Silêncio na Cúria Romana após as palavras que o Papa teria pronunciado sobre um “lobby gay”. Incômodo pela difusão do encontro privado que Francisco teve com religiosos latino-americanos, mas até agora não houve ninguém que desmentisse o publicado. A reação depois da bomba de palavras sobre o “lobby gay” no Vaticano atribuída ao Papa Francisco é de silêncio. A cúpula da CLAR, a Confederação Latino-Americana dos Religiosos, que transcreveu o seu diálogo com Bergoglio e que acabou sendo publicado no sítio chilene “Reflexion y Liberación”, deplora a publicação, sem explicar, todavia, como chegou ela às mãos dos editores do sítio. Embora no Vaticano digam que não é correto colocar entre aspas as afirmações que o Papa teria feito, como se tratasse de verdadeiras citações, ninguém desmentiu a substância do publicado.
« Na Cúria há desconcerto pelo fato de que Francisco não esteja livre para falar em privado sem que depois suas palavras sejam publicadas », susurra desconsolado um monsenhor, que depois acrescenta sobre o “lobby gay”: « fala-se disse há tempos, não é nenhum mistério; a novidade é que agora quem falou disso foi o Papa, embora não nestes termos específicos ».
Vendo o Papa ontem, saudando e abençoando a mais de 50 mil fiéis durante a audiência das quartas, não se podia dizer que ele estava preocupado com o que poderia ter se tornado o primeiro incidente midiático de seu pontificado. Ademais, como não recordar que justamente os grupos, as facções de poder dentro da Cúria Romana e o escândalo dos “vatileaks” ocuparam muito espaço nas discussões entre os cardeais, sobretudo os estrangeiros, antes do último conclave? Para não falarmos do caso do purpurado escocês, Keith O’Brien, obrigado a renunciar e a não participar do conclave após ter admitido abusos cometidos há trinta anos contra alguns seminaristas (adultos).
Ou seja, apesar de algumas reações indignadas, não é nenhum mistério que o problema exista. Antes de partir da Argentina, o Cardeal Bergoglio — segundo a sua biografia que acaba de ser publicada por Evangelina Himitian (“Francisco. O Papa do povo”), respondeu a uma pergunta sobre o perfil do futuro Papa, citando entre os seus deveres o de “limpar a Cúria”. Não esperava que o deveria fazer ele mesmo, apesar de seus 76 anos.
É complicar adentrar no labirinto de intrigas e acusações cruzadas que circulam nos sagrados palácios, onde as cartas anônimas estão na ordem do dia e onde justamente a acusação de homossexualidade é a que se usa com maior desenvoltura para destruir os adversários. Não devemos esquecer que há alguns anos, depois de uma investigação do programa italiano “Exit”, no canal 7, um monsenhor da Congregação para o Clero foi filmado, em segredo, com um jovem que havia conhecido pela internet. O prelado perdeu o seu cargo na Cúria, apesar de ter afirmado que estava realizando um estudo, como se fosse um infiltrado, embora seus superiores ignorassem o caso. Noutros casos, por sua vez, não basta ser pego em flagrante para ter uma carreira interrompida, como é o caso do brilhante diplomata vaticano que foi pego na cama com um homem; tiraram-no da nunciatura, porém, de toda forma, foi feito bispo poucos anos depois. Para alguns, evidentemente «protegidos», a carreira não se interrompe. Uma acusação de homossexualismo feita por um cardeal contra um importante bispo da cúria “congelou” qualquer nomeação do acusado para postos importantes, embora depois das investigações dos “007 de batina” as acusações tenham caído e se chegou à desejada nomeação. Para não falarmos de jovens e empreendedores leigos que caíram nas graças das mais altas esferas vaticanas por conta de inconfessáveis questões sexuais. Um exemplo desse sórdido mundo foi o caso do “gentil-homem de Sua Santidade” Angelo Balducci, para quem um dos coristas da Capela Giulia procurava amantes em troca de dinheiro.
A existência de uma rede de monsenhores “homossensíveis” foi confirmada no sítio da web “Venerabilis”, promovido pelos membros da “Homosexual Roman Catholic Priests Fraternity”, grupo virtual que coloca em contato sacerdotes gays, e alguns deles trabalham nos escritórios da Cúria Romana.
As mensagens que lança a este respeito, como as que repetiu sobre o “carreirismo” eclesiástico e sobre a transparência das finanças vaticanas, indicam que o Papa está ciente da situação que deve enfrentar e mudar.
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Tradução e disponibilidade: Fratres inUnum.com
Por: Andrea Tornielli
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