Em breve, teremos eleições municipais em todo
o Brasil para a renovação do Legislativo e do Executivo nos municípios, que são
a base da organização política do Estado brasileiro. Essas eleições se referem
às administrações locais, nas quais o povo percebe melhor e tem mais condições
de avaliar o desempenho dos seus governantes e legisladores. Elas são
especialmente importantes porque definem as bases de apoio para as instâncias
estaduais e federais da vida política.
O voto dos eleitores está domiciliado nos
municípios. Neste ano, a campanha eleitoral será bastante diferente das
anteriores por causa das alterações na legislação eleitoral e da pandemia de
COVID-19, que ainda afeta o Brasil. Será, sobretudo, mais breve, menos visível
em eventos notórios publicamente e realizada muito mais pelas mídias sociais e
meios eletrônicos. O efeito disso no comportamento dos candidatos e dos
eleitores ainda é uma incógnita e poderá ser avaliado somente depois que saírem
os resultados das eleições. Tudo isso, porém, não diminui a importância dessas
eleições e a necessidade de que todos os cidadãos desempenhem bem, por meio da
participação ativa no processo político-eleitoral, seu direito e dever de
cidadania. E vale também para os cidadãos católicos, que não devem ficar
alheios à vida política, mas participar da promoção do bem comum.
O Papa Francisco, em certa ocasião, observou
que é falso dizer que um bom católico não se interessa pela política. E
confirmou: um bom católico deve estar interessado na política e oferecer o
melhor de si para que o governante governe bem. Como foi feito em outras
ocasiões, também neste ano eleitoral os bispos católicos estão promovendo a
orientação política para as suas comunidades. Desde logo, fique claro que não
se trata de apoio a partidos ou de recomendação do voto para determinados
candidatos: a lei eleitoral brasileira e a própria lei da Igreja vetam esse
tipo de atitude dos líderes da Igreja. Trata-se de orientações básicas sobre a
organização política do Brasil, os ensinamentos da Doutrina Social da Igreja a
respeito da participação na vida política, os direitos e deveres de cidadãos e
governantes e esclarecimentos sobre questões relativas às eleições municipais
deste ano. Nas cartilhas disponibilizadas, também se indicam as qualidades de
um bom político e o que se espera dele no cargo que pretende ocupar. A Igreja
no Brasil, por meio dos bispos reunidos em sua conferência episcopal (CNBB), já
promoveu muitas iniciativas esclarecedoras e educativas acerca da participação
na vida política. Diversas vezes, a Campanha da Fraternidade abordou tanto
temas relativos à vida política no Brasil e à promoção do bem comum quanto a
justiça social, a solidariedade e a paz.
A Igreja Católica participou ativamente da
promoção de leis de iniciativa popular para moralizar a política, como as leis
das eleições limpas e da “ficha limpa”. Em inúmeras ocasiões, a CNBB, em nome
do episcopado católico, pronunciou-se e tomou posição em relação a questões da
vida política, econômica e social do País. Essas manifestações nem sempre são
bem compreendidas e acolhidas, sobretudo por quem pensa que a Igreja e seus
representantes devem se ocupar apenas da “vida espiritual” das pessoas. Quando
a Igreja Católica se manifesta por meio do Papa e dos bispos sobre questões da
vida pública, ela o faz motivada pelo seu dever de servir a comunidade humana e
de participar na edificação do bem comum. Suas motivações não são a conquista
do poder político, que não lhe compete, e sim suas convicções, baseadas no
Evangelho de Cristo e nos princípios morais decorrentes de sua fé. Como
instituição presente na sociedade, com reconhecimento público, ela tem o
direito e o dever de participar da edificação da sociedade. Em particular, cada
católico, como cidadão, tem esse direito e dever, que não lhe pode ser negado
pelo fato de praticar e seguir uma fé religiosa. Ele deve ser um sujeito
político consciente e interessado na promoção do bem da cidade, escolhendo
candidatos idôneos e competentes para o exercício dos diversos cargos
políticos. E a cartilha colocada à disposição do povo pelas organizações da
Igreja Católica em São Paulo quer ser uma contribuição para que a participação
no processo político e eleitoral deste ano aconteça de maneira consciente e
responsável.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo metropolitano de São Paulo
_________________________
O São Paulo
Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário