O Papa apelou na sexta-feira (25), desde o Vaticano, ao
desarmamento nuclear e alertou para “erosão do multilateralismo”, numa
intervenção em vídeo para a 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a decorrer
em Nova Iorque.
“Temos de perguntar-nos se as principais
ameaças à paz e à segurança, como a pobreza, epidemias e terrorismo, entre
outras, podem ser efetivamente enfrentadas quando a corrida armamentista,
incluindo às armas nucleares, continua a desperdiçar recursos preciosos”,
referiu Francisco, numa intervenção em espanhol.
Os trabalhos da 75.ª sessão da Assembleia
Geral da ONU, órgão constituído por representantes dos 193 Estados-membros da
organização, começaram na última semana; o debate geral teve início na
terça-feira.
O Papa lamentou o “clima de desconfiança
existente” no cenário global, convidando os responsáveis políticos a “apoiar os
principais instrumentos jurídicos internacionais de desarmamento, não
proliferação e proibição nuclear”.
“Estamos a testemunhar uma erosão do
multilateralismo que é ainda mais grave à luz das novas formas de tecnologia
militar”, advertiu Francisco, com referência específica aos sistemas de armas
autónomas letais, “alterando irreversivelmente a natureza da guerra,
separando-a ainda mais da ação humana”.
O uso de armas explosivas, especialmente em
áreas povoadas, tem um impacto humano dramático, a longo prazo. Nesse sentido,
as armas convencionais estão a tornar-se cada vez menos ‘convencionais’ e cada
vez mais ‘armas de destruição em massa’, arrasando cidades, escolas, hospitais,
locais religiosos, infraestrutura e serviços básicos para a população”.
Nos 75 anos da Organização das Nações Unidas,
o Papa destacou a importância de trabalhar pela paz, “o que exige que os
membros do Conselho de Segurança, especialmente os permanentes, atuem com maior
unidade e determinação”.
“Também reitero a importância de reduzir as
sanções internacionais que dificultam aos Estados o apoio adequado às suas
populações”, acrescentou.
A intervenção deixou várias denúncias a
violações de “direitos fundamentais”, recordando as perseguições religiosas,
“incluindo genocídio”.
“Devemos também admitir que as crises humanas
se tornaram o status quo, onde os direitos à vida, à liberdade e à segurança
pessoal não são garantidos”, disse.
Francisco falou dos cristãos que sofrem no
mundo, “obrigados a fugir das suas terras ancestrais, isolados da sua rica
história e cultura.
O Papa falou dos impactos da pandemia,
destacando que ninguém “sai igual” de uma crise como esta.
“A pandemia mostrou-nos que não podemos viver
sem os outros, ou pior, uns contra os outros. As Nações Unidas foram criadas
para unir as nações, para aproximá-las, como uma ponte entre os povos: vamos
usá-la para transformar o desafio que enfrentamos numa oportunidade de
construirmos juntos, mais uma vez, o futuro que desejamos”, concluiu.
Esta foi a segunda vez que o Papa se dirigiu à
Assembleia Geral da ONU, depois de ter estado em Nova Iorque, a 25 de setembro
de 2015.
Antes de Francisco, estiveram na sede das
Nações Unidas Paulo VI (1964), João Paulo II (1979 e 1995) e Bento XVI (2008).
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Agência Ecclesia
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