Desde 1968, nós, católicos do mundo inteiro, dedicamos o dia 1º de
janeiro para refletirmos e rezarmos pelo dom precioso da paz.
Cada ano o
Papa envia uma mensagem, motivando os fiéis e as pessoas de boa vontade a se
unirem neste gesto. Este ano, o Papa Francisco dedica sua mensagem aos
migrantes e refugiados.
Começa
afirmando que a paz é “uma aspiração profunda de todas as pessoas e de todos os
povos, sobretudo de quantos padecem mais duramente pela sua falta”. Recorda em
seguida que os migrantes no mundo perfazem uma cifra de 250 milhões dos quais
22 milhões e meios são refugiados que para encontrar um lugar onde viver em paz
“estão prontos a arriscar a vida numa viagem que se revela, em grande parte dos
casos, longa e perigosa, a sujeitar-se a fadigas e sofrimentos, a enfrentar
arames farpados e muros erguidos”.
Todos nós
somos responsáveis por estes nossos irmãos. Afinal de contas, são pessoas muito
fragilizadas. Muitas delas, crianças, adolescentes e idosos, vítimas de doenças
e limitações físicas. Cabe, no entanto, aos governantes a maior
responsabilidade de assegurar-lhes os seus justos direitos.
Em todos os
tempos e em todos os lugares, sempre houve migrações. O povo da Bíblia está aí
para testemunhar. No entanto, em nossos dias, as migrações cresceram de forma
desproporcional. Qual será a causa ou as causas, pergunta o Papa
Como
resposta, cita o seu antecessor, o Papa São João Paulo II, para quem, as
migrações são efeito de “uma sequência infinda e horrenda de guerras,
conflitos, genocídios e limpezas étnicas”.
Além da
violência da guerra, o Papa Francisco, enumera mais duas causas: o desejo de
uma vida melhor, com oportunidade de trabalho e instrução, e a degradação
ambiental que provoca fome e miséria.
Segundo o
Papa, no processo migratório, “a maioria segue um percurso legal, mas há quem
tome outros caminhos, sobretudo por causa do desespero, quando a pátria não
lhes oferece segurança nem oportunidades, e todas as vias legais parecem
impraticáveis, bloqueadas ou demasiado lentas”. Muitos países vêem nos
migrantes uma ameaça. O Papa, no entanto, inspirado pela fé, nos convida a
“vê-los com um olhar repleto de confiança, como oportunidade para construir um
futuro de paz”. A Palavra de Deus nos ensina que todos nós pertencemos a uma só
família e que nossas cidades devem estar com as portas sempre abertas para
deixar entrar gente de todas as nações (Is 60; Apc 21). Além do mais, os
migrantes trazem consigo “uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e
aspirações (...) e deste modo enriquecem a vida das nações que os acolhem”.
Para darmos
aos migrantes e refugiados aquela paz que eles procuram, precisamos combinar
quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar.
Acolhida
supõe respeito e defesa dos direitos humanos fundamentais dos que chegam em
nossas cidades.
Proteção
requer tutela, especialmente dos mais fragilizados: crianças, idosos e
mulheres. Na condição de migrantes estas pessoas são vítimas mais fáceis dos
que vivem da exploração e da escravidão.
Promoção
refere-se “ao apoio para o desenvolvimento humano integral dos migrantes e
refugiados”. Neste aspecto o Papa chama a atenção para a importância do acesso
a todos os níveis de instrução de crianças e jovens.
Integração
“significa permitir que refugiados e migrantes participem plenamente na vida da
sociedade que os acolhe, numa dinâmica de mútuo enriquecimento e fecunda
colaboração na promoção do desenvolvimento humano integral das comunidades
locais”.
No fim de
sua mensagem o Papa faz menção de dois projetos das Nações Unidas para o ano de
2018. O primeiro quer migrações seguras, ordenadas e regulares. O segundo tem
por objeto os refugiados. A paz, na opinião do Papa, estará bem mais próxima de
nós, se estes projetos forem seguidos, em cada país, de propostas políticas
concretas e de medidas práticas.
“A Secção
Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano
Integral sugeriu 20 pontos de ação como pistas concretas para a implementação
dos supramencionados quatro verbos nas políticas públicas e também na conduta e
ação das comunidades cristãs. Estas e outras contribuições pretendem expressar
o interesse da Igreja Católica pelo processo que levará à adoção dos referidos
pactos globais das Nações Unidas”.
Na
conclusão, o Papa Francisco, retoma o pensamento do início e cita São João Paulo
II: “Se o “sonho” de um mundo em paz é partilhado por tantas pessoas, se se
valoriza o contributo dos migrantes e dos refugiados, a humanidade pode
tornar-se sempre mais família de todos e a nossa terra uma real “casa
comum”. Ao longo da história, muitos acreditaram neste «sonho» e as suas
realizações testemunham que não se trata duma utopia irrealizável”.
Dom Manoel João Franciso
Bispo da Diocese de Cornélio Procópio-PR
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