Hoje
iniciamos um novo ano litúrgico com o tempo do Advento. Este não se
limita a preparar-nos para o Natal, mas insere-nos em toda a História
da Salvação. Faz-nos viver a esperança da espera do Messias vivida
pelo Povo de Deus, mas, ao mesmo tempo, relembra-nos que Ele já veio
e voltará no fim dos tempos.
A
partir de hoje até o dia do Batismo do Senhor, o domingo seguinte à
Epifania, percorreremos com a fé e o amor seis semanas litúrgicas
de “tempo forte” nas que celebramos a Boa Notícia: a vinda do
Senhor. Advento é um tempo anual para contemplar a vinda de Cristo
ao mundo, esperá-la, desejá-la, prepará-la nas nossas vidas e, em
definitiva, celebrá-la. A vinda histórica de Cristo, que
comemoramos no Natal, deixa em nós o desejo de uma vinda mais plena.
Por isso dizemos que no Advento celebramos uma triple vinda do
Senhor: (1) a histórica, quando assumiu a nossa mesma
carne para fazer presente no mundo a Boa Notícia de Deus; (2) a que
se realiza agora, cada dia, através da Eucaristia e dos
outros sacramentos, e através de tantos sinais da sua
presença, começando pelos sinais dos irmãos, e dos irmãos pobres;
(3) e finalmente, a vinda definitiva, no final dos tempos,
quando chegará à plenitude o Reino de Deus na vida eterna.
Preparemo-nos para a Parusia, que será a manifestação gloriosa do Senhor no final dos tempos. Maranatha. Vem, Senhor Jesus! Era o grito dos primeiros cristãos, proclamando sua fé e esperança em Jesus ressuscitado junto com o desejo de que o Senhor se mostrasse publicamente como Rei da Igreja, das nações e do universo, como juiz que dá a vitória aos bons e permite a caída dos maus. A Igreja-e nós com ela- espera este acontecimento com impaciência, deseja ansiosamente o Advento final, a redenção consumada, em retorno em glória, o dia do Senhor, o fim do exílio e a entrada definitiva na eternidade. A Igreja- esposa que nunca deixa de suspirar pelas suas bodas eternas, que nunca se cansa de desejar o seu encontro definitivo com o Esposo, tal como deixa transparecer nos textos da liturgia do Advento: não tardes, já está perto, já está aqui. Com quais atitudes devemos nos preparar para este Advento final? Com esperança gozosa, com os nossos olhos fixos na eternidade, agradecidos no coração por todos os bens que Deus pôs em nossas mãos e com o esforço em cuidá-los e fazê-los produzir em obras de caridade, de justiça, humildade e pureza (primeira leitura).
Preparemo-nos para comemorar um ano mais o Natal e renová-lo no nosso coração. Com quais atitudes? Dado que o Natal condensa em si o passado (Belém) e o futuro (parusia), temos que vivê-lo na firmeza da fé que nos levará à vigilância e à sobriedade (evangelho). Primeiro firmes na fé para não deixarmo-nos levar da onda das falsas ideologias e dos erros do tempo (ideologia de gênero, manipulação da linguagem genética, confusão doutrinal deliberada, propensa ao imanentismo e ao mito do progresso indefinido e do paraíso na terra…) e não perder nunca de vista a pátria definitiva. E segundo, sendo sóbrios e vigilantes para usar e não abusar das coisas deste mundo, não criar raízes de querências exageradas nesta terra, porque a figura deste mundo desaparece. Assim passaremos pelos bens temporais sem perder os eternos.
Preparemo-nos para descobrir a vinda escondida de Cristo nesse pobre que encontramos no nosso caminho ou que toca a porta da nossa casa; nesse irmão que nos feriu, nessa cruz da doença que se cravou no nosso corpo, nessa noite escura da nossa alma quando não vemos perspectiva na vida ou não sentimos Deus. Com quais atitudes preparar-nos para descobrir a vinda de Cristo aqui? Estejamos com os olhos abertos de bons samaritanos, com o coração sensível que capta como um sismógrafo os batimentos do coração do necessitado e com as mãos abertas à caridade efetiva e generosa. Manifestemos, pois, a nossa confiança em Deus e
peçamos que nos perdoe a falta de convicção que talvez nos tenha
faltado durante o passado ano. Vinde, Senhor Jesus, e não demoreis!
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Textos:
Is 63, 16-17.19; 64, 2-7; 1 Co 1, 3-9; Mc 13, 33-37
Meus irmãos, inicia-se hoje um novo ano litúrgico com o tempo do Advento. Jesus Cristo diz-nos “Acautelai-vos, estai alerta pois não sabeis quando é o momento”. Está em foco a vigilância, sobre a nossa forma de estar perante Deus e a oração, pois que esta se trata duma conversa e duma intimidade que se pretende, cada vez mais profunda com o Senhor. Estas duas maneiras de se encontrar com o Senhor têm em si uma esperança, uma atitude de acolhimento a Deus o que significa conversão – vivência da nossa condição de filhos de Deus ( Jesus veio tornar-se nosso irmão e fazer-nos filhos de Deus) – e uma projeção para o futuro absoluto, ou promessas de outra vida.
