Brasil
pós-eleições: compromissos e desafios
O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília nos dias 18 e 19 de
novembro de 2014, saúda a nação brasileira pela democracia e cidadania
vivenciadas nas eleições de outubro deste ano. Cumprimenta a todos que
participaram do processo eleitoral e os eleitos. Recorda-lhes a
responsabilidade colocada sobre seus ombros de não frustrar as expectativas de
quem os elegeu e seu compromisso com a ética, a verdade e a transparência no
exercício de seu mandato, bem como o dever de servir a todo o povo brasileiro.
A campanha eleitoral deste ano ratificou o processo
democrático brasileiro no qual partidos, candidatos e eleitores puderam debater
suas ideias e projetos. Tornou mais visíveis, no entanto, graves fragilidades
de nosso sistema político: sua submissão ao poder econômico financiador
das campanhas; o descompromisso de partidos e candidatos com programas,
favorecendo debates com ataques pessoais; a prevalência da imagem dos
candidatos produzida pelos marqueteiros; o desrespeito, em alguns casos, às
leis que combatem a corrupção eleitoral.
Passadas as eleições, urge ao País recompor sua
unidade no respeito às diferenças e à pluralidade, próprias da democracia. Nada
justifica a disseminação de uma divisão ou de ódio que depõe contra a busca do
bem comum, finalidade principal da Política. O bem de todos coloca a pessoa
humana e sua dignidade acima de ideologias e partidos.
A construção do bem comum desafia, especialmente,
os eleitos em outubro deste ano. A corrupção na Petrobras reforça a sensação de
que é um mal que não tem fim. Vemos aqui, claramente, as consequências do
financiamento de campanhas por empresas, porta e janela de entrada da
corrupção. Nenhum país prospera com corrupção que, no caso do Brasil, lamentavelmente
já vem de muitos anos e não se limita à Petrobras.
A reforma política é outra urgência inadiável.
Convicta disso, a CNBB se empenhará ainda mais na coleta de assinaturas para o
Projeto de Lei de Iniciativa Popular proposto pela Coalizão pela Reforma
Política Democrática e Eleições Limpas. À reforma política, entretanto, é
necessário unir outras reformas igualmente urgentes como a tributária e a
agrária. O Brasil não pode mais conviver com tanta omissão em relação a estas e
outras matérias que lhe são vitais.
“A política, tão desacreditada, é uma sublime
vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”
(Papa Francisco. Evangelii Gaudium, n.205). Nesse espírito, a CNBB reafirma que
a sua participação na vida Política é tão importante quanto necessária para
ajudar na construção de uma sociedade justa e fraterna. Afinal, “ninguém pode
exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem
qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde
das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos
que interessam aos cidadãos. Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem
individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo,
transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por
ela” (Papa Francisco. Evangelii Gaudium, n.183).
Nossa Senhora Aparecida abençoe o Brasil e os que
foram eleitos a fim de que sejam fieis ao seu compromisso com o bem comum.
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo
de Aparecida
Presidente
da CNBB
Dom José Belisário da Silva, OFM
Arcebispo
de São Luís do Maranhão
Vice
Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo
Auxiliar de Brasília
Secretário
Geral da CNBB
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