quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A Igreja não é uma realidade estática, com fim em si mesma, mas está continuamente rumo ao Reino dos céus, diz o Papa.


CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Queridos irmãos e irmãs, bom dia,

Um pouco bruto o dia, mas vocês são corajosos, parabéns! Esperamos rezar juntos hoje.

Ao apresentar a Igreja aos homens do nosso tempo, o Concílio Vaticano II tinha bem presente uma verdade fundamental, que não se pode nunca esquecer: a Igreja não é uma realidade estática, parada, com fim em si mesma, mas está continuamente em caminho na história, rumo à meta última e maravilhosa que é o Reino dos céus, do qual a Igreja na terra é a semente e o início (cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dog. sobre a Igreja Lumen gentium, 5). Quando nos dirigimos para este horizonte, percebemos que a nossa imaginação bloqueia, revelando-se capaz apenas de intuir o esplendor do mistério que supera os nossos sentidos. E surgem espontaneamente em nós algumas perguntas: quando acontecerá esta passagem final? Como será a nova dimensão na qual a Igreja entrará? O que será, então, da humanidade? E da criação que nos circunda? Mas estas perguntas não são novas, os discípulos já as haviam feito a Jesus naquele tempo: “Mas quando isso acontecerá? Quando será o triunfo do Espírito sobre a criação, sobre o criado, sobre tudo…” São perguntas.  humanas, perguntas antigas. Também nós fazemos estas perguntas.

1. A Constituição conciliar gaugium et spes, diante dessas interrogações que ressoam desde sempre no coração do homem, afirma: “Ignoramos o tempo em que terão fim a terra e a humanidade, e não sabemos o modo em que será transformado o universo. Passa certamente o aspecto desse mundo, deformado pelo pecado. Sabemos, porém, pela Revelação, que Deus prepara uma nova habitação e uma terra nova, em que habita a justiça e cuja felicidade saciará abundantemente todos os desejos de paz que surgem no coração dos homens” (n. 39). Eis a meta à qual tende a Igreja: é, como diz a Bíblia, a “Nova Jerusalém”, o “Paraíso”. Mais que um lugar, trata-se de um “estado” da alma em que as nossas expectativas mais profundas serão realizadas de modo superabundante e o nosso ser, como criaturas e como filhos de Deus, chegará à plena maturidade. Seremos finalmente revestidos pela alegria, pela paz e pelo amor de Deus de modo completo, sem mais limite algum, e estaremos face a face com Ele! (cfr 1 Cor 13, 12). É belo pensar nisto, pensar no Céu. Todos nós nos encontraremos lá, todos. É belo, dá força à alma.

2. Nesta perspectiva, é belo perceber como há uma continuidade e uma comunhão de fundo entre a Igreja que está no Céu e aquela ainda em caminho na terra. Aqueles que já vivem na presença de Deus podem, de fato, nos apoiar e interceder por nós, rezar por nós. Por outro lado, também nós somos sempre convidados a oferecer obras boas, orações e a própria Eucaristia para aliviar a tribulação das almas que ainda estão à espera da beatitude sem fim. Sim, porque na perspectiva cristã, a distinção não é entre quem já está morto e quem ainda não está, mas entre quem está em Cristo e quem não o está! Este é o elemento determinante, realmente decisivo para a nossa salvação e para a nossa felicidade. 

3. Ao mesmo tempo, a Sagrada Escritura nos ensina que a realização deste desígnio maravilhoso não pode não interessar também a tudo aquilo que nos circunda e que saiu do pensamento e do coração de Deus. O apóstolo Paulo o afirma de modo explícito, quando diz que “também a mesma criação será libertada da escravidão da corrupção, para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8, 21). Outros textos utilizam a imagem do “céu novo” e da “terra nova” (cfr 2 Pe 3, 13; Ap 21, 1), no sentido de que todo o universo será renovado e será libertado uma vez para sempre de todo traço do mal e da própria morte. Aquela que se prospecta, como cumprimento de uma transformação que na realidade já está em ação a partir da morte e ressurreição de Cristo, é então uma nova criação; não, portanto, o aniquilamento do cosmo e de tudo aquilo que nos circunda, mas um levar cada coisa à sua plenitude de ser, de verdade, de beleza. Este é o desígnio que Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, desde sempre quer realizar e está realizando.

Queridos amigos, quando pensamos nestas realidades maravilhosas que nos esperam, percebemos o quanto pertencer à Igreja é realmente um dom maravilhoso, que traz inscrita uma vocação altíssima! Peçamos, então, à Virgem Maria, Mãe da Igreja, para vigiar sempre sobre o nosso caminho e nos ajudar a ser, como ela, sinal alegre de confiança e de esperança em meio aos nossos irmãos.

Boletim da Santa Sé

Tradução: Jéssica Marçal

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