Cristo na sua parábola fala-nos dum homem que partiu, mas antes de ir, atribuiu a cada um dos criados uma missão e mandou ao porteiro que vigiasse pois não se sabia a hora da chegada do dono da casa.
Estão aqui também presentes as “vindas do Senhor”. Há duas bem visíveis: na primeira o Senhor “apareceu na terra e conviveu com os homens” e na última diz-nos que todo o homem verá a salvação através de Deus e contemplará Aquele que trespassaram (Jesus Cristo).
A intermédia é oculta. Tal como os criados da parábola viviam como se o seu dono estivesse presente, pois não lhe conheciam, nem o dia, nem a hora da sua chegada e estavam a desempenhar uma missão.
No entanto estamos com o Senhor espiritualmente que nos manifesta o seu poder e a sua graça.
Estamos vigilantes, isto é, não adormecidos na missão que o Senhor nos atribuiu. “Vigiai e orai” repete o Senhor para que estejamos preparados a comparecer diante de Deus-Pai.
Assim este tempo de preparação para a celebração da vinda de Deus – Homem é também o primeiro e fundamental tempo de escolha. Escolha essa, que para todo o ser humano tem fase muito difíceis para que se mantenha fiel à escolha feita.
O tempo do Advento não é paragem, mas sim progresso, pois que deve haver da nossa parte uma vigilância atenta à missão que temos à nossa frente.
É bom interrogarmo-nos de como se concretiza a nossa própria vigilância. Em que altura a deixamos de lado? Ficai pois com este pensamento Pascal: “Consola-te (diz o Senhor) tu não me procurarias, se não Me tivesses já encontrado”.
Oremos e vigiemos as nossas faltas quotidianas vivendo em clima de conversão: pela alegria do Advento; pela Paz, dom de Deus; pela identificação da nossa vontade com a de Deus; pela necessidade da intensificação da nossa fé. Sempre reconfortados de que Jesus Cristo é o Bom Pastor, nosso Pai.
PARA REFLETIR
Mais
uma vez, irmãos caríssimos, a bondade do Senhor nos dá a graça de
iniciarmos um Ano Litúrgico com este sagrado Tempo do Advento. Como
todos sabeis, nestas duas primeiras semanas das quatro que nos
preparam para o Santo Natal, a Igreja nos recorda que o Senhor, que
veio a Belém, virá no final dos tempos como Juiz, na sua bendita
Parusia, isto é, na sua Vinda gloriosa. E é essencial, amados
irmãos, que os cristãos nunca esqueçam isto: o Senhor virá, e o
caminho da criação e a corrida da nossa vida neste mundo são uma
peregrinação ao seu Encontro. Nada nem ninguém tem neste tempo,
nesta existência, morada permanente: caminhamos para o Senhor, somos
filhos daquele Dia bendito, Dia do Cristo Senhor! Sabemos que “a
noitedeste mundo vai adiantada e o Dia vem chegando”, Dia de
luz, Dia de salvação, Dia no qual o Reino que Cristo plantou com
seu piedoso nascimento, morte e ressurreição, haverá de se
manifestar com toda a sua força e toda a sua glória! Por isso
mesmo, como são belas as palavras da antífona de entrada, colocada
no Missal para esta primeira Missa do novo Ano da Igreja: “A
vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em vós, que eu não seja
envergonhado; pois não será desiludido quem em vós espera!”Eis a
atitude do cristão diante deste Dia que vem, Dia que é o próprio
Cristo glorioso: caminhar bem firme neste mundo com a alma elevada
para o Senhor, sabendo que ele virá ao nosso encontr, e nossa
existência é uma preparação para este momento – por isso mesmo
a oração inicial desta Celebração eucarística pedia a Deus a
graça de “acorrermos com as nossas boas obras ao encontro do
Cristo que vem”.
Portanto,
meus caríssimos, sigamos o conselho do santo Apóstolo: “Procedamos
honestamente; revesti-vos do Senhor Jesus Cristo!” Neste tempo
entre seu Natal e sua Parusia, vivamos uma vida de contínua
conversão: “Nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias
sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades”, nada de
egoísmo que nos fecha aos irmãos, nada de descaso para com os mais
fracos e feridos desta nossa vida! Se vivermos realmente assim, com
os olhos fitos nAquele que vem, conscientes de que caminhamos para
ele e dele dependemos, tudo ganha um novo sentido, meus caros, e nós
teremos uma verdadeira liberdade e maturidade diante dos desafios da
vida!
