sábado, 12 de setembro de 2020

Ofertas recolhidas em todo o mundo em 13 de setembro constituem a “Coleta Pró Terra Santa”



As ofertas recolhidas em todo o mundo em 13 de setembro constituem a “Coleta Pró Terra Santa”, uma ajuda que há séculos se destina aos cristãos do Oriente Médio. Para esta ocasião, acompanhados pelo Custódio da Terra Santa, Fr. Francesco Patton, o Vatican News preparou um especial dedicado à história e às atividades da Custódia, que há mais de 800 anos se compromete a sustentar a presença cristã na terra de Jesus.

“Preservar a história, guardar a história significa guardar a memória. O nosso é um tempo que vive muito no presente e, portanto, mesmo as pessoas, as escolhas que as pessoas fazem, ou mesmo as comunidades, os povos e nações, hoje tendem a esquecer a própria história, a perder as próprias raízes. A memória, a história, as raízes são fundamentais”, afirma Fr. Francesco Patton, Custódia da Terra Santa.

História, raízes, memória: as da Custódia da Terra Santa remontam há mais de 800 anos. Quando São Francisco de Assis enviou seus frades para estabelecer a “Província de Além Mar”. Pouco depois, eles mesmos receberiam um mandato claro: guardar – em nome da Igreja Católica – os Lugares Santos, testemunhas da vida, morte e Ressurreição de Jesus.

“Nós temos em nossos arquivos documentos muito preciosos: as bulas papais – incluindo a bula de 1342 com a qual o Papa Clemente VI, de Avinhão, na prática, estabelece a Custódia da Terra Santa -, mas também as bulas anteriores. Para nós têm um duplo valor: por um lado, remetem à nossa história, por outro, têm um valor muito concreto porque nos permitem documentar a nossa presença… também quando, às vezes, acontecem algumas disputas, que requerem a apresentação dos documentos que demonstram porque estamos aqui.

Um dos momentos chave desta longa história é representado pelo encontro de 1219 entre São Francisco e o Sultão do Egito Al Malek Al Kamel em Damietta, no Delta do Nilo. Enquanto a Quinta Cruzada se alastrava por todos os lados, esse diálogo pacífico entre dois mundos moldou profundamente o estilo dos frades da Custódia”, afirma Fr. Francesco Patton, Custódio da Terra Santa.

Ainda segundo o Custódio da Terra Santa, as indicações que Francisco dá são sucessivas ao encontro com Sultão, sobretudo, a primeira parte em que diz “não fazer litígios ou disputas” e de colocar-se à serviço de todos com uma clara identidade cristã, parece-me ser uma indicação que, para nós, ao longo destes oito séculos, realmente serviu como uma diretriz. 

As novas gerações

A educação e o crescimento das novas gerações são alguns dos campos aos quais a Custódia da Terra Santa dedica maior atenção. Uma atividade diária que se concretiza nas 15 escolas que dirige em 5 países, frequentadas por 11.000 alunos e 1.100 professores.

As escolas são instrumentos fundamentais para garantir à população local a possibilidade de acesso à formação cristã – de outra forma impossível de se encontrar nesta terra – mas ao mesmo tempo são lugares nos quais se vive o encontro com os alunos e professores de outras religiões e confissões cristãs.

“Em muitas de nossas escolas há um forte componente muçulmano, ainda assim é possível compartilhar, viver juntos. Com os cristãos de outras confissões fazemos juntos a hora da religião: e é uma hora da religião cristã, de uma perspectiva ecumênica, onde se busca também conhecer algumas diferenças e particularidades que uma Igreja tem em relação à outra”, afirma Fr. Francesco Patton, Custódio da Terra Santa.

“Há uma bela convivência e um belo diálogo ecumênico em nossas escolas. Vivemos essa convivência praticamente todos os dias”, disse o Fr.Ibrahim Faltas, Diretor das Escolas Terra Santa.  Um cuidado amoroso, dos franciscanos, que não negligenciam nem mesmo os alunos com necessidades especiais: eles são acolhidos nas escolas para que possam superar as suas dificuldades e dar um sorriso aos seus rostos.

A pandemia do Coronavírus não conseguiu impedir a atividade educacional franciscana. Por meio da educação a distância, os professores conseguiram transpor as barreiras do medo e por meio de sua competência continuaram dando aulas aos alunos, obtendo resultados realmente satisfatórios.

As Escolas Terra Santa cobrem todos os níveis escolares, do jardim de infância ao ensino superior. A maior parte dos estudantes continua então a própria carreira escolar na universidade. “Frequentemente temos alunos que entram com três anos de idade e seguem até concluir os estudos universitários. Também oferecemos muitas bolsas”, disse o Diretor das Escolas Terra Santa.

“Eu terminei a universidade ano passado … ali mesmo, no Monte das Oliveiras”, afirma George Hleis. O objetivo é claro: permitir que os cristãos locais estudem em sua própria terra, para evitar que decidam se mudar para o exterior para se formar e, depois, talvez, para viver.

Todos os anos, um total de 500 bolsas são concedidas, mantidas por dois programas diferentes que cobrem a totalidade ou parte das despesas escolares. O público-alvo são os alunos com baixo nível de renda familiar que mantêm uma média de notas elevada.

Segundo Fr. Peter Vasko, Custódio Terra Santa, da Fundação Franciscana para a Terra Santa, 95% desses estudantes agora trabalham nos setores jurídico, médico, contábil e de engenharia. “E quando vemos os jovens se profissionalizando e sendo verdadeiramente gratos à Custódia Franciscana, nosso coração se enche de alegria”, disse.

“Há muitos jovens que não gostam da situação atual, gostariam de ir para o exterior em busca de melhores oportunidades. Também pensei nisso, mas amo estar na terra onde Jesus viveu”, disse Hleis.

Para Fr. Peter Vasko, da Fundação Franciscana para a Terra Santa, é extremamente importante perceber que, se queremos que os cristãos fiquem aqui, devemos dar-lhes uma motivação, incentivos: essa motivação e esses incentivos surgem da possibilidade de acesso ao ensino universitário.

Entre as escolas há uma, a escola de música “Magnificat”, que tem a particularidade de ver juntos judeus, cristãos e muçulmanos. E isso ajuda a compreender ainda mais o valor que têm não apenas as escolas, mas também as artes, porque através da música se cria o diálogo, através da música e através daquele que o Papa João Paulo II chamou de “o caminho da beleza”, “o caminho da ‘arte’, se chega ao compartilhamento de valores e também ao fazer juntos, algo de muito belo, disse Francesco Patton, Custódio da Terra Santa.

Ainda conforme o Fr. Alberto Pari, diretor da escola de música “Magnificat”, é um grande projeto da Custódia da Terra Santa, e é uma escola aberta a todos: a maioria dos alunos é cristã, mas também há muçulmanos e judeus. “Temos a grande esperança de formar uma geração de músicos sem fronteiras”, disse.

Uma casa para os mais necessitados

As pedras e as pessoas, o azeite e a casa … e a gratidão em virtude da missão dos Frades franciscanos. Se em meados do século passado a Custódia da Terra Santa oferecia “pão e azeite” como ajuda quotidiana nas suas paróquias, hoje, por conta das diferentes necessidades da população, fornecer alojamento ou uma habitação para uma vida digna tornou-se um meio de manter viva a presença cristã na Terra Santa.

“Esta casa é toda a minha vida. Esta casa é um lugar especial para mim e não poderia nunca deixá-la. Meu filho Musa tentou várias vezes me persuadir a ir morar fora do país, mas sempre respondi com recusa absoluta”, afirma Graziella Qamar, moradora da cidade antiga de Jerusalém.

A Custódia da Terra Santa oferece mais de 582 casas em Jerusalém – distribuídas dentro e ao redor da cidade antiga – Também 72 casas em Belém, abrigando cerca de 2.050 pessoas.

Até o momento são mais de 700 os pedidos de moradia, dos quais pelo menos 250 são urgentes.

Os frades franciscanos na Terra Santa não se limitam apenas a guardar e conservar as Pedras desses lugares, mas também cuidam das pedras vivas, isto é, dos cristãos locais e especialmente daqueles que se encontram em condições difíceis. Um exemplo desse compromisso é representado pela Casa da Criança de Belém, fundada em 2007, que hoje acolhe mais de 24 crianças e adolescentes que se encontram em condições particulares de vulnerabilidade social.

“Meu pai está doente, tem muitos problemas de saúde e não trabalha. Graças a Deus minha mãe encontrou um emprego recentemente. Nossa casa é muito pequena e todos juntos não cabemos nela, mas graças a Deus comemos, bebemos e estamos vivos”, afirma Joseph Sayeh, de Belém.

Os frades franciscanos vivem e trabalham em alguns dos contextos de crise mais difíceis do mundo, como a Síria. “A Custódia da Terra Santa também está presente aqui, onde é ainda mais forte o empenho para estar junto da população – em particular a cristã – atingida pela guerra e por uma grave crise econômica, pelas perseguições e pelas dificuldades de ser minoria, que levam centenas de milhares de pessoas a fugir”, afirma Joseph.

“É preciso também levar em conta o dar a vida: os frades ao longo da história o fizeram de muitas maneiras, o fizeram enquanto permaneciam em momentos difíceis de perseguição, em momentos de pandemia como os da peste e da cólera . Hoje nos encontramos em outro momento difícil, porque justamente para quem está na Síria o problema da guerra e da crise econômica também se soma o problema da pandemia”, afirma Fr. Francesco Patton, Custódio da Terra Santa.

A falta de um bem essencial, como uma casa para morar, afetou nas últimas semanas a capital libanesa, Beirute, onde a terrível explosão de agosto que destruiu a área ao redor do porto gerou 300.000 desalojados. A Custódia, presente no Líbano com quatro conventos, está fazendo todo o possível para dar sua própria contribuição ativa à reconstrução.

Na Síria, desde 2017, a Custódia ajuda a população local a reconstruir ou reformar as casas atingidas pela longa guerra iniciada em 2011. O faz em pequenas cidades por meio dos párocos, e em particular em Aleppo em colaboração com a Associação Pró Terra Sancta. Já são 700 as casas reconstruídas.

“Após a explosão, todo o prédio desabou, não sobrou nada. Felizmente, naquele momento, não estávamos por perto. Não conseguimos tirar nada da nossa casa. Fugimos e alugamos outro apartamento”. “Estávamos em casa quando a parede caiu. Era uma hora da tarde… uma sexta-feira … de 2013. Logo após o desabamento fugimos. Agora estamos felizes, muito felizes”, salienta a moradora.

Santuários e Peregrinos

Mas a primeira e fundamental missão dos franciscanos permanece sempre a mesma: guardar os Lugares Santos. São 80 os santuários presentes nas atuais fronteiras de Israel, Palestina, Jordânia e Síria. “Nós devemos sempre lembrar aquele que é o mandato do Papa Clemente VI de 1342, que nos pede para estar nos santuários, para habitar nos santuários”, afirma Fracesco, Custódio da Terra Santa.

“A esperança sempre nos acompanhou, apesar de a porta estar fechada, a esperança de abri-la, de acolher de novo os cristãos, de mostrar os lugares santos, de os levar nós mesmos ao interior. Esta esperança permanece entre nós, entre nós frades, entre os cristãos. Devemos ser cautelosos, é claro, o Senhor muito nos recomenda. A esperança terá que ser enriquecida com o tempo”, disse o Fr. Salvador Rosas Flores, presidente do Convento Santo Sepulcro.

A pagar pelas consequências da pandemia está também a rede das “Casas Novas”, que são geridas pela Custódia  criadas precisamente para acolher um número de peregrinos que continuaram a crescer nas últimas décadas.

Segundo o Fr. Ibrahim Faltas, Diretor Casa Nova, de Jerusalém, a Casa Nova é o lugar preferido de todos os peregrinos que vêm visitar a Terra Santa, os Lugares Sagrados. “Temos Casas em Jerusalém, Belém, Nazaré, Tiberíades, Tabor e Ein Karem, todas essas Casas Novas para os peregrinos que vêm aqui”, afirma. Além disso, ele garante que há uma boa estrutura de recepção, quartos com banheiros, restaurantes. “As instalações da Casa Nova de Nazaré e as demais, sempre ofereceram serviços de boa qualidade aos peregrinos. Após 11 de março, devido à pandemia se esvaziaram completamente”, disse.

“Isso significa que não houve receita financeira para a Casa Nova. Não haviam obras para a Custódia, nem para sustentar os Santuários, mas sobretudo não haviam mais rendimentos para os trabalhadores da Casa Nova”, afirma Fr. Carlos Molina, Diretor Casa Nova, de Nazaré.

Já a gerente de reservas Casa Nova, em Belém, Eliana Ghawali, reitera que este ano deveriam ter vindo muitas pessoas. “Tínhamos reservas feitas para todos os meses! Infelizmente em março tivemos que fechar por causa do coronavírus, e até agora a casa está fechada, não trabalhamos mais”, salientou.

“É claro que a estrutura não pode ser abandonada: deve ser mantida, deve ser limpa todos os dias, a manutenção de rotina deve sempre ser feita no interior”, disse o Fr. Severino Lubecki, Diretor Casa Nova – Ein Kerem.

“Somos uma ordem mendicante, como franciscanos, assim São Francisco nos ensinou que devemos pedir com confiança e acolher com gratidão. Daquilo que recebemos, também prestamos conta. Porque todos os anos no site da Custódia, no site dos Comissários da Terra Santa, no site da Congregação para as Igrejas Orientais, é publicada a lista das obras que fazemos em grande parte graças à Coleta da Sexta-Feira Santa, ou Coleta Pró Terra Santa, que este ano se realiza no dia 13 de setembro. Por isso, todos os anos pedimos a ajuda, o apoio também econômico de todos os cristãos do mundo, e depois agradecemos o que os cristãos de todo o mundo nos dão como expressão da sua proximidade, da sua solidariedade e do seu amor”, finalizou  Francesco Patton, Custódio da Terra Santa.
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CNBB
Com informações do Vatican News e Christian Media Center

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