Um dos maiores desafios para o Cristianismo no
mundo de hoje é a presença efetiva dos cristãos na sociedade, assumindo com
responsabilidade a vida política, econômica e cultural. Os cristãos, em virtude
da fé professada e celebrada, não podem assistir com indiferença ou passividade
ao desenrolar da história, como simples espectadores ou vítimas. São chamados a
serem sujeitos da história, contribuindo para a construção de uma sociedade
fundada na fraternidade, na justiça e na paz. À luz da fé cristã, a pessoa
humana não pode ser compreendida como vítima de um destino cego que se abate
sobre ela de modo inexorável. Ao invés da visão fatalista, o homem e a mulher
são chamados a construir a própria vida e a vida social com consciência,
liberdade e profundo senso de responsabilidade.
“Sal
da terra” e “Luz do mundo” são expressões empregadas por Jesus, que expressam,
com forte simbolismo, o ser e o agir dos seus seguidores no mundo. Não se pode
relegar a fé à esfera privada ou ao interior dos templos. Tal postura
equivocada ignora que a pessoa humana não pode ser concebida como indivíduo
fechado sobre si, sobre sua liberdade e interesse próprio, mas como pessoa
aberta ao “Outro”, que é Deus, e aberta ao “outro”, que é o próximo. A abertura
ao outro faz parte da natureza do ser humano, o que inclui a sua dimensão social.
A fé repercute não apenas nos círculos mais próximos, de cunho familiar ou
comunitário, mas se expressa também nos diversos ambientes e situações da
sociedade.
Contudo, é preciso aprofundar criticamentea a
presença cristã na política e em outros âmbitos da vida social, pois ela não
pode ser vista apenas pela ótica quantitativa. O desafio está em atuar na
política de modo coerente com o Evangelho, respeitando-se a justa autonomia das
instituições religiosas e políticas. Ao invés do proselitismo religioso, do
corporativismo e da pretensão de dominação, devem nortear o agir político dos
cristãos o respeito, o diálogo e a busca do bem comum, com especial atenção aos
que mais sofrem com os problemas sociais. A afirmação da ética na política é
tarefa permanente que desafia a todos, políticos e eleitores.
Apesar da influência condicionante dos
diversos fatores na política, é possível contribuir para a construção de novas
relações sociais mais justas e fraternas. A participação na política através
dos partidos, é muito importante, mas o exercício consciente da cidadania não
se restringe à via partidária e ao voto. A atuação da sociedade civil
organizada tem-se revelado sempre mais relevante, exigindo maior interesse e
participação. É longo o caminho a percorrer, com passos constantes de respeito
e diálogo. O caminho da agressividade e da intolerância, nas ruas ou nas redes
sociais, representa a negação da política e da própria fé cristã.
Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador
_________________________
CNBB
Nenhum comentário:
Postar um comentário