Nós estamos num período de
definições de mulheres e homens que governarão os nossos municípios, assumindo
cargos de prefeitas(os) e vereadoras(es). Elas e Eles serão chamados a
coordenar as pessoas e estruturas com recursos do povo em geral através
de impostos. Desejamos boa missão superando os interesses pessoais e a
corrupção. É importante perceber a autoridade em vista do bem comum que leve as
pessoas até Deus. As autoridades nunca são fim, mas meios porque o fim é a
glória de Deus através da autoridade. Os padres da Igreja, escritores da Igreja
antiga, fizeram diversas admoestações a partir da Palavra de Cristo Jesus em
relação à autoridade que mereciam sim, a consideração, a honra, a oração, mas
jamais adoração, porque esta é dada só a Deus, o Criador da autoridade
humana.
1. Os
cristãos honram o Imperador
Tertuliano,
padre africano do terceiro século afirmou que os cristãos não são inimigos de
ninguém, menos ainda do Imperador. Sabem que este foi constituído por Deus de
modo que o honram, o amam e querem salvo com todo o Império romano até quando
durará o mundo. Havia a idéia que o fim do Império era também o fim do mundo.
Dessa forma rezava-se pelo Império romano, e pela Imperador. Essa veneração à
autoridade por parte dos cristãos possui os seus limites: é um homem que vem
depois de Deus, sendo a sua criatura, e que obteve de Deus tudo aquilo que é
para ele estar naquele encargo. Esses pontos deveriam estar também na cabeça do
imperador. Sendo superior a todos, no entanto é inferior somente a Deus; por
isso nós rezamos por ele e para que ele respeite o Deus de toda a criação. O
Padre africano dizia que os cristãos rezavam pela saúde do Imperador e a todos
os súditos, suplicando-a Àquele que pode concedê-la.
Tertuliano
fala também do comportamento dos cristãos em relação á autoridade imperial. A
honra é dada aos reis e aos imperadores na forma como eles merecem sendo
criaturas, como fala o Apóstolo Paulo em relação aos magistrados, aos
príncipes, às autoridades(cfr. Rm 13,1-2), distinguindo sempre que a adoração é
dada só a Deus, porque Criador de todas as coisas e da própria autoridade
humana que governa pessoas.
2. A
pátria para os cristãos
Orígenes,
padre alexandrino, do século terceiro, teve que contrariar Celso, autor pagão
pois criticava a ação dos cristãos em relação ao Império, por esses não
assumirem encargos no exército para defender a pátria. Saiba, diz o autor
alexandrino que "a pátria é defendida pelos cristãos, não por serem vistos
pelos homens e terem uma pequena glória. Nós elevamos orações a Deus para os
nossos concidadãos, sejam eles das classes humildes, sejam eles
governantes". Os cristãos se alegram pela pátria mais que as outras
pessoas, porque eles admoestam a todos na piedade para com Deus em vista da
fidelidade aos compromissos neste mundo tendo presente a palavra do Senhor:
foste fiel na pequena cidade, venha participar da grande(cfr. Mt 25,21).
3. A
adoração só é dada a Deus
A questão
da adoração ao Imperador foi um dos pontos de maior rejeição dos cristãos em
relação à autoridade constituída. O fato era que os pagãos viam no Imperador
uma espécie de 'senhor' que mereceria até uma adoração. Teófilo de Antioquia
afirmou que só a honra é dada ao Imperador, jamais a adoração. Por isso é que
ele convidava os cristãos a rezar por ele. "Adorar, eu adoro apenas a Deus
real e verdadeiramente Deus, pois sei que o Imperador foi criado por ele".
Por isso alguém poderia perguntar: Mas por que Você não adora ao Imperador? O
autor como todos os cristãos dirão com certeza que o imperador não foi
constituído para ser adorado, mas para que se lhe tribute a legítima honra. Ele
não é Deus, mas homem, não para ser adorado, mas para julgar com justiça e
amor. O Senhor Deus lhe confiou uma administração e assim como ele próprio não
deseja que sob o seu poder outros sejam chamados de imperador, pois o nome é
particular seu, da mesma forma a ninguém é lícito adorar senão a Deus. A
adoração só é dada a Deus.
4. As
autoridades governam com bondade e docilidade
São
Jerônimo, padre do século quarto e quinto, dizia que as autoridades sejam
dóceis na sua forma de governar as pessoas. Nesta mesma linha, São Gregório
Magno, Papa dos séculos sexto e sétimo, afirmou que o governo do reino, seja
feito com grande moderação. O reino andará firme se a glória humana não domina
a alma. A forma de reinar sobre as pessoas, através de imperadores e
governadores, se fará pelo serviço e não pelo orgulho. São Gregório de
Nazianzo, padre do século quarto, tinha presente que o imperador e os
governadores das províncias fossem cientes de suas atribuições de modo que
fizessem com responsabilidades pelo poder que tinham sobre os outros, jamais
fazendo as coisas de uma forma abusiva. Como todos deverão prestar contas a
Deus, assim o poder exercido seja para o bem das pessoas, não para o seu mal.
Ele também fala daqueles e daquelas que estavam a serviço das autoridades para
que fossem fiéis a elas, mas sobretudo a Deus e em vista Dele, também aqueles
nos quais foram confiados. Sendo as autoridades pessoas que possuem o governo
das coisas, não o farão através do extermínio pela espada mas usando os meios
para governar bem as pessoas, levando-as à vida em Cristo Jesus.
Os Padres
da Igreja, afirmaram a partir da Palavra de Deus, a autoridade constituída para
que regessem bem, jamais usando de sua autoridade com o fim de lesar as pessoas
e não dando a devida assistência aos mais necessitados da sociedade. A
autoridade humana é sempre um serviço, uma criação do Deus sendo uma forma de
dar ordem em tudo neste mundo, para que todos, povo e autoridade, possam
participar um dia, à glória divina, do Deus Uno e Trino.
Dom Vital
Corbellini
Bispo de
Marabá (PA)
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