Irmãos
meus em Cristo Jesus, diante de tantos sinais de impiedade e desprezo
de Deus e da dignidade humana no mundo atual, muitos de nós pensam
que o mundo está perdido, parecendo uma nau sem rum; muitos talvez
sejam tentados a perder a esperança e a não mais ver que o Senhor
dirige a história humana. Não, caríssimos: o mundo foi
definitivamente salvo pelo Senhor, o mundo caminha para o Cristo
Jesus, Princípio e Fim de tudo – esta é uma certeza certíssima
da nossa fé cristã! Neste sentido, como não nos encher de
esperança e paz escutando as palavras de Isaías profeta, que falava
pensando na vinda do Messias – vinda em Belém e vinda no final dos
tempos? O que diz o Profeta? Que mistério anuncia? Que esperança
suscita em nosso coração? “Acontecerá, nos últimos tempos,
que o monte da Casa do Senhor estará firmemente estabelecido no
ponto mais alto das montanhas. A ele acorrerão todos os povos. De
Sião provém a Lei e de Jerusalém, a Palavra do Senhor.” Que
significam estas palavras, meus irmãos? Esta Casa do Senhor colocada
no mais alto dos montes é o novo Israel, a Igreja, Corpo de Cristo e
Templo do Espírito; esta Igreja, nossa Mãe católica, da qual vem a
Lei (não mais a de Moisés, mas a lei do Espírito que dá vida, a
lei do amor); dessa Casa do Senhor vem a Palavra, que é o próprio
Cristo, anunciado na Liturgia e dado e recebido nos sacramentos! Como
é impressionante, quanto é consolador escutar o Profeta anunciando
que a esta santa Casa do Senhor “acorrerão todas as nações”.
Sim, pois o desejo do nosso Deus é que, crendo em Cristo e recebendo
o santo Batismo, “todos se salvem e cheguem ao conhecimento da
verdade” (1Tm 2,4). O cristão não deve impor sua fé a ninguém,
mas também não deve nunca deixar de anunciar com a palavra e
testemunhar com a vida esta esperança que se encontra em Cristo
Jesus, Salvador de todos e único Caminho da humanidade. É nossa
missão de discípulos de Cristo: sermos seus missionários, sermos
suas testemunhas, anunciando o seu santo Nome e a salvação que ele
trouxe a toda a humanidade!
Pois
bem, meus amados, caminhemos neste mundo como aqueles que têm
esperança porque alicerçaram em Deus e no seu Cristo a sua vida!
Como seria triste, quão grande seria a infidelidade nossa se,
esquecidos daquilo que o Senhor nos promete e nos prepara, nos
entregássemos a uma vida leviana, acomodada, morna, desatenta ao
amor do Senhor e aos seus apelos! Como seria grave pecado de nossa
parte simplesmente viver e pensar e agir como os outros, que sem
conhecerem a Cristo, não têm esperança! Jesus nos exorta
gravemente a que vigiemos, a que estejamos sempre atentos à sua
Vinda: Vinda no Fim dos tempos, mas também aquelas vindas de cada
dia, nos tantos apelos que ele nos faz!
Falando
desta Vinda, que advertências tão sérias ele nos dirige no
Evangelho deste hoje: “A Vinda do Filho do Homem, isto é, do
Juiz de tudo, será como no tempo de Noé: “comiam e bebiam,
casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na
arca” – em outras palavras: a Vinda do Senhor acontecerá no
dia-a-dia de nossa vida, de modo que devemos viver à luz desse Dia,
como filhos desse Dia! E mais: “Dois homens estarão
trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas
mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será
deixada”. Compreendeis, irmãos? Estarão trabalhando no campo ou
moendo no moinho, fazendo coisas tão normais, tão pequenas, tão de
cada dia, como nós… E, no entanto, o Senhor virá inesperadamente…
E vede que este Dia será de discernimento, de discriminação, de
separação: um será levado com o Senhor; outro será deixado longe
do Senhor, na perdição!
Caríssimos,
cuidemos de viver de tal modo que não sejamos deixados! Fiquemos
atentos, não durmamos, como aqueles que não têm fé! Quem dorme?
Dorme quem vive no pecado, dorme quem repousa na infidelidade, dorme
quem justifica sua mediocridade espiritual, dorme quem não leva o
Senhor a sério, dorme quem não rompe com as obras das trevas! Não
durmamos: vigiemos! “Vigiai, porque não sabeis a que hora vem
o vosso Senhor!” Que este santo Advento nos dê a graça de
retomarmos a fé, o ânimo e o espírito de vigilância, para
estarmos preparados para o encontro com Aquele que vem. Amém
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