Estamos vivendo a campanha eleitoral que visa a escolha dos prefeitos e vereadores de nossos municípios, no dia 02 de outubro e, para onde houver segundo turno, também no dia 30 de outubro. Nossa Diocese de Cruz Alta compreende 33 municípios. É fato que o processo eleitoral deste ano vem com a marca do descrédito, marcado pelas recorrentes notícias de corrupção e falta de ética de muitos que foram eleitos pelo povo para promoverem o bem comum. Não há como negar o sentimento de indignação e revolta da maioria da população diante destes fatos. Alguns se refugiam na indiferença, outros extravasam nervosamente nas redes sociais. Qual a postura correta que somos chamados a ter, como cristãos e como cidadãos?
A primeira postura é comprometer-se, interessar-se. Na mensagem para as eleições deste ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil afirma que “a Igreja Católica não assume nenhuma candidatura, mas incentiva os cristãos leigos e leigas, que têm vocação para a militância político-partidária, a se lançarem candidatos.” É uma mensagem de esperança, ânimo e coragem. “Sonhamos e nos comprometemos com um país próspero, democrático, sem corrupção, socialmente igualitário, economicamente justo, ecologicamente sustentável, sem violência, discriminação e mentiras; e com oportunidades iguais para todos”, diz a mensagem. Numa sociedade democrática, o caminho para este sonho passa pela política. “Se quisermos transformar o Brasil, comecemos por transformar os municípios.” Claro que a cidadania não se esgota na escolha dos representantes políticos, mas encontra aí sua expressão e compromisso. Recordo as palavras do Papa: “a política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (EG 205). Por isso, evitemos as expressões: “não tem mais solução”, “são todos iguais”, “não quero saber disso”. Não obstante tantos e tão graves fatos nos possam fazer pensar diferente, é preciso continuar a sonhar, apostar e interessar-se pelo mundo da política.
A segunda postura é a capacidade do diálogo. As eleições municipais se desenvolvem no âmbito local, de nossas comunidades. Há uma proximidade entre os candidatos e eleitores. É preciso saber “respeitar as diferenças e não fazer delas motivo para inimizades ou animosidades que desemboquem em violência de qualquer ordem”, diz a mensagem. Como é triste ver pessoas que se ofendem e criam divisões até em nossas comunidades cristãs. Saber dialogar na pluralidade de ideias e projetos é sinal de maturidade humana, cristã e política. Importante buscar informações dos programas dos partidos e das propostas de trabalho dos candidatos. O passado dos candidatos, sua conduta, os valores pelos quais pauta sua vida, com quem está comprometido, são pontos que devem ser analisados. Nos últimos tempos, algumas pessoas têm usado as redes sociais para manifestar suas opiniões políticas. Evitem-se palavras ofensivas e desrespeitosas.
Espera-se dos candidatos a ética e a transparência próprias das pessoas públicas. O povo quer ver nos seus representantes a coragem de construir, desde nossos municípios, propostas de inclusão social, com o olhar voltado, preferencialmente, para os mais empobrecidos. Por sua vez, espera-se dos eleitores que sejam oportunizados espaços de debates sadios e maduros para o necessário discernimento dos projetos e pessoas. Acabe-se de uma vez a prática da venda do voto, que é crime.
Enfim, a fé que move nossa vida como cristãos não pode se reduzir a um sentimento intimista, mas passa também pela construção de uma sociedade justa e fraterna, sinal do Reino de Deus pregado por Jesus Cristo.
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
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