No último dia 12
de maio, quinta-feira, o Papa Francisco teve uma Audiência com superioras
religiosas no Vaticano. Na ocasião, o Santo Padre afirmou que o papel das
mulheres diaconisas, na Igreja antiga, não é muito claro ainda hoje, daí
existir a possibilidade de ser criada uma Comissão para estudar a questão. Ora,
como essa afirmação do Pontífice causou grande repercussão, vamos tecer breves
comentários sobre o assunto.
Por ora,
digamos, essencialmente, que as chamadas diaconisas não recebiam o Sacramento
da Ordem, em seu primeiro grau, “pois nunca na Liturgia e no Direito antigos a
diaconisa foi equiparada ao diácono; ao contrário sempre lhe foram vedadas as
funções do diácono e do presbítero, apesar das investidas para exercê-las”,
segundo D. Estêvão Bettencourt († 2008), OSB, teólogo da Arquidiocese do Rio de
Janeiro (RJ), na revista Pergunte e Responderemos n. 500,
fevereiro de 2004, p. 78.
Na mesma
publicação, o estudioso beneditino cita Santo Epifânio († 403): “Se no Novo
Testamento as mulheres fossem chamadas a exercer o sacerdócio ou algum outro
ministério canônico, a Maria deveria ter sido confiado, em primeiro lugar, o
ministério sacerdotal; Deus, porém, dispôs as coisas diversamente; não lhe
conferiu nem mesmo a faculdade de batizar. Quanto à categoria das diaconisas,
existente na Igreja, não foi destinada a cumprir funções sacerdotais ou outras
similares. As diaconisas são chamadas a salvaguardar a decência que se impõe no
tocante ao sexo feminino, seja cooperando na administração do sacramento do
Batismo, seja examinando as mulheres afetadas por alguma enfermidade ou vítimas
de violência, seja intervindo todas as vezes que se trate de descobrir o corpo
de outras mulheres a fim de que o desnudamento não seja exposto aos
olhares dos homens que executam as santas cerimônias, mas seja considerado
unicamente pelo olhar das diaconisas” (Panarion LXXIX
3).
“Como se vê, S.
Epifânio, representando a tradição, vê nas diaconisas auxiliares no trato
pastoral das mulheres. Tal ministério fica, portanto, claramente distinto do
ministério dos diáconos” (p. 79), complementa Dom Estêvão.
Confirma o dado
acima Bernardo Bartmann, renomado teólogo alemão, ao escrever que “as
diaconisas da Antiga Igreja ocupavam-se da instrução das mulheres, vigiavam a
porta das mulheres, durante a liturgia, e dedicavam-se às obras de caridade (Const.
Apost. 8,28)”, enquanto “os graus mais altos eram ocupados pelos homens”,
segundo Achelis, autor protestante do século XX, citado por Bartmann (cf. Teologia
Dogmática. São Paulo: Paulinas, 1962, p. 377-378, vol. III).
Diante desses
dados, pergunta-se: o Papa Francisco tem, hoje, interesse na ordenação
feminina? Qual a justificativa da resposta? – O Papa não tem (nem poderia ter)
interesse na ordenação feminina, pois este é um assunto fechado na Igreja que,
em consonância com a Escritura e a Tradição, definiu não se tratar de querer ou
não querer ordenar mulheres, mas de não poder fazê-lo, uma vez que o próprio
Cristo, Nosso Senhor, não o fez (cf. João Paulo II, Ordinatio Sacerdotalis,
22/05/1994, n. 4).
O Pe. Federico
Lombardi, SJ, por sua vez, assegurou, a propósito da fala do Santo Padre, o
seguinte: “o Papa disse que está pensando constituir uma Comissão que retome
essas questões [das diaconisas – nota nossa] para vê-las com maior clareza. Mas
é preciso ser honestos: o Papa não disse ter intenção de introduzir uma
ordenação diaconal das mulheres, e muito menos falou em ordenação sacerdotal
das mulheres. Aliás, falando sobre a pregação durante a celebração eucarística
fez entender que não pensa absolutamente nisso. Em todo caso, é errôneo reduzir
todas as muitas coisas importantes que o Papa disse às religiosas a essa única
questão.”
De resto,
insiste a Igreja, com razão, que a santidade não está na função ocupada por
alguém, mas, sim, na resposta generosa à vontade de Deus em sua vida.
Vanderlei de Lima,
filósofo e escritor.
________________________________________
CNBB Leste 1
Nenhum comentário:
Postar um comentário