as origens da lenda do papai noel e menos pessoas ainda conhecem a história de São Nicolau. Esse mico, criado por comunistas e protestantes, está tão entranhado na cultura que até falar contra ele leva a reações de indignação.
Em virtude disso, resolvi apresentar nas próximas linhas um comparativo que trata de ambos os personagens, o piedoso bispo de Mira e o fictício bom velhinho.
SÃO NICOLAU DE MIRA
Um dos significados de seu nome, e o qual eu considero mais pertinente, é “vitória sobre os vícios que são populares e vis”. Não sabemos com exatidão a data de seu nascimento. Filho de família abastada e pia, seus pais o geraram logo nos primeiros dias do seu matrimônio e, após a gravidez de sua mãe Joana, passaram o resto da vida em continência sexual. Sua legenda consta na “Legenda Áurea” e é atribuída a duas fontes principais. Um grupo conhecido como “doutores argólidas” e o diácono João.
Nascido em Patras (Grécia), foi desde muito cedo dotado de um sentimento religioso ímpar. Sabia a Bíblia de cor, e olha que a bíblia de São Nicolau era pré-nicena, não tinha zíper nem capa temática. Podre de rico, após a morte de seus pais passou grande parte de seu tempo matutando um jeito de como utilizar sua riqueza de modo a agradar a Deus.
A principal história de sua vida, que foi responsável pelo vinculação de sua imagem à de papai noel, diz respeito à desventura de um vizinho seu, nobre, mas falido, que estava em vias de prostituir as filhas (ele tinha três). Nicolau apiedou-se da situação da família e jogou um saco de moedas pela janela da casa do homem, que pôde casar sua filha mais velha (naquela época, as mulheres precisavam pagar um dote á família do noivo para poderem se casar). O mesmo sucedeu com as outras duas, sendo Nicolau denunciado apenas na terceira vez, porque jogou uma quantia de dinheiro tão grande que o barulho assustou o dono da casa, que saiu em seu encalço e beijou-lhe os pés.
Mas as façanhas de São Nicolau não param por aí. Nicolau participou do Concílio de Nicéia. Também foi vítima de Diocleciano, o “Dirty Harry dos cristãos do século IV“, que o meteu em cana por perseverar na fé (crime meio ridículo não?). É padroeiro da Rússia, da Noruega e da Grécia. Também é o santo protetor dos marujos. Ademais não bastasse o croata que mais odiava cristãos na sua época no seu pé, São Nicolau também teve os seus problemas dentro da Igreja, chegando a tacar a mão na lata de um bispo.
Mas o verdadeiro bom velhinho tinha outra preocupação. Crianças. Dedicou-se a promover o bem estar das crianças e de suas mães através da educação, tanto secular quanto espiritual. Muitos milagres são narrados em que a intercessão de São Nicolau beneficia antes de mais nada crianças.
A historiografia laica, pra variar, diz que os seus restos (tidos como milagrosos, fonte de um óleo a que se atribui propriedades curativas) foram roubados de Mira e levados a Bari. Não foi bem assim. Em 1047, quando isso ocorreu, os muçulmanos estavam barbarizando na Turquia. Os 47 soldados e 4 monges que visitavam os restos em Mira tinham a seguinte opção, ver os muçulmanos, muito educadinhos, destruírem o santuário, ou sair correndo de volta para a Itália. Logo…
Bom, São Nicolau é, ainda, padroeiro dos estudantes. Esse grande homem de Deus partiu em 06 de dezembro de 343, seus restos descansam ainda hoje na catedral de Bari.
PAPAI NOEL
Falemos agora do “bom velhinho”.
É muito comum os católicos, ao conhecer as versões européias do mesmo que a mídia nos enfia goela abaixo, abraçarem papai noel como sendo São Nicolau com outro nome. Isso é um grande erro. O papai noel moderno que vemos hoje é um amálgama de vários elementos, reais e fictícios, que povoam o imaginário ocidental desde dos tempos do paganismo, incluindo demônios e o próprio São Nicolau. Entre outros, escolhi três personagens que compõe esse amálgama: Belsnickel, Krampus e Olentzero.
Belsnickel dava varadas nas crianças más. Nesses tempos em que se proíbem até palmadas, ele iria ver a estrela de Belém nascer quadrada. |
Primeiro, vamos falar de Belsnickel ou “Nick, o Peludo” . Esse aqui não é nada simpático, mas é o arquétipo da aparência do papai noel. Trata-se da figura de um homem coxo, que se veste com uma horrenda capa de pele de urso, e sai na noite de natal distribuindo… varadas. Isso mesmo, varadas em crianças que foram mal educadas.
Nick também é chamado de o Palatinado, e faz parte do folclore dos países saxões. Ele é conhecido por sua longa e espessa barba grisalha. Só para se ter uma ideia, o santa claus dos americanos também é chamado de “old nick”. Em algumas versões, Nick é visto com um saco, onde enfia as crianças, e sua intenção não é apenas dar varadas, mas matá-las. Muuuuitooooo parecido com São Nicolau, não acham?
Já a figura do Krampus tornou-se mais presente depois da difusão do mito de São Nicolau como bem-feitor das crianças. Krampus é um demônio assustador que andaria na companhia do bom velhinho, e seria o responsável pelas punições dadas as crianças mau comportadas. Muitas morreriam apenas em olhar para ele. O que sobreviveu do Krampus na figura do papai noel de hoje seria o hábito de colocar carvão nas meias das crianças más. Essa tradição carvoeira não passou para a América Latina, mas ainda hoje é viva no mundo anglo-saxão e na Escandinávia.
Olentzero: Bom velhinho de verdade. Mas deixava carvão para as crianças más. |
Olentzero é o papai noel basco, é uma figura ligada a mitos pagãos. Basicamente, é um carvoeiro que distribui presentes na noite de Natal para as crianças que se comportaram bem durante o ano e para as más, adivinhem… carvão! Bom, no frio medonho do País Basco, um pouco de carvão nem devia ser um presente tão ruim. A tradição do Oletzero é vivíssima como elemento de identificação nacional basca e preservação da cultura eusquera.
Esses são só alguns elementos de composição da imagem do papai noel, há muitos outros mais, mas já deu pra perceber do que se trata.
Mas agora, o cerne da questão é… quem foi que juntou isso tudo?
É aí que entra a figura do cartunista alemão Thomas Nast. Esse fulano era o típico revolucionário anticatólico, do tipo que você encontra aos montes nas faculdades de história e sociologia hoje. Nast foi aluno de Kaufmann e tem até uma certa, embora remota, ligação com nossa República da Banânia; cobriu a guerra de unificação da Itália, que tinha como expoente o “herói de duas nações” Guiseppe Garibaldi, o maridão da Anita Garibaldi.
Thomas Nast: o inventor do Papai Noel. |
Foi Nast, baseado na figura do Belsnickel, com uma alteração aqui e ali, quem criou o papai noel (santa claus). Uma pantomima utilizando-se de um mito pagão, feita por um cartunista ateu para ridicularizar a Igreja. Talvez por isso o papai noel seja tão ateu quanto seu criador.
O trabalho de Nast foi concluído pela coca-cola. O papai noel definitivo foi idealizado na década de 30 para vender refrigerante no Natal, e pegou. Hoje faz parte do imaginário dos ocidentais, mesmo em países que não têm tradição de dar presentes dia 25 de dezembro, como a Espanha – onde a entrega de presentes é dia 6 de janeiro, Dia de Reis, o que acho muito mais lógico, já que o simbolismo dos presentes dados a Jesus (ouro, mirra e incenso) se confirma nessa data.
Enfim, depois de tudo isso, não podemos mais nos enganar achando que papai noel é São Nicolau. Não chega nem perto. A verdade é que o “bom velhinho” é um grande vendedor de presentes. E só. Enquanto isso, São Nicolau foi um homem que serviu a Deus até seu último minuto de vida.
Mesmo assim, não há porque demonizar a figura criada pela coca-cola, que já virou uma tradição. Mas não permita que ele se torne o centro do Natal. Esteja atento para ensinar aos seus filhos o verdadeiro sentido desta grande festa, que é o fato de que Deus tenha se encarnado. Não os deixe pensar que essa data é apenas uma oportunidade para ganhar presentes.
Abraços e Feliz Natal!
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Título original: Levando gato por lebre - São Nicolau de Mira e Papai Noel
Fonte: O Catequista
Pura baboseira.
ResponderExcluirEu gostei, muito obrigado pela excelente explicação.
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