No decorrer destes 17 anos do Sal — serviço de Animação Litúrgica —, publicamos a Pedagogia Litúrgica inspirando-nos nas celebrações Dominicais de cada mês. A partir de janeiro de 2018, com este número, mudaremos o foco propondo uma Pedagogia Litúrgica de caráter mais prático, com conteúdos de Espiritualidade Litúrgica, Pastoral Litúrgica, Catequese Litúrgica e outros temas litúrgicos.
A
finalidade é fornecer temas para se pensar a atividade Litúrgica
dentro da comunidade de modo mais abrangente, não se limitando às
celebrações Dominicais. Temas que, inclusive, poderão ser
utilizados em reflexões com pessoas que atuam nos ministérios
celebrativos, em reuniões de Equipe Litúrgica e de Equipes de
Celebrações. Espero que acolham nossa proposta como uma
contribuição para avivar e tornar a Pastoral Litúrgica cada vez
mais proativa e transformadora à luz do Evangelho.
Nosso
primeiro tema trata de uma necessidade e finalidade de toda Pastoral
Litúrgica: avivar a vida espiritual dos membros da comunidade
paroquial.
Existem
momentos e dias que um padre olha para seu trabalho e é tentado a se
perguntar: que sentido tem tanto trabalho debaixo do sol? (Ecl 2,22).
É um questionamento justo porque, diferentemente do trabalho de uma
empresa, cujos resultados são visíveis, por exemplo, a maior parte
dos resultados espirituais nem sempre é visível. São resultados
que acontecem nos corações e nas mentes das pessoas. E isso pode
desanimar tanto o padre como os agentes de pastorais e nós que
atuamos na Pastoral Litúrgica (PL).
A
primeira regra para quem atua na PL é não esperar elogio.
Dependendo da comunidade, as críticas sempre superam os elogios;
isso cansa e desanima. Não esperar elogio porque sempre haverá
aquele ou aquela que colocará um defeito. São os críticos de
plantão, que tampouco colocam a mão na massa. Vivem na zona de
conforto das críticas. O que fazer, então?
Fazer
o simples, o ordinário; adotar o movimento da semente, que vai
produzindo vida escondendo-se no fundo da terra. Quem cultiva a
espiritualidade da simplicidade é um bom candidato para trabalhar na
PL. Quem entra na PL para aparecer, cedo ou tarde deixará o
ministério por não ter sido reconhecido com “seus talentos, com
seu esforço e bla bla bla”. Muitos agentes da PL são
injustiçados; tenho certeza disso. Por isso, com maior razão, a
necessidade do cultivo da espiritualidade da simplicidade,
inspirando-se no ensinamento de Jesus: “fizemos o que precisava ser
feito; somos servos inúteis” (Lc 17,10) Inúteis não no sentido
de imprestáveis, mas no sentido que “útil”, no trabalho da PL,
é a atividade realizada pelo Espírito Santo. Dito em duas palavras:
a PL não é palco para aparecer na comunidade, é um serviço para
favorecer a ação do Espírito Santo na comunidade.
Um
primeiro passo, portanto, consiste em descobrir o valor da
simplicidade e até mesmo da pobreza naquilo que é essencial para a
PL. O essencial não é criar Missas animadíssimas, com cantos e
gestos, com palavras de ordem e coisas do gênero. O essencial não é
entupir a celebração de símbolos e sinais, de cantos e de
coreografias. Isso pode existir, mas quando perde a simplicidade,
então deixa de ser essencial. Inspiro-me no que diz a SC 34 ao
caracterizar o ato celebrativo pela brevidade, simplicidade, clareza
e solenidade.
A
PL torna-se eficaz à medida que exerce um trabalho simples e
persistente, não superior aos seus limites e às suas próprias
forças (SL 131,1). A PL é uma das principais responsáveis pela
vida espiritual da paróquia e de cada comunidade. Não tenho receio
em afirmar que a espiritualidade paroquial não se inspira em algum
movimento ou em alguma congregação ou ordem religiosa, mas na
espiritualidade litúrgica. E, como reconhece aqueles padres e leigos
que se dedicam ao trabalho espiritual, a espiritualidade é semeada
com o mesmo critério da parábola do semeador (Mt 13,1-9). O
processo de semear sempre, de não voltar para colher, porque a
colheita não pertence a Paulo ou a Apolo; é o Espírito Santo que
faz produzir os frutos e é Deus quem colhe (1Cor 3,6). Na PL nós
trabalhamos com a pequena semente do Reino (Mc 4,26). Jesus fala de
uma semente de mostarda, a menor de todas as sementes (Mt 13,32), e
não da semente do coco-do-mar, a maior semente do mundo, que pesa 22
quilos. É até bom que não seja essa semente; seria extenuante
semeá-la todos os dias? Nosso trabalho de favorecer a
espiritualidade paroquial consiste em semear a menor de todas as
sementes em cada celebração.
O
que caracteriza a PL na paróquia é a criatividade para cultivar as
pequenas e ordinárias sementes de vida que aparece no cotidiano de
cada paroquiano. Isso acontece dentro da celebração. Se as
celebrações forem dispersivas, a semente será levada pelo vento da
distração, das cantorias que embalam e de longas e cansativas
pregações. Ou, poderá cair em terreno arenoso: cresce um pouco,
mas sem consistência. Por isso, o grande, o maior desafio da PL,
consiste em ser criativa para ajudar cada celebrante a viver o
Evangelho na simplicidade do dia-dia e, para isso, serve celebrar a
Liturgia em toda sua simplicidade orante, meditativa, cantante,
adorante.
Serginho
Valle
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