Vivemos tempos em que a doença chamada estresse
toma conta da vida de qualquer um. Ninguém esta isento de preocupações, de
problemas a serem resolvidos ontem, de querer superar todos os limites humanos.
A síndrome do medo, do tempo acelerado, já não há
nervos que aguentam. Nossos olhos presenciam imagens de guerra, terror, morte,
de mães que não aguentam mais os filhos, sufocam, põe num saco de lixo joga no
rio; pessoas que já não aguentam o ronco do marido ou da mulher; não suportam o
barulho do vizinho no andar de cima; presenciamos brigas e mortes no trânsito
por motivos fúteis...
Enfim, nossos ouvidos são agredidos por barulhos
insuportáveis, causando doenças incuráveis. Algo está errado!
O ser humano deste milênio esqueceu-se da força
tranquilizante e renovadora da vida: o silêncio. Ter tempo para “entrar na
própria casa”, a casa interior, ter o silêncio como amigo e fazer o diagnóstico
da situação, recobrando o equilíbrio emocional, respirando a tranquilidade de
quem é limitado, humano, sensível, digno de vida digna.
Ninguém merece viver sem se encontrar consigo
mesmo, com suas energias e fraquezas. A consciência dos limites me remete a
estar diante do fazer só o possível, dentro do possível. O calar o barulho que
vem de todos os lados, me faz ver o mundo com olhos novos, vivendo o momento
presente como o único possível, recomeçando sempre.
Vivemos tempos em que precisamos aprender a falar
menos, e escutar mais, principalmente o que nosso coração quer dizer e que,
muitas vezes, nossa consciência e nossos ouvidos não querem ouvir.
O silêncio fala a verdade que está sufocada. Ouvir
significa assumir de frente sem fuga ou desculpas. Isso dói, machuca, sangra.
Melhor é refugiar-se no barulho do ativismo sem tréguas.
Um grande sábio contemplativo diz: “Se a palavra
que você está para pronunciar não é mais bela do que o silêncio, não diga”.
O salmo 138 nos adverte de que ainda a palavra não
chegou à nossa garganta e o Senhor já conhece toda. Não só Deus conhece nossa
palavra antes de ser pronunciada, mas também devemos reconhecer as palavras que
vamos dizer e os efeitos que vão produzir naqueles que vão ouvir.
“Levantou-se uma grande tempestade que lançava as
ondas dentro barco, de sorte que ele já se enchia. Jesus estava na popa,
deitado num travesseiro. Eles acordaram Jesus e disseram: ‘Mestre não te
importa que vamos morrer’! E Jesus disse: ‘Silêncio! Calma!’ E se fez uma
grande calmaria”(Mc 4, 37,38).
No barco da vida as ondas podem encher o barco e naufragar.
Diante das ondas barulhentas da tecnologia, fantástica e atraente; diante da
propaganda ensurdecedora, oferecendo felicidade no uso de grifes; diante das
festas sem hora de começar e terminar; diante do desequilibro afetivo, no uso e
abuso do prazer pelo prazer; diante de tantos outros barulhos, é preciso
gritar: “Mestre não te importa que vamos morrer! ”
Sim é preciso gritar por socorro, mas, o mais
importante é você mesmo gritar dentro de você: “Silêncio, Calma!” Repita esse
grito todos os dias, em silêncio, várias vezes, dentro do teu coração, antes de
começar as tuas atividades, e verás com tudo será melhor. Uma abençoada semana
pra você e os seus familiares.
Dom Anuar
Battisti
Arcebispo de
Maringá (PR)
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