Mais uma vez, acordamos no meio da noite, como em 1997 e em 2009; novamente fomos despertados pela força da terra e torcemos para que a oscilação acabasse o mais rápido possível. Depois, corremos para o quarto de nossos filhos, pais e irmãos, telefonamos para os amigos, os colegas, abraçamos quem passou o mesmo susto e nos confortamos com igual medo.
Às 3h38 da manhã desta quarta-feira, meia Itália estava de pé. O terremoto é uma face cruel da natureza, não poupa ninguém e nada, não tem piedade das crianças nem misericórdia pelos idosos. Este é um território sísmico, está comprovado, mas falta ainda e há muito tempo a decisão política para impor controles mais eficazes, usar a tecnologia, monitorar as construções novas e antigas. É provável e também demonstrado que o país não dispõe de recursos econômicos suficientes para isso.
'Belpaese', sísmico e sem recursos econômicos
Mas esta é uma terra que sabe também despertar a solidariedade, como já aconteceu em Assis, em Aquila, e em tantos desastres naturais do passado. O chamado ‘Belpaese’ é sim, exposto ao risco sísmico, mas triunfa em solidariedade.
Ouvimos muitos relatos: uma avó em Arquata salvou dois netinhos protegendo-se com eles em baixo da cama, muitos sobreviveram porque se refugiaram em baixo de vigas de casa. Gerações de italianos souberam superar a carência de meios e de treinamento com o conhecimento e a sabedoria herdados de tragédias passadas.
O cidadão é italiano por nascimento ou por atestado, mas se sente italiano quando participa de gestos comuns, quando se compacta pela justiça. A empatia e o esforço solidário neste momento são marcos deste povo na ajuda aos voluntários que se defrontam com o sofrimento.
Nas madrugadas, as buscas por possíveis sobreviventes não cessaram. Usando equipamentos de iluminação ou até mesmo velas, voluntários, bombeiros e agentes da Defesa Civil escavavam nos escombros em busca de vida.
Em Monteprandone, vinte refugiados hóspedes em uma estrutura de acolhimento nas proximidades do epicentro do terremoto, partiram para trabalhar. "Foram eles que pediram para dar uma mão neste momento trágico para a região que os abriga", disse o dirigente do Grupo de Solidariedade Humana (GUS), órgão criado para atender aos milhares de solicitantes de refúgio que entram no país todos os anos.
Resgatados que hoje resgatam
A cada dia, a Itália resgata dezenas de pessoas de embarcações superlotadas no mar Mediterrâneo. Os imigrantes que se disponibilizaram para ajudar em Amandola são todos do norte da África. Resgatados que hoje resgatam. Cidadãos de coração, antes de italianos por atestado.
No país, 6 milhões e 600 mil pessoas desempenham voluntariado: isto equivale a 12,6% da população, ou seja, um em cada 8 cidadãos maiores de 14 anos presta gratuitamente uma atividade, sem qualquer obrigação, em favor de outras pessoas.
A sensação da plenitude que nos dá a solidariedade
A tragédia do terremoto e o que ela provoca em nós, indo além da piedade e da participação na dor de nossos irmãos, nos impele a pensar com mais força no desejo e na necessidade de experimentar a sensação de plenitude, aquilo que propicia um olhar diferente para as coisas, que impulsiona a agir e a apostar nas grandes realizações.
Misericórdia e comoção
Naquela manhã, pela primeira vez, o Papa suspendeu a catequese e na audiência semanal rezou com os fiéis pelos mortos, feridos e atingidos. Quis que seu abraço, partícipe e envolvedor, e o de toda a Igreja, chegasse também aos voluntários. Nós nos unimos à oração e atendemos ao pedido de Francisco, comovendo-nos também com a misericórdia operosa destes homens e mulheres que se entregam, corajosos, a esta missão.
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Rádio Vaticano
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