A celebração da Solenidade de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Rei do Universo, fecha o Ano Litúrgico. Neste período, meditamos,
sobretudo, no mistério de Sua vida, Sua pregação e o anúncio do Reino de Deus.
Esta festa celebra Cristo como o rei bondoso e singelo que, como pastor, guia a
sua Igreja peregrina para o Reino Celestial e lhe outorga a comunhão com este
Reino para que possa transformar o mundo no qual peregrina. Neste final de
semana, comemoramos ainda o Dia Nacional do Cristão Leigo e Leiga. Abriremos
também a Campanha para a Evangelização: Cristo é a nossa Paz! Em nossa
Arquidiocese iremos celebrar a Segunda Festa da Unidade Arquidiocesana, por
isso estamos esperando as forças vivas da nossa Igreja na Catedral para o Dia
da Unidade, entre 13hs e 19hs, com a celebração da Santa Eucaristia. Na semana
que se iniciará também iremos comemorar o Dia Nacional de Ação de Graças. Em
todas as nossas atividades deve reinar o Senhor Jesus Cristo!
Cristo Rei anuncia a Verdade e essa Verdade é a luz
que ilumina o caminho amoroso que Ele traçou com sua Via Crucis para o Reino de
Deus. "Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isso vim ao mundo:
para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta minha voz." (Jo
18, 37). Jesus nos revela sua missão reconciliadora de anunciar a verdade ante
o engano do pecado. Assim como o demônio tentou Eva com enganos e mentiras,
agora Deus mesmo se faz homem e devolve à humanidade a possibilidade de
retornar ao Reino, quando qual Cordeiro se sacrifica amorosamente na cruz.
Durante o anúncio do Reino, Jesus nos mostra o que
este significa para nós como Salvação, Revelação e Reconciliação ante a mentira
mortal do pecado que existe no mundo. Jesus responde a Pilatos quando este lhe
pergunta se na verdade Ele é o Rei dos judeus: "Meu Reino não é deste
mundo. Se meu Reino fosse deste mundo, meus súditos teriam combatido para que
eu não fosse entregue aos judeus. Mas meu Reino não é daqui" (Jo 18,36).
Jesus não é o Rei de um mundo de medo, mentira e pecado, Ele é o Rei do Reino
de Deus que traz e ao que nos conduz. A possibilidade de alcançar o Reino de
Deus foi estabelecida por Jesus Cristo ao nos deixar o Espírito Santo, que nos
concede as graças necessárias para obter a Santidade e transformar o mundo no
amor.
Essa é a missão que Jesus deixou à Igreja ao
estabelecer seu Reino. Cristo Rei foi uma das últimas celebrações instituída
pelo Papa Pio XI, na época em que o mundo passava pelo pós-guerra de 1917,
marcado pelo fascismo na Itália, pelo nazismo na Alemanha, pelo comunismo na
Rússia, pelo marxismo-ateu, pela crise econômica, pelos governos ditatoriais
que solapavam toda a Europa, pela perseguição religiosa, pelo liberalismo e
outros que levavam o mundo e o povo a afastar-se de Deus, da religião e da fé,
culminando com a 2ª Guerra Mundial. O Papa Pio XI instituiu esta festa para que
todas as coisas culminassem na plenitude em Cristo Senhor, simbolizado no que
diz o Apocalipse: “Eu sou o Alfa e o Ômega, Princípio e Fim de todas as coisas”
(Ap1, 8). Ressalta a restauração e a reparação universal realizada em Cristo
Jesus, Senhor da vida e da história. Nesta festa celebra-se também nossa
participação no Reino de Deus sob a condição de aderirmos à verdade trazida por
Jesus, pela qual somos caminheiros que se dirigem à Casa do Pai para participar
da mesa do Reino e assumir o compromisso do Evangelho.
A celebração, fechando o Ano Litúrgico, traz para
nós, cristãos, a reflexão em torno da vida de Jesus, que significa para nós a
salvação onde impera no mundo o pecado. Assim, Jesus Cristo, sendo Rei e Pastor
do Reino de Deus que, nos tirando das trevas, nos guia e cuida do nosso caminho
para a comunhão plena com Deus Amor.
Eis, pois, caríssimos no Senhor, celebremos hoje a
Realeza de Cristo, dispondo-nos a participar da sua cruz. Na Igreja, no Reino
de Deus, reinar é servir. Sirvamos, com Cristo, como Cristo e por amor de
Cristo! No Evangelho desta Solenidade, o critério para participar do Reinado do
Senhor Jesus é tê-Lo servido nos irmãos: no pobre, no despido, no doente, no
prisioneiro, no fraco. Que Reino? O de Cristo, que se manifesta nas coisas
pequenas, nas pequenas sementes, nos pequenos gestos, no amor dado e recebido
com pureza, a cada dia.
Na verdade, segundo os Santos Padres da Igreja, o
Reino de Cristo, o Reino que Ele entregará ao Pai somos nós; nós, que fizemos
como Ele fez, lavando os pés do mundo e servindo ao mundo a única coisa que
realmente compensa: o amor de Cristo, a verdade de Cristo, o Evangelho de
Cristo, o exemplo de Cristo, a salvação de Cristo, a vida de Cristo... para que
o mundo participe eternamente do Reino de Deus.
Somos chamados a olhar liturgicamente para o que a
Igreja nos aponta: tudo deve convergir para que Cristo Reine! Que assim ocorra
em nossas vidas, em nossas famílias, em nossas comunidades, em nossos
relacionamentos, em nosso país. A melhor coisa que poderá ocorrer para toda a
humanidade é quando todos acolhermos Cristo como Rei em nossas vidas.
Por isso, despojemo-nos de todo pensamento mundano
sobre reis, reinos e coroas. Fixemos nosso olhar no trono da cruz, naquele que
ali se encontra despido e coroado de espinhos. Aprendamos com admiração,
estupor e gratidão que nossa mais gloriosa herança neste mundo é participar do
Seu reinado, levando a humanidade a descobrir quão diferentes dos nossos são os
critérios de Deus. Quando aprendermos isso, quando a humanidade aprender isso,
o Reino entrará no mundo e o mundo entrará no Reino, Reino de Cristo,
"Reino de verdade e de vida, Reino de santidade e de graça, Reino da
justiça, do amor e da paz”!
Cardeal
Orani João Tempesta
Arcebispo do
Rio de Janeiro (RJ)